Se
você não sentiu o toque do Espírito,
não
tem problema!
Ao
seu redor tem muita gente parecendo sentir
(e,
dizendo, sentir)
naquele
auditório lotado (e em outros lugares também)
onde
você se meteu, sabe-se lá por quê...
E
houve até um que sentiu
e,
estava em cadeiras de rodas, e você não viu.
O
da cadeira de rodas surgiu trazido por alguém,
mas,
tal figura era-lhe indiferente
porque
você se fixava no alarido do local
e
nas orações gritadas
e
nas canções de fogo gospel
e
nas palavras de ordem para Deus
tentando
encontrar o tal milagre prometido.
E
no meio daquilo tudo crianças brincavam
moças
casadoiras desfilavam
barraquinhas
de guloseima faziam a festa
até
que o dirigente focou o da cadeira de rodas
e
anunciou em alto e bom som
que
o grande milagre da noite estava para acontecer.
Você
se acostumou logo com a ideia:
-
Um paralítico andar?
Isso
não o impressionou.
E
você voltou a pensar nos seus problemas
e
nos motivos que o fizeram entrar naquele ginásio,
atraído
pelo cartaz gigante,
naquela
noite calorenta da serra
que
se alongava por demais
no
que parecia ser apenas uma festa junina gospel.
Então,
o homem do palco apontou o dedo
na
direção do da cadeira de rodas
e
ordenou ao microfone tomado de chiados
eletrônicos:
Levanta-te!
E
o homem da cadeira de rodas levantou-se
len – ta – men – te
aprumou
o corpo como que tentando
reencontrar
o equilíbrio há muito perdido
ameaçou
uns primeiros passos claudicantes
andou
por uns metros lentamente e, em seguida,
saiu
correndo pelos corredores
entre
as cadeiras do ginásio
enquanto
o auditório irrompia
em
frenéticos aplausos para Jesus.
E
a cena levou uma menininha que estava próxima
– e
a tudo observava –
a
lembrar que vira aquele homem, quando chegara,
tomando
café em pé na padaria em frente ao ginásio
e
a desmanchar-se em gargalhadas de euforia
e
a querer entrar também no que lhe parecia
a
hora do recreio:
disparou
saltitante atrás do ex-cadeirante
divertindo-se
a valer.
A
menina estava ébria, pois era filha de moradores
de
rua e tomava também a cachaça dos pais.
Mas
o auditório não a enxergava
nem
o homem do palco:
estavam
em êxtase gospel;
uma
gritaria infernal de “glórias a Deus!”
E,
passou despercebido também,
que
um velho molambento
se
engraçou para os lados da menina
quando
ela deu sopa diante dele.
Mas,
nessa altura, os assistentes de palco
já
transitavam entre o populacho
recolhendo
as ofertas...
E
esse é todo o relato do que aconteceu
no
que chamo de festa junina gospel.
Josué Ebenézer – Nova
Friburgo,
18 de Novembro de
2014 (06h).
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