sexta-feira, setembro 14, 2007

APOSTOLUS BRASILIS

Dedicada a todos missionários de Deus que trabalharam e trabalham no Brasil.

Pelos caminhos de meu Brasil missionário,
por esta terra que já me conquistou,
por este povo que chamo de irmão,
conheci a alegria de ser um visionário
amar este lugar que também Cristo amou
e peregrinar com versos livres no coração.

Nos caminhos do país construí família,
criei filhos e fiz história.
A terra recebeu as raízes e deu seus frutos:
maduros frutos da Obra.
e no olhar de um povo que não cobra
o brilho alegre da satisfação.

Mas, meu Deus, é imenso o Brasil em seus caminhos
e nesta terra o que se planta dá,
mas o povo necessita de carinhos
como criança ao colo de mãe
que desce ao solo preparado, sem espinhos,
aprendendo o jeito cristão de caminhar.

Por isso, nos caminhos que agora são teus
em solo fértil transforma a terra cansada
e do povo que é o teu povo constrói, ó Deus
uma Igreja que de Cristo enamorada
em família mantenha sempre a comunhão
cujo elo venha do Alto ao coração.

Nova Friburgo, 10/06/2000 (8h24m)

MÃE

Suave ser sem sombras ou sinecuras
você é a sensação silente do sonho sacro
silvando sopro sereno entre securas
sorriso sempre de sol, sem simulacro.

Semblante sulcado de sonhos qual seixo sofrido
sugado sofregamente sob o sol secular.
Seu ser se supera solene do susto sentido
sem saber seu segredo é a todos santificar.

Seda sublime saliente em santo sucesso
sorvendo o suór sacrificado com sofreguidão.
Seus seios, santuário do senso e do sentimento,
socorrendo e sarando os que sofrem da vil solidão.

Simples, suave, simpática qual seiva singrando
serpenteia sobre sonhos e sendas sem sair da raia.
Qual senha a sorrir em sincera semente secando;
semelhante a sapopema que sobe e se faz sapucaia.

Nova Friburgo, 08/06/2000 (13h50m)

ORAÇÃO E BUSCA

Oração - busca, e depois espera...
No silêncio da prece ao bom Deus
que dos dias maus constrói nova era.

Antes, havia angústia nesta esfera
da graça divina e dos pedidos meus.
Oração - busca e depois espera...

Mas já descobri que a bênção é vera
bem mais propícia que meus olhos ateus
podiam esperar de sua própria quimera.

Assim, no conforto que a alma quisera
silêncio reverente na busca de Deus.
Oração - busca e depois espera...
da graça divina, dos favores seus.

Niterói, 07/06/2000 (6h25m)

DESEJO E REALIDADE

Me atingiu uma forte vontade;
vem de Deus ou é de mim mesmo?
Sei que é fruto da mocidade.
Me atingiu uma forte vontade
e eu vagueando por toda cidade
sem direção, num andar a esmo.
Me atingiu uma forte vontade;
vem de Deus ou é de mim mesmo?

Me atingiu uma forte vontade;
vem de Deus ou é de mim mesmo?
Estou sem certezas, quem sabe é a idade!
Me atingiu uma forte vontade
e em meu coração, cheio de bondade
reforço o sonho, alimento o desejo.
Me atingiu uma forte vontade;
vem de Deus ou é de mim mesmo?

Me atingiu uma forte vontade;
vem de Deus ou é de mim mesmo?
Estou em busca dessa verdade.
Me atingiu uma forte vontade
e a alma inquieta, cheia de alarde,
me enche de dor e de ensimesmo.
Me atingiu uma forte vontade;
vem de Deus ou é de mim mesmo?

Me atingiu uma forte vontade;
vem de Deus ou é de mim mesmo?
Minha alma clama por caridade.
Me atingiu uma forte vontade
e a tristeza é a especialidade
que já nem conto, nem faço esmo.
Me atingiu uma forte vontade;
vem de Deus ou é de mim mesmo?

Niterói, 07/06/2000 (8h53m)

QUANDO O AMOR ACABA

Você chegou pra mim sem dó nem pena
e disse de supetão: “já não te amo mais!”
Tomei um choque de alta voltagem
e liguei mais que depressa minha antena
pois esta descarga foi forte demais
pra entendê-la apenas como miragem.

Senti o baque surdo de um coração que dispara,
sofri toda comoção de um circuito rompido;
parecia que o mundo tinha desabado sobre mim.
E você me olhando com esta inerte cara de arara
idiotizando uma relação num só estampido
como se o comunicado fosse tão simples assim.

De que vale tanto amor, parecendo prêmio acumulado,
se na hora da necessidade vou sacar e não encontro nada?
De que valeu toda existência, se no momento você é sonho?
Será que o amor é pra se criar e tê-lo sempre enjaulado
ou é loteria em que uma pessoa ganha e outra é lesada
ou não passa de quimera, quem sabe, pesadelo medonho?

Eu só sei que a angústia que brota em meu coração
diz não serem suficientes os beijos e também o meu calor;
todo o carinho especial e a dedicação que lhe devotei.
Mas a dor que me devora, que destrói qualquer canção
é a mesma que me implora: não desista do amor!
E eu aqui matutando: “onde foi que eu errei?”

Nova Friburgo, 04/06/2000 (16h30m)

SENTIMENTO CRISTÃO

Cristão deste século
de tempo tão triste
de gente tão pobre
de espírito e amor.
É feio espetáculo
de gente que insiste
tornar o que é nobre
sem qualquer valor.

E agora, cristão?
Sua grande tarefa,
sua forte promessa,
seu bom coração.
É fazer a seu tempo
um reino de glória
mudando a história
em cada momento.

Cristão destes dias
o tempo é pesado
o apego ao pecado
não traz melodias.
As notas sucumbem
partituras já fecham
tons que enfecham
canções que se inibem.

E agora, cristão?
Seu amor é forte
mas qual é a sorte
pra ter salvação?
O povo perdido
que vive e sonha
que ama e estranha
está esquecido.

