domingo, fevereiro 22, 2009

ENTRE DOIS AMORES

Bruxuleante esteio de incauta era:
Dinheiro e prazer dos que buscam paz.
O urbano rico sonha esta quimera
Sobe o morro e na favela de ilusão se faz.

Vivemos tempo ignóbil de vã filosofia
Hedonismo crasso a romper valores.
Busca-se no prazer a terceira via
Pra fazer sentido entre dois amores.

Vivemos tempo indócil, prenhe de tensão
Grande encruzilhada propondo cruel escolha
Presente e futuro acelerando o coração.

Entre o futuro incerto, filho da esperança
E o tempo presente, frágil como a folha
Opta-se pelo prazer e não há bonança...

Nova Friburgo, 12 de Março de 2008. (16h33min).

domingo, fevereiro 15, 2009

DESENCANTO

A distância engoliu sorrisos;
Escondeu faces.
De há muito se foi a comunhão
De pele com pele
Dos beijos e abraços
Da amizade...
E a fertilidade do Corpo
Deu lugar ao esfriamento
Da emoção.

Já não havia mais vibrações
No pandeiro da vida,
Assim como a harmonia das cordas
Cedeu lugar ao vazio oco do violão...
Tudo porque o pecado foi mais forte
Naquela vida
Que desistiu de lutar...

Que Diabo!
Esse ladrão de alegrias...

Fico triste quando alguém me provoca
O desencanto.
Só porque não é capaz:
Da humildade,
Do reconhecimento do erro,
E da força para produzir
Nova esperança...

Nova Friburgo, 12 de Março de 2008. (20h18min).

SONETO DA AMADA INCERTA

“Oh! flor do céu! oh! flor cândida e pura!”
Eterna musa a povoar meu verso
És doce paixão e meu universo
Que me satisfaz com tal brandura.

Flor bela do céu que a terra chegou
E em meu canteiro se fez candura.
Forte rebuliço que me inquietou
Propôs-me amor e qualquer loucura.

Oh! Musa de sonhos! Meu doce esperar
Singela oferta de amor no porvir
Em teu coração há força do amar.

Se não posso ter-te, que venha a mortalha
Sem ti quero a morte e o que dela advir:
“Perde-se a vida, ganha-se a batalha!”

Nova Friburgo, 17 de Março de 2008. (14h09min).

Obs. O primeiro e o último verso são de Machado de Assis, num soneto não realizado relatado em um de seus livros. Exercício de criatividade.

HOUVE UM TEMPO...

No passado houve um tempo
Em que tempo existia
De ouvir os passarinhos
Em seu canto de alegria.
De sentir a Natureza
Em seu pleno esplendor,
Contemplar toda beleza
Com presteza e langor.

Houve um tempo no passado
Não tão distante assim
Que o homem enamorado
Olhando pra o céu sem fim
Deparava-se com a lua
E mesmo no meio da rua
Abraçando a namorada
Compunha versos pra amada.

No passado houve um tempo
Tempo de valor imenso:
Não se vendia ou comprava
Simplesmente se gastava
Com família e com amigos
Num labor febril intenso
Para fugir dos perigos
Daqueles ladrões de horas.

Este tempo do passado
Um tempo valorizado
De intensa comunhão
Era um tempo de harmonia
Vivendo com euforia
As coisas do coração
Fazendo com que o dia
Fosse mais que rotação.

Ah, que saudades do tempo
Que se enxergavam estrelas
E se sentia o vento
A baloiçar os cabelos.
Brisa suave da tarde
A eriçar os meus pelos
E eu nestes desvelos
De um coração que arde.

Houve um tempo no passado
Em que existia heróis
E que o braço do homem forte
Era o braço do guerreiro.
Mas já se deixou de lado
Esse tempo dos cowboys.
Hoje o ser encontra a morte
Sem ser homem por inteiro.

No passado houve um tempo
Em que tempo já havia
Pra compor canções da noite
Num banho de poesia.
E a vida corria lenta
Tudo era inspiração
De que a alma se alimenta
Pelas vias do coração.

Houve um tempo no passado
Recoberto de esperança
O stress não existia
Vivia-se a bonança.
Era um tempo mais sincero
Onde a verdade no rosto
Tornava o homem vero
Rechaçando qualquer mosto.

Neste tempo do passado
O homem podia chorar
As lágrimas eram possíveis
Como possível amar.
Não havia a vergonha
De sentir qualquer tristeza
Vivia-se com realeza
E uma graça tamanha.

Tenho saudades do tempo
Em que as lágrimas regavam
A fé e a esperança
Dos homens que confiavam.
Este tempo do passado
Não mascarava o real;
Cada homem perfilado
Vivia seu bem, seu mal.

Hoje, uma canção qualquer,
Um programa de tevê,
Uma fantasia de mulher,
Imagem que só se vê
Em programa de auditório;
Tenta construir um homem
Um ser para este tempo
Mas é tudo ilusório...

