sábado, dezembro 22, 2007

VOTA BRASIL

Vota Brasil
Vai escolher seu candidato
O governo fez aparato
Para o povo se expressar.
Vota logo, minha gente!
Escolha com cuidado
Tem muito desmiolado
Se passando por decente.

Vota Brasil
As urnas estão esperando
A democracia clamando
Por sua livre expressão.
Voto é arma de duplo cano
Premia os políticos ordeiros
Aos maus põe no abandono
Vamos acertar os ponteiros!

Vota Brasil
Vota com a consciência
De quem espera um futuro
Feito com ordem e decência.
É preciso refletir
Desta festa participar
E depois na urna ir
Sabendo em quem votar.

Vota meu povo
Vota meu Brasil
Construir um mundo novo
Que não seja mais hostil.
É desejo bem presente
Na vida de cada um
Sonho grande dessa gente
“Um por todos, todos por um!”

Nova Friburgo, 24/10/2004(6h47m).

Razão

Eu gargalho porque o riso brota
E o momento pede esta vazão.
Se sou feliz, não importa:
Está alegre o coração!

Momento espontâneo e forte
Pede um gozo em movimento
Na vida pregando um trote
Este é meu sentimento!

Não sei se pulo ou se grito
Se abraço ou me estilhaço.
Sei que se alguém sopra apito
Me transformo num palhaço.

É que da vida os fulgores
Das sabenças, qualquer razão,
Os meus risos e seus pendores
Fazem de mim bonachão.

Nova Friburgo, 23/10/2004(9h31m).

No meio do sermão

No meio do sermão tinha um apelo
tinha um apelo no meio do sermão
a Palavra de Deus sendo pregada
e o povo abeberando-se da fonte.
Mas no meio do sermão tinha um apelo
no meio, logo após a ilustração.
E o povo boquiaberto e atento,
Escutando as palavras do sermão.

No meio do sermão tinha um apelo
tinha um apelo no meio do sermão
um apelo prévio, suave, antecipado
do qual dependeria o da conclusão.
Mas no meio do sermão e seu apelo
Tinha carro buzinando alto na rua
E tinha criança andando no templo
E tinha adulto olhando para a lua.

No meio do sermão tinha um apelo
tinha um apelo no meio do sermão
o pastor falando doces palavras
e o apelo morrendo com as travas.
Se no meio do sermão e seu apelo
cada crente absorto e com desvelo
escutasse as palavras do Senhor...
No meio do Templo só haveria louvor!

Nova Friburgo, 23/10/2004(8h52m).

Canoa Feita

Eu existo, estou aqui
E uma coisa aprendi:
A vida que é tão boa
Já ensinou para mim
Quantos paus preciso
Pra fazer uma canoa.

Já sendo canoa feita
As ripas em seu lugar
Juntadas na minha vida
Puseram-me a navegar.
Vou singrando mares
A respirar novos ares.

Encaixes foram feitos
Tábuas em profusão
Arremates ajustados
Sofreres, desilusão.
Na vida a canoa vai,
Mas tenho o remo na mão.

Apertos por que passei
Ajustes tão necessários.
Canoa ao sabor do vento
Mergulhos no imaginário.
Reflito neste momento
As vagas que atravessei!

Nova Friburgo, 23/10/2004(10h12m).

As Orquídeas de Friburgo

As meninas que tiveram sonhos abortados por inescrupulosos seqüestradores da inocência.

Pensem nas meninas
Sonhos abortados
Pensem nos meninos
Risos destroçados
Pensem no futuro
Pichações no muro
Rabiscos sem sentido
Em corações feridos.

Pensem na cidade
Prantos ao redor
Pensem no trabalho
Agridem ao menor
E que dizer dos dias
E que falar das noites
Entenebrecidos dias
Noites de fanfarrias.

Mas não se esqueçam
Das orquídeas exóticas
Orquídeas cobiçadas
Que florescem na serra
A serra de minha terra
Friburgo de meu amor
Orquídeas de cápsulas
Lindas, prenhes de flor!

Lembrem-se das meninas
Orquídeas de nossa terra
De belas sementes cheias,
E corações em guerra
Lembrem-se de seus sonhos
O desabrochar das flores
Que a cidade não esqueça
Do amanhã seus terrores.

E que o futuro rompido
Das orquidáceas meninas
Acabe com a hipocrisia
Das gentes desse lugar
Fazendo desta cidade,
Que é pousada de veraneio,
Nos sonhos da mocidade
Sorrisos como esteio.

Nova Friburgo, 23/10/2004(9h12m).

Teologia de um pecador

Eu, filho do adultério e da transgressão,
Esparro coadjuvante de meus pais,
Sofro, desde a protogênese destes ais,
Da natureza pecaminosa, o coração!

Já dizia o sábio pai da Igreja de Cristo:
Que a natureza humana se fez em queda,
A alma vendendo por qualquer moeda.
E Deus, ali na cruz, sofrendo mais que isto!

Não quero, a este mundo vil, mais pertencer,
Se as dores do pecado ainda tiver que sofrer
Entre a carne e o espírito, declararei guerra.

Assim, hei de em luta ingente, uma batalha,
O pecado envolver bem preso na mortalha
E para Deus viver, como salvo nesta Terra.

Nova Friburgo, 22/10/2004(20h51m).

Teófilo

Assim que nasceu o Teófilo
O pai cobrindo-o com pano
Quis fazer do filho um sacro
Tinha medo do profano.

Levou-o pra Igreja logo,
Antes de completar ano
Queria-o perto do sacro
E bem longe do profano.

O menino desde cedo
Nem sonhava com o arcano
Acostumado com o sacro
Nem sabia do profano.

Mas o menino crescendo
Conviveu com o mundano
Desconfiando do sacro
Interessou-se no profano.

Este foi um risco claro
Para o qual não teve plano
Esquecendo-se do sacro
Atolou-se no profano.

A música cativou o moço
Mas nada a ver com o piano
Este, um instrumento sacro,
Queria algo mais profano.

Assim aos poucos Teófilo
De um coração espartano
Não mais conhecia o sacro
Só queria saber do profano.

Até que naquele simulacro
Percebendo entrar pelo cano
Sentiu saudades do sacro
Desgostou-se com o profano.

E Deus que socorre o fraco
Com amor do qual me ufano
Tornou-o amante do sacro
Esquecido do profano.

Nova Friburgo, 22/10/2004(8h15m).

Homilética

Estou cheio desses trejeitos estudados
Desse bom-mocismo comportado.
Um jeito de funcionário público empertigado,
Misturado com pinta de executivo americano,
E uma porção de outras baboseiras
De certos pastores modernosos.

Estou cheio dessa técnica apressada
Numa empáfia dita celestial
Que se apresenta acima do bem e o do mal
E engole os incautos da fé!
Abaixo todos aqueles que não entenderam nada
E até hoje mandam três pontos com exórdio e peroração.

Estou cheio dessa homilética barata,
Dessa hermenêutica apressada
Interesseira,
Política,
Chacrinha e
Raquítica.
De toda homilética que capitula ante
Os assombros provocados pelos seus algozes.

Quero antes a simplicidade dos homens do povo,
A singeleza dos corações poetas,
As falas mansas de profetas,
A invadir-me com sua paz!
Quero as loucas palavras de fé,
Aquelas que despertam risos,
Mas que constroem paraísos
Em cada coração crente.

Não quero mais saber dessas homilias.
Meu sentido é para a Vida!

Nova Friburgo, 22/10/2004(21h14m).

Neli

No dia em que Neli nasceu,
Sua mãe olhou para a lua...
Viu um brilho na sua casa,
Viu um outro em sua rua.

O brilho que ela viu,
Pôs indagação bem crua...
Ficaria ela em casa,
Ou fugiria pra rua?

É que o brilho que assistiu,
Deixou-a prostrada e nua...
A porta aberta de casa,
Apontava para a rua...

Faíscas no seu olhar,
Realidade bem sua...
Abandonou sua casa,
E sumiu no meio da rua...

Nova Friburgo, 21/10/2004(22h17m).

Os Litotes

Eram três os irmãos Litotes:
João, Maria e José.
João tinha cara de bobo,
Maria não saía da pia,
José não era nada tolo.
Então o que ele é?

Esperto era esse José!
E se eram três os Litotes,
Que eram os outros dois?
Maria ficou pra titia,
Saberemos disso depois.
João não era nada sábio!

Burro esse tal de João!
José fazia contraponto,
No seio da família Litote.
Maria na cabeça tinha fita.
Mas já tinha levado calote.
Ela não era nada bonita!

Era feia a Maria Litote!
E os três Litotes irmãos,
Tornaram-se mais irmanados:
João com ar de deboche,
Maria lavando suas mãos,
E José pelos dois amparado!

Nova Friburgo, 21/10/2004(22h05m).

Joel Fiel

Quando Joel se converteu,
Foi para a Igreja orar...
Pensou ser sacro o Universo,
Pôs-se, por isso, a amar.

Meditando logo descobriu:
Nem só de pão vive o homem...
Queria as coisas do Espírito,
Que ferrugens não consomem...

Tanto orou em ardente vigília,
Que na Casa de Deus adormeceu...
E no sono, um sonho de um dia,
Habitar nas moradas do Céu...

E Joel descobriu logo cedo,
A luta que estava a travar...
Sua carne impregnada de medo,
E o espírito querendo adorar...

Mas Joel, de alcunha Fiel,
Vencendo as batalhas da vida...
Não tirou o olhar do seu Céu,
Para o mundo fez despedida...

Nova Friburgo, 21/10/2004(21h30m).

RISOS ESPONTÂNEOS

Risos espontâneos
são percepções suaves
de lindas coisas
acontecendo ao redor.

Vêm em forma de esboço
e num esgar de lábios
que se abrem sutilmente
a desnudar alvos dentes.

São suaves sopros
de ventos refrescantes
a bafejar brisas doces
como de bacantes.

E na percepção serena
de faces transmudadas
os risos se fazem acordos
de almas aladas.

Mas os risos dos amantes
são algo mais profundo.
É coceirinha na planta dos pés
e no púbis do mundo.

E quando eles se instalam
tomando conta de seu corpo
em forte gargalhar estalam
e corpos se enlaçam no amar.

Nova Friburgo, 15/10/2004(7h).

quinta-feira, dezembro 13, 2007

INTERROGAÇÃO

Por dentro,
um vazio:
Sentimento
de não-ser!

Um gosto
amargo
na boca
sem saber.

Emoção
em fúria.
É incúria
do coração!

Sentimento
travado,
magoado,
no momento.

Quem sou?

Nova Friburgo, 14/10/2004(7h05m).

O Poeta

O poeta
com o seu farol de milha
é como um homine-automobile:
Enxerga longe
através das luzes
acesas do inconsciente.

Não lhe perturba
o cair da noite,
nem o breu que se abate
sobre a humanidade.
Ele fuça no profundo
em busca de sanidade.
O poeta é descobridor
de mundos perdidos;
farejador de aromas
desconhecidos.
E constrói um
traçado de significação.
Ele tem na alma
o gérmen da inquietação,
e seu canto ecoa
solene, voando
nas asas acolhedoras
do pássaro do amor.

O poeta alimenta
o mundo com seu pólen,
espargindo a renovação
através de palavras-símbolo,
que fecundam
como giestas no seu coração.

Murinele, 10/10/2004(16h30m).

Sentimento Universal

A Yanes e Aline em seu casamento no dia 09/10/2004.

“Amor: um sentimento sem dono,
um canto de exaltação.
Idioma universal
que provoca reação.
E numa cadeia sistêmica
com paz ou muita polêmica
em toda tribo e língua,
povo, raça e nação,
chega com jeito fraterno.
Amor, sentimento eterno,
que expande o coração!”

“Amor: testemunho d’esperança,
um canto ao que é possível.
E no meio da bonança ou
da borrasca e do irascível,
é ele que com seu jeito
expulsa todo o defeito
e se impõe sem mágoa ou dor.
É que na estrada da vida
o amor é sentimento nobre
que atinge rico e pobre
e a todos propõe seu favor!”