Cristão atual
do tempo de agora
que ri e que chora
pro bem e pro mal.
Seu gesto profundo
na vida que encerra
é ser sal da terra
e ser luz do mundo.

E agora, cristão?
O grande desafio
de vidas por um fio
está em sua mão.
Seu Deus é tremendo
na Palavra há poder
você se envolvendo
não há o que temer.

E agora, cristão?

Nova Friburgo, 03/06/2000 (6h10m)

REDONDILHAS DE UM TEMPO SEM FIM

Hoje, digo a verdade,
não tenho esta pressa
que consome gente à beça
como o homem da cidade.
Estou amando a vida,
e o que há de ser, será
e o que ainda não foi
não me preocupo.
Já fiz a despedida
desse andar à esmo
desse ir e vir maluco.
Chega dessa vã preocupação
estou amando a vida
e cada espaço do meu coração
é pra sentir a natureza
desfrutar forma e beleza
descobrir nuanças e cores
experimentar os sabores
enebriar-me de amores.
Estou amando a vida
e o tempo agora é só começo
não há espaço na agenda
pro desespero e pra ofensa
se a minha recompensa
é sentir o amor em mim.
Neste tempo sem fim
estou amando a vida
com a alma decidida
a construir da esperança
uma fonte de bonança,
uma crença de criança,
jeito novo de viver.
Estou amando a vida
e simplesmente vivendo
mesmo não sendo já tendo
um novo gosto de ser.

Nova Friburgo, 03/06/2000 (6h55m)

SCRIPTS MACHINA

Minha máquina antiga
antiga máquina minha
onde meus textos escrevi:
conto, poesia, cantiga.
Onde tu estás agora?
Não sei para onde fostes!
Os meus dedos te procuram
quando a poesia aflora.
Velha máquina de escritório
papel branco em teu cilindro
na reverência da inspiração.
Eras pra mim qual oratório!

Esquecida num canto da sala
da sala, num canto, esquecida
tu fostes extensão dos meus dedos
meus pensamentos te deram vida.
Ou foi tua engrenagem que emprestou
ordem as minhas fugidias idéias,
tomando forma, ganhando corpo
pra chegar e comover as platéias?
Já não sei! Estás distante...
Qual de fato é o paradeiro?
Sei apenas que os meus poemas
lembram nosso antigo roteiro.

Nova Friburgo, 02/06/2000 (6h45m)

QUEM DERA

Quem dera
que dela
pudesse
sentir,
o cheiro
presente
decente
surgir.
Do corpo
cheiroso
de leite
de rosas,
sabores
de amores
em tardes
morosas.
Em tardes
eternas
com flores
no campo;
no verde
teu corpo
brilhando
ao vento.
E a gente
sorrindo,
e a gente
no tempo,
sentindo
o amor
causar-nos
frescor.
Quem dera...

Nova Friburgo, 02/06/2000 (6h15m)

HAICAI V

Longa andança.
De amar e acreditar.
Outra esperança.

Nova Friburgo, 02/06/2000 (22h05m)

HAICAI IV

Tudo é vontade.
E vir da vida o devir.
Quanta bondade.

Nova Friburgo, 02/06/2000 (22h05m)

HAICAI III

Paixão de outono.
Corpo são e mente sana.
Não me abandono.

Nova Friburgo, 02/06/2000 (22h05m)

HAICAI II

Tempo de espera.
O amor que veio da dor.
tudo é quimera.

Nova Friburgo, 02/06/2000 (22h05m)

HAICAI I

Um amor bandido.
Um filho no lar perfilho.
É caso perdido.

Nova Friburgo, 02/06/2000 (22h05m)

GENEGENTE

Noemi nasceu
foi num sábado.
E eu logo comecei
a cantar.
E também iniciei
a amar.
E o dia passou
como um conto, ligeiro;
que fez ponto, certeiro
em meu coração.

Noemi já chegou!
Eu apregoei.
Agora ela é minha.
Pois, ela eu busquei
sobre ela orei
e senti
a voz de Deus responder.

Minha pequena querida
a menina que trouxe vida
a uns olhos
perdidos no tempo.
O vento da tarde
batendo
em minha face rosada.
A cantiga ninando
o meu coração.
E a pequena
embalando
num sonho real.
E Noemi encolhida
em meus braços
acon(chegada)
e a lágrima
da satisfação
vaporizando
na quentura
do rosto carmim
pra levantar aos céus
uma oferta suave
de cheiro da alma
que a lágrima quente
mostrou ser presente
mais fundo em mim.

Nova Friburgo, 02/06/2000 (22h55m)

ELEGIA DE OUTONO

Caem as tardes desses frios dias
ventos fortes em face a bater
no tempo a alma tu arrepias
e o sentimento que me faz sofrer.
Pois teu amor é como a sensação
das folhas de outono que o vento espalha
e qual tapete largadas neste chão
o meu amor sem teu favor encalha.

Ó amada minha, que dizem teus gestos
de expressivos, mitigados pela dor?
O meu coração, alinhava protestos
na ausência de expressão, das ações do teu amor.
Minha alma então, sonolenta e desavisada
em tua direção logo se põe a correr
e o vento soprando o corpo de minha amada
a leva pra bem longe, onde não a posso ter.

Os frutos ricos nos pomares abundantes
enfeitam as árvores e às folhagens dão cores.
O nosso amor, já não sendo como antes
me traz do teu corpo a falta dos sabores.
E choro por dentro e também choro por fora
como se a mendigar um pouquinho desse pão
porém a névoa densa que nem sempre vai embora
insiste em ressaltar toda a dor do coração.

Mas se no outono já tem frio, tem o vento, tem a chuva,
tem folhas secas espalhadas e é longa a madrugada!
Nesse tempo também tem: pinha, caqui, manga e uva
tão certo como me lembro da vozinha a goiabada.
Porém minha avó já morreu e o pomar já foi vendido
para um esperto judeu que transformou-o em lotes.
E o meu amor, como está? Da minha amada esquecido,
vive por este mundo, chateando-se com trotes.

