segunda-feira, outubro 01, 2007

CANÇÃO DA MANHÃ

Não chores, olhos meus,
não chores. Que a vida
começa de novo hoje:
está iniciando agora.
A noite já foi embora
e a manhã que chega -
mesmo com pouca luz -
é presente de esperança
e com toda a confiança
os teus passos já conduz.

Não chores. As lágrimas
são apenas vertentes
da insegurança triste
provocada pela noite.
E se em ti há nascentes
do profundo de teu ser
esqueça a escuridão
e ponha fim à solidão.
O sol é tímido e fraco
mas está se aproximando.

Não chores; seca os olhos.
Ponha fim ao desespero.
Sua vida tem tempero
ela deve prosseguir.
Os amigos te esperam,
os abraços te aguardam,
tu não deves desistir.
Enxuga as lágrimas
abre um belo sorriso
estamos aqui por isso!

Não chores. Vê adiante!
A manhã não é bastante
para a noite terminar?
Ajoelha e faça a prece
do coração que padece
mas que deseja mudar.
Há um Deus que tudo sabe,
que tudo vê, e auxilia,
e as portas ele abre
pra raiar um novo dia.

Nova Friburgo, 07/07/2000(6h52m)

VENTO SUAVE

Vento suave
que bate em meu rosto
sinal de favor.
Retira a desgraça
e ajunta alegria.

Nova Friburgo, 05/07/2000 (7h10m)

PÉTALA TRISTE

A pétala cai
e a rosa chorando
atrai o amor.
O orvalho da manhã
é a lágrima triste.

Nova Friburgo, 05/07/2000 (7h05m)

MORANGO VERDE

Morango verde
és silvestre esperança
na trilha do céu.
Quando de novo voltar
tu estarás vermelho.

Nova Friburgo, 05/07/2000 (7h15m)

AS HORTALIÇAS

As hortaliças
verdes, nestes canteiros
me lembram vida.
E eu regando, espero,
continuar vivendo.

Nova Friburgo, 05/07/2000 (7h25m)

POEMA DO PEREGRINO

O mistério da busca no chão da vida
para cobrir insatisfação dentro de si
faz do ser alguém que em sua lida
anda só, com propósito, que nunca vi
a não ser no peregrino e na acolhida
que às estradas dá no mundo aqui.
É por isso que ele em peregrinação
faz das sandálias companheira da solidão.

E me comove vê-lo assim tão solitário
a embrenhar por mundos que nunca viu
do peregrino, porém, o imaginário
eu desconheço, só sei, que já partiu.
Deixou raízes, se fez um visionário
criou seu mundo e dele não desistiu.
O peregrino é alguém que do mistério
tira esperança e leva o caso a sério.

Mas eu indago: - Qual seria a insatisfação
que faz de alguém, de repente, um peregrino?
Talvez abandono, ou forte dor no coração
alguma perda ou mesmo um desatino?
Quem sabe: mágoa sentida, aperto da paixão,
um homem feito com jeito de menino?
As razões que o peregrino no peito abriga
faz de sua vida uma eterna despedida.

Nova Friburgo, 04/07/2000 (8h10m)

GAZAL PARA KATINHA

Escrevi um gazal canção
querida do meu coração.

Pra ti escrevi alegre
tomado pela emoção.

Tua fala me traz calma
e me enche de razão.

Os teus olhos brilham fortes
no meio da escuridão.

Teu sorriso enigmático
causa forte comoção.

Os teus gestos, estudados,
me envolvem de paixão.

Querida a tua presença
organiza a solidão.

Só eu sei que sua ausência
causa dor, separação.

Mas, querida, hoje meu canto
é alegre, de exaltação.

Pois poder contar contigo
não é pra qualquer um não.

Quando uno meu sentimento
junto ao seu, há comunhão.

Quando toco seus belos lábios
surge o fogo, ebulição.

Por isso, querida amada,
tu és minha inspiração.

E contigo, minha jornada
só trará consagração.

Nova Friburgo, 28/06/2000 [6h45m]

ODE À LIBERDADE CRISTÃ

De todos os conceitos mais caros à humanidade
que no curso da civilização logo cedo se cultivou
não há nada mais belo que a idéia de liberdade
pela qual se fez heróis; muito sangue se derramou.
Pois à sua negação - toda forma de atrocidade -
cada povo deu seu mártir e a liberdade perpetuou.

