domingo, setembro 09, 2007

A VOLTA DO SENHOR

Enquanto o Senhor não vem, e não sei quando virá,
Enquanto o Senhor não vem a fome continuará presente,
Enquanto o Senhor não vem a dor insistirá em doer
Enquanto o Senhor não vem o coração sofrerá as mágoas,
porque o Senhor pode tudo;
pode até abrir os corações e pôr um pouco de jeito nas coisas sem graça.
Enquanto o Senhor não vem o pai continuará suando a camisa;
a mãe, beirando perigosamente o fogão;
a criança, brincando no barranco molhado
e o bebê, chorando mijado no chão.
Enquanto o Senhor não vem a conta da luz e da água terá que ser paga;
o carrinho, no supermercado, andará muitas vezes por entre as gôndolas
até abrigar alguns víveres;
o desempregado baterá nas portas de quem lhes pede ridículos currículos
e os políticos farão o discurso demagógico da vez pra enganar os trouxas.
Enquanto o Senhor não vem a gente tem que encarar a vida,
tem que fazer a despedida do descanso, esquecer o ranço,
ir pra roça, não fazer troça;
ir pra fábrica, mesmo sendo trágica
a experiência fabril de usar bombril todo dia para ariar a panela suja de intenção.
Enquanto o Senhor não vem só nos resta cantar hinos
fazer dos baixos morais apeninos espirituais
para que o som da canção chegue aos céus, e de lá goteje orvalhos de esperança,
sacuda a modorna da festança que não aconteceu mas nos deixou em ressaca.
Enquanto o Senhor não vem temos chance de pegar este trem,
locomotiva da felicidade, destino da humanidade, respiro de sanidade,
prenhe de possibilidade de encontrar no mundo além algo melhor que aqui não temos
Enquanto o Senhor não vem.

Nova Friburgo, 26/05/2000 (9h28m)

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