Nova Friburgo, 30/05/2000 (7h25m)

A COISA

De ter
e deter,
determinada
terminada
e minada
é nada
da
a
coisa
a
na
é aba
abando
bando
ou nada
da dona
abandonada.

Nova Friburgo, 28/05/2000 (13h27m)

domingo, setembro 09, 2007

POEMA DA NOIVA DE MAIO

Ficastes noiva amiga;
ficastes noiva em maio.
Que farás da Tua vida,
vais brincar de “papagaio”?
Vais deixar de ser criança
ou “soprar balão no ar”?
Tu já sonhas com a festança,
do dia em que vais casar?

Do noivo, me fale agora:
Que camarada é esse?
Da infância que vai embora?
Da saudade que aparece?
Me fala noiva querida,
diz pra mim noiva de maio
que farás da tua vida:
realidade ou um desmaio?

Tu já sonhas com o véu,
grinalda e celebração?
Ore a Deus, busque no céu,
para ti uma aprovação.
Cante bem perto do ouvido
do teu amado exultante:
Tu és meu bem, meu querido,
te quero a cada instante!

Que farás noiva de maio:
Daqui pra frente viver?
A vida parece um raio
não custa a desaparecer.
Lembra-te do Eclesiastes:
viva bem com o teu amor.
Do coração já tirastes
um hino pro teu Senhor?

Agora tu tens no dedo
uma aliança brilhante.
Que te diz, “não tenhas medo,
cuidado com o rompante.”
Noiva do amor e de maio
já sonhas com o casamento
de matrimônio ele é laico
aguarde o melhor momento.

E tu mesmo o que é que diz
sobre o futuro num lar?
És da vida uma aprendiz
canta pra ele: “quero ser seu par!”
Mais que isto, noiva de maio
no dedo anelar pões aliança.
Faz do teu noivo poeta gaio
para o amor pague fiança.

E noiva de maio, não esqueças
de tudo que Deus te deu
e antes que adormeças
e grites que já venceu,
deixe teu coração se abrir
para o amor maior de Deus
e a vida irá lhe sorrir
para os sonhos que são teus.

Nova Friburgo, 27/05/2000 (11h24m)

UM TOQUE

Num instante o nosso toque
num só instante; a nossa sorte
já foi lançada e o meu enfoque
é fazê-lo firme, fazê-lo forte.
Foi pele com pele, suaves dedos
a deslizarem pelo seu braço
toque primeiro, ainda com medos
de se expandir para um abraço.

Nas contramarchas, no contratempos
tão perto respiro suave encanto
sentindo o sonho ao sabor dos ventos
viajar sem medos e sem espanto.
Mas quanta calma e quanto choro
que paradoxo é o meu amor
que em ti repousa em berço d’ouro
num simples toque do teu favor.

E quanto riso e quanto pranto
estranha forma de se amar
da triste lida o acalanto
meu coração vive a buscar.
Mas desse jeito e dessa história
de um toque leve e de raspão
fizeste registro bem na memória
dos meus sensores do coração.

Por isso canto, neste momento
do nosso toque aquela fagulha
acesa sempre em meu pensamento
minh’alma espetando, feito agulha.
Minh’alma tocando, feito piano
com mãos sensíveis a dedilhar
de um simples toque fazendo plano
de sempre sorrir, sempre te amar.

Nova Friburgo, 26/05/2000 (22h20m)

POEMA PARA CLEMIR FERNANDES

EM SEU CASAMENTO PLENO DE SONHOS E DE VERDES

Onde está Clemir
pra onde ele vai?
Vai pro Tocantins
encontrar seu pai.

O que vai fazer
o filho do Silva?
Vai fugir daqui
nesta comitiva.

Vai cantar bem forte
seu amor nascente
vai fazer uma festa
com a sua gente.

Na terra do côco
e do babaçu,
lá vai o Clemir
colher cupuaçu.

Vai com cheiro forte
de terra molhada
vai dizer “até a morte”
para a namorada.

Encontrar mãe Joelina
reencontrar “boneca”
com a cara mui alegre
e também muito sapeca.

Mas pra terra dele
vai de ônibus ou van?
Não importa minha gente
vale mesmo a Elcivan.

Onde está Clemir?
Já está em viagem?
Ele pensa bem feliz:
“Não pode ser miragem!”

E lá vai o Fernandes
bem cedo, rumo a roça.
Dessa vez, não como antes,
vai desposar a moça.

E há festa aqui na terra,
e há festa lá nos céus.
Pra alegria dos amigos
e do nosso bom Deus.

Mas será que volta
nosso amigo Clemir?
Ele é gente de lá
ou agora é daqui?

Sobre isso, todos sabem,
nosso amigo Clemir
já é homem do Mundo
em busca do seu devir.

E do nosso canto,
co’emoção disparada,
assim cantamos forte:
Clemir é bom camarada!

Clemir é bom camarada
e todos choramos por dentro
não poder estar com ele
juntos em seu casamento.

Por isso ao Pai rogamos
que os “silva” com os “lima”
formem lindo matrimônio
mais belo que a própria rima.

Querido Clemir finalmente:
“Tocantins” e não abro!
À Elcivan, um afago.
E nos vemos de repente.

Nova Friburgo, 26/05/2000 (22h49m)

POEMA DA AMADA ENQUANTO DORME

Amada minha
embora durmas
meus olhos vêem
as tuas formas.
Enquanto aninhas
meus sentimentos
meus olhos lêem
estes momentos.

Amada bela
coragem grande
tu és aquela
que o amor expande.
Tu és o grito
e o coração
por causa disto
tu és canção.

Amada linda
cabelos claros
corpo delgado
instantes raros.
O amor não finda
entre teus beijos
mesmo que acorde
dos meus desejos.

Amada jovem
pequenos seios
respira fundo
nos devaneios.
Sorriso breve
prolonga o jogo
dentes de neve
lábios de fogo.

Amada amante
sem te tocar
meu corpo queima
pois quer te amar.
Enquanto dormes
toda encolhida
respira a sorte
de minha vida.