Hoje, porém, não quero esta liberdade cantar,
pois existe uma mais forte, que a sorte da vida vã.
Ela nasce dentro do peito, ensinando-nos a amar,
falo de algo sem defeito: é a liberdade cristã.
E se a vida está difícil, não se sabe em que vai dar,
o Cristo que cura e liberta promove uma vida sã.

Eu sou livre em minha vida - pensa o homem natural -
tudo posso assim fazer, não há nada que impeça.
Mas na simples equação da troca do bem pelo mal
esse homem que caminha pensando estar bom à beça
esquece da vida o outro lado, o lado espiritual
e de cara com o pecado sua vida assim tropeça.

De fato tudo é possível, e cada coisa se pode
mas há as que se não deve e as que se não convém
àquele que já escolheu ser ovelha e não ser bode
no rebanho do Pastor e à Deus dizer amém.
Pois na vida destroçada, no peito o coração explode
e a alma angustiada não tem certeza do além.

Por isso canto a liberdade do homem que ao pecado
diz “não” com convicção e assume a condição
de ser liberto do medo, da angústia de todo lado
pois já tem a liberdade do Cristo no coração.
Já liberto dos seus erros, já liberto do passado,
nos lábios do novo crente, existe nova canção.

É escravo sim aquele que ao pecado se habitua,
que do vício que consome não consegue se livrar.
Mas liberto é o homem que quando ele se insinua
tira forças do seu peito e se põe logo a andar
com o Cristo libertador que em sua vida crua
pôs tempero, pôs sabor, e lhe deu um novo lar.

Nova Friburgo, 27/06/2000(6h25m)

ESPINELA DE SABOR

Para mim que te conheço
que sei de ti os pendores:
dos quitutes, os sabores.
Minha forma de apreço
que eu sempre obedeço
é te devotar ternura.
Sendo a própria doçura
és sabor em minha vida
e de toda esta lida
és a minha gostosura.

Nova Friburgo, 27/06/2000 (9h47m)

VISÕES DA CIDADE

Como se monstros fossem, os carros vêm
velozes, volumosos, a encher o espaço
e eu na calçada, com susto e embaraço
a libertar-me aflito dos tentáculos do além.

Mas Deus que é isso que vejo a minha frente?
A angústia da cidade como se fosse floresta
e as copas frondosas pondo fim a qualquer festa
e eu assim tão inerte, tão perdido, de repente.

E as luzes da noite como se fossem explosões
iluminando o infinito, piscando na retina
e os raios do absurdo que a alma não imagina
(re)voltando meu ser para dentro das emoções.

Num instante de vertigem a cidade me atropela
como se fosse manada de búfalos de vero corte
no meio da multidão escorrego para a morte
da alma que no burburinho o amor já não revela.

Arranha-céus tão altos e eu pequeno na rua
olhando para cima como se fosse formiga,
como se fosse um nada, e tudo isso me obriga
a crescer pra dentro e a crescer pra lua.!

Nova Friburgo, 26/06/2000 (17h17m)

SEXTINA DO ABANDONO

Se em tua vida a sorte é como o raio
que acontece de dia, some de noite
e amanheces triste sem esperança
pois sem sentido a vida não satisfaz.
Abre com graça e jeito este teu peito
e deixe o espírito soprar o coração.

Mas se a tristeza aperta o coração
ela é somente sopro que em teu peito
funde-se a vida e já te satisfaz
pois de futuro o hoje faz-se esperança.
Deixa sorrir o sol, tal como um raio
a invadir de luz o gargalhar da noite.

A vida é mais que luz, também é noite.
É sensação buliçosa de fúrio raio
e a dor do sono que está no peito
está na mente e sacode o coração.
Mas antes desta grita que satisfaz
a alma anseia aflita por esperança.

Embora a fé sossobre e a esperança
(re)partida em cada rosto e coração
mexendo lá por dentro e como raio
rasgando bem no fundo do seu peito,
remanso só se encontra após a noite
em que o descanso a alma satisfaz.

Por isso, bem silente, se satisfaz
a alma que balança em esperança,
pois mesmo que se afaste a noite
e desapareça rápido como um raio
a emoção pulsa forte o coração
que se esboroa de encontro ao peito.

E alma tão aflita em forte peito
encontra par sublime que satisfaz
anseios fortes do bom coração
que vaga a procura em plena noite.
Até que se encontra co’a esperança
que se aproxima lépida, qual raio.

