segunda-feira, fevereiro 06, 2017

VERSOS URBANOS – X

Escrevo meus poemas
como se os últimos fossem:
os últimos a serem publicados,
os últimos a serem lidos,
os últimos a serem descobertos
(por algum editor, roteirista de tevê),
os últimos de minha breve vida.

Mas, aí, descubro que não.
Que nas vias seguintes têm mais carros,
nas ruas seguintes têm mais casas,
nas escolas ainda há alunos que estudam,
nas igrejas há jovens louvando
e nas praças há velhos e crianças
brincando de pique-esconde:
crianças não escondem nada quando estão felizes:
é algazarra pura em forma de  vida.
Os velhos economizam
sorrisos em bocas murchas:
escondem uma vida inteira
cheia de mistérios e aventuras.

É preciso destravar
com o cheiro do carrinho de pipoca fresca
e o barulhar das folhagens nas árvores
e o ajeitar dos óculos na fronte
a história de uma vida
nessa brincadeira não tão nova de velho-esconde.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
18/01/2017 (06h06min).

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