Amada minha,
amada bela,
amada linda,
amor só dela.
Amada jovem,
amada amante,
amor de hoje,
amor infante.

Nova Friburgo, 26/05/2000 (21h55m)

CANTARES FRIBURGUENSES

Entre serras e vales de luz
construída de modo altaneiro
está Friburgo uma urbe que seduz.

Que seduz com encanto verdadeiro
e sinuosa se mostra a quem a vê
despertando a paixão do amor primeiro.

Amor primeiro que nasceu da adoção
de suas terras como solo a me abrigar
de suas gentes como manda o coração.

O coração manda fazer numa conquista
declaração solene de amor rasgado
bem aparente e sempre estando à vista.

Estando à vista tão bela natureza
bênção de Deus pra todo friburguense
neste paraíso construo minha fortaleza.

Minha fortaleza de fé e habitat
dos sentimentos, do progresso e tudo enfim
que puder de Friburgo em mim guardar.

Nova Friburgo, 26/05/2000 (8h55m)

A VOLTA DO SENHOR

Enquanto o Senhor não vem, e não sei quando virá,
Enquanto o Senhor não vem a fome continuará presente,
Enquanto o Senhor não vem a dor insistirá em doer
Enquanto o Senhor não vem o coração sofrerá as mágoas,
porque o Senhor pode tudo;
pode até abrir os corações e pôr um pouco de jeito nas coisas sem graça.
Enquanto o Senhor não vem o pai continuará suando a camisa;
a mãe, beirando perigosamente o fogão;
a criança, brincando no barranco molhado
e o bebê, chorando mijado no chão.
Enquanto o Senhor não vem a conta da luz e da água terá que ser paga;
o carrinho, no supermercado, andará muitas vezes por entre as gôndolas
até abrigar alguns víveres;
o desempregado baterá nas portas de quem lhes pede ridículos currículos
e os políticos farão o discurso demagógico da vez pra enganar os trouxas.
Enquanto o Senhor não vem a gente tem que encarar a vida,
tem que fazer a despedida do descanso, esquecer o ranço,
ir pra roça, não fazer troça;
ir pra fábrica, mesmo sendo trágica
a experiência fabril de usar bombril todo dia para ariar a panela suja de intenção.
Enquanto o Senhor não vem só nos resta cantar hinos
fazer dos baixos morais apeninos espirituais
para que o som da canção chegue aos céus, e de lá goteje orvalhos de esperança,
sacuda a modorna da festança que não aconteceu mas nos deixou em ressaca.
Enquanto o Senhor não vem temos chance de pegar este trem,
locomotiva da felicidade, destino da humanidade, respiro de sanidade,
prenhe de possibilidade de encontrar no mundo além algo melhor que aqui não temos
Enquanto o Senhor não vem.

Nova Friburgo, 26/05/2000 (9h28m)

TORMENTO

As portas que se fecham para a vida
estão bem perto a cerrar.
Sem esperança, abandonei a triste lida
e vim contigo cantar.

Não sei se sou eu merecedor
de tudo o que a vida mostrar
mas deixei o cansaço e a pasma dor
e vim contigo cantar.

A despensa, entreaberta, está vazia
e uma fome tremenda a saciar
à procura de socorro fingi que ía
e vim contigo cantar.

Há meses exorcizo o desemprego
já não penso que o possa abandonar
me humilhei, chorei, feri o ego
e vim contigo cantar.

Tanta dor, as contas estão vencendo
e o credor na porta a cobrar
larguei os sonhos em mim quase morrendo
e vim contigo cantar.

As crianças em casa sem diversão
e os braços cruzados a esperar
resoluto ouvi a voz do coração
e vim contigo cantar.

Já não penso da vida o horizonte
um dia com esperança alcançar
e lembrei-me de ti, eterna fonte
e vim contigo cantar.

Nova Friburgo, 25/05/2000 (15h54m)

sábado, setembro 08, 2007

POEMA DO ROSTO QUE NÃO SE VÊ

Que rosto é esse tão disforme?
É o amor que ainda não chegou
e a vida assim, mortificou
a espera de vestir o uniforme.

Que rosto é esse tão disforme?
É a alma que triste está por dentro
e a vida se tornou tormento
até mesmo quando o corpo dorme.

Que rosto é esse tão disforme?
É a sina de quem já não tem paz
e na face, o belo, se desfaz
poucos gestos há que o reforme.

Que rosto é esse tão disforme?
É expressão de quem vive de mentira
e na vida, aos outros, provoca a ira
ficando sempre, a cara enorme.

Que rosto é esse tão disforme?
É a virgem que não conhece o amor,
não tem sentimento pra chamar de senhor
em coração, que da fonte, a graça entorne.

Que rosto é esse tão disforme?
Perfeito não é, será que há jeito?
Respeito e fé, encontro em seu peito?
Só Cristo faz que a formosura retorne.

Nova Friburgo, 25/05/2000 (10h55m)

BALADA PARA AS TARDES COM VOCÊ

Ganhei por certo a ventura
de te ter bem junto a minha
insana rotina de tarde escura
pra colorir o que não tinha.
A cor dos teus olhos que definha
as sombras tristes deste lugar
já põe um fim a toda rinha
pois bom é ver você chegar!

Seus passos leves no corredor
me trazem, logo, sossego a alma
sabendo, certo, que o meu amor
agita o peito, mas pede calma.
Agora eu sei que o tempo espalma
num saque forçado meu jeito de amar
fazendo forte uma simples alga
pois bom é ver você chegar!

O sorriso fácil que em sua face
de um corpo frágil, adolescente
me traz frescor e em mim renasce
o pulsar da vida e de ser gente.
Só sabe mesmo, só mesmo sente
quem viu a luz de um certo luar
é como um raio, vem de repente
pois bom é ver você chegar!

Abrindo a porta, bem de mansinho
dizendo “oi”, linda voz a ecoar,
amor carmesim em pele de arminho
pois bom é ver você chegar!

