segunda-feira, outubro 27, 2014

COTIDIANO

Os primeiros raios de sol
acordam a casa de alvenaria aparente
onde vasos de plantas vários
xaxins de subúrbio carioca –
ilustram o quintal tomado de quinquilharias.
E é pleno inverno: o sol
é apenas uma gentileza,
da Natureza, que acorda “marias”.
As telhas galvanizadas de um anexo,
para onde acorre um homem apressado,
rebrilham ainda tímidas
com o sol festeiro que desponta no horizonte.
Move-se junto um cachorro sonolento
na soleira da porta de entrada
e, do galinheiro, o galo responde ao sol
saindo dali o homem com meia dúzia de ovos nas mãos.
A chaleira apita um café preto iminente,
enquanto lá fora alguns carros transitam
no asfalto irregular, transportando
vidas reguladas pelo sistema.
Passado um tempo, o dia vê aquele homem sair,
após beijo protocolar na esposa.
Aquela “Maria” põe meia dúzia de crianças
a caminhar uniformizadas
e com mochilas nas costas –
para a fundamental escola do bairro
que acolhe diariamente
os petizes das redondezas.

Em pouco tempo o subúrbio explode em alegria.
A algazarra de carros, bicicletas e gente
transitando alegremente no azáfama da vida
faz fervilhar a emoção da existência
longe de Copacabana.
Do mercado voltando, com verduras nas mãos,
a cozinha da casa se agita em polvorosa,
o rádio se esgoela no programa matinal,
as notícias invadem o cotidiano
e a música não para de tocar.
Rola a eterna pedra de Sísifo da casa,
das tarefas enfadonhas,
para manter um mínimo de organização,
alimentar família,
fazer as crianças acreditarem no amanhã...

Exceto pelas nuvens que expulsam o sol
e os pingos de chuva que teimam em cair.
Enquanto isso, o gato no quarto apertado
derruba o vidro de perfume barato
espalhando o cheiro pela casa
ao sabor da notícia urgente:
em São Paulo um avião Cessna cai sobre casas
morrendo todos os seus sete ocupantes.

Um trovão sacode os campos do Brasil...

Josué Ebenézer Nova Friburgo,

18 de Agosto de 2014 (06h08min).

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