No
culto, o pregador fala mansamente
explica
a Palavra com amor
enquanto
os seus olhos acompanham o auditório
(aqueles
corações são a boa terra pra semente)
e
seus gestos, medidos e comedidos, acentuam a Palavra.
Lá
fora, a inquietação predomina,
as
praças estão cheias e venta um burburinho
o
trânsito está calmo, é domingo, mas não há paz
e
eu, no templo, ouço a Palavra
querendo
que as escamas caiam dos olhos
rindo
e chorando os meus momentos
aguardando
o que pode acontecer.
Mostra-me,
Senhor!
O
guarda de trânsito abandonou o apito e
vê
as bandas das meninas passarem;
a
velhinha acerca-se de cuidados para atravessar a rua;
as
crianças, afoitas, circulam tendo uma delas a bola na mão
querendo
chegar ligeiras ao campinho;
maritacas
voam algazarras de sonido incerto;
capivaras
fuçam matos às margens do rio que reverdece;
a
vida prossegue em seu labor
e
eu, Senhor,
aguardo
uma luz...
Assentado
no último banco do templo
estou
dentro e fora ao mesmo tempo
acompanhando
a movimentação humana
e
o mover do Espírito.
Arrasado,
percorre a calçada o cachorro
escorraçado
pelo dono da carrocinha
de
cachorro-quente.
Transeuntes
anônimos olham para o interior do salão
com
olhos que bisbilhotam sabe-se lá o quê
na
tentativa de algo encontrar.
A
música estruge e a congregação põe-se de pé;
perfilo-me
entre os fiéis com a alma dividida.
Mostra-me,
Senhor!
As
praças sabem falar;
os
ambulantes pegam a esperança no troco esquecido;
no
semáforo, as luzes acendem e apagam generosidades.
Quase
sem vida, o morador de rua atravessa a letargia.
Um
coração aflito sabe como outro coração aflito afligir.
Mostra-me,
Senhor, o que não posso mostrar:
devo
eu assentar-me em banco mais pra frente doutra feita?
devo
dar as costas para o burburinho da rua
e
só ouvir as canções e as orações cá de dentro?
como
conviver com os pensamentos
estando
num lugar que convida à paz?
Talvez
você pense agora: que precisa ver este cidadão?
Tu
dizes pra mim, Senhor, no silêncio da oração
e
na suavidade majestosa da pujante canção:
– Há
um rio que leva às moradas do Altíssimo!
E
eu grito algo desorientado:
–
Então eu quero, Senhor! Eu quero Senhor!
E
me mostras o rio caudaloso da vida
onde
me abebero de fé, esperança e amor.
Saio
do culto sem medos precoces
ou
qualquer delirium persecutorum
e sinto o vento bater
na face molhada
respingada de Deus.
Josué Ebenézer – Nova
Friburgo,
09 de Dezembro de
2014 (18h10min).
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