Nova Friburgo, 25/05/2000 (10horas)

ERA LOUCO, O FREDERICO!

Dia desses, em minha casa
contemplando a Noemi
não agüentei de felicidade
ao ver minha filha sorrir.
E disse pra minha esposa
a respeito de tudo isso
que ela aprendera primeiro
a linguagem do sorriso.

Não! Disse-me resoluta.
O sorriso não foi a linguagem
que ela adotou primeiro.
Bem antes do travesseiro
aconchegá-la no berço
o berro foi sua fala.
Sem se importar com o decoro
a sua primeira linguagem
foi a linguagem do choro.

É verdade, toda criança
sem falar qualquer palavra
é mestra na comunicação.
O Criador as dotou, cada uma,
com especial dom que, em suma,
improvisa a conversação.
E como num solo de jazz
o que toda criança faz
é ser original na canção.

Ai meu Deus, que tormento
a experiência do césar romano
de que agora eu me lembro.
Quis descobrir para o mundo
qual teria sido o primeiro idioma
falado pela civilização.
Preparou uma amostragem
em que vários bebês
ficariam sem comunicação.

Como era louco o Frederico,
o imperador romano
que propôs tal absurdo!
Hebraico, grego ou latim?
Pensou ser de utilidade
descobrir sua originalidade.
E sua ordem foi essa:
Alimentem as crianças
porém, nada de conversa!

E, então, as amas-de-leite
que receberam a incumbência
prestaram um juramento:
Não podiam emitir som,
deviam amamentar em silêncio,
para sucesso do experimento.
E ao fim da provação,
de um ano tão sofrido,
os bebês haviam morrido.

Ah, meu Deus, quanta estultícia,
embutida em tal notícia
sobre a intenção do czar.
Precisava alguns bebês
no meio de tanta dor
suas vidas eliminar?
Não sabia o imperador
que o primeiro idioma da terra
é a linguagem do amor?

Hoje, quando percebo a Noemi:
olhando, sorrindo ou chorando
me pergunto se estou amando.
Pois meu Deus, tu mesmo ensinaste
em seu Filho que morreu na cruz
sofrendo a dor que era minha.
Que o meu querido Jesus,
foi o grande embaixador
da linguagem primeira do amor.

Nova Friburgo, 10 e 21/05/2000 [18h39m]

NOITE DE ÁGUAS

Noites de águas -
vitrines derretidas do amor.
Travesseiros encharcados
em visões de manequins
decompostos.
A noite é uma dor.
Violeta, a sua cor.
A espada cortante
aponta o centro do cérebro.
Dâmocles se ouriça
empertigado nos sonhos da noite.
A água pinga.
A aguardente
queima a ponta da língua,
que puxa pra dentro da boca
a lágrima quente e salgada
que desce face abaixo,
que sulca o rosto sofrido,
que desperta compaixão.
O estado de Juan Pablo é febril.
O cobertor suga o corpo
molhando a cama.
E ele delira -
copo e frasco -
e sua ira
vai dando lugar a revolta.
O tempo faz volta
em sua cabeça.
Besteira!
Ele se mexe.
Está prenhe de inquietude;
assombra-se com a noite.
É preciso uma nova atitude.
O suor e as lágrimas se juntam
e Juan Pablo abre os olhos,
abre um sorriso,
dá sinal de vida.

[Jess.] Nova Friburgo, 06/05/2000. (20h50m)

ORAÇÃO PELO BRASIL

(A propósito das comemorações
dos 500 anos do Descobrimento)

Ó meu Deus, neste Brasil que comemora
os quinhentos anos da Esquadra de Cabral
faz com que o brasileiro sem demora
descubra o amor do Cristo em sua vida
abrace um movimento de fé que dê partida
ao sorriso fácil como de criança no Natal.

Se no começo do século dezesseis
um séquito de homens com o Navegador
ao içar as velas em alto mar aqui fez
nascer a nação que hoje atende por Brasil
faz vera, a Cruz, para este povo varonil
dando-nos a graça do Cristo Salvador.

Poucos dias após a chegada dos portugueses
Henrique Soares de Coimbra e os tripulantes
celebraram a cerimônia religiosa que tantas vezes
esta terra, os nativos, assistiram no escuro
foi no ilhéu da Coroa Vermelha, em Porto Seguro,
e assim a “terra brasilis” nunca mais foi como dantes.

Mas, meu Deus, na base primeira deste povo
composta de índios das tribos tupiniquins
fez-se necessário dela ser feito algo novo
pois trocavam preciosidades por espelhos
e até hoje por causa dos jesuítas e seus conselhos
trocam o Deus verdadeiro por ídolos e afins.

Quando em mil, quinhentos e dezessete
Na Alemanha de Lutero as teses surgiram
os fiéis, unidos, jogaram confete
para as portas espirituais que se abriram.
E por toda a Europa houve repercussão
do jeito novo de falar da Salvação.

Mesmo assim, pouco depois, na bélica Espanha
como braço católico da torpe Inquisição
Ignácio de Loyola, usando de artimanha
da dita Companhia de Jesus lança a fundação.
Foi em mil, quinhentos e trinta e quatro
que a contra-reforma usou desse aparato.

E o Brasil ganhou como brinde dessa história
um homem que o Papa ainda hoje quer santificar.
José de Anchieta, que está, bem presente na memória
como o “santo” que a um cidadão mandou matar.
E o que ganhamos nós com este estrupício
que de Jesus, na cruz, esquece o sacrifício?

Outro relato que as páginas do Brasil registra
do aventureiro Hans Staden que mesmo muito ágil
Pouco tempo depois, no litoral paulista
o alemão protestante foi vítima de naufrágio.
E quando os canibais o quiseram saborear
foi salvo por um Salmo que pôs-se logo a cantar.

Foi no dia dez de março, do ano de cinqüenta e sete
daquele século dezesseis num país de solo agreste
que o pastor Pedro Richier, calvinista de quatro costados
pregou o primeiro sermão protestante por estes lados.
O comandante Villegaignon autorizou esta celebração
da invasão francesa que fugia da Inquisição.

