quarta-feira, agosto 30, 2017

PESQUE

como quem põe a isca
no anzol de sempre
mas sonha com o peixe novo
cuja história nunca foi contada
por nadar submerso
nas turvas águas do Oceano da vida

traga à tona o desconhecido
apresente ao mundo este peixe
que agrada à vista
e se apresenta soberbo
como o troféu de uma geração

tire da escuridão dos mares
o alimento da tua esperança
traga à superfície as escamas luzentes
dos sonhos que te farão brilhar
segure com as mãos
o resultado do teu labor
o mundo precisa ver
em que projetos passeiam teus olhos
em que paisagens percorrem tuas artes

realizar é exercício de paciência
sonhar é jogar o anzol todo dia
um dia teu peixe aparece no barco
e tu navegarás seguro e feliz
de volta pra casa com sorriso no rosto

reúna a família e acenda o carvão
teu sonho é um peixe fora dos mares
é um novo momento, destes ares
que tomam conta do teu coração

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
20/08/2017 (05h35min).

HISTÓRIA DE PESCADOR

Quando a rede
foi lançada
e o mar
reagiu
o primeiro peixe
que a encontrou
se prendeu
e trouxe
outros.

Não podia
ser amor
à primeira vista.
As guelras
e barbatanas
se inutilizaram.

Mas, o pescador
voltou
pra casa
feliz.

Sua história
de pescador
seria real
naquele dia.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
20/08/2017 (05h20min).

domingo, agosto 20, 2017

OVELHA

Ovelha
anjo
com humanidade

melhor é tua metade
sal da terra

a parte que tempera
este mundo

somente uma ovelha
pode ser feliz

para que te serviriam
talentos ou dons

se a ausência
de Deus fosse notória

a outra metade
luz do mundo

a parte que vai fundo
nesta terra

abre brechas
luz de réstias

o que é
é puro sal

o que não é sal
é pura luz

ovelha é anjo
em meio as gentes

que no mundo
com sua crença
faz diferença!

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
09/08/2017 (03h53min).

DISCIPUL(O)VELHA

Como um velho discípulo
trazemos no corpo
as marcas de Cristo
e nossa faceta ovelha
teima em recolher-se
tímida como a sombra.
Carregamos na viagem da vida
paralisantes receios
demasiados recuos
planejamentos excessivos
a submissão inofensiva
da condição de ovelha.

Como um discípulo maduro
sabemos que não se pode
perder a ternura
morrer sem candura
deixar se apagar em nós
a chama da fé.

Como discípulo experimentado
levamos no passeio da vida
o rosto de ovelha
o jeito de ovelha
a simpatia e a beleza
de ovelha do Bom Pastor.

Mas, também, a força do discípulo
a coragem do discípulo
o chamado de quem
deixa marcas não impostas,
por onde passa com seu jeito
no testemunho de vida
de quem sabe que do outro lado
para onde vai o discipul(o)velha
não há qualquer discipulado
e não há possibilidade
de deixar algum legado.

À ovelha está ordenado
morrer uma só vez
mas o discípulo continua
na vida daquele que inspirou.
No discipul(o)velha a parte ovelha
mostra-se menos capaz de durar
que sua parte discípulo.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
09/08/2017 (04h54min).

sexta-feira, agosto 18, 2017

SEI QUE SER DISCÍPULO

Sei que ser discípulo
é ler as vidas existentes
para além dos rostos das gentes.
É aprender que pouco sei
(quase um nada metafórico)
ante o Tudo do Universo
e o Deus que escreve verso
em cada flor.
Sei que ser discípulo
é enxergar as raízes
escondidas na terra
que sustentam
a gigantesca árvore
por amor.
Sei que ser discípulo
é uma coreografia
bem ensaiada
de pássaros que voejam
na liberdade dos céus.
Sei que preciso de poemas
que me tragam leveza
e me ensinem a escrevê-los.
Sei que preciso de raízes
que me ensinem a humildade
de ser suporte para outros.
Sei que preciso de pássaros
que passem em minha vida
ensinando a comunhão
e o sentido da liberdade.
Ser discípulo é compreender
que o Mestre rege o Universo
e minha vida
e tudo fez bom a seu tempo
para mim.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
05/08/2017 (05h03min).

GENTES

Ele disse
gente
e era como se fosse
uma interjeição qualquer
sem sentido prévio
apenas um conclamar
de ouvidos
um alerta simplório
para um falar coletivo

mal sabia
que eram muitas
as gentes
por trás daquele aviso
e vieram sonhos irrealizados
corações partidos
almas sequiosas
histórias interrompidas
ressentimentos guardados
nas gavetas do coração
quartos, livros, canções
passagens de navio e
bilhetes de Maracanã
e milhares de sofás
que acolheram beijos e abraços
e recolheram lágrimas
e esconderam separações

é possível olhar para as gentes
e não ver
o que a face encobre...