“Amor: um amálgama de sonhos,
um raio de luz multicor.
E nos dias mais bisonhos,
Nos tropeços e chorar.
Não existe forma mais linda,
Rica, bela e benfazeja
para um dia que se finda
que o jeito pessoal de amar.
Presente em todos os lugares
Onde haja um coração florido
O amor passeia em pomares!”

Nova Friburgo, 09/10/2004(12h41m).

ENQUANTO BUSCAS

Enquanto buscas
aflitivamente
teu amor...

Enquanto investes
loucamente,
queres ter favor...

Enquanto a vida
escorrega sofrida
entrededos...
E o desalento
no sofrimento
impõe seus medos!

Sonhe!

Sonhe e deixes a vida ser!

Enquanto sonhas
lembra-te que o belo
é acessível...
Enquanto sonhas
em teu anelo
faças o possível...

Para conquistar
através do amar
o teu desejo...
Sem medo ou pejo
sonhe os sonhos
do teu coração!

E, enquanto sonhas,
lembra-te segura
que eu existo!

Nova Friburgo, 06/10/2004(7h28m).

ÊXTASE

Abri o livro e vi o texto:
Uma carta mal dobrada na página cem.
Chamou-me a atenção logo a grafia.
Uma escrita forte, tinta azul,
estradas seguras para pensamentos
leves e soltos que fluíam
como água de fonte divina.

Meus olhos percorriam as letras
enxergando as palavras do coração delas.
Era como se o palpitar de tantas
emoções provocassem uma pulsação
mais prolongada: paternogênesis.

Quem visse a cena de fora
perceberia meus olhos brilhando,
grudados no papel amarfanhado,
como que a querer extrair por
osmose todo o seu conteúdo
e armazená-lo na memória do
coração.

Era assim que me sentia
ao ler em casa sua poesia!

Itaboraí, 21/08/2004 (12h40m).

quarta-feira, dezembro 12, 2007

TRÍPLICE CANTO

Nesta manhã tão bonita
Com o sol no céu a brilhar.
O tríplice canto da vida
Meu coração quer cantar.
É canto de alma cheia
De alma serena e bela.
Amor correndo na veia
Saindo pela janela!

A vida na infância tem
Um belo canto de espera.
Canção que embala o neném
E a infância por ele anela.
Abrigado no coração
É um canto de criança.
Surge em forma de canção
E seu nome é esperança!

Mas a vida tem outro canto
Que surge na alma jovem.
Ele afasta todo o espanto
E as tristezas removem.
É um canto que desabrocha
Suave, envolvente, uma flor.
Sedimenta como a rocha
E atende por amor!

Mas o tempo vai passando,
A vida produz canto novo.
Num coração que amando
Espera pelo renovo.
Com o passar dos anos,
No auge, maturidade,
O som que vem dos arcanos
É o canto da saudade!

Por isso enquanto posso
Cantar os cantos da vida.
Da esperança me aposso
Não quero fazer despedida!
Em amor quero viver
Fazendo de tudo canção.
Pra saudades sempre ter
Nas voltas do meu coração!

Cachoeiras de Macacu, 01 de julho de 2004 (11h40m)

SONETO A BRIZOLA

Luminar de um país sem homens
Enfeixados no construir a história.
Orfandade onde grassam fomes
Nesta quadra que se faz memória.

Ele foi mais que um democrata
Lutador numa vil realidade.
Distanciando-se do ouro e prata
Em sua luta pela legalidade.

Mais que isso, agora que partiu
Os esforços devem permanecer
Ultimando um novo Brasil.

Resta, então, nunca esquecer,
Ao lembrar o trabalhismo seu:
BRIZOLA vive, ele não morreu!

Nova Friburgo, 01 de julho de 2004 (20h)

CANÇÃO DE ADORAÇÃO

Eu nasci num lar de luz,
Fulgente luz.
E Jesus habita lá!
Onde se cantam hinos,
Com os meninos.
Um sonho de Shangri-lá!

Aquelas tardes tão belas,
Saudades delas.
Oh quão bom era sonhar.
Imaginava o futuro,
Nada escuro.
Deus iria iluminar!

Nos cultos que se fazia
Orar seria
Uma expressão de fé.
Nos cultos naquela sala
Toda fala
Ao Deus que sempre “É”!

Papai, mamãe, sempre atentos,
Nos momentos
De ler alto a Escritura.
E todos juntos louvando,
Com fé orando.
Seguíamos a partitura!

É por isso que hoje trago
Com afago.
Uma canção de amor.
Adoro a Deus com a alma,
Sinto calma.
Na santa paz do Senhor!

Cachoeiras de Macacu, 01 de julho de 2004 (19h38m)

SONETO DO AMOR DIVINO

Este amor que em mim hoje é tudo,
amor que é belo, pois vindo de Deus.
É fonte serena de paz, sobretudo,
quando me assiste nos sonhos meus.

De todas as virtudes que o homem herdou
daquele que lhe deu imagem e semelhança
o amor é aquela que mais o honrou
produzindo na alma e no corpo bonança.

Por isso do amor não quero me afastar,
pois quanto mais perto dele eu estiver
mais perto de Deus passarei a existir.

Assim, enquanto em mim, vida houver
e por Deus este amor eu bem sentir
a Deus adorar será forma de amar.

Niterói, 25 de junho de 2004 (14h30m)

SONETO DA ESPERA

Por te amar meu coração investe
todo o tempo do mundo e a lua.
Em esperança minh’alma reveste
de um brilho, inspiração só tua!

Então aguardo no silêncio d’alma
pequeno aceno, gesto que é só teu.
Se desencontros, há suave calma
nos sofrimentos que já esqueceu.

Mas se agora em instante sublime,
no aguardar confirmação do amor,
ouvir ainda pedido de uma espera:

Esperarei, inda que em mim a dor,
sinalize sonhos, grande Quimera.
A esperança é amor que se redime.

São Gonçalo, 25 de junho de 2004 (9h)

quarta-feira, dezembro 05, 2007

SONETO DA ALEGRIA

A alegria é filha solteira do vento:
Aparece quando bem entender...
Faísca incandescente num momento
carvão esfarelado ao se perceber!

Produz risos e gargalhar estonteante,
quando cercada de estímulos externos.
Mas sua expressão se torna pujante
ao ser alimentada de gestos fraternos.

Porém, ela pode ser mui traiçoeira
no rosto e na alma de quem sonha
e na vida se faz ermitão nefelibata.

Ela é graça que a vida acompanha
e ao coração despreparado maltrata
se a vida não encarar sobranceira.

Niterói, 25 de junho de 2004 (12h10m)

MORENA CIGANA

Morena cigana,
faces rosadas.
Linda donzela,
mulher amada.
Meu ser a ama,
almas aladas.
Sem dor ou ais,
conto de fada.

Das bochechas
eu colho rosas.
De seus lábios
sinto o mel.
E nas madeixas
como de moças
fonte de bios
viajo aos céus!

Este perfume
da juventude
sinto fresco
no seu regaço.
Se o ciúme
numa atitude
for grotesco:
Que é que faço?

A quero tanto
me cativou
sonho consigo
e seu amor.
E no acalanto
se encontrou
em mim, abrigo
lhe dou u’a flor.

De amor sublime
que traz encanto
expulsa espanto
e qualquer dor.
Assim exprime
felicidade
e mocidade
por onde for...

Nova Friburgo, 16 de junho de 2004 (5h52m)

MONTAGEM

Tome os pinos da palavra
e a tábua do conhecimento.
Junte as letras, tire a trava
sem haver esquecimento.

Cada peça em seu lugar
monte o texto em edifício.
Artigo e sujeito a se achar,
o adjetivo é um artifício!

Deve-se começar na base
ir subindo em profusão.
Para que a obra não atrase
ponha siso co’a emoção!

Não esqueça os parafusos
ponha todos em seu lugar.
Palavras têm próprios usos
se bem quiser comunicar.

Tudo então arrumadinho
- cada peça e seu encaixe -
um poema bem limpinho
deve ser o que se ache!

Quando tudo já montado:
Advérbio e preposição.
Há um canto entoado
nas fraldas do coração!

E agora bem disposto:
O construtor e sua obra...
Apresenta, mostra o rosto,
se é poema não soçobra.

Com o Idioma e sua verve
torna vivo o vernáculo.
No cenário a alma ferve
ela o leva ao Cenáculo!

Nova Friburgo, 13 de junho de 2004 (7h32m)

DISCURSO SOLTO

Preciso falar alguma coisa
Isto me está engasgado,
Mas não sei o que falar.
Só sei que preciso começar
E atirar pra todo lado...

As palavras me apertam
A garganta e o coração.
Preciso falar alguma coisa
Dizer algo para o mundo
Não sei se será profundo
Ou se mera e vã paixão!

Levo as mãos à garganta
Sinto aperto e sufoco.
Preciso falar algo forte
Mas percebo que estou rouco.
Falo, grito, ninguém escuta.
Estou ficando biruta?

Liberdade, ainda que tarde.
Minha noite já chegou.
Quem pensou no descanso
Ainda não se encontrou.
Pois em mim a febre arde
E não encontro remanso.

Igualdade para todos
Acabar com a injustiça
Oportunidade de trabalho
Um fim na vida postiça.
É preciso uma razão
Pra fugir dessa ilusão!

Fraternidade entre os homens
Paz a toda humanidade
Foi a promessa do Cristo
Não só aos de boa-vontade!
Um esgar de comunhão
É minha ingente oração!

Nova Friburgo, 13 de junho de 2004 (7h49m)

DÊ UM SINAL

Dê um sinal de vida,
aliás, tu és minha vida...

Dê um sinal de amor,
Estou disposto a ir
por onde for!

Dê um sinal de paz,
pois no mundo
a gente mesmo faz!

Dê um sinal de esperança,
algo belo e puro,
como sonho de criança!

Dê um sinal de alegria,
não posso esperar
ficar sem sol por mais um dia!

Dê um sinal de amizade,
correrei em sua busca
pelas ruas da cidade!

Dê um sinal de emoção,
pois em ti vejo
grande poder de atração!

Nova Friburgo, 16 de junho de 2004 (5h52m)

terça-feira, dezembro 04, 2007

ICE GOSPEL

Eu repudio o gospel! O gospel-grana,
O gospel-fantasia!
A indigesta trama de uma burguesia!
O pastor-empresário! O pastor-vitrine!
O pastor que sendo carismático, neo ou pentecostal,
É promotor do ego, mesmo sendo tradicional.

Eu repudio as comunidades ardilosas!
Os baronatos de néon! Os bíblias safados! Os doutores de aluguel!
Que se escondem em templos feitos por mãos humanas;
E se apropriam de ofertas de formas nada espartanas,
Dizendo-se faladores de línguas mais que estrangeiras:
Dialetos de anjos caídos nas armadilhas do deus Marketing.

Eu repudio o gospel-fajuto!
A imbecil imitação da América, americanização esotérica.
Pra inglês ver e tupiniquim entretecer!
Perceba a realidade de nossa gente!
Nossos templos abarrotados de desesperados!
Loucos de raiva! E o Sol da justiça passa longe
Desses arraiais mundanos travestidos de cristandade!

Ai! Se gospel fosse outra coisa!
Do jeito que é no Brasil, não passa de um frio cortante
No coração da fé, no coração do povo!
Ice gospel a matar a ingênua criança do Cristo!

Nova Friburgo, 12 de junho de 2004 (16h52m)

ESTRADA DA VIDA

Ao Pr. Clésio e Noemia (Bodas de Ouro)

Antes, naquele distante inverno,
Em encontros sonhadores
Vocês deixaram seus olhares
Cruzarem da vida os seus ares.
Trocaram um abraço fraterno
Que os enchendo de amores
Levou-os depressa ao altar:
O amor plantando um sonhar!

Com certeza um lindo casamento
Aconteceu naquele dia doze.
Nas asas do sonho, num momento,
Foi como saborear algo doce...
Fazendo juras de amor eterno,
Sorrindo alegres na hora do “sim!”,
Acalentados por um coração terno
Uniram-se para um amor sem-fim.