Se os franceses chegaram ao Rio, na Baía de Guanabara,
os holandeses, no nordeste, quiseram cumprir sua tara.
Chegaram então ao Recife e dominando toda a costa
expurgaram o catolicismo e a reformada igreja imposta
trouxe um tempo de prosperidade nas abas de Nassau
surgindo até sinagoga judia, da democracia liberal.

No século dezessete expulsos do nordeste brasileiro
os holandeses desistiram e fugiram do vespeiro
da incitação Católica, em tom de “Guerra Santa”.
Até que a realeza de Portugal, chegando por estas bandas
sob conselhos do embaixador inglês, que como bom protestante
quis fazer do Brasil freguês da Inglaterra tão distante.

Já agora se vivendo no Brasil um novo tempo
em mil, oitocentos e dez foi marcado um grande tento.
O monarca concedeu tal liberdade de culto aqui
que tinha crente convertendo até macaco e sagüi
mas tudo não passou de ardil com interesse comercial
dos ingleses e D. João VI, sob a égide imperial.

Em mil, oitocentos e dezenove; dia doze de agosto
o Rio de Janeiro viu surgir com grande gosto
a pedra fundamental do primeiro templo protestante.
Era o marco inicial do protestantismo de migração
que o país inteiro viu nascer naquele instante
como sucedâneo direto do protestantismo de invasão.

Quatro anos depois, mês de maio, dia três,
a terra do Morro Queimado como cidade se fez
ao chegar a grande leva de protestantes alemães
o Brasil brasileiro em Nova Friburgo algo bom
viu nascer para alegria da terra das nossas mães
no primeiro culto e sermão de Friedrich Sauerbronn.

Mas nem só de luteranos, sejam alemães ou suiços
faz-se um país evangélico e todos sabemos disso.
Então a Igreja Metodista dos Estados Unidos da América
no ano de trinta e cinco com muita coragem e oração
naquele século dezenove deixa uma grande marca
o novo movimento chamado: protestantismo de missão.

Se os primeiros missionários, marinheiros e comerciantes,
em inglês ou noutra língua pregavam para imigrantes
o fato é que pouco depois chega ao Brasil um casal
que em Petrópolis faria uma obra de grande porte
Robert e Sara Kalley, da Igreja Congregacional
amigos de Pedro II, fizeram mudar nossa sorte.

Naqueles tempos difíceis destas terras de exploração
é sabido o grande fato que no Brasil português
dominado pelo papado protestante não tinham vez
pois nos dias de Noé “casavam-se e davam-se em casamento”
e no Brasil para nascer, casar, morrer, ter comunhão
antes da chegada dos Kalley, para os crentes era tormento.

Os tempos foram passando trazendo maior abertura
para a colonização estrangeira que conquistou nossas terras
implantando vilas, cidades, nos litorais e nas serras.
E ainda no século dezenove, cinqüenta e nove era o ano
chegou o grande missionário que mudou nossa estrutura
Ashbel Green Simonton, o primeiro presbiteriano.

Nesta época inicial do protestantismo de missão
um fato se destacou, foi a conversão de um padre.
O famoso “padre protestante” abalou a igreja madre,
pois José Manoel da Conceição, logo testemunhando
em vários rincões do país, proclamou sua conversão
e os que punham a fé no Cristo ele ía batizando.

No ano setenta e um, um grande marco se deu
a colônia americana de Santa Bárbara d’Oeste
organizou a primeira igreja batista inconteste
ainda foi uma igreja voltada para o estrangeiro
mas que logo fez surgir, fruto do trabalho seu
a Igreja da Estação que alcançou um brasileiro.

Antônio T. de Albuquerque, o primeiro batista do país
era também um padre, que logo se converteu
e ingressando nas fileiras batistas não mais se arrependeu.
Com a chegada do primeiro casal de missionários
William e Anna Bagby, os batistas criaram raiz
no ano de oitenta e um, eram eles visionários.

Mas foi em quinze de outubro, um ano após a chegada,
que os missionários batistas deram a grande largada
em Salvador, na Bahia, como fruto primordial.
Junto com o casal Taylor, outro que desceu o Equador,
organizou a igreja que o oficial historiador
Reis Pereira reconheceu como marco inicial.

Já no início do século XX - em mil, novecentos e onze -
uma nova trombeta ecoou, fazendo tinir o bronze.
Surgiu a Assembléia de Deus, decana do pentecostalismo
com Daniel Berg e Gunnar Vingren, egressos da igreja batista
na cidade de Belém do Pará e como a história registra
reuniam-se nos porões da Igreja, pregando um novo batismo.

Já salientou a Sociologia, o gérmen da divisão
está presente no protestantismo desde a sua fundação.
Assim sendo, o século XX, viu nascer muitas igrejas
seitas e denominações se implantaram nestes trópicos
pregando da teologia, só as partes, apenas tópicos,
que beirando a heresia roubaram do bolo as cerejas.

Na segunda metade do século, em setenta e sete é formada
a Universal do Reino de Deus, uma igreja muito polêmica
que marcou o uso ostensivo dos meios de comunicação.
Edir Macedo seu bispo, fundador e patriarca
abusou do emocionalismo e a teoria sistêmica
deu lugar a um Evangelho barateado na televisão.

Assim, depois dos percalços do início de sua era
os evangélicos brasileiros cresceram em profusão
tornando-se o grupo religioso - que nestes anos dois mil
do Oiapoque ao Chuí, nas cidades ou entre feras
o estandarte do Evangelho colocado em ação
por quase trinta milhões - mais cresceu neste Brasil.

Mas meu Deus, agora sei, que o grande desafio
já não é o crescimento e nem mesmo aceitação,
pois ficou fácil ser crente no meio de tanta gente.
Peço, então, Senhor meu Deus, que nos poupe o desvario
de qualquer investimento que não seja a salvação
deste povo brasileiro que precisa ir em frente.

