segunda-feira, outubro 01, 2007

NATAIS DE OUTROS TEMPOS

Eu trago os natais
da infância
naquela igreja,
batista,
da serra friburguense
quando cantavam pardais
perto da estância
quase sertaneja
benquista
de meu coração
e o non sense
me domina
relembrando
o tempo
das cantorias,
dos corais;
“Jesus Alegria dos Homens”.
E as crianças
aguardando o momento
mágico
da distribuição das
sacolinhas de doces baratos...

Trago nas amarras
do coração
aquela árvore gigante,
pinheiro espetante,
cheia de coloridas bolas,
festões, pendentes
e presentes
espalhados pelo chão.
Decoração.
De um natal
evangélico,
angélico;
e as crianças vestidas de
anjos,
arcanjos,
asas brancas
arrastando paredes
espetando caras.
E o rei Herodes
barrigudo,
troncudo
caindo forte no
assoalho de madeira
fazendo a cena do
menino-Jesus vitorioso
sobre o Império do Mal.

Trago nas teias do tempo
o vento,
suave vento,
da recordação.
Daqueles natais de outrora
quando ainda se
ouvia declamar
poesia nos cultos.
E o culto todo era poesia,
pois tinha menininha
levantando sainha
com as pontinhas dos dedos
e cantando:
“Sou uma florzinha de Jesus”.
E tinha adulto marmanjo
roncando alto nos bancos detrás
porque a Fábrica não
liberara mais cedo
e teve que ir direto
pra Igreja depois de
acender a caldeira.
E tinha também coral cantando
bonito e homens de bigode
farto com terno e gravata
cantando grosso feito urso
e apesar de tudo,
“Tudo é paz, tudo é amor.”

E também tinha meninas
casaidoras de cabelos longos
e sorrisos largos
vestindo midis e máxis
achando-se o máximo;
mas todas com perfume Channel 3
para igualar a concorrência.

E o pastor lia os Evangelhos:
Mateus, Marcos, Lucas
e a gente via tudo acontecer
à nossa frente:
a manjedoura, Belém,
os pastores, os anjos,
Jerusalém...
E era como se nos
transportássemos
para aqueles tempos...

Natais de outrora,
quando a pressa ainda
não era o motor que movia o mundo.
E o mundo ainda
não se tinha globalizado.
E o menino Jesus
ilustrado no presépio
de manjedoura
mas sem estrebaria
fazia
com que todos nos
concentrássemos
na homilia pastoral
e cantássemos
aleluias ao Filho de Deus,
hosanas ao Rei dos Reis
e fôssemos
para nossas casas altas horas
sentindo o friozinho
de Friburgo
bater na face,
pois naquele tempo
ninguém daquela igreja
tinha carro
e por isso,
nem carona podíamos ser,
a não ser,
do cenário natalino,
pois o friozinho da noite
que despertava os ossos
nos fazia sentir iguais aos pastores
que nas altas horas da noite
guardavam os seus rebanhos
quando receberam a visitação dos anjos.
E a gente chegava em casa,
fazia a prece de fim de noite
já de pijama, pulando lépido
para os cobertores,
pois podia ser
que naquela noite
mesmo, os anjos de Deus
também nos visitassem...

Nova Friburgo, 11/06/2000 (6h50m)

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