Ah, quantos casais fazem juras no altar:
Tantos casam e logo se descasam.
Descansam no comodismo do não-lutar,
E o divórcio suas vidas arrasam!
Vocês atravessaram o Túnel do Tempo
Romperam os vendavais da vida atroz
Voaram felizes nas asas do Vento
Cantando o amor em uníssona voz!

Agora, desfrutam a alegria da raça,
Vivem juntos o privilégio dos eleitos,
Que do amor produzindo seus efeitos,
Representa superabundante Graça!
Bodas de Ouro é comemoração rara
E a vida lhes reservou esta ventura
Em festa especial, valiosa e cara,
Embebida por laços de ternura.

Antes, quando se uniram no amor,
Invocaram a bênção de Deus o Pai.
Queriam a proteção bendita do Senhor
Sobre os corações, o lar e tudo mais.
Agora, comparecem para agradecer,
Os caminhos todos percorridos...
Foram cinqüenta anos de prazer,
Em família muito bem vividos.

Antes, jovens, olhavam o futuro,
Com olhar risonho de esperança!
Enxergavam para além do muro
Dos problemas tidos na andança!
Agora, volvem ao seu passado,
Pensamento que a vida esconde:
Recordando ao lado do amado,
O amor que o coração expande!

Antes era só vontade e sonho
Em futuro ridente de promessas.
Mesmo que por muito estranho
Do amanhã queriam pressas!
Hoje, cheios de lindas saudades,
Os momentos estão a recordar.
Realizações de suas mocidades
Impulsos venturosos do amar.

Antes foi árdua a semeadura
Em batalha ingente pela vida.
Criando filhos numa lida dura
De si mesmo a vida esquecida.
Agora, do alto de uma vida feita,
Caminhos longos nesta estrada.
Festa risonha pela boa colheita
Ao lado sempre da pessoa amada.

É por isso que antes precisavam
Para a vida muitos conselheiros.
Enquanto seus corações amavam
Nos sonhos todos sobranceiros.
Agora, aos filhos, netos e demais,
Na questão sublime do casamento
Podem dar conselhos, algo mais,
Que ajudem em todo sentimento!

É que na estrada da vida conjugal
Caminhando altivos e com Deus.
Venceram as batalhas contra o mal
Elevando glórias para os céus!
Cala alto, fundo, um binômio,
Que da vida é vosso segredo:
“Eu” e “Tu” unido em matrimônio
Fez o “Nós” amado desde cedo!

Nova Friburgo, 12 de junho de 2004 (11h21m)

CANTO AO AMOR!

Eu canto o amor! O amor-verdadeiro,
aquele que nasceu primeiro!
O amor que tem Deus como modelo!
Amor de Deus! Amor em nós!
Esse amor que mesmo diante da vida atroz
apresenta-se no meio da gente,
e só a gente mesmo sente e entende
a qualidade de seu desvelo!

Eu canto a existência do amor!
Assim como canto a existência da flor:
Tem seu encanto, tem germinação.
E no mistério da vida, sobre-lida,
é o amor que nos traz inspiração...
Vê-lo desabrochar, crescer e florescer:
É como sorriso frágil, tênue esboço,
que desemboca no gargalhar de um moço!

Eu canto a presença do amor!
Amor que sinto na epiderme fremente,
nos sonhos e pensamentos de quem
em si acalenta um coração crente
e parte em busca do “Amém”!
Canto a vida linda que o amor traz
e canto a amizade e o dom fraterno
fruto da comunhão com o Eterno!

Vida ao Amor!
Vida aos que ainda acreditam no amor!
Vida aos que caminham na estrada florida
por onde Deus transita.
Ponto de partida e chegada,
caminho seguro da estrada,
onde quem ama encontra a Vida!

Nova Friburgo, 12 de junho de 2004 (8h11m)

O QUE PROCURAS?

Jovem, o que procuras?
Vejo-te tão atordoado
parecendo estressado
sem sentido pra viver!
Se procuras um emprego
um trabalho, um futuro,
não ficarás no escuro,
tu vais sobreviver...

Mas, jovem, que procuras?
Esta interrogação renitente
que se aloca em tua mente
e tanto te faz amofinar...
Não estarias em busca
de algo muito impossível
enquanto a vida impassível
te convida para amar?

Que procuras meu jovem?
De tão importante na vida
Que te põe numa sobre-lida
insana e quase desumana?
Será que estás num caminho
seguro, certo e promissor?
Está, da rosa, o espinho
afastando-te do amor?

Meu jovem a vida é perfume,
é cheiro que convida a sonhar.
É brisa suave no rostovonta
de suprema de amar.
Se procuras na vida um amigo,
se procuras na vida um amor,
convite para vires comigo
e sentir o perfume da flor...

É convite suave e sereno
que na alma esparge um alento.
Deixa a lida, um pouco, ao meno
se te afasta de qualquer sofrimento.
Quero ver-te sorrir para a vida,
quero ver-te amar sem sofrer,
dos receios fazer despedida
há algo que precisas saber!

Por trás da montanha dos sonhos,
além deste Sol que ainda brilha,
se esconde um tesouro mui rico
de quem a Esperança é filha!
Abre os olhos para o mundo ao redor,
veja os encantos desta vida de amor!
Dos sustos, a angústia, é o menor
não carregues a frustração seja qual for.

Encontre o amor que procuras,
encontre a paz que precisas.
Viva, então, a alegria presente,
algo bom que só a gente sente!
Amar é o mais nobre sentimento
aquele do qual sempre se quer ter,
e é isto que sinto no momento
e que me faz tranqüilo viver!

Nova Friburgo, 08 de junho de 2004 (7h16m)

DESEJOS DE MÃE

A Milena Marini

Minha filha querida
Que hoje faz anos
E se enche de planos
Nos sonhos da vida.
Quero hoje te dizer
Que tu és para mim
Não apenas um ser
Mas amor sem fim.

És herança de Deus
Filha da promessa
A mostrar os céus
Num jeito sem pressa.
Pois em nosso lar
És a filha primeira
Que da vida o amar
Deu fruto a macieira.

De amor profundo
Que seus pais tiveram
E aqui neste mundo
A sorrir acolheram.
Um pequeno ser
Tão frágil e tão belo.
Que no lar veio ter
Expressão de anelo.

Minha filha querida
Neste dia que termina
Ao fazeres despedida
Do tempo de menina.
Quero a Deus orar,
Pelo futuro interceder,
E a Deus suplicar,
Para bênçãos conceder.

Tua mãe te ama muito
E tem sonhos de alegria
E todo o meu intuito
É ver nascer novo dia.
Pra tua vida nesta terra,
Teu futuro de mulher,
Sonhos que encerras
Do jeito que a vida quer.

Mas, há algo que preciso
Falar do coração:
Minha filha tenha siso,
Não esqueça a oração!
O mundo está difícil
É preciso sabedoria.
Construa um edifício
Faça dele moradia.

Um edifício de amor
Onde Deus está presente
E Jesus sendo Senhor
Faça-te melhor crente.
Aqueça seu coração
Neste edifício de fé
E de Deus a comunhão
Mantenha tua vida de pé!

Nova Friburgo, 01 de junho de 2004 (11h30m)

BATISTAS

A J. J. Soares Filho

O pastor independente
disputa com o pastor nacional
quem é melhor que o pastor brasileiro.

Entrementes, o pastor brasileiro
põe-se de joelhos no chão e ora.

Nova Friburgo, 23 de maio de 2004 (6h23m)

ALGO POÉTICO

Escrevi um verso,
Débil verso,
Algo poético.

Nele havia umas linhas,
Parcas linhas.
Senti-me patético.

Nem cheguei a saborear as palavras,
Tortas palavras,
Sem chantili ou cerejas.

O que me fascinou então,
E que fascínio!
Foram as sensações.

E inebriado por tantos revoluteios,
Os sentidos ardendo em febre,
Tirei minhas conclusões:

Deve ser poesia!
É lindo de ler e de ouvir.
Deve ser poesia!
Funciona como música aos ouvidos.

É!
Deve ser...
Como ter certeza dessa sensação tão suave,
Dessa invasão tão forte e presença contagiante?

Somente entendendo a vida,
Seu sentido calcado no ético.
Acrescido da musicalidade das palavras:
Algo poético.

Nova Friburgo, 19 de maio de 2004 (11h33m)

VOCÊ É...

Você é um sonho de outono
que fecundado no meu coração,
aguarda o momento certo
para marcar a estação.
Mas você é mais que um sonho de outono:
Você é uma árvore no meu pomar.
Você é uma menina linda e suave,
que numa manhã de sol aprendi a amar!

Você é um lindo rosto à minha frente,
que me inspira doces emoções.
E me leva a devaneios etéreos
na união de nossos corações.
Mas você é mais que um lindo rosto:
Você é uma sereia no meu mar.
Você é uma menina linda e suave,
que numa manhã de sol aprendi a amar!

Você é um livro aberto no sumário,
para que eu possa ler com sofreguidão
todos os poemas ali entalhados:
Luz d'alma que expulsa a escuridão.
Mas você é mais que um poema a cada manhã:
Você é literatura viva flanando no ar.
Você é uma menina linda e suave,
que numa manhã de sol aprendi a amar!

Nova Friburgo, 10 de maio de 2004 (7h30m)

quarta-feira, novembro 14, 2007

CONFISSÕES

Sempre dizer pra ti! Sempre dizer um som,
Amor! De um só amor! Tu, esperando o tom,
Suave! E em minha voz teus ouvidos atentos,
Aumentando a atenção, expulsando ventos...

E num dia lindo! De um sol lindo! Teu rosto a ver
Reluzente, no esplendor da juventude, perceber:
Anjos voando soltos nas asas da emoção.
Que palpita dos reflexos de teu coração.

Estrelas saltando! Teu olhar abastecendo o céu
De brilho, faz sorrir o filho, animar o réu.
Tão linda que és, tão linda a refletir.
Raios de esperança num simples existir.

E aqui dentro do peito, magnetizado amor!
Ante semblante cálido, paixão rascante,
Seja o que for! Espero-te, amada amante.
E sei que darei um jeito de expulsar a dor!

Nós dois... E, entre a gente, esta forte ausência!
Provocando emoções, a desejar clemência,
Eliminar os espaços, diminuir distância.
Entre corpos que abrigam coração em ânsia.

Eu, com a emoção brotando a flor da pele.
Os ruídos impeditivos minha alma repele.
Então, digo suave, edulcorado canto:
- Te amo! Linda musa, meu acalanto!

Nova Friburgo, 29/04/2004 (7h05m).

O CHAMADO

A Cleir Gonçalves dos Santos

Uma voz. De onde vem?
O pequeno Samuel não sabe.
É diferente, soa grave, forte.
E o discurso que contém
É conteúdo que não cabe
Num coração em corte.

Sangra. A dor é grande.
A voz que fala conclama
Tímpanos não acostumados...
A emoção no imo expande
E no pequeno ser a chama
Arde. Conceitos abalados.

A voz o chama pelo nome
E ele a sente bem audível
Naquele leito revolvido.
O menino, de Deus tem fome.
Sonha o sonho que é possível
No peito arqueado, comovido.

A voz é repetitiva, faz eco.
Ouve-a chamar de novo
E Samuel pensa que é Eli.
Sente aperto com o repeteco
Mas sabe que para o renovo
Precisa dizer: “Eis-me aqui!”

E o homem de Deus orienta:
“Volta ao silêncio da comunhão
E quando ouvires a voz a falar
Diga: Fala Senhor!” Tenta!
É melhor não andar na contramão
Quando a voz de Deus chamar.

Então, se submete tranqüilo,
Esperando um Deus pessoal
Relacionar-se com a Criação.
Sem entender direito aquilo
Parte em busca de um ideal
Que acalenta em seu coração.

Friburgo, 20/03/2004 (21h30m).

