sábado, dezembro 27, 2014

ORAÇÃO DE UM FILHO DE GAYS

Pai do céu, eu sei de onde venho
ou será que não sei?
Ou será que o mais forte em mim
seja a dúvida, a incerteza da
minha origem?
Eu sei que venho de Ti,
pois Tu és a origem de todas as coisas
e até de mim.
Eu sei que venho de Ti
através de um homem e de uma mulher
que um dia se amaram
ou que apenas um dia uniram
suas oferendas – óvulo e esperma –
para me tornarem um outro ser.
Mas, não sei quem é este homem
ou não sei quem é esta mulher.
Só sei que a parte conhecida
dos meus progenitores
é por mim amada.
A parte desconhecida é
apenas uma pergunta sem resposta.
Ou, quem sabe, o todo seja um mistério.
Me ajude, Pai, a entender
este meu mundo louco
a esquecer um pouco
as minhas crises
e a viver do sonho de ser alguém feliz.
Pai, muitos dos meus colegas
vivem uma crise existencial
fazem-se perguntas pra entender a origem.
Eu, além destas, vivo uma crise pessoal:
faço-me perguntas pra entender meu nascimento.
Não sei se sou fruto de um caso consentido
entre meu pai ou mãe e algum desconhecido.
Não sei se de proveta ou de aproveita mesmo.
Não sei se originário de um banco de esperma
ou se vim ao mundo em barriga de aluguel.

Só sei que vivo a crise da busca do papel
que hei de desempenhar em mundo tresloucado.

Ajude-me a entender, Pai, a ilusão em que vivo.
Ajude-me a vencer ou se apenas sobrevivo
não sei o que será de mim...
Não reclamo de amor ou de cuidados filiais.
O que Te peço agora é que tenha algo mais.
Que eu não me paralise, ante respostas subtraídas
que eu não me petrifique ou emudeça a voz.
Quero dar a cada hora, dia, mês, ano de vida:
o meu amor para Ti, a minha história querida.

E Te peço ainda Senhor:
que todos os meus gestos, sejam gestos de amor;
que cada palavra minha, expulse erva daninha;
que cada pensamento grave, seja ave a debicar
alimente-se rapidamente e após, ponha-se a voar.

Por isso, meu Pai bendito
só me resta aqui contrito
minhas lágrimas e ais
depositar em oração.
Do ponto de vista terreno
às vezes me bate uma dúvida:
eu não sei se tenho pai
ou se aquela é minha mãe.
Estou em grande confusão.
Não é que me falte carinho
ou deixe de ser amado
neste lar onde estou.
É que me sinto deslocado
e me perco no caminho
dessa angústia que restou.
Mas sei que no aspecto divino
Pai não há de me faltar!

Por isso Te peço e clamo:
nunca me deixes, Pai que amo
e que sempre hei de amar.

Josué Ebenézer Niterói e Itaboraí
(em trânsito, no ônibus, para Nova Friburgo),

04 de Novembro de 2014 (14h43min).

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