Permita, ó Pai, que teu povo aqui na terra humilhado
do passado arrependido pelos caminhos que trilhou
abandonando tua Palavra, esquecendo-se do amor.
Também reconheça seus erros e converta-se do pecado
te busque de coração e ao Cristo que se entregou
pois “Feliz é a nação, cujo Deus é o Senhor”.

Laranjais, RJ, 21/04/2000 (23h15m)
Nova Friburgo, RJ, 04/05/2000 (06h37m)

VIAGENS...

Enquanto penso
invento
ao sabor do vento
do circulador de ar
um jeito novo
de inflar uma visão de ti.

Um par de sapatos de pés trocados
e meias amarfanhadas
não me levarão a ti
a não ser pelos caminhos
tortuosos da trôpega
caminhada do não ser.

Nem tampouco a
calça do terno novo
que pendurada na boca do cofre -
só se fosse mágica -
me transportaria
pelo túnel do tempo
do te encontrar.

Quem sabe a gaveta
do criado-mudo, se aberta,
poderia abrigar
meu corpanzil.
Mas ainda assim,
neste desenho animado,
os mistérios se desfariam
no abri-la.

Volto ao vento.
E tento
de novo circular
com o ar que a mim chega.
O vento pode.
Porque seu frescor
em meu corpo seminu
aguça a imaginação
de ti a me tocar.

Laranjais, RJ, 23/04/2000 (07h13m)

AMALGAMADAS

Há mal
nas almas
que nas lamas
são qual lâmpadas
apagadas?
A nau
vendaval
atravessa
sobre vau
de lama
espessa.

Almas gamadas
amalgamadas
pastam
gamos e gazelas
em pradarias
galvanizadas
de amor.

E o mal
desaparece.
Brotam elos
amarelos
do ouro
poderoso
da Canção da Tarde.

Laranjais, RJ, 23/04/2000 (06h58m)

QUARTO VAZIO

Para Katinha

No quarto, a solidão presente.
E entre os móveis antigos, objetos inanimados,
meu coração bate forte a sua ausência.

Sinto falta do amor.
Quero embriagar-me em teu cheiro
mas a nuca branca e sedosa não está ao alcance.
Aquele curvilíneo corpo que me embala
nas noites dos sonos de minha mocidade
hoje está distante e eu me vejo só, neste quarto vazio.

Um suspiro de saudade e desejo agita meu peito
e do jeito que estou alvoroça este leito da solidão.

O móvel secular de madeira nobre
espreita do alto meu desatino.
Esborrachado na cama de casal do quarto vazio,
não te tenho para acarinhar.

E quando penso que a deixei preocupada
e nossos três filhotes no ninho vazio de pai
sinto raiva da solidão forçada
que os compromissos da vida me impõem...

Amo os teus seios,
mas os mamilos intumescidos
que tanto já suportaram meus indicadores,
hoje, no vazio desse quarto, são apenas pensamentos.

Posso agora sentir o teu calor virtual
trazido ao meu corpo pelos magnetos da imaginação.

E quanto mais desejo nesta noite teu corpo nu
em meus braços enlaçados,
mais sofro por saber que estou aqui
numa noite distante
diante de um quarto vazio de ti.

Laranjais, RJ, 22/04/2000 (00h26m)

sexta-feira, setembro 07, 2007

PEÇAS ESPARSAS

A amplidão do espaço
que me prende,
solta as asas
da imaginação...

Cada peça disposta em seu canto
faz-me ver a leveza das mãos
que a depuseram com
a arte do amor caseiro.

Não há vazios.
Há espaços
que se preenchem com móveis,
mas também há aqueles
que o corpo preencherá em movimento.

É quando penso em você,
por trás de cada detalhe
escolhido para compor
o ambiente que chamamos
“ninho de amor”.

As peças do quebra-cabeças
da casa nova
compõem um quadro perfeito
porque são amalgamadas de amor.

Laranjais, RJ, 22/04/2000 (23h28m)

EM TOM DE SAUDADE

Um quarto. Um espelho pálido.
Imagem bruxuleante de mim mesmo
a dizer que na tua ausência
também sinto falta de mim.

Uma cama de casal grande demais
para os meus pensamentos.
Pequena, apenas para as emoções.

Lençóis. Cortinas.
Abraço o travesseiro
recendendo à fronha de guarda-roupa.
E o cofre gigantesco -
de ferro fundido de início de século XX -
avisa-me zombeteiro que o nosso amor
ficou trancado no segredo
particular de sua não-presença.

Olho para o forro do teto
de antigo lambris branco reformado.
O pé-direito alto fala-me
de antigos sonhos de nós dois
mas também lembra-me
da distância inatingível
de teu corpo agora.

Minha carne treme na rosácea
sensação das cores e cheiros
sutis do amor,
e sonho com o momento
em que nossos corações palpitantes
hão de se reencontrar no paraíso
do nosso lar.

Laranjais, RJ, 22/04/2000 (23h15m)

DA JANELA DO HOTEL

Da janela do hotel
Vejo janelas opostas
De prédios eqüidistantes
E gentes pensativas
Amoldando os parapeitos.

Debruçam-se no espaço da vida
Entre os pensares que os prendem
Ao quarto desalinhado
E aos ares promissores do além-janela,
Para os quais essas gentes ainda não possuem asas.

Uma rolinha assustada voa próxima de mim.
Acompanho-a com os olhos
E meu corpo se comprime na parede,
Querendo ser Jesus, querendo algo mais.

Se o mundo é presídio,
Os espaços que o homem constrói
São solitárias malcheirosas e sufocantes de se viver.

Prefiro os espaços de Deus.
Onde há sempre sinuosos caminhos que se encontram,
Formas que se completam,
Montanhas que abraçam vales,
Planícies que abrigam campos,
Rios que percorrem distâncias e dão a volta ao mundo
Num tempo infinitamente menor que 80 dias.

Da janela do hotel não vejo tudo isso.
Nem sempre encontro o enquadramento perfeito
Para fugir das janelas opostas.