ORGULHO FERIDO

Para Fábio Costa

“Que é o homem para que te lembres dele?”
Indaga o texto sagrado, diante da vida vã.
E a gente passa por este mundo, moribundo,
Achando que é dono de tudo, do amanhã.
Mas Deus com seu jeito diferente, sábio,
Açoita nosso eu e faz bater forte o peito
Na moldura de uma lágrima, que insiste em não cair,
Tiritando frágil nos cílios da dor.
E o coração dorido, fraturado,
Encolhe-se na amargura do eu ferido
Destruído, pelo próprio amor!

Ah, existência! Como achar que é bela a vida,
Se nem tudo acontece como sonhamos?
Que lição Deus quer ensinar dessa lida
Se por tudo, e em tudo, dela apanhamos?
Mas é preciso descer do insano pedestal
Para onde subimos sem Deus no coração
E como isto impõe sobre a gente grande mal,
Pois nos iludimos com a altura da sensação:
Inglória, profana, abstrata, irreal.
Pensamos ter poder e força, porém os vermes interiores
Nos consomem lépidos, gemendo e arrotando,
Podridões dos escarros de nossos pecados.

É melhor apanhar de Deus do que da vida
Pois o quebrantar dos corações diante do Pai
É trajetória de esperança e vitória.
Enquanto a vida, com seus desassossegos,
Escreve em nossa carne, outra história,
Deus vai pegando os lugares rasgados,
Remendados por nós mesmos, ao sabor da dor.
E vai costurando, consertando, amalgamando,
De tal forma que onde havia cratera, vulcão e lava,
Agora tem a cura pela sua Palavra
Tem o bálsamo do seu grande amor.

Nova Friburgo, 13/03/2004 (6h15m).

O BARBEIRO DO CALIFÓRNIA

Para Édson Linhares

Com a navalha na mão e um brilho no olhar
O barbeiro trabalha, silente, a espreitar:
O cliente que chega, a criança rebelde,
A mãe que repreende o filho travesso.
E ele seguro, da profissão hereditária,
Põe abaixo os pelos do rapaz em máquina zero...

O olhar no espelho acompanha a desbastada.
Interrogação.
Quem é este que surge além do corte?

O barbeiro do Califórnia fala pouco.
Frases interjetivas,
Confirmações do assombro do cliente...

Com a navalha na mão, aos retoques finais,
Ele se lança ante olhares assustados...
Contemplo seu trabalho meticuloso
Percebo que está chegando minha vez:
1, 2, 3, 4,
Clientes antes de mim.
Afinal, foram duas horas de espera.
Tesoura.
Na mão, a navalha intercala com a tesoura.
E tem também o pente, a escova, o...

Minha vez está chegando!
Descubro-me meio triste ante a cena:
Sou paciente!
Sim, sou paciente!
Submeter-me-ei aos caprichos do destino,
À ética profissional;
Aos atributos da estética de ocasião
Do barbeiro do Califórnia.

Fará barba e cabelo
Dará os retoques em meu pelo
Sairei mais leve daquele salão.
E lembrarei que a vida
Essa vida de sábado brasileiro
É mais que uma ilha,
É um arquipélago de emoções,
Vivências e relações.
De cuja estória ebúrnea
Manterei na memória
Pois não posso esquecer,
Nem deixar fenecer,
O barbeiro do Jardim Califórnia...

Nova Friburgo, 13/03/2004 (12h35m).

INSTANTE POÉTICO

Fui tomado por forte sentimento
Em instante angélico de vida.
Instado a captar num só momento
Toda a poesia de forma resumida.

Queria apreender num só segundo
A força da beleza numa palavra.
Fazer do poema todo meu mundo
Da alegria e destreza, minha lavra.

Mas como traduzir toda a emoção
De quando a poesia em nós se instala?
Dei amplas asas a fértil imaginação
E movimento intenso à minha fala.

Pensei no lindo vôo do beija-flor
E suas vibrantes acrobacias aéreas
No equilíbrio da cena, um esplendor!
Divaguei por viagens mui etéreas.

Imagem recorrente, em minha mente,
Do pequeno pássaro, belo colibri.
Fez-se plena, congelada, renitente,
Que da alma, a poesia, logo abri.

Ah, mas a vida tem outras poesias:
Tem o mar, o sol, as estrelas e a lua.
Tem amor passeando em outras vias
E meninos com folguedos pela rua.

O instante poético é permanente
Brota dentro do peito e arrebata
O fôlego que inspira o ser da gente
E nos leva aos páramos da ribalta.

É por isso que é difícil esta foto
Do instante poético na retina.
Ao poeta não resta outro moto
Que a vida, linda vida, e sua sina.

O poeta percebe em tudo poesia:
No sorriso, na criança, também na flor.
Forte emoção que sua alma arrepia
Que importa se é branco, se tem cor?

Mas o poeta ainda tem tarefa
Mais difícil que o fazer poético:
Do trigo dourado, servir um efa
Ao leitor que se mostra cético.

O que o poeta conseguiu enxergar
Com os olhos da inspiração
Aos leitores ele quer passar
Como presente de seu coração.

Nova Friburgo, 13/03/2004 (11h35m).

EU

Eu sou aquele que no mundo sonha
Eu sou aquele que não espera o luar
Estou entre os que a vida acompanha
Abrindo as janelas para a lua entrar.

Então, sou irmão do Sonho e o busco
Com intensidade de fazer mudança.
Não me assusto com o lusco-fusco
Pois nele me fio para minha andança.

Em noite estrelada ou de vil negror
Na terra molhada, tempestade ou calor.
Das névoas me afirmo, ali estou eu.
A luz que me inspira, me leva ao céu.

Eu que me encontro no sereno da manhã
Nas folhas orvalhadas de florido jardim.
Vislumbro as cores de um novo amanhã
Que a natureza, suave, faz brotar em mim.

Sou alguém, então, a passar pelo mundo.
Porta-voz, arauto, de um canto de paz.
Espargindo fé, um sentido mais profundo,
Que a esperança em mim para todos traz.

E no dia derradeiro, de minha estada aqui,
A mensagem última, em letras amarelas,
Esteja em forma de epitáfio, junto a mim:
“Foi alguém que sonhou com as estrelas!”

Nova Friburgo, 13/03/2004 (5h51m).

SENTIDO

Existo porque o eu em mim insiste
Em pensar como um filósofo.
Cogito, mas ai da existência,
A caber numa caixa-de-fósforos.

Dos sonhos, não mais que nuvens,
Penumbras do coração febril.
Batimentos, alegorias pulsantes,
Nas ante-salas do Hospital.

Da vida, corpo insano a devir.
Artérias das cidades do eu.
Viagens, nas profundezas do ser.
Aproximações emocionadas.

Do futuro, sabenças e não crenças.
Escaramuças desarticuladas.
Arrepios, embatucados nas dermes,
Expressões difusas na pele ensolarada.

Da continuidade, esperma sobre a terra,
Germinando a existência do amanhã.
Seivas férteis, no solo eclipsado.
Que se abre para o riso do Sol.

Nova Friburgo, 08/03/2004 (10h30m).

BASTANTE MULHER!

Nascer, aparecer neste mundo,
Saber-se um ser em formação
Brincar, sorrir, respirar fundo,
Descobrir-se poema e canção.
Quem recitará para os montes,
As estrofes da vida, o amor?
Tu, mulher, água das fontes,
Seiva, perfume, pétala e flor.

Crescer, andar, aprumar-se,
No espelho da vida descobrir:
É melhor, pra todos, doar-se.
Pois tens o dom de repartir...
Encarar qualquer realidade
Perceber-se sonho de mulher
E nos anos sutis da mocidade
Abraçar o que a vida lhe der.

Inteirar-se de árido mundo,
Ambivalente, até traiçoeiro.
Buscando sentido profundo
Forjando humor seresteiro.
Pra encarar difícil desdita,
Machismos incontroláveis,
A mulher na vida restrita
Supera em tons amigáveis.

Vencer qualquer preconceito,
Sentimentos que impõem dor,
Construindo, fazendo direito,
Os detalhes pintados de amor.
No lar, a mulher tão presente,
Preenche os espaços da vida.
Que se um dia tornar-se ausente
Será hora de fazer despedida.

Tu mulher, és luta em pessoa!
Heroína de romances vivenciais.
Enfrentando a práxis numa boa
Sublimando da vida os seus ais.
E assim, tu constróis a família,
Este instituto criado por Deus.
E na vida vencendo a porfia
Alimenta o caminho dos céus.

Se um dia, no meio dos sonhos,
No meio da vida, da luta, do ser.
Perguntar em contornos medonhos
Que faço aqui, que é ser mulher?
Não esqueças que nobre missão
Abraçastes sem mesmo perceber.
Nela pusestes o teu coração
E importa ser bastante mulher!

Nova Friburgo, 07/03/2004 (7h30m).

Espantos

A Aliazibe Guimarães Silva

Não tem jeito! Somos concorrentes do tempo...
Sopra o vento, e a gente sente o frio que teima em vir.
Mas não é o frio que assusta mais; nem o vento. É o espanto!
O espanto do tempo que passa; nem tanto do que já foi.
Este a gente viveu... E, modéstia às favas, bem!
Com Deus. Com a família. Com a Igreja.

Mas o tempo pra frente...
Ah, este anda ficando cada vez mais curto.
E se isso assusta? Sim, um pouco!
Nem tanto pelo que ainda há de vir, advir...
Pois nossas vidas estão nas mãos do Pai.
Mas, pelo que já foi sonhado e ainda não se concretizou...
Porque sonho sonhado é sonho existente,
Mesmo que ainda não realizado.

Então, teimamos em materializar nossos sonhos,
Como se não fôssemos, sem o que ainda é matéria de devaneios...
Ah, mas quem manda sonhar?! Reclamariam os opositores...
Mas sonhar é bom e alegra a vida.
E tem mais: Nós somos teimosos mesmo!
Insistimos em querer realizar;
Em ir mais além do medíocre;
Em fazer o melhor; buscar o belo;
E até em rir da nossa teimosia...
Só não nos contentamos em não buscar,
Em ficar sem alcançar a melodia mais linda
Através das notas que harmonizam a existência...

E o vento insiste em bater em nossas frontes cansadas.
Ainda bem!
Pois enquanto pudermos senti-lo, haverá vida;
E enquanto houver vento haverá poesia:
Principalmente com o vento que sopra dentro...

O vento que sopra na face é suave,
Gostoso e musical!
Esparge notas de emoções em nosso rosto.
Mas o vento que sopra dentro bate no coração,
E passeia pela alma. Esse é celestial!
E espalha suaves melodias de amor, em nosso íntimo.
Que alimentam a poesia;
Fabricam os sonhos;
E nos transportam aos páramos
Distantes, onde o Sol brilha mais forte,
E a gente se aquece de amor.
É o amor de Deus...

Podemos, então, ir ao encontro do Amanhã!

Nova Friburgo, 02/03/2004 (17h20m).

QUE SERÁ DESTA MENINA?

"Quem será pois este menino? (Lc 1.66)

Um dia ganhei lindo presente,
Do mais belo que se possa ter.
Veio em forma de menina,
Frágil ser que me ilumina,
Com sorrisos, alvos, de neve,
Em olhar, de luz, que aquece.
E já não tenho em mente
Fórmula ideal pra agradecer.

É que quem assim se torna
Objeto de bênção tamanha.
Não contém: Alegria entorna,
E a gratidão acompanha!
Pois não há nada no mundo,
Que represente a esperança.
Nem algo mais profundo,
Que um sonho de criança!

Quão belo é a cada dia,
Senti-la no quarto a chegar.
Enquanto a mão aparecia
Na porta, e a voz a falar:
“Papai, faz mamadeira!”
Olhando a filha que é minha
Que no meu colo se aninha
Abandono a pasmaceira.

O sonho da minha pequena:
Um passeio à beira-mar.
Pede pouco a morena:
A praia, a areia, o sonhar...
Brinquedo, boneca e bala,
Trazem-lhe satisfação!
São mimos que a vida embala,
Nas voltas de seu coração.

