domingo, novembro 11, 2007

Amor (1Coríntios 13)

Ainda que dos homens a língua eu falasse,
que dos anjos o idioma angélico escutasse,
e até pudesse com as miríades conversar.
De que me adiantariam os torneios literários
se as belas palavras desses versos temerários
não ousassem forte na conjugação do amar?

Se os homens todos me levassem a sério,
das profecias findas conhecesse o mistério,
de que me valeria tal grande sapiência?
Se nos lábios o canto do amor não vibrar,
estas cordas bambas que aprenderam a amar
matariam a emoção em nome da ciência.

Em mim toda ação seria mero ativismo
barulho sem música dos sinos que dobram
se o amor não tangesse minha vida e oração.
Pois no tempo de Deus, do amor o batismo
não é como dos homens em que sinos repicam:
no tempo de Deus palpita o som do coração.

Ainda que tivesse toda a fé em mim reunida
de maneira tal que transportasse os montes
de maneira intensa, jorrando como as fontes.
Ainda assim - na plena razão da minha vida -,
não sendo fé no fogo do amor forjada, mas fria
como o zero na soma do amor, nada ela seria.

Se estivesse disposto ao meu maior sacrifício
da morte cruel em vorazes chamas de fogueira
ou mesmo abrisse mão do que é grande vício:
na terra ajuntar tesouros sem eira nem beira.
Mesmo a morte sacrifical e fortuna dada à pobres
na ausência de amor, não seriam atos nobres.

Que devo, então, fazer se quiser dar amor,
se quiser expressar algo bom através de mim?
Devo primeiro descobrir que ele é sofredor.
O amor é benigno, não é invejoso ou algo assim.
Ele não é egoísta, indecente e não se irrita.
O amor é justo, verdadeiro e de nada suspeita.

Mas que amor é esse, assim intenso e exigente?
Será que há no mundo alguém que possa vivê-lo?
Esse amor é de anjos e não tem cara de gente?
De um amor que tudo sofre, como pode este desvelo
- e ainda tudo crê, e tudo espera, e tudo suporta -,
encontrar-se em seres que se acham em vida torta?

O amor nunca falha e onde ele se faz bem presente:
havendo alguma profecia de pronto será aniquilada;
e havendo qualquer glossolália, logo logo cessará;
também havendo ciência, em breve se fará ausente.
Porque conhecendo em parte, com a ciência abalada,
e em parte profetizando, a tudo o amor mudará.

Mas espero o grande dia da chegada do Perfeito
quando todas incompletudes serão exterminadas
e o tempo de menino será coisa só do passado.
Verei Deus face a face e se quebrará o espelho
pra ser reconhecido dentre as emoções continuadas:
fé, esperança e amor. Este, meu maior legado!

Nova Friburgo, 12 de outubro de 2001 (17h45m)
Comecei no dia 06/10/01 e terminei no dia 12/10.

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