De noite, no abandono, foge do peito
qual raio que se aproxima e satisfaz
toda esperança surge ao coração.

Nova Friburgo, 26/06/2000 (21h51m)

PREGADOR

Use teu dom, pregador, de oratória
e diga pra todos assim teus ideais:
Talvez te seja a vida compensatória.

Mas não esmoreça, prossiga, insiste mais.
Fale do amor, dos sonhos, de tantos planos:
de um coração alegre, desistir jamais!

É que a vida é curta e vão-se os anos.
Remir o tempo, trabalhar, tornar-se útil
enquanto é dia, faz sol, não descem os panos
que fecham ciclos, mortalhas, do que é fútil.

Nova Friburgo, 23/06/2000 (7h35m)

VAGARES

Era meu ou teu o pensamento
que pontuou sem glória esta história
das alegrias, nos dias, de nossa vida
que o amanhã nos traz, nos satisfaz?
Ou será que há algum sentido
no ser pensante, errante, só existido?

Como escrevi, vivi, só eu descrevo:
construo frases, orações, das emoções.
Que o passado, amado, me faz ouvir.
A cada dia, em mim, somente assim.
Então silente, ausente, em meu calvário
choro a dor, do amor, no campanário.

Mas escrever, rever, é exercício,
pra despertar manhãs dos amanhãs,
mesmo que ruja e fuja o dia triste
que a gente amou, pois muito nos ensinou
E é bem certo, que perto, em cada andança
vejo surgir, fluir, grande esperança!

Nova Friburgo, 22/06/2000 (15h25m)

DA LIBERDADE

Invejo o espírito livre dos descobridores
que com suas naus atravessaram mares.
Herdeiros dos vikings e de outros atores
construíram nações, erigiram altares.

Viajantes deste mundo, botânicos e cientistas
colecionaram espécies, analisaram o desconhecido.
Eternizaram paisagens, fizeram cultura, estes artistas
sonhando em alcançar, um mundo desenvolvido.

A alma inquieta viaja no sonho da imaginação,
nas possibilidades do espírito, na arte da criação,
mas esbarra solene na mais rude forma de preconceito.

E o seu potencial se encolhe diante do absurdo?
E o seu espírito se apaga? Seu ouvido faz-se surdo?
Não pode! A alma inquieta para o sonho encontra jeito.

Nova Friburgo, 22/06/2000 (8h10m)

QUASE

Conheci um bem vivido
homem que é deste mundo
que dizia pra todo lado
e falava pra toda gente
que ele seria outro
que sua vida seria outra
se não fosse o destino
se não fosse o desatino
se não fosse o intestino
ou qualquer coisa marota.

Quase foi fazendeiro,
quase foi pra Marinha,
quase comprou estaleiro,
quase casou com Rainha.
Quase fez faculdade,
quase comprou limusine,
quase esteve com Sinatra,
quase andou de fragata.

E assim, esse homem vivido
de “quase” sempre fornido
fez fama em sua cidade
foi mote da mocidade
que nele via um coitado
um pobre desajuizado
vivendo do sonho do “quase”
do espanto de nunca ter sido
do gosto amargo na boca
de ter chegado bem perto
e visto a “terra prometida”
e quando por ela passando
de perto ele a avistasse
os sonhos ia alimentando
com esta história do “quase”.

Mas era um boçal este homem
de tanto tempo vivido?
Ou era um louco da vida
que nem sequer tinha nome?

O homem da minha história
teve a sua trajetória
marcada por desilusão:
sofreu na mão do padrasto,
sofreu muito no pasto,
sofreu na mão do empregado,
sofreu na mão do patrão!

Um dia lhe perguntaram:
“Por que tanta chance na vida
e nenhuma aproveitada?
Foi falta de alguma guarida
ou alma desmiolada?”

Mas o pobre homem vivido
de “quase” nunca se esgota
continuou sua cantilena
parecendo uma novena
de velha mulher devota:
quase fui um general,
quase fui um prefeito,
quase construí hospital,
quase tive amor-perfeito.

E de “quase-em-quase” este homem
quase ganhou na loteria,
quase se tornou poeta,
quase montou padaria,
quase se fez profeta.
Quase conquistou uma moça,
quase andou de avião,
quase teve uma esposa,
quase compôs uma canção.

Na vida daquele homem
agora bem mais vivido
tudo era sonho e quimera:
“Quase” sempre em prontidão
e ele sempre na espera
parecendo assombração.