Mas eu, como pai, tão coruja:
Que ama, se alegra e sorri...
Da vida, a incerteza, intruja,
Que aparece por aqui.
Pergunta em tom reticente:
“Que será desta menina?”
E suplica, ao Pai, clemente:
O mal de sua vida elimina!

Niterói, 27/02/2004 (12h05m).

ORAÇÃO

Nesta manhã cinzenta,
Após chuva de verão.
Minh’alma está sedenta,
Tomada pela emoção.
E como quem não inventa
A dor da vil solidão.
Da vida, o sofrer, lamenta,
Andando na contramão.
Te imploro, Pai, sustenta
Este triste coração.

A dor é forte, arrebenta,
As veias de irrigação,
Que a vida alimenta
Trazendo renovação.
Carne frágil, macilenta,
Meu corpo em convulsão.
Alma triste, sonolenta,
Tomada por comoção.
A Ti clama: Incrementa
Uma nova inspiração!

Diz o mundo: Experimenta!
Tudo o que vier a mão.
Em seguida, arregimenta
Da magia, uma porção.
Mas se o mundo ainda tenta
Seduzir com ilusão.
Senhor, Te peço: Alenta,
Consola, dá libertação.
A quem a ti apresenta
Esta humilde oração.

Itaboraí, 27/02/2004 (11h30m).

DÉCIMAS SUPLICANTES

Para Juliana Gomes

Pai nosso, que no céu estás,
De onde vês o solitário ser.
Que percebes o coração tão só,
Em alma sedenta de viver.
Faça em mim, tudo que lhe apraz.
Ao meu pleito considera, tenha dó.
Revigora, faça o brilho renascer.
Em minha vida que precisa de amor,
Toma conta, seja dela o Senhor,
Embora saiba não estar a merecer.

Sei, porém, em dimensionada escala,
Que preciso de ti, querido Pai.
Mesmo sem merecer teus favores,
Não abdico de ficar livre dos ais.
E se meu ser por ti implora e fala:
“Livrai-me do mal e das dores!”
Meu Deus! Atenda o meu clamor.
Preencha-me de sua graça e dulçor.
Faz com que meu ser em transe,
Em ti encontre uma nova chance.

Minha súplica a ti se volta,
Para atender um triste coração.
Sei que podes apagar a revolta
E preencher com nova emoção.
És sentido, razão, esperança,
Por isso te busco intensamente.
E nesse meu jeito de criança,
Busco o renovo d’alma e mente.
Para experimentar Tua bonança
Aqui na Terra e eternamente.

Nova Friburgo, 24/02/2004 (7h35m).

SONETO DA MONTANHA

Dedicado aos jovens do Retiro 2004 da 4ª Igreja Batista de Nova Friburgo

Bem perto deste céu que nos enleva,
Montanhas onde o verde viceja livre.
O Espírito, nosso espírito, a Deus leva.
Vento que sopra forte, e a gente vive.

Sentindo o frescor do ar puro e farto.
E os olhos a passear em cores belas.
Em natureza que co’ emoção de parto.
Dá à luz silvestres flores amarelas.

Como é bom, Deus, tão alto retiro,
Ficando mais perto de ti e tua Criação.
Onde sinto teu poder e por ti suspiro.

És razão de minha vida, fonte de amor.
Alegria infinda, toda minha inspiração.
Na flor que abre, redescubro o Senhor.

Nova Friburgo, 21/02/2004 (19h55m).

SORRISO

Tarde cai, clima de inverno, em verão.
Sua presença se faz sentir na estação.
É que surpreso, descubro você a passar.
E num relance, percebo em mim seu olhar.

Ah, que presente! Um sonho é seu sorriso.
Vindo espontâneo, sincero, feito canção.
E me atingindo, direto, em meu coração.
Eu retribuo, sorrindo, não mais que isso.

Sorriso seu, sorriso farto, bem alegre.
Algo ingênuo, maroto e meio faceiro.
Mostrando o brilho d’um olhar em febre.

E eu surpreso, pego assim de repente.
Devolvo lépido, como um canto ligeiro,
O seu sorriso, com aceno de mão e mente.

Nova Friburgo, 17/02/2004 (17h35m).

SONETO AO POETA

Que é ser poeta num país como o Brasil
Onde o cidadão não vive do trabalho?
Na briga do mercado pra romper o funil
Busca-se a sorte nas cartas do baralho.

E quer o poeta, viver de palavras,
Espírito viajor que vive a sonhar?
Nos versos eternos, pérolas das lavras,
Que ao produzir, o sustento vá buscar.

Pois ele não vive, de outra provisão.
Nem sempre o cobre sustenta o poeta
Que passa a vida com o pires na mão.

Assim este ente que é meio profeta,
Um pouco doente, um pouco penetra,
Alimenta-se dos sonhos do seu coração.

Vila Velha, 06/02/2004 (7h35m).

O POETA PRECISA

O poeta precisa do silêncio,
Para pôr ordem às suas idéias...
Nem que seja o silêncio d’alma
O poeta precisa ter calma
Para propor suas panacéias.

O poeta precisa de um sonho
Para pôr sentido ao seu viver...
Nem que seja um sonho de verão
Amor breve, de meia estação,
Que o faça das cinzas renascer.

O poeta precisa de uma musa
Que inspire forte o coração...
Nem que seja musa virtual
Mas se faça presente, atual,
E alimente nele a Canção.

Vila Velha, 06/02/2004 (8h05m).

MINHA RUA

Na rua em que eu moro
Não tem palmeiras nem índios
Não tem areia nem praia
Nem posso tomar água de coco.
Mas na rua em que eu moro
Tem minha casa e minha gente
Tem meus filhos indo pra escola
E meus sonhos viajando pra lua.

Lá na rua onde moro
Não vejo o mar beijar o céu
Neste encontro de horizontes
Provocado por meu Deus.
Mas na rua da minha casa
Vejo as montanhas de Friburgo
O verde acenando para as nuvens
Numa paquera de verão.

E na rua da minha casa
Onde moro ao pé da serra
Não há gaivota voando
Ou barquinho à beira-mar.
Mas há pardais e canários;
Goiabeiras abrindo-se em flor;
Trinados nos campanários;
E o renascer do amor.

É que na rua onde moro
Na casa que Deus me deu
Constrói-se a cada dia
Um lar, espelho do céu.
Pode faltar algo da terra
Mas o pouco que juntar
Co’a presença do Espírito
O amor irá entronizar.

Vila Velha, 05/02/2004 (18h56m).

KATIA

Seu jeito, solene, de eterna musa,
Que aos sonhos me leva em amor.
Tão lânguida, só, um tanto difusa,
Botão que se abre em bela flor.
Me faz sonhar em noite d’estrela
Desejar sentir, vontade de vê-la.
Imploro, então, suplicante, ao Senhor.

Você, uma Laura, até mesmo Beatriz.
A musa impossível dos sonhos meus.
Encantos presentes, amor por um triz,
Nos braços, afagos, somente são seus.
Amor de aquarela, de linda donzela,
Acenos na vida tão rica e tão bela.
No sonho são portas que abrem os céus.

Julieta, insuperável, de ardentes desejos.
Castelos que se fazem à beira-mar.
Amor tão seguro, sem dó e sem pejos,
Vencendo as distâncias do meu sonhar.
Defronte da praia, na areia do tempo,
Perfume espalhado ao encontro do vento
Ergue-se, benfazeja, num jeito de amar.

Isadora, minha querida, silente, ofuscada.
Um jeito imponente de ser mulher.
Distante, eloqüente, não menos amada.
É flor escolhida: um bem-me-quer!
Por isso lhe digo, mulher das hebréias,
Num tempo como este, em meio às atéias,
Jeová a entronizou: Rainha Ester.

Mas tem mais que isso, um pouco de siso,
Um pouco de ternura, você é dissimulada.
Em rosto de humor, em cara de riso,
O coração é de cigana, mas a arte é falada.
Capitu dos trópicos, dos cantos de amor,
Da Niterói cinzenta, dos campos do Senhor.
Minha alma se desprende, viaja alada.

Fluminense destas terras, das índias e Naiás
Você é minha Ceci, morena da cor da terra.
De tarde, ao sol poente, em meio a canaviais,
O amor que lhe devoto no peito se encerra.
Sonhando e caminhando, minha Iara, meu amor,
Seu cheiro e o seu perfume persigo por onde for.
Certezas do coração, gamado que nunca erra.

Ah! Musa das musas! Beleza de minha vida.
Amor que da paixão, me faz guapo sonhar.
Nos romances da moreninha, ares de atrevida,
Deixando a inocência, para ardente me amar.
Seu nome dentre todas, as musas de mil poetas,
Sibila em meus tímpanos, na voz de mil profetas:
É Katia, a musa eterna, que me faz flutuar.

Vila Velha. Comecei em 04/02/2004 (20h50m) e terminei em 05/02/2004 (7h40m).

DESALENTO

Sob a luz do luar de um terno céu
Meus olhos encontram os olhos teus
Meus dedos acenam um leve adeus
Enquanto o coração faz escarcéu.
Não posso mais viver sem teu amor
Afastar-me de ti, só traz rancor,
Mas como tocar um coração incréu?

Aos teus olhos sou um aventureiro
Que focou um dote antes de tudo
Que fisgou o mote de um sortudo
Pois na vida topa tudo por dinheiro.
E meu coração, flechado pelo amor,
Sofre em dobro, vitimado pela dor,
De alguém que viu e amou primeiro.

Vivencio, a ilusão, de num momento,
Atenuar a emoção do sofrimento
De te querer, te amar, e não te ter.
Passo os dias matutando um sentido
Extraído de meu triste ser sofrido.
Um esboço de gesto, um movimento,
Pra tornar-te a razão do meu viver.

Vila Velha, 05/02/2004 (18h33m).

KCS

No quarto de hotel, onde o vento abranda
O forte calor, de uma tarde, o verão...
Que linda é você! Frescor na varanda.
Aberta pra vida, em sonho e paixão.
Não cesse o sorriso,
A quero assim!
Tão bela, aquarela,
De um amor sem fim!

Você se movendo, de um lado pra outro,
Em passos ligeiros; medidos, pensados.
Seu corpo balança, num gesto maroto,
Meus olhos te seguem, querendo seus fados.
Não quebre a leveza,
A quero assim!
Tão bela, aquarela,
De um amor sem fim!

Seu corpo, moreno, do sol já tomado,
Transmite beleza, se faz sensual...
E então nesta hora, de encontro marcado,
Me sinto amparado, te tenho afinal.
Não fujas do sonho,
A quero assim!
Tão bela, aquarela,
De um amor sem fim!

Teus dedos dedilham, da agulha o crochê,
Agindo nervosos, na busca da forma.
Vagando em relax, só eu e você,
Das férias, o ócio, que a vida reforma.
Artesã dos meus dias,
A quero assim!
Tão bela, aquarela,
De um amor sem fim!

E nossas crianças no quarto do hotel
Alegres, felizes, curtindo a estação.
Provando gulosas; dos favos, o mel;
Da vida, a harmonia; do poeta, a canção.
Ser mãe, mais que tudo,
A quero assim!
Tão bela, aquarela,
De um amor sem fim!

Bem perto, a praia; e o vento chegando.
A maresia pressente, um sol e o mar.
Na areia do tempo, agora estou vendo.
Quão doce é você; seu jeito de amar.
Dulcíssima, amante,
A quero assim!
Tão bela, aquarela,
De um amor sem fim!

E eu, repentino, me achego bem perto.
Roçando meus lábios no rosto que é seu.
E o faço, tranqüilo, estando bem certo.
Decerto, seguro, do amor que é meu.
Amor de minha vida,
A quero assim!
Tão bela, aquarela,
De um amor sem fim!

Viajo no tempo, na história de vida,
Que juntos construímos, ao longo dos anos.
Pois tudo mudou, desde o ponto de partida,
O primeiro olhar, quando nos encontramos.
Que sejas sempre bela,
A quero assim!
Verdadeira aquarela,
Do amor que mora em mim!