Mas este Ser que me domina
Faz abrir-se em mim uma janela
Por onde não passam apenas idéias:
Viajam sonhos, descortinam-se visões de coisas
Que nem sempre os olhos vêem da janela do hotel.

Goiânia, 22/01/98.

TRÊS PERGUNTAS, UM SÓ CORAÇÃO!

In Memorian de Júlia Soares Almeida


Para que servem os lenços?

Conhecia-os há muito tempo,
mas foram poucas as vezes
que os tive perto de mim.
Alguns verdes, outros marrons,
mas em sua maioria, brancos.
Lisos ou de listras multiformes

Para que servem os lenços?

Das suas utilidades
há uma que não me atrai:
Tê-lo comigo gripado.
Há outra que não coincide:
Tê-lo comigo suado.
E o suor caminha no rosto
porque não há lenço no bolso...

Para que servem os lenços?

Mas houve um momento difícil
em que tê-lo comigo foi preciso
para aparar um pranto incontido
de um ser querido que se foi.
Se tornou preciso carregá-lo
porque as lágrimas eram certas!

Para que servem os lenços?

Apenas para enxugar o rosto
e conter o pranto constante
das quentes lágrimas incessantes?
Para esconder-se da triste realidade
de que alguém que amo partiu
e não consigo entender?

Para que servem os lenços?

Servem também para acenar
um adeus que é até-logo,
pois existe a certeza
de um reencontro feliz
com aquela que nesta vida
soube com Cristo andar.
Para que servem os lenços?

Para encerrar uma página
de choros e tristezas
quando serão preservadas
apenas as recordações
de minha querida irmã
vida pura e tão bela
onde Cristo foi Senhor.

Sua amizade tão bonita
no meu coração perpetuarei...


Para que ela se foi, Senhor?

Não quero perguntar-te, ó Deus:
- Por que ela se foi?

Devem ser muitas as respostas;
difíceis e complicadas!

Quero indagar-te, ó Pai:
- Para que ela se foi?

Foi para chamar a atenção
para o meu primeiro amor a Ti?
Foi para despertar em mim
a paixão pelas almas?

Ainda não sei, Senhor,
o que mais queres me mostrar...

Pensei comigo mesmo:
- Júlia, sua morte
não há de ter sido em vão!

Hei de ser diferente daqui pra frente.
Quem sabe, melhor pessoa, melhor crente.
Mais interessado no bem-estar do próximo.

Mas, continuei pensando
e esta reflexão me levou
à morte de Cristo.
E, então, entendi tudo:
- Cristo, sua morte
não há de ter sido em vão!
Hei de ser uma nova pessoa de agora em diante.
Um crente mais fiel, do pecado mais distante.
Mais amigo do Evangelho!

Por isso, quero declarar-te agora, Senhor:
A minha vida a Ti pertence.
Quero consagrá-la para o Teu serviço,
pois como disse-me ela,
mandamento das Direitos Humanos:
“Procure apresentar um excelente serviço.
O que realmente vale em nossa vida
é aquilo que fazemos para outros.”

Senhor!
Não sou meu, usa-me como quiseres!


De onde vêm as lágrimas?

Não sei!

Estou aqui parado
e elas estão teimosas,
quentes a fluir...

Por certo algum livro
há de me responder!

Ah, aqui está:
“As lágrimas vêm
das glândulas do olho
e são gotas do humor
por elas segregadas”.

Mas não é nada disso!

As lágrimas vêm da minha dor.
Sofrimento / se pa ra ção,
saudades do coração.

As lágrimas vêm do meu interior,
do profundo do meu ser.

Vêm da minha tristeza,
da situação de incerteza
sobre o que virá daqui pra frente.

Vêm da minha angústia.
Vêm das palavras que não foram ditas e
dos gestos que não foram sequer esboçados
em direção a esta amada que partiu.

As minhas lágrimas são fruto
das recordações tão presentes
desta querida que se foi.

Mas estas lágrimas são passageiras -
eu tenho certeza disto -,
pois confio em meu Deus.

A minha alegria voltará,
pois ela foi vitoriosa
e Deus me dará respostas
do porquê as lágrimas vieram...

Niterói, 22/02/1990.

QUANDO A MORTE PASSA PERTO...

In Memorian de Jovelina Barros Faria

A gente nunca espera por ela,
mas, quando vem:
Ou passa junto ou passa perto.

É a morte
que, no fundo,
não dá sinal de alerta:
Ou leva a gente
ou leva alguém que a gente quer que fique,

...quando ela passa perto!

Aí se descobre
que ainda não se pensou nela.
E isto,
não por falta de consideração,
pois geralmente ela não precisa de convite:
É intrusa,
chega sem ser convidada!

Não se pensou nela,
porque ela tem andado por outros ares,
tem visitado outros corpos,
tem conquistado outras terras:
O seu perfume tem passado longe...
Mas, tudo é diferente...

...quando ela passa perto!

Você se fere,
se machuca,
se agride;
para entender o que ela é,
para saber porque ela vem,
para compreender a razão dela ter levado,
exatamente, quem você nunca imaginou
ou quem você gostaria que não fosse,

...ao menos dessa vez!

...mas ela passou perto!

E você reivindica,
grita,
clama.
Chega a falar em injustiça!
Mas não tem jeito:
É sem retrocesso.

...pois ela passou perto!

Surge então o vazio.
Uma ausência melancólica
das palavras que esse ausente apenas balbuciou,
dos atos que ficaram congelados no ar,
dos gestos de carinho que não se conseguiu abraçar!

As ausências trazem lembranças
e as lembranças, saudades:
Das palavras, atos e gestos de carinho
que lhe couberam como parte dedicada.

Quando ela passa perto:
“Tudo muda / tudo se transforma!”
Só ela é sempre igual:
Indiferente!
Não escolhe gente:
Quem seja,
como seja,
onde esteja.

...quando ela passa perto!

...ou passa longe!

Porque ela está sempre passando.
Mas a gente só sente
ou pensa nela...

...quando ela passa perto!

Niterói, 05/02/1988 (1h25m).