O pobre moço, coitado!
Teve pai que morreu cedo,
padrasto que o encabulou,
a fazenda foi vendida,
o sonho desmoronou.
O amigo da Marinha
logo, logo, desapareceu,
o estaleiro faliu
e a Rainha morreu.
Da escola foi banido,
o carro se enferrujou,
e com o ingresso perdido
de Sinatra não viu o show.
O pobre homem do “quase”
perdeu a hora do embarque,
esqueceu de alistar-se,
nunca tomou partido,
sempre esteve na iminência
porém, nunca chegou lá
e perdendo a concorrência
hospital não pôde montar.

Ainda em sua vivência
foi um homem sem amor
nunca teve professor
que mudasse a decadência.

Andava quase molambo,
quase sempre cheirando a mofo,
quase sempre se arrastando
e de tudo o que fazia
quase todo mundo ria
e ele não se importando.

Nunca teve companheira,
o bilhete jogou fora,
na vida só fez besteira
e a namorada foi embora.
Comprou caneta e papel,
tentou escrever qualquer coisa
que quase se fez poema
mas voltando à cantilena
chegou atrasado no aeroporto
e em si tão absorto,
falava e ninguém ouvia
e até o que escrevia
ninguém punha atenção.
Arrancaram-lhe o coração
e sem canção, sem poesia,
era dado como morto.

Que triste este homem errante,
que passou por esta vida
mas sem nunca chegar lá.
Sua alma, qual um berrante,
faz a sua despedida,
não sabe se ficará!

Era um homem “quase” vivo!

Nova Friburgo, RJ, 13/06/2000 (08h43m)

DO SONHO E DO FUTURO

Dedicada às crianças que a nação
brasileira ainda tem que aprender a amar.


Em termos de poesia, caminho sobre as trilhas
que outros antes de mim abriram
e por elas passaram.
Ainda não sou contador de histórias -
nem sei se um dia o serei.
Apenas faço inventário de emoções e sentimentos...
Sobre alguns, ouço a voz do coração.
Acerca de outros, eu mesmo invento.
Mas há emoções que me são dadas pela vida -
essa vida que se vive alegre, solta, feliz.
Amando e sendo amado.
Vivendo e se fazendo
de sonhos e quefazeres.
A vida também me é observatório -
ou será que o observatório é minha caixa pensante:
crânio, cérebro e neurônios atuantes,
como sistema interligado de armazenamento emotivo?

Olho para as casas, ruas e pessoas. Vejo praças e jardins:
Alguns floridos, bem cuidados.
Outros ressequidos, abandonados.
Tem gente que vive e ama viver;
há quem, porém, já entregou os pontos.
E olho para o trabalhador
cansado, suado,
carcomido por suas obras,
com um olho vivo de nordestino
ou mesmo de ruralista adaptado das urbes.
E no meio do reflexo solar,
do trabalhador em seu olhar,
há um sonho com nuvens e céu presentes.

Vejo as donas de casa laboriosas,
charmosas, garbosas de suas andanças
desmesuradas pelo comércio
mesmo quando domina o tédio
e não executam qualquer gastança.
Elas também têm desejos, nem de todo satisfeitos.
E o mundo, então, se faz mar de insatisfação.
Talvez as cortininhas e jardineiras
e as rendinhas de bordadeiras
não sejam suficientes para amaciar a dura realidade
da criação dos filhos,
da alimentação, da educação,
da enxada e da capina
da horta e da porta
da casa que quase sempre está fechada
para a entrada da esperança.
É a mulher quem vive
de perto essa história,
trajetória
insalubre de quem já não pode trabalhar duro no tanque
porque são poucas as peças das crianças:
de há muito o guarda-roupa não é renovado.

Percebo as crianças perambulando descalças
ou bem-vestidas,
nas calçadas de bomboniére.
Olhares gulosos
paquerando guloseimas;
catando centavos dos bolsos furados de tanto uso
pra saborear bombom recheado de vento.
As cerejas, morangos e castanhas estão em outros bombons...
As crianças são o futuro do Brasil
mas o país dá o furo de não valorizá-las,
de deixá-las maltrapilhas, largadas nas ruas da vida.
E os cantos de rua, e os bancos de praça,
e os quiosques abandonados vêem a cada manhã
acordar cobertores azedos de sujeira
embrulhando o futuro.