é nas gentes
que está o sonho e a esperança
que está a crença de criança
é no rosto
que se vê a aflição
que se descortina o coração
mas, preste atenção
há gente chorando
há rostos inseguros
há sofrimento
nas faces sulcadas pelo tempo
há devaneios
nas falas loucas
de bocas tortas
há punhais nas mãos
desconsolo e frustração
há dedos no gatilho
e há gente pronta
para disparar o fim
há gente indo
há gente vindo
há xingamentos e gritarias
há gente que se esconde
atrás das gentes
há quem dissemine a paz
há cultores do ódio
gente que ama
e gente cujos olhos
se inflamam de raiva
e espumam desesperos
há gente que se cria
no meio da multidão
há baderneiros
com paus e pedras
nas mãos
e pacificadores
que carregam bíblias
nos sovacos
bem perto do coração

os mistérios das gentes
promove o medo do encontro
mas, eu digo
(nesse meu coração-discípulo);
eu só penso nas novas gentes
que hão de nascer dessas gentes.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
04/08/2017 (04h27min).

segunda-feira, agosto 14, 2017

CARREGO COMIGO NESTE ANDAR…

Uma Bíblia
gasta do manuseio
uns caramelos
coloridos
folhetos carimbados
nomes vários
de alguma gente
em papel registrados

minha esperança
de discípulo andarilho
uma crença
forjada na experiência
o sabor doce
da alegria infante
um espaço de acolhimento
amor de Deus
cheiro de gente
a busca do avivamento

minha pregação
de discípulo andarilho

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
04/08/2017 (04h03min).

TERRAS FÉRTEIS

Se eu pegasse
um punhado seu
nas mãos
sentiria a vida.
O cheiro molhado
me persegue a alma
e ouço
o canto dos pássaros
que se abrigam
nas folhagens
das árvores
do futuro.
E enxergo
as crianças
que brincam
debaixo das copas
dessas árvores
imaginárias...

Vem, discípulo
escuta no meu sonho
o silêncio respeitoso
das mudas
que germinam
no coração boa terra.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
04/08/2017 (03h52min). 

sexta-feira, agosto 11, 2017

O DISCIPULADO NÃO REALIZADO

No cerne da minha memória viva
veio à tona o discipulado não realizado
a vida que não veio me incomoda
como ondas que batem na praia e voltam ao mar

os abraços que não dei, sorrisos recolhidos
orações não apresentadas aos céus
bíblias fechadas, estudos em branco
o que fazer da comunhão
que ficou guardada na dispensa do coração?

o discipulado não realizado engole os feitos
e a alegria não sentida, o amor retido
celebração da vitória adiada sem data
vêm à memória toldando o sonho

há palavras que se recolhem como gato arisco
sutil sumiço no entardecer da vida
em que o pensar toma-se de nostalgia
e se tenta resgatar a fé perdida no caminho

como se faz importante neste instante
aquilo que não se concretizou
o amigo que foi cedo demais
os RDs que não aconteceram jamais

a gratidão assume o controle da emoção
em coração que percebe o quanto Deus fez
e quantas vidas foram resgatadas
porque vida na vida foi seu discipular

mas se acende forte na memória
a complexa interrogação do não feito
a vida que se foi em qualquer atalho
de um belo discipulado não realizado.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
28/07/2017 (05h50min).

AS EMOÇÕES

“E ao semear…” (Mt 13.4a).

Muita coisa acontece
quando se põe a semear.
Se amar se aprende amando;
colher se aprende semeando.
Você pode não saber fazer plantio hoje
se tenta, as sementes criam asas e voam
lhe falta intimidade com o solo
e parece difícil a caminhada sobre este chão.
Mas, experimente abrir o coração
sonhar com a colheita logo adiante
você verá que não haverá celeiro bastante
para abrigar a quantidade de sonhos
transformados em realizações.
O sol por cima ou qualquer chuva incômoda
nem o chão duro, de difícil acesso
serão impedimentos
se soprarem ventos
de uma paz, brisa leve
que sua alma leve
pros campos floridos
prontos pra colheita.
Nada substitui esta emoção
e os sentimentos, do semeador.
Só ao semear
é que se abre a porta
(e isto é o que importa)
para a experiência,
desse doce amor.
Só ao semear
quando se põe de pé
é que se atravessa
e nada há que impeça
a avenida da fé.
Só ao semear
se enxerga a pujança
é que se vislumbra
(e não há penumbra)
a firme esperança.
O que se vive ao semear
não se vive em outro lugar.
O lugar do crente é na semeadura.
Deus escreveu esta partitura
para o crente executar doce canção de vida.
É com paixão pelas almas
que se experimenta o amor de Deus.
É compaixão posta em prática
que acende a chama da fé.
É com o Pai neste chão
que se adentra a porta da esperança
e se percebe que se alcança
um hino de adoração.
Já é feliz quem semeia,
pois de sementes, mão cheia
cheio se fará o coração
quanto menos sementes na mão.
Só é feliz o que vive
a experiência diária
de ir aos solos das gentes
à procura da boa terra.
O cristão não sobrevive
sem compor esta ária
doces frutos, os presentes
que o bom coração encerra.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
17/07/2017 (05h17min).