Pai,
vejo o teu vulto imenso transpor neblinas,
o
cenho franzido, o olhar arguto,
o
pensamento quase saltando para fora de si mesmo,
sem
palavras...
Como
se no teu andar e na direção de tuas atenções
e
no cantar em voz tonitruante,
subindo
as escadas do prédio que te levavam à casa pastoral
as
convicções mais puras,
o
Evangelho em matéria-prima
caminhassem
contigo.
Vejo
tuas mãos volumosas, fortes,
que
me disciplinaram na infância,
me
protegeram na adolescência
e
encaminharam muitos em direção a Deus
e
vejo o cenário de tua presença
compondo
um objetivo só: a cruz de Cristo.
E
vejo a saudação amiga,
o
gesto provinciano de acolhimento
e
o riso solto; a gargalhada às escâncaras
-
tua marca registrada -
a
indicar tua presença.
E
sinto tua figura assomando o púlpito
e
recepcionando o povo para o culto
e
fazendo um trocadilho qualquer
que
quase sempre provocava riso
(quase
sempre)
porque
às vezes a piadinha era sem graça,
mas
a gente ria assim mesmo do teu humor matuto.
E
tuas convicções eram profundas
e
tuas pregações intensas,
em
voz forte e avassaladora.
Podia-se
não concordar com tuas ideias,
mas,
sempre se aplaudia
-
mesmo que no íntimo -
tua
paixão pelos temas que te incendiavam o coração
(sem
contar que era impossível dormir durante a tua prédica).
Vejo,
ainda hoje, como ardia meu coração adolescente
com
tuas pregações missionárias
que
me levavam a dizer “eis-me aqui”
e
encaminhar-me para o Seminário.
E,
como eu enxergava, com os olhos da fé,
os
campos brancos para a ceifa
mesmo
em meio ao verde intenso
da
Natureza friburguense.
Vagueiam
luzes em meu pensamento,
quando
recordo tua figura marcante que
me
faz falta nestes dias
(em
especial neste Dia dos Pais)...
As
luzes que acendestes com o teu caráter
e
o teu amor a Deus,
e
o teu compromisso com o Evangelho;
que
me faz sentir saudades
quando
me vejo num deserto
de
atitudes coerentes como as tuas.
O
túmulo para onde fostes, nem túmulo é,
pois
não te importavas com memórias terrenas,
mas
apenas com a glória de Deus.
É
ambiguidade pura, pois ao te ter não te contém
ao
te receber não te aprisiona,
pois
quem teve o porte do teu caráter
não
pode ser aprisionado pela morte.
Se
meu pai estivesse aqui comigo hoje,
aqui,
agora;
eu
lhe diria que o amo
e
o beijaria
e
demonstraria com palavras e gestos
o
quanto ele faz falta:
pro
mundo...
pra
mim...
Josué Ebenézer – Nova
Friburgo,
10 de Agosto de
2014 (08h39min).
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