Para o tempo de hoje
As ações de nossos dias
Quero encontrar ser real:
Um alguém de carne e osso,
Sentimento e emoção,
Indivíduo integral,
A viver de coração:
Que sendo velho é moço!

São Gonçalo, 08 de Janeiro de 2008. (21h40min).

SONETO PARA UMA MENINA EM FLOR

Para Noemi em seus lindos oito anos de idade.

Deus me deu para sorrir e com ela me alegrar
Uma bela morena, bela menina em flor.
Que com seus olhos vivazes, sorriso de encantar
Trouxe grande emoção, nova vertente de amor.

Esta menina pequena na vida a desabrochar
Ainda é botão de rosa, pétalas de harmonia.
Traz perfume intenso, essências pelo ar
De forma vaporosa é a própria poesia.

Minha menina em flor, este amor de pessoa.
É solo e horizonte, a beleza em floração.
Sua voz bem suave, em todo meu ser ecoa.

Por isto neste seu dia, de parabéns e festa.
Ergo esta poesia, dominado de emoção.
É a minha alegria, uma rosa na floresta.

São Gonçalo, 07 de Janeiro de 2008. (22h30min).

SONETO DO AMOR DE CRISTO

Para um coração amante que sonha
O amor mais puro e mais leal de alguém.
Não há melhor exemplo que se entranha
E na vida traz conforto e faz tão bem.

Que o amor de Cristo, bem como seu desvelo
De se entregar por toda a humanidade.
Quem ama deve já seguir este modelo
E amar com força e tal sinceridade.

O amor de Cristo é incondicional
É amor de entrega e de renúncia tal
Que igual não houve nunca nesta terra.

Pois sendo Deus, esvaziou-se a si mesmo
Para que cada ser não mais andasse a esmo
Seguindo o Mestre como quem não erra.

São Gonçalo, 06 de Janeiro de 2008. (9h30min).

SONETO DE DESPEDIDA

É a vida, doce canção ao violino
Que o músico terno afaga num abraço.
Das cordas do instrumento só sai um hino
Se o músico conduz sua alma pelo braço.

Assim é cada ser e aquele que ama:
Instrumento e tocador em simbiose,
E nos dois seres o amor logo emana
Em perfeição de sintonia por osmose.

Mas chega o tempo impossível de seguir
Os dois juntos a compor doce canção:
O músico tem que partir; deixa o violino.

Só peço a Deus pra em sua vida intervir
E que outro músico em ti não ponha a mão
Pra não haver descompasso ou desafino.

São Gonçalo, 06 de Janeiro de 2008. (11h25min).

ONDE A GLÓRIA DO POETA?

A formiga altiva, a folha levanta,
Mas não se verga ao peso de seu labor.
No pedreiro, o tijolo, é esboço de planta
Que ergue o imaginário do construtor.

Quem sou eu com meus poemas e palavras,
Canções que ergo sem sequer usar as mãos?
Onde a glória dos poemas que são lavras,
Pepitas de ouro, não sentimentos vãos?

Hei de cantar meus versos, proferir canções.
Dedilhar arpejos dest’alma efervescente,
Erguendo mansões ou choupanas nos corações.

Só não desistirei de ser poeta nunca,
Pois a glória do poeta é dessa gente
Que a poesia põe sorriso em alma adunca.

São Gonçalo, 06 de Janeiro de 2008. (8h10min).

O CORAÇÃO QUE NÃO SE VÊ

Se esta gente lustrosa, cujos rostos brilham,
feições se apertam em preces de louvor;
e abarrotam igrejas, como fiéis que trilham
o caminho seguro de Cristo o Senhor.

Se suas mãos levantadas não fossem gestos:
coreografia estudada pra multidão.
Tão somente expressão, desejos manifestos
servir a Deus em verdade, de coração.

O que não se vê, apenas se pressente
sentimento que corrói o imo humano,
tal inveja cruel não estaria presente.

Mas ainda não chegou, está sim no arcano
pra muitos que estão no meio dos louvores
o encontro vero, com o Senhor dos senhores.

São Gonçalo, 06 de Janeiro de 2008. (7h35min).

MINHA ESPOSA

Andando agitada nos cantos da casa,
presença marcante qual sol de meio-dia;
vou sorvendo este licor, erguendo a taça,
do mais doce sabor, sabor de alegria.

Seu jeito suave em andar que é sensual,
nas lides diárias de mãe consciente.
Aproxima-me o céu, tornando real
as delícias sublimes de uma esposa contente.

Quanta gente não sabe o que é ser amado
cujas vidas não têm um quinhão de valor.
Eu sou grato ao meu Deus pela esposa ao meu lado.

Sou um astro que brilha no céu do amor.
Minha esposa é filha da mãe Natureza
e eu me fastio de sua graça e beleza.

São Gonçalo, 06 de Janeiro de 2008. (7h15min).