Como dizia: de poesia sou apenas aprendiz.
Mas a vida vai ensinando a gente...
Mesmo na dura realidade de um país que não se muda,
quero descortinar um vislumbre de transformação pois a vida é bela -
apesar de tudo!

Nova Friburgo, 12/06/2000 (10h54m)

NATAIS DE OUTROS TEMPOS

Eu trago os natais
da infância
naquela igreja,
batista,
da serra friburguense
quando cantavam pardais
perto da estância
quase sertaneja
benquista
de meu coração
e o non sense
me domina
relembrando
o tempo
das cantorias,
dos corais;
“Jesus Alegria dos Homens”.
E as crianças
aguardando o momento
mágico
da distribuição das
sacolinhas de doces baratos...

Trago nas amarras
do coração
aquela árvore gigante,
pinheiro espetante,
cheia de coloridas bolas,
festões, pendentes
e presentes
espalhados pelo chão.
Decoração.
De um natal
evangélico,
angélico;
e as crianças vestidas de
anjos,
arcanjos,
asas brancas
arrastando paredes
espetando caras.
E o rei Herodes
barrigudo,
troncudo
caindo forte no
assoalho de madeira
fazendo a cena do
menino-Jesus vitorioso
sobre o Império do Mal.

Trago nas teias do tempo
o vento,
suave vento,
da recordação.
Daqueles natais de outrora
quando ainda se
ouvia declamar
poesia nos cultos.
E o culto todo era poesia,
pois tinha menininha
levantando sainha
com as pontinhas dos dedos
e cantando:
“Sou uma florzinha de Jesus”.
E tinha adulto marmanjo
roncando alto nos bancos detrás
porque a Fábrica não
liberara mais cedo
e teve que ir direto
pra Igreja depois de
acender a caldeira.
E tinha também coral cantando
bonito e homens de bigode
farto com terno e gravata
cantando grosso feito urso
e apesar de tudo,
“Tudo é paz, tudo é amor.”

E também tinha meninas
casaidoras de cabelos longos
e sorrisos largos
vestindo midis e máxis
achando-se o máximo;
mas todas com perfume Channel 3
para igualar a concorrência.

E o pastor lia os Evangelhos:
Mateus, Marcos, Lucas
e a gente via tudo acontecer
à nossa frente:
a manjedoura, Belém,
os pastores, os anjos,
Jerusalém...
E era como se nos
transportássemos
para aqueles tempos...

Natais de outrora,
quando a pressa ainda
não era o motor que movia o mundo.
E o mundo ainda
não se tinha globalizado.
E o menino Jesus
ilustrado no presépio
de manjedoura
mas sem estrebaria
fazia
com que todos nos
concentrássemos
na homilia pastoral
e cantássemos
aleluias ao Filho de Deus,
hosanas ao Rei dos Reis
e fôssemos
para nossas casas altas horas
sentindo o friozinho
de Friburgo
bater na face,
pois naquele tempo
ninguém daquela igreja
tinha carro
e por isso,
nem carona podíamos ser,
a não ser,
do cenário natalino,
pois o friozinho da noite
que despertava os ossos
nos fazia sentir iguais aos pastores
que nas altas horas da noite
guardavam os seus rebanhos
quando receberam a visitação dos anjos.
E a gente chegava em casa,
fazia a prece de fim de noite
já de pijama, pulando lépido
para os cobertores,
pois podia ser
que naquela noite
mesmo, os anjos de Deus
também nos visitassem...

Nova Friburgo, 11/06/2000 (6h50m)

MÃE EM NOITES FRIAS DE INVERNO

Se foste tão presente em minhas noites
como o foras nas manhãs sem sol -
se o calor que nestes tempos eu sentia
de ti veio como chama de escol -
se do alcantil em remanso fez-se serena,
tranqüila pausa, que aquieta o coração -
mãe, se te chamar assim me lembra a canção
de ninar em suave voz,
quando se fazia na terra silêncio para as dores
ou qualquer coisa atroz -
se no teu relógio as horas não passavam
pois teu tempo era feito de infinito
e o teu coração, do tamanho dos que habitavam
estes cantos suaves do fazer bonito -
vem portanto, arquiteta do divino e da fé
minha poeta predileta,
e com perseverança e dedicação de Sé
escreve em mim o que te afeta.
pois para ti quero ser poema:
que construa um novo mundo;
que erga barricadas de esperança;
que desça abaixo das superfícies.

Nova Friburgo, 10/06/2000 (7h24m)