segunda-feira, outubro 27, 2014

LOUCURAS

Sou o primeiro a chegar ao Templo.
Só há bancos vazios, mas ouço a voz do silêncio.
Percebo uma certa música e a raridade da paz.
Um homem descabelado chega.
Traz inquietação e numa das mãos
um rústico “display”* de amendoim.
Tento rememorar harmonias
de outros cultos passados ali,
mas a figura insólita do vendedor de amendoim
me desconcentra o culto interior.
O homem joga os saquinhos de amendoim no altar
e as brasas derrama no banco de madeira velha
sentando espalhafatosamente em cima.
Queria incendiar seu mundo interior
consagrando os grãos da fertilidade.
Há dois tipos de loucura religiosa:
a dos pretensos ritos purificadores
e a da simplicidade do Evangelho.
Cada um escolhe ou é escolhido pela sua!
Se teu coração estiver em paz
ouvirás uma canção do Espírito
no vazio do Templo.
Os loucos são filhos de Deus, creio.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
21 de Agosto de 2014 (05h51min).


* Lembro-me de ter comprado muitas vezes, quando fui estudar no Rio de Janeiro, na década de 80, amendoim torrado, que vinha embalado num saquinho de papel em forma de cone e era mantido quente por meio de uma engenhoca feita de um galão de tinta reciclado, dividido ao meio, onde, na parte de cima os saquinhos de amendoim eram dispostos em pé e, na metade inferior, uma “gavetinha” introduzia carvão em brasas para manter aquecido os saquinhos de papel com o amendoim torrado, enquanto não chegava às mãos do consumidor final. Tentei encontrar um nome para este invento na internet, mas não logrei êxito. Aceito sugestões para descrever melhor o utensílio.

Nenhum comentário: