sexta-feira, setembro 07, 2007

TRÊS PERGUNTAS, UM SÓ CORAÇÃO!

In Memorian de Júlia Soares Almeida


Para que servem os lenços?

Conhecia-os há muito tempo,
mas foram poucas as vezes
que os tive perto de mim.
Alguns verdes, outros marrons,
mas em sua maioria, brancos.
Lisos ou de listras multiformes

Para que servem os lenços?

Das suas utilidades
há uma que não me atrai:
Tê-lo comigo gripado.
Há outra que não coincide:
Tê-lo comigo suado.
E o suor caminha no rosto
porque não há lenço no bolso...

Para que servem os lenços?

Mas houve um momento difícil
em que tê-lo comigo foi preciso
para aparar um pranto incontido
de um ser querido que se foi.
Se tornou preciso carregá-lo
porque as lágrimas eram certas!

Para que servem os lenços?

Apenas para enxugar o rosto
e conter o pranto constante
das quentes lágrimas incessantes?
Para esconder-se da triste realidade
de que alguém que amo partiu
e não consigo entender?

Para que servem os lenços?

Servem também para acenar
um adeus que é até-logo,
pois existe a certeza
de um reencontro feliz
com aquela que nesta vida
soube com Cristo andar.
Para que servem os lenços?

Para encerrar uma página
de choros e tristezas
quando serão preservadas
apenas as recordações
de minha querida irmã
vida pura e tão bela
onde Cristo foi Senhor.

Sua amizade tão bonita
no meu coração perpetuarei...


Para que ela se foi, Senhor?

Não quero perguntar-te, ó Deus:
- Por que ela se foi?

Devem ser muitas as respostas;
difíceis e complicadas!

Quero indagar-te, ó Pai:
- Para que ela se foi?

Foi para chamar a atenção
para o meu primeiro amor a Ti?
Foi para despertar em mim
a paixão pelas almas?

Ainda não sei, Senhor,
o que mais queres me mostrar...

Pensei comigo mesmo:
- Júlia, sua morte
não há de ter sido em vão!

Hei de ser diferente daqui pra frente.
Quem sabe, melhor pessoa, melhor crente.
Mais interessado no bem-estar do próximo.

Mas, continuei pensando
e esta reflexão me levou
à morte de Cristo.
E, então, entendi tudo:
- Cristo, sua morte
não há de ter sido em vão!
Hei de ser uma nova pessoa de agora em diante.
Um crente mais fiel, do pecado mais distante.
Mais amigo do Evangelho!

Por isso, quero declarar-te agora, Senhor:
A minha vida a Ti pertence.
Quero consagrá-la para o Teu serviço,
pois como disse-me ela,
mandamento das Direitos Humanos:
“Procure apresentar um excelente serviço.
O que realmente vale em nossa vida
é aquilo que fazemos para outros.”

Senhor!
Não sou meu, usa-me como quiseres!


De onde vêm as lágrimas?

Não sei!

Estou aqui parado
e elas estão teimosas,
quentes a fluir...

Por certo algum livro
há de me responder!

Ah, aqui está:
“As lágrimas vêm
das glândulas do olho
e são gotas do humor
por elas segregadas”.

Mas não é nada disso!

As lágrimas vêm da minha dor.
Sofrimento / se pa ra ção,
saudades do coração.

As lágrimas vêm do meu interior,
do profundo do meu ser.

Vêm da minha tristeza,
da situação de incerteza
sobre o que virá daqui pra frente.

Vêm da minha angústia.
Vêm das palavras que não foram ditas e
dos gestos que não foram sequer esboçados
em direção a esta amada que partiu.

As minhas lágrimas são fruto
das recordações tão presentes
desta querida que se foi.

Mas estas lágrimas são passageiras -
eu tenho certeza disto -,
pois confio em meu Deus.

A minha alegria voltará,
pois ela foi vitoriosa
e Deus me dará respostas
do porquê as lágrimas vieram...

Niterói, 22/02/1990.

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