domingo, junho 24, 2018

ARREBATAMENTO


Arcanjo,
às vezes também não sou de carne e osso
sinto-me tão pluma,
que deixo-me tomar de uma saudade toda divina.

Uma canção de Bach me enleva,
um hino antigo me emociona,
o dedilhar firme (nas teclas do piano)
me convoca para a adoração,
e sigo minha estrada como nuvem passageira
que carrega consigo a gravidez das chuvas
que hão de originar as flores e frutos
no ventre da Mãe Natureza...

Vejo-me nas gotas de orvalho das manhãs
que se dissipam ao sol incremente,
mas que ressurgem na nova madrugada.
Encontro-me no reflexo dos primeiros
clarões mágicos do universo
e sinto-me flutuando nas folhas de papel
que levam do meu coração cada verso
pra com graça e leveza chegarem ao céu...

Como Ana, confundem-me com um ébrio qualquer...
Estou embriagado do Vento
e à cada manhã tomo assento
em Bach e Mendelssohn, Haendel, Haydn.
Não quero que esta busca tenha fim,
mas que as palavras não balbuciadas
e as solitárias lágrimas vertidas
sejam a atmosfera mais verdadeira
que o Espírito me flutua...

Amo estar mais próximo à Deus,
sentir as flores, conversar com a Natureza.
Enxergo a beleza de cada canção
que o vento faz soprar por entre as árvores.
Deixo-me arrebatar ante a Criação e seu colosso,
nem sequer imagino querer dar uma mão:
eis o Perfeito e o Belo provindo do Pai Nosso!

Os meus olhos se fecham na viagem do sonho
os meus dedos dedilham cordas imaginárias
e meu ser flutua na emoção da Canção do Universo.

Ah! Viver como uma melodia, um reflexo, um sonho
no mover fácil da brisa sobre as folhagens!

Viver na dimensão total do arrebatamento!

Para, em seguida,
quando chegar o dia da partida,
estar em meio ao Povo de Deus no Santuário.
Como os pardais encontrar casa nos altares
em meio a presença imanente do Senhor
me alimentar de Amor, só de Amor;
me expressar de Louvor, só por Louvor
e ouvir a voz do Espírito encantadora
no embalo do Vento que sopra onde quer,
mas que só habita em quem ouve
o seu toque mais que suave
e lhe abre a porta do coração:

Vem filho!
Vem para o seu descanso,
embarque nesse remanso
com a Igreja,
já te banhastes com a luz do perdão.

Vem filho!
Isso é mais do que canção de ninar
é música de Deus, clarão de luar
que te arrebata do sono da terra
e te leva aos páramos celestiais.

Fecho os olhos para a civilização...

Esta voz arrebatadora
sopra-me paz
e o Vento traz
o doce perfume de Cristo.

Há muita luz dentro de mim
reflito o Cristo, meu Sol,
e sigo para a Eternidade!

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
29/05/2018 (04h34min).

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