quinta-feira, maio 08, 2014

APRISCO

Ovelhas desciam a colina.
O aprisco não atraia gentes
esvaziava sonhos.
E o desejo de falar ao seminarista-pastor
que sua homilia não emocionava –
(e que ele deveria fazer mais orações)
era mais forte em mim que as árvores daquele morro.

(estava como no dito adaptado;
um olho no pastor, outro no culto)

O rapazinho era magérrimo
paletó largo, engolindo-o.
Recém formado, não saberia:
que a espiritualidade era muito mais
que impressionar com ricas leituras
e palavras rebuscadas.

Enquanto isso,
eu ali como ovelha
que subia a colina sempre
para ouvir as palavras do futuro pastor
com os ouvidos colados na esperança
e a cabeça mentalizando o futuro.

Mas o templo mesmo
tirando o esvaziamento dos sonhos
e os arroubos do seminarista
era a casa das ovelhas e ali o seu lar.

Era alimento, vida e proteção.
E tudo mudou, quando ele começou a orar...

Josué Ebenézer – Nova Friburgo,

03 de Maio de 2014 (23h50min).

TU, MEU DEUS!

Viestes-me ao encontro quando
escondido no silêncio de minha alma
e abandonado na esperança
já não enxergava horizonte. Ternamente,
em meio a tudo, as suas mãos não se detiveram
na periferia do meu ser. Solitário, na multidão,
senti o abraço do Espírito, e, o meu corpo ferido,
abandou-se ao aconchego, de que me fizestes objeto
no lugar secreto da comunhão.
Nos instantes da eficiente harmonia,
são suas mãos, que em paz, sinto a tocar-me.
E na noite da vida, angustiante existência,
a revolta esvaziou-se momentânea, até escutei,
os antigos LPs de Feliciano Amaral
replicarem canções da fé dos meus pais
e conclui que era possível uma paz duradoura.
Houve morte ou vida; indaguei atordoado.
Não havia alguém perto para compreender
meus pensamentos, entrar no meu imo,
interessar-se pelos meus desejos de mudanças.
Quem haveria de escutar-me na hora da dor profunda?
Tu, meu Deus! Meu coração batia forte na resposta interior.
Tu és o Pai de todas a luzes e meu coração irradia esta paz.
Eu era o recém-nascido, o Nicodemos pós-moderno
e aquele que haveria de resplandecer sua luz.
E para mostrar que sua graça é infinda
e seu amor não termina,
os olhos teus, meu Deu, me encontraram na agonia
e raiou em mim novo dia, em alma adormecida.
Senti bambearem-se minhas pernas
quando o Espírito soprou vida em meu ser:
Mas, fiquei de pé!

Josué Ebenézer – Nova Friburgo,

01 de Maio de 2014 (10h30min).

DIVAGAÇÃO

Eu, próximo a Maternidade de Friburgo.
Via estreita, impedida, tomada de obras,
e abarrotada de carros de um dos lados...
Um lugar difícil de estacionar
(como se não fora diferente com um bebê:
chegar ao mundo e encontrar um berço).
Eu com paciente impaciente:
enjoos, vômitos, e o velho saquinho em uso.

Carros que vem, carros que vão.
O neném é carregado no ventre,
simplesmente levado ao sabor do útero que o abriga.
Seguir. Dar macha a ré.
Em carro velho, difícil de engatar.
Vida que vem, vida que vai...
O milagre do renascer na bolsa que está prestes a romper.

Marcha a ré.
Para estacionar.
A vida, por vezes, nos leva para trás.
Um passo ou dois.
Para avançar seguro, depois.

Uma vaga aparece.
Não uma onda grande, em alto mar, encapelado.
Embora a vida quisesse dar um caldo naquela menina
ainda criança:
     Vai brincar de boneca?
Perguntei-lhe, quase sem pensar.
Ela apenas riu, dizendo frágil um “é” entre lábios...

Uma vaga para o carro
naquele tumulto da vida, do trânsito, da biografia de alguém.
E eu na espreita.
Procurando uma vaga
mais na mente que no olhar.
Vaga apertada, estreita.
Nem sei mais o que pensar!
Olho pra garota pelo retrovisor interno do carro:
sentada, melhor dizendo, espichada no banco traseiro.

Não lembro de muita coisa.
Só de uma cor vermelho-vivo
e no meio, um pingo de gente:
Vagamente!

Josué Ebenézer – Nova Friburgo,

30 de Abril de 2014 (17h30min).

VERBO DIVINO

     - Eu Sou!
     - Quem?
     - Eu.
     - Eu quem?
     - Eu, o que Sou o que Sou!
     - Mas, quem és?
     - Sou o que não pode deixar de Ser.
     - Sou o que Foi.
     - Sou aquele que não aprende.
     - Sou o que É.
     - Eu Sou o que Sou.
     - Sou o que Serei.
     -  Meu tempo é pretérito-presente-futuro.
     - Ontem, Hoje, Eternamente...
     - Eu Sou!

Josué Ebenézer – Nova Friburgo,

30 de Abril de 2014 (17h23min).