E o futuro que a gente, está a construir,
Nestas peças esparsas, de um quebra-cabeça.
Promete, vistoso, um brilhante porvir,
Pedindo, solene: Que o passado, não esqueça!
Minha linda princesa,
A quero assim!
Aquarela de beleza,
Perfumada de jasmim!

Vila Velha. Comecei em 03/02/2004 (19h) e terminei em 04/02/2004 (6h15m).

AMAR

Ai, quando a vejo tão linda por perto,
Rondando os dias que lépidos vão.
Que quero mais eu, pedir, desta vida?
Farei despedida
Do resto do mundo
Meu amor profundo,
Coração!

Encerrar-me no claustro dos meus sentimentos.
Fechar-me num mundo que é só meu e seu.
Como eternizar todos esses momentos?
Andar nestes ventos?
Voar pelos sonhos?
Desejos tamanhos.
Sou eu!

Você do meu lado, sonhando acordada.
Sorrindo, sincera, somente ao me ver.
Que quero mais eu, da vida, amada?
Mulher desejada.
A mãe dos meus filhos.
A vida, nos trilhos,
Viver!

Vila Velha, em 04/02/2004 (7h30m).

Da cor da terra

Esta pele morena da cor da terra
Esta pele suave da cor do verão
É cartão de visita que sonhos encerra,
Desejo presente em forte paixão.

E você do meu lado, suspirando leve,
Sorrindo entrelábios, prenhes de amor.
Faz-me delirar, querer para breve,
Seu corpo se abrindo, um botão em flor.

E seu rosto moreno, a terra lembrando.
Estrelas brilhando em vívido olhar.
Morenice brejeira que já estou amando
E o brilho, mistério, me faz viajar.

Você com seus lábios, suaves e doces.
É como uma musa da terra Brasil:
Falando e sorrindo, se abrindo em amores,
Encanta e embala os meus sonhos mil.

Resende, 29/01/2004(17h15m).

Menina do Ônibus

Menina do ônibus.
Que bom foi te ver
já cedo, de manhã,
bem junto de mim
bem perto dos olhos
bem perto do amor.
Tão longe, porém,
se ao não conhecer
seus sonhos, seus dias,
minha vida vazia
não pode te ter.

Menina do ônibus.
Seu jeito alegre
seu jeito maroto
seu rosto em flor.
Qual brisa suave
que sopra ao vento
me traz acalento
e o mundo tão roto
de todo entregue
se enche de amor.

Menina do ônibus.
Seu rosto tão lindo
olhar tão sereno
pensar tão agudo
investiga o tempo
sonhando acordada
me sente a te ver.
Sua face rosada
seus lábios carnudos
nariz afilado
me deixa agitado
me prende a você.
Qual barco e o remo
singrando no lago
minha alma cansada
deseja te ter.

Menina do ônibus.
Não sei qual seu nome
não sei de onde veio
nem para onde vai.
Só sei que a fome
que havia em meu peito
na ânsia de amar...
Você com seu jeito,
suave e tranqüilo,
sorriso no rosto,
tão lindo a aflorar.
Saciou neste dia
me trouxe alegria
e pôs simpatia
que a ti me atrai
fazendo sonhar.

Rio de Janeiro, 8h45m (12/03/03).

Caminhos Prateados

Um menino, pequeno,
Perguntou pra sua mãe:
- Mamãe, como nasci?
Desde quando estou aqui?
A mãe, tão aturdida,
Ouve espontânea voz,
Olha pra dentro de si,
Responde um tanto a sós:
- Meu filho, esta vida
Que hoje trazes em ti;
Começou lá no passado
Quando teu pai conheci.
Você não existia,
É fruto do nosso amor.
São passados os anos,
Vinte e cinco, exatos,
E como dizem os fatos
Você com seu irmão
Compõem em nosso lar
Resposta de oração.

O menino curioso,
Querendo saber mais
Chamando a seu irmão,
mais velho e mais capaz,
pergunta sem pensar:
- Você sabe como eu
vim ao mundo, mano meu?
- Garoto, você é novo
Não sabe dessas coisas...
- Mas porque, então,
Não apareço na foto?
- Que foto, meu irmão?
O que queres dizer?
- A foto do casamento
Ou será que no momento,
Me distraí e não apareci?
O irmão coçou cabelo,
Franziu cenho e sobrolho,
Pigarreou e tergiversou:
- Nós só existimos,
Eu e você, caro mano.
Porque Deus nos amou
E para nós tem um plano!

Na pauta daqueles dois
A velha história humana:
Donde viemos, onde vamos?
Que fazemos neste mundo?
Do infante, ingênua questão:
Eu não sou desde sempre?
Tive um ponto de partida?
Um começo como gente?
Os pais observam os dois
Com os corações alegres.
Ali estão os dois frutos
De uma caminhada de prata
Que começou numa praça,
Mesmo banco, mesmo jardim.
Mas hoje, passados os anos,
Os cabelos já grisalhos,
Cantam novos passarinhos,
Velhas canções, novos hinos,
Mesmo sentimento e amor,
Envolto em muitos carinhos.

Na graça, na gratidão,
Vertendo do coração
De quem na estrada da vida
Com a alma enriquecida
Amou a mulher da mocidade
E agora, no avançar da idade
Colhe muito regozijo
Como se ao som do realejo
O sonho tornasse desejo
E a história juntos passada
Caminhos floridos de prata
No amor que surge do nada
Do sonho da mulher amada
O jovem logo descansa
E a alma a Deus se alevanta
Pois sabe que todas as coisas
Sejam boas ou mesmo ruins
Todas elas têm seus fins
Na vida de quem a Deus ama
E com sopro divino chama
Contribuem sempre pro bem.
E todo servo, submisso,
Responde sempre: Amém!

Tudo começou nuns olhares
Na troca de furtivos sonhos:
"Que moça tão linda é essa,
Princesa do meu Império,
Senhora do meu destino,
Dona do meu coração?"
E ela, por sua vez,
Exercitando a compaixão
Diz dele com muito carinho
De um coração fisgado
De todo enamorado
"Encontrei meu príncipe
meu príncipe encantado!"
Veio o namoro e o noivado
O brotar do sentimento
Dos pais, o consentimento
Para um futuro à dois.
Que eles, cheios de planos,
Não deixaram correr anos
Nem adiaram pra depois.

Chegou o casamento
Data tão especial
Em dia marcado adrede
Que eles num outubro
Florido, primaveril,
Disseram pra todo mundo,
Para Friburgo e o Brasil:
"Nascemos um para o outro
Prometemos nos amar
Até que a morte nos separe
E mesmo que em nosso lar
O nosso coração dispare
Será sempre para o outro
A alma gêmea que Deus
Pra nossa felicidade aqui
De presente concedeu!"
Com nossos filhos agora
Passados que são os anos
Formamos um ninho de amor
Onde canções tão alegres
E orações fervorosas
Representam a fé presente
Em Cristo nosso Senhor!

Josué Ebenézer (Nova Friburgo, 10,11/10/2003)

Oração pelos Quinze Anos

Para Naiara Rentes Rocha

Senhor!
A oração que deste momento de minha vida
quero extrair do mais profundo de minha’lma
como pedra preciosa até então escondida
é adoração que no espírito produz calma.
Pois sou grata a ti, meu Deus, Fonte Eterna:
de sonhos, esperanças, alegrias e vitórias,
que desde o acalanto da segurança materna
sinto até o hoje da vida e suas histórias.

Senhor!
Ainda não sei do mundo as conseqüências,
das decisões da vida no caminhar dos amanhãs.
Se no meio de tantas vis e fúteis existências
não se sabe do alvor como surgem as manhãs.
No aquecer do sol em seus raios fugidios
a esperança nascente no peito a renovar,
que será de mim se da vida nos estios
de ti não me vier um novo jeito de amar?

Senhor!
Preciso de ti, tenho plena ciência disto.
Teu amor me faz falta e eu por isto insisto.
Já não posso ir ao encontro de um futuro
com problemas mil como salto no escuro.
Trago no peito já o palpitar de um novo dia,
pensamentos povoados de sonhos e esperanças,
e minha’lma que outrora era triste e arredia,
agora parte firme a buscar novas andanças.

Senhor!
Eu agora te agradeço pelo pouco que já vivi
se contigo meus sonhos ganham asas a voar
pois diante de tua graça eu mesmo não resisti
ao teu Filho que na cruz se deu pra me salvar.
Obrigado, meu Pai, e te peço com humildade
que a partir destes quinze anos que alcancei
tu estejas presente em minha gaia mocidade
pra ser feliz contigo de um jeito que sonhei.

Nova Friburgo, 28 de abril de 2003.

Eu Não Sei / Eu Sei...

Em Memória de Marlene Machado

Eu não sei porque Marlene morreu...
Ela era boazinha, todos gostavam dela.
Ela era amiga, companheira, alegre, divertida.
Ela era dedicada, trabalhadora, esforçada.
Ela era carinhosa, resoluta, lutadora.

Eu não sei porque Marlene morreu...
Ela era filha, e nesta condição honrou a pai e mãe.
Ela era irmã, e como se alegrava no ambiente familiar.
Ela era esposa, e como amava o marido que Deus lhe dera,
Fato que testemunhei dias destes,
quando falou da felicidade de ter o Arthur junto de si.

Eu não sei porque Marlene morreu...
Ela era trabalhadora do Brasil, e nesta condição
soube cumprir os seus compromissos profissionais,
mesmo quando a enfermidade quis dominá-la
e ela teve que fazer umas sessões de fisioterapia...

Eu não sei porque Marlene morreu...
Ela era crente em Jesus Cristo, e debaixo desta bênção
testemunhava do Cristo que habitava o seu coração,
desejando vencer todos os obstáculos para ter a sua vida
no centro da vontade de Deus, e ser uma serva fiel...

Eu não sei porque Marlene morreu...
Ela era ministra de Deus e na sua Igreja mostrava todo
o entusiasmo de quem era apaixonada pelo que fazia
procurando transmitir a todos os irmãos uma paixão pela
Obra que só quem tem vocação sabe fazer,
mesmo que haja alguns que não acreditem ou não dêem valor...

Eu não sei porque Marlene morreu...
Ela tinha pelo menos dois sonhos:
O primeiro, muito difícil, sobre o qual ela lutava com Deus,
mas Deus estava lhe mostrando que não era a sua vontade,
embora ela insistisse com todas as suas forças: Queria ser mãe!

Ah, como Marlene tinha um amor maternal engasgado na garganta,
embolado no peito, aninhado no coração.
Seu sonho era ter uma criança nos braços para acalentar e
para dizer ser sua, somente sua, para todo o mundo ouvir.
Havia um grito paralisado dentro dela: SOU MÃE!
Mas o sorriso dessa felicidade não alcançada é nosso,
nós que guardaremos no coração a doce lembrança dela.

Eu não sei porque Marlene morreu...
Ela tinha pelo menos dois sonhos:
O segundo, também foi sua luta particular, cheia de obstáculos,
mas ela não entregava os pontos, e, para tanto,
depois de tanto tempo parada, sem freqüentar os bancos escolares,
voltou a estudar, ingressou no Seminário: Queria ser missionária!

Quem conheceu Marlene, nunca esquecerá desses seus dois sonhos.
Ela era passional, emotiva e, também, segura e convicta do que queria.
Desbravadora, lutou por seus ideais até o fim
e Deus a levou quando para a Igreja caminhava, trazendo no
corpo a camisa de Missões ("Sou brasileira e faço
parte da seleção que quer transformar a minha pátria!
JESUS, A ÚNICA ESPERANÇA.")
e trazendo no coração uma vontade tremenda de ver sua Igreja
abraçando definitivamente a Causa Missionária.

Eu não sei porque Marlene morreu...
A dor está sendo muito grande pela sua perda
e está sendo difícil entender a forma brutal e desumana
pela qual ela deixou este mundo.
A violência está mais perto de nós do que imaginamos e
o ser humano já perdeu totalmente o referencial divino
em sua vida, embrutecendo-se, tornando-se animalesco,
não medindo o valor de uma vida,
ou mesmo a dor dos que ficam a chorar o seu morto...

Mas, alto lá...

Eu sei porque Marlene morreu...
Ela era boazinha, todos gostavam dela.
Ela era amiga, companheira, alegre, divertida.
Ela era dedicada, trabalhadora, esforçada.
Ela era carinhosa, resoluta, lutadora.

Eu sei porque Marlene morreu...
Ela era filha, irmã, esposa
e carregava dentro de si uma paixão pela vida.
Como ela gostava de viver!

Eu sei porque Marlene morreu...
Ela era trabalhadora do Brasil, profissional,
legítima representante desta brava gente brasileira
que sofre para conquistar o seu lugar ao sol.

Eu sei porque Marlene morreu...
Ela era crente em Jesus Cristo, serva fiel,
ministra de Deus e na sua Igreja mostrava amor
pelo que fazia, fruto de sua vocação missionária...

Eu sei porque Marlene morreu...
Ela tinha pelo menos dois sonhos:
O primeiro, muito difícil, queria ser mãe!
Como ela trazia este desejo na alma!
O segundo, da mesma forma penoso, queria ser missionária!
E como lutou nas tantas vezes que o sonho tentava lhe escapar...

Sim, eu sei porque Marlene morreu...
Por tudo que disse anteriormente, sobre não saber
o porquê dela ter morrido.
Ela morreu, porque ela estava preparada,
porque Deus a chamou para ser semente,
semente que precisa brotar no coração de nós que ficamos...

Marlene foi para os braços do Pai,
porque ela era crente em Jesus Cristo, uma serva de Deus,
uma ministra de Deus, porque ela tinha sonhos e ideais no coração.
E ela morreu com seus sonhos...

Já pensou se fosse eu ou você?
Você está preparado? Você tem sonhos e ideais no coração?
Você possui uma Causa pela qual luta e da qual não abre mão de sonhar?

Marlene morreu com seus sonhos,
mas os sonhos de Marlene não morreram...
Enquanto houver uma mulher no mundo querendo ser mãe,
nos lembraremos dela...
Enquanto houver no mundo uma alma perdida,
nos lembraremos dela...
Enquanto os crentes continuarem amando, orando
e ofertando para Missões, nos lembraremos dela...
E toda vez que nascer uma criança,
Marlene estará viva!
E toda vez que alguém largar tudo pela obra missionária,
Marlene estará viva!

Pois isto significará o frutificar desta semente
que Marlene representou com sua morte...

Pr. Josué Ebenézer (13/11/2002 - 06h25m)

Volta, Drummond!

Volta, Drummond!
Vem pegar teu sobretudo.
Quem sabe não mais esqueças as flores...

Volta!
Venha despertar as flores que já morreram.
A Serra precisa de ti
para dar nova vida a cada pétala adormecida.

Volta,
teus versos trarão o retorno do perfume
aprisionado tanto tempo no sobretudo
e transformado em cheiro de morte.

Volta, Drummond!
Venha transformar
o acre cheiro da clorofila apodrecida
destas flores - esmagadas pelo tempo
contra as paredes internas do bolso do sobretudo -,
num campo de ornatos florais e cores perfumosas
como a fluidez do pensamento...
Nos tenros anos da adolescência
fostes acusado de “insubordinação mental”
e como objeção sublime te fizeste poeta.

Volta, Drummond!
Encontrarás uma Friburgo arrependida.
Venha finalmente entregar as flores
da juventude a quem de direito:
À amada que o fizera despertar
da indolência do não-amar.

Nossa cidade sente o peso
do afeto interrompido.
Não queremos mais ser culpados
do rompimento dos laços
que o entrelaçam à amada poesia.
Podes compor
podes sonhar,
podes cantar.

Não apenas no Maio que viu a tua
“Onda” surgir na casa dos dezesseis.
Mas em todos os meses e estações
que te provocarem inspiração,
sobretudo, o inverno!
Queremos protegê-lo do frio,
mas precisamos que nos aquentes
e acalentes, também, com a tua poesia.

Volta, Drummond!
Nem que seja na inspiração
de nossa gente.
Diga-nos se esquecestes apenas as flores
ou também o sobretudo se perdeu.
Se ambos, estás desprotegido.
Queremos que te resguardes do frio
de uma expulsão cruel
que o afastou da companhia de Jesus.
Teus versos iluminam nossa poesia
como a Luz do Cristo nossas vidas!

Nova Friburgo, 15 de abril de 2002 (14h35m)

domingo, novembro 11, 2007

Ser Amigo

Ser amigo...
O que é ser amigo?
Me fiz esta pergunta
com cara de primário
como se os segredos do Universo
não fossem coisas de Antiquário.

O que é ser amigo,
num mundo como o nosso
de relações supérfluas
e volúpias infernais?
Pode ser que a amizade
- num ser moço -
seja emoção melíflua.

O que é ser amigo,
num mundo tão carente
onde a via de mão única
quase sempre é adotada?
Ser amigo é oferecer a túnica,
a bolsa, a mesa e a cama
mesmo que não lhe venha nada
da parte de quem se ama.

O que é ser amigo,
senão o oferecer
de um ombro, colo e abrigo
para o outro sobreviver?
Ser amigo é mais que palavras
é um estado profundo d’alma
que se conquista em constantes lavras
com paciência de monge e calma.

Neste mundo não se tem
muitos amigos a sobrar.
Conta-se nos dedos aqueles
que a vida ensinou a amar.
É preciso, então, guardá-los
com as sete chaves do amor.
São jóias raras e caras
para as quais não há penhor.

Amigo que é verdadeiro
é o que perdoa e sempre esquece.
Esquece o erro, não a pessoa
pois essa nunca fenece.
E já que a amizade real
é fruto de entrega sincera
e não simples quimera:
para o amigo é vital!

O amigo não queima no fogo
não arde no ciúme das paixões.
A falta não o tira do jogo
a água não apaga as emoções.
Seu ânimo, o vento não espalha
e a chuva não derrete sua doçura.
Amigo não é nau que encalha
nas areias de qualquer aventura.

É por isso que me angustia
nessa altura de minha vida
perguntar com todas as letras
e na potência da minha voz:
- O que é ser amigo? Eu sabia...
Oh! humanidade enlouquecida!
Descobri que no amigo todas as setas
matam. Morre-se. E não há algoz!

Nova Friburgo, 20 de outubro de 2001 (7h49m)

Náusea

Barulhos bucais de
mastigação lenta
ou apressada
- nojenta
e
barulhos bucais
de dentes
comendo massas
de trigo
e maxilares
triturando
estas massas
em forma de pães
- torrados.

Barulhentos mastigares
- elásticos -
equilibrando a dentadura
na abóbada bucal...
E a sofreguidão
- da dieta
de pães e
leite derramado;
pelos cantos da boca
- descendo...
leite sorvendo.
- Leite
liquidamente
empurrando
a massa bucal
remexida
mixada
pela saliva.

E ela empurrando
pela goela
abaixo da linha
do esgar
regorjitar
vomitar
entre soluços
grandes
odoríferos
do imenso mamífero
que está em seu ocaso
sem se dar conta.
E a massa baixando
ao estômago
- glub-glub-glub
repousando
no colo quente
da digestão.

Os barulhos bucais
sorvem inquietos,
apressados,
nestes mastigares doridos
esgares sofridos
de alimentação:
- Fome.
- Desejo.
Barulhos próximos
da sensação silvosa
da saliva
que faz a massa
na boca bulir no céu
da boca
para transportá-la
ainda
barulhentamente
para a boca
do estômago.

A engrenagem desta
máquina humana,
gasta de velhice e,
cansada de uso,
ressente-se de
lubrificação.

E a massa do
- pão torrado
agora molhado
pede passagem
direta para
os aminoácidos,
as proteínas,
e os componentes
calóricos
que insistem
em tornar
o frágil corpo
sobrevivente
de si mesmo.

A passagem
do engolir
- sorver,
jogar no centro do
Universo digestivo
o pouco necessário
à sobrevivência:
- Clemência de consumo.

E eu ali
naquele nosocômio
- nauseabundo,
ouvindo estes barulhos
- infernais:
de próteses bucais,
de comida postiça,
em dentes idem,
em vida sofrida.
- Arremedo,
Medo.
- Arremeço,
Meço.
- Arre!
- Errei!
- E morro!

...Sem saber quem foi feliz:
- Se aquele que se foi
ou
o verme
que o comia por dentro.

Comecei em Niterói, 16/10/2001e terminei em Nova Friburgo, 20/10/ 2001 (07h15m).

Amor (1Coríntios 13)

Ainda que dos homens a língua eu falasse,
que dos anjos o idioma angélico escutasse,
e até pudesse com as miríades conversar.
De que me adiantariam os torneios literários
se as belas palavras desses versos temerários
não ousassem forte na conjugação do amar?

Se os homens todos me levassem a sério,
das profecias findas conhecesse o mistério,
de que me valeria tal grande sapiência?
Se nos lábios o canto do amor não vibrar,
estas cordas bambas que aprenderam a amar
matariam a emoção em nome da ciência.

Em mim toda ação seria mero ativismo
barulho sem música dos sinos que dobram
se o amor não tangesse minha vida e oração.
Pois no tempo de Deus, do amor o batismo
não é como dos homens em que sinos repicam:
no tempo de Deus palpita o som do coração.

Ainda que tivesse toda a fé em mim reunida
de maneira tal que transportasse os montes
de maneira intensa, jorrando como as fontes.
Ainda assim - na plena razão da minha vida -,
não sendo fé no fogo do amor forjada, mas fria
como o zero na soma do amor, nada ela seria.

Se estivesse disposto ao meu maior sacrifício
da morte cruel em vorazes chamas de fogueira
ou mesmo abrisse mão do que é grande vício:
na terra ajuntar tesouros sem eira nem beira.
Mesmo a morte sacrifical e fortuna dada à pobres
na ausência de amor, não seriam atos nobres.

Que devo, então, fazer se quiser dar amor,
se quiser expressar algo bom através de mim?
Devo primeiro descobrir que ele é sofredor.
O amor é benigno, não é invejoso ou algo assim.
Ele não é egoísta, indecente e não se irrita.
O amor é justo, verdadeiro e de nada suspeita.

Mas que amor é esse, assim intenso e exigente?
Será que há no mundo alguém que possa vivê-lo?
Esse amor é de anjos e não tem cara de gente?
De um amor que tudo sofre, como pode este desvelo
- e ainda tudo crê, e tudo espera, e tudo suporta -,
encontrar-se em seres que se acham em vida torta?

O amor nunca falha e onde ele se faz bem presente:
havendo alguma profecia de pronto será aniquilada;
e havendo qualquer glossolália, logo logo cessará;
também havendo ciência, em breve se fará ausente.
Porque conhecendo em parte, com a ciência abalada,
e em parte profetizando, a tudo o amor mudará.

Mas espero o grande dia da chegada do Perfeito
quando todas incompletudes serão exterminadas
e o tempo de menino será coisa só do passado.
Verei Deus face a face e se quebrará o espelho
pra ser reconhecido dentre as emoções continuadas:
fé, esperança e amor. Este, meu maior legado!

Nova Friburgo, 12 de outubro de 2001 (17h45m)
Comecei no dia 06/10/01 e terminei no dia 12/10.

Canção do Extinto* ou A Subversão de um País que Tinha Futuro

Minha terra produz palmitos
Sob o canto da enxada e da pá.
Tais aves, que já não ciscam,
não derribam aqui, como lá.

Essas aves agourentas
voando nas mãos do homem
são as próprias ferramentas
que a natureza consomem.

Nossa terra tem mais árvores,
e nelas se têm mais frutos.
Nosso solo tem mais mármores,
E nossas casas, mais brutos.

Que será de meu país:
De território tão vasto,
onde o mogno cede ao pasto
e tem gente que se diz feliz?

Nossa abóbada tem mais luzes
mas a Base de Alcântara
foi servida num cântaro:
American Way of cruzes.

Onde estão os amores,
de nossa vida colônia?
Vivemos os estertores
de nossa própria insônia.

Se temos coisas tão boas
nos céus, nos mares, nos bosques
os brasileiros não sentem.
Suas crianças não mentem:
na cultura e no relevo
surge nova Sarajevo.

Minha terra tinha primores
como a ararinha e o sabiá;
o jacaré e o mico-leão
que agora os encontro por cá.
Minha terra ainda produz palmitos
sob o canto da enxada e da pá.

Em cismar a noite do Brasil
de um eco-escatológico negror
mais prazer encontro eu cá.
Onde a vida organizada
não faz do homem e da enxada
um sonho de sabiá.

Não permita Deus que eu morra
sem que veja voltar ao Brasil
dos animais as suas cores:
o azul da ararinha,
o dourado do mico-leão,
o amarelo do papo do jacaré...
E sem que sinta os primores
dessa terra dos meus amores
desse Brasil que ainda existe.

(*) De inspiração óbvia ululante. Nova Friburgo, 29/09/2001 (9h18m).

Igreja Batista

Primeira e última expressão da mensagem de vida,
És a guarda fiel, proteção, o atalaia supremo,
Essência e obra expressa, do Jesus Nazareno,
Fonte a jorrar pelos tempos a verdade límpida.

Amo-te assim como és, estruturada e solta,
Grêmio de seres livres e espíritos fiéis.
Tu tens o dom da chegada, nem sempre da volta,
Qual pipa que voa em linhas de uns carretéis.

Amo o teu viço constante e a tua doutrina,
Hermenêutica clara e segura de apertada estrada!
Amo-te, e sei que pra ti a minh'alma se inclina.

És o abrigo fiel, em que o santo e o profeta,
Ajuntados do povo tiveram a vida edificada,
Pois tu és guarida, e bússola, e também a meta.

Niterói, 28/09/2001 (07h17m)

Que País É Este?

O mundo em que a gente vive
é cheio de inseguranças.
São promessas não cumpridas,
são paradas nas andanças.
É como o vento bem forte
soprando pra todo lado.
Se segura só quem pode
quem não pode alça o brado.

Não adianta nem lembrar:
os tempos que já se foram,
os heróis que já partiram,
o passado a desmoronar.
São heróis de perna quebrada
os que fizeram este país.
O povo caminha sofrido
seu parâmetro é infeliz.

Mas o povo quer o mínimo
que garanta a existência.
Não consegue nem um mimo
que engane a sobrevivência.
Uma casa pra morar,
um canto para dormir,
uma sopa pra tomar,
um motivo pra sorrir.

E os governantes de hoje
políticos de meia pataca
fazem o jogo das multis
e o progresso não engata.
E não engata a vida
e o progresso não vem
parecendo despedida
para a pátria de além.

Mas os filhos são daqui,
têm estômago e intestino.
Falta-lhes Educação e Saúde
que lhes mude o destino.
Têm pés que andam na terra,
e mãos que seguram o vento
e se a vida não emperra
é por causa do pensamento.

Pois ainda que seja difícil
- o Brasil hoje oferecido -
seus filhos mesmo tristonhos
caminharão com seus sonhos.
É que não se prendem idéias
nem se aprisionam espíritos.
Há um futuro sem panacéias
(Com) cidadãos e escritos.

Niterói, 27/09/2001 (07h44m)

A Invenção da Poesia

(Dedicada às vítimas das Torres Gêmeas em 11/09/2001)

Invento uma armadilha
como quem aprisiona
a luz que emana das gentes
que se espremem no Muro
das Lamentações
e, ali, pouco antes do gatilho,
escrevo a palavra Consolo.

Invento uma obsessão
tão nascente, tão crescente
que da origem ao feto
cria um corpus de afeto
que de repente
promove um encontro
dizendo que é meu o horizonte.

Invento um sonho
de uma utopia recorrente
e alcance transnacional.
É um sonho multifocal,
pra todo mundo, pra
todos os povos, tribos e nações.
É um sonho prenhe de nuvens brancas de paz.

Invento um mundo
onde as mãos que seguram ferramentas -
e empunham lápis e canetas - miram esperanças.
Não há ganâncias. E a ambição
é somente o alimento da vida
e o combustível do futuro
onde crianças e velhos passeiam harmonias .

Nova Friburgo, 13 de setembro de 2001 (08h15m).

Com Promessa

(Dedicada à irmã Letícia em seus 80 anos)

Quando uma criança nasce
enchendo a casa de alegria
pegamos o bebê no colo,
sorrimos, e olhando o frágil ser
não sabemos no que vai dar...

Surge, então, uma grande interrogação
em nossas frontes de pais ansiosos:
E à moda da região montanhosa da Judéia,
perguntamos: - Que virá a ser esta criança?

A criança cresce, se desenvolve,
tomando outros ares e contornos,
trazendo-nos satisfação
e deixando o bebê para trás.
Mas, ainda assim,
a indagação persiste:
- Que virá a ser esta criança?

Nos esforçamos, cuidamos,
amamos e acariciamos.
Fazemos investimentos sem poder!
E a criança explode de saúde,
torna-se um atleta, um pintor,
um artista, um músico, um corredor...
Mesmo que de paredes e portas,
ou de banheiros e quartos,
ou ainda transformando os corredores da casa
em pistas de alta velocidade...

Mas, é o nosso pimpolho
e nós olhamos para o júnior
como nossa herança bendita
- o filho da promessa sagrada -
e sonhamos para ele nada menos
que um herói: o grande
redentor da pátria amada.
Mas nem tudo sai exatamente como planejamos:
uma enfermidade, uma anemia,
um pouco de cansaço e estresse,
vontade de só ficar na casa da tia
e a tarefa de casa desaparece,
e o dever da escola não se faz,
e a higiene pessoal já não compraz.

Olhamos o nosso rebento e,
com apreço, disciplinamos.
É o futuro que está em jogo:
ele, com certeza, precisa logo aprender
as duras regras do bom viver!

Faz-se adolescente!
Seus olhos, agora, são multifacetados.
Vê a família, mas enxerga o mundo;
gosta de brincar, mas começa
também a querer aproximação
daquele ou daquela que
lhe provoca um turbilhão
em seu frágil coração
tomado totalmente pela emoção.

Pensa que pode ganhar o mundo sozinho
ou abraçar a existência de uma só vez.
Foge um pouco da companhia dos pais
e a sua palavra oficial é a liberdade.
Mas ainda não está preparado pra vida
e enquanto vai adicionando experiências
supõe que suprimir por ausências
os pais chatos e sua disciplina
pela presença que faz a menina
dos olhos brilhar de satisfação
é a sua grande sina.

Fala em deixar a igreja,
torna-se surdo para Deus,
atrai-se pela cerveja
e afasta-se dos seus.
E rompe-se a ligadura fraterna
de quem estabeleceu pontes divinas
para aquele que chegou ao lar
como promessa de vida.

Na juventude, o estudo,
o trabalho, a profissão.
Decorrências significativas
da sonhada vocação.
O namoro, o noivado,
casamento em grande festa.
E a alegria visível
está estampada na testa.

No sorriso, nos lábios, no rosto
em cada canto da face
se começa a responder
aquela pergunta antiga
que os pais logo fizeram
quando o viram nascer:
- Que virá a ser esta criança?

Está sendo! Fez escolhas!
O caminho delineado.
Os pais se esforçaram,
cumpriram a sua parte
e o destino está traçado.

O jovem ser se transforma
ganha a sua independência.
Deixa a casa e se faz gente
com a própria consciência.
É hora de se colher os frutos
das sementes que os pais plantaram.
Ou será que da vida, os furtos,
para o jovem nada deixaram?

A vida prossegue célere.
Os pais se tornam avós.
Os filhos se tornam pais.
As crianças que já não eram
voltam a ser tudo de novo
correndo pela casa vazia
quebrando o que já está velho.

E tudo o que antes se fazia
agora já não é bem assim.
Com a vinda da aposentadoria
as coisas já não têm tanta pressa.
Mas o relógio não sabe disso
e engole os dias e consome os anos
com uma sofreguidão tamanha
tal qual nunca imaginamos.

E passamos a contar os nossos dias...
E passamos a contar as nossas horas...
E passamos a enumerar a
nossa enorme descendência...
Era eu só: casei, virei dois;
procriei, virei vários;
amadureci, virei muitos;
envelheci, perdi as contas.
E o vocabulário adicionou
uma doce palavra que pequenos
seres de cabelos claros e
olhos azuis carregam
em seus perambulares pela vida:
bisnetinhos...

E chegamos ao alto da melhor idade:
com saúde ou não,
mas com a mente em bom estado.
Gostando ou não do que vemos,
achando que o mundo está muito mudado,
que bom mesmo eram aqueles tempos:
Hoje a vida está muito superficial!
E a gente nem lembra -
talvez porque não tenha vivido
e se esqueceu de consultar
a memória da humanidade:
Que há mil anos era assim;
há quinhentos, também;
conosco, está sendo;
e o será, no futuro:
Os velhos sempre gostarão do passado,
já que o futuro está ficando
cada vez mais curto para eles...

- Que virá a ser? Não se pergunta mais.
E olha que já tem tempo isso!
Já aconteceu! - O que foi?
Nada do que foi será de novo
porque as experiências são únicas,
não se repetem. - O que foi?
- Que fiz da minha vida?
Será que o ser humano
quer mesmo saber?
Alguns dirão que não vale a pena.
É melhor tocar o barco,
se é que queremos chegar
a um Porto Seguro!

Há alegrias no envelhecer
e as alegrias do envelhecer
se encontram na segurança da presença divina.
A sabedoria da escolha de Deus
garante o futuro na terra,
garante o futuro nos céus.

E quando alguém pode
chegar aos setenta,
aos oitenta, noventa ou cem,
nos lembramos da grande
probabilidade de ser promessa:
- Eis alguém que honrou pai e mãe
e teve os dias na terra prolongado...

Nova Friburgo, 22 de junho de 2001 (7h26m)

Reminiscências

À minha querida mamãe

Nasce o dia, chuvoso dia de manhã de domingo.
É mais que um dia, é um momento mui especial.
Da janela do quarto eu vejo o cair de cada pingo,
E a sensação que me invade é forte, sem igual.
Papai sobe as escadas trazendo o leite e os pães:
pois a vida continua, embora seja Dia das Mães!

Fiz uns versinhos, truncados versos adolescentes!
Gostaria de expressar tudo o que sinto por ela.
Mas os meus irmãos ali na sala já estão presentes
E a timidez se instalando, cada palavra atropela.
Mas mamãe, olha pra mim! Veja nos olhos o brilho,
e o rubor na face, e o tremor nas mãos do seu filho.

Peguei o papel de seda, escondido por entre dedos.
Foi o que sobrou da pipa branca que subiu aos céus.
Lembrei que cada mãe com suas histórias e enredos
são presentes especiais, ofertados pelo próprio Deus.
E o papel já amassado, com as letras de fazer dormir
Dizia para mamãe alguns versos que eu deixei fruir.

Foram lágrimas com lágrimas naquele abraço fraterno
Mamãe chorando e sorrindo e eu sorrindo e chorando.
E o corpo magro em seus braços, naquele afago materno
Mamãe sulcada da vida, mas os olhos ainda amando.
A folha de seda rasgou-se, molhou-se, e desapareceu
Mas os versos daquele dia, só quem soube foi ela e eu.

Por tudo isso minha mamãe, e por tudo que há de vir
Quero ser sempre seu filho, quero ser homem do povo
Quero ser homem de Deus e fazer o mundo assistir
A cada Dia das Mães, e a cada dia que se faz novo
As verdades sempiternas do Deus que me ensinastes
E a existência bonita pela forma com que me amaste.

Me critiquem os filhos do mundo, mas não existe.
Uma mãe tão especial, como a minha mãe Judith.

Nova Friburgo, 14/05/2001 (7h15m)