terça-feira, janeiro 08, 2019

NOSTALGIA POR UMA IGREJA QUE JÁ NÃO MAIS É


Acabo de chegar do culto (21h23min).
De férias, fui visitar uma igreja coirmã. Como sempre faço. Nossa querida PIB de Riograndina (Nova Friburgo, RJ); pastoreada pelo xará Josué Galhardo.
Ele, de férias, também. Soube na hora.
Sabe aquela coisa de você estar aberto ao mover de Deus?
Estava assim: sequioso de cultuar e de ouvir a Palavra. E Deus tinha propósitos.
Rever os irmãos, é sempre um deles. Mas, não é tudo.
A gente não vai aos cultos só porque vai encontrar gente bacana, gente legal; com quem nos afinamos afetivamente.
Se fosse só por isso, seria pouco, muito pouco.
Deus tem muito mais!
Tudo foi normal: o louvor, a direção do culto e a mensagem. Bíblica, firme e desafiadora; trazida pelo irmão Adão Marfil.
Se é que possa chamar de normal, algo que é espiritual, transcendental. Mas o caro leitor entende o que digo.
A singeleza imperava em tudo, e Deus agindo.
Até que a irmã Dulce apresentou em solo a canção eternizada por Ozéias de Paula: “Eu Quero Dar Amor!”.
Aí, tudo mudou!
A linda letra dessa música, dos anos 80, fez-me regressar no tempo e voltar às minhas origens batistas.
Embora Ozéias de Paula seja um cantor assembleiano.
A letra, de gênero lírico, especificamente um hino de exaltação ao amor, marcou uma geração.
Vale a pena conferir, principalmente você que viveu esta época e sabe do que estou falando:

Eu Quero Dar Amor

Eu quero amar sem barreiras
Eu quero amar sem fronteiras
Eu quero amar sem limites,
ou preconceitos,
Eu quero amar seja quem for
Eu quero dar amor

(Coro)
Eu quero dar amor
Eu quero dar amor
Foi Cristo que me ensinou
Eu quero é dar amor

Eu quero amar sem medida
Aos pobres loucos da vida
Eu quero amar quem me fere ou mata o corpo
Eu quero ser somente amor
Eu quero dar amor

Eu quero amar ao mendigo
Ao rico ao pobre ao amigo
Eu quero dar uma parte, da minha alegria
A quem soluça em meio a dor
Eu quero dar amor


E, enquanto ouvia a irmã Dulce cantar, minha alma se enlevou, meu espírito entrou em sintonia com fortes emoções, lágrimas me vieram aos olhos ao retornar ao passado de uma Igreja, que pra infelicidade de todos que a viveram, nunca mais voltará a ser.
Eu Quero Dar Amor, interpretada no culto dessa noite pela Irmã Dulcinéia, trouxe-me à memória uma Igreja que já não mais é.
Um tempo de amor, de esperança, de paz.
Um tempo de sonhos.
Um tempo de louvar a Deus de forma espontânea, sincera, desimpedida.
Um tempo de acreditar na paz reinando na terra, na justiça expulsando a opressão, na luz expulsando as trevas.
Junto com as canções “Eu te Amo” e “O Amor É Tudo” composições de Edison Coelho (um dos maiores compositores de música cristã brasileira de todos os tempos), Eu Quero Dar Amor fez parte de uma tríade que exaltava o amor e imprimia no coração da juventude evangélica da década de 80 esta marca.
Eu te Amo é uma declaração de amor a Jesus.
Edison Coelho foi feliz ao declarar: “Eu te amo mais que abelha ama a flor / Eu te amo e como é forte o meu amor / Eu te amo mais que tudo mais que a vida que há em mim / Eu te amo e nada vence esse amor que não tem fim / Eu te amo pois trocaste o meu fardo pela cruz / E é assim que eu te amo Jesus”.
E o poeta prosseguiu exaltando esse amor: “Eu te amo mais que um preso anseia ver / Toda luz da liberdade e assim viver/ Eu te amo mais que o nauta ama a pátria que deixou / Mais que o pobre exilado ama o chão que o desprezou / Eu te amo mais que um cego possa desejar a luz / E é assim que eu te amo Jesus”.
Com a ascensão do movimento feminista, da liberalização informal das drogas, do movimento Hippie, de Woodstock, do “É Proibido Proibir!”, do “I Love You” desenfreado, a Igreja respondeu ao amor com amor.
A outra canção, O Amor é Tudo, também de Edison Coelho, exaltava o amor fraterno, o amor solidário e o compositor aliava este amor ao eterno amor de Deus: “No principio era o verbo / E o verbo era Deus / E a natureza já existia nos planos seus / Desde a maior estrela a mais singela flor / Traçando leis tudo Ele fez por seu amor”.
E assim enaltecia o amor: “O amor é tudo / Feliz é quem ama / Não há barreiras para conter sua chama / O amor é bálsamo na triste lida / O amor é mais, também é paz / O amor é vida”.
Na segunda estrofe, o poeta mostra o caráter do amor e sua atuação: “O amor supera o ódio através do seu poder / Tudo ele sofre, tudo suporta e tudo crê / Amai-vos uns aos outros conforme Eu vos amei / Andai na luz, disse Jesus, o Rei dos reis”.
A resposta da Igreja ao amor do mundo era com o amor de Deus. “Juventude Transviada” (ou Rebel Without a Cause), filme de 1955, dirigido por Nicholas Ray e estrelado por James Dean, ainda ecoava na Geração 80. Havia uma forte transgressão de valores como era forte o cheiro da maconha no ar.
A juventude do mundo queria amor e a Igreja, na voz de seus jovens, dizia, romanticamente, “eu quero dar amor”. E, afirmava, que isso tinha sido ensinado pelo Cristo.
Só que o amor que a juventude transviada queria era sexo.
E o amor que a juventude cristã tinha para oferecer era comunhão.
Seja na voz de Ozéias de Paula (foi na AD de Santo Aleixo, RJ, que o maestro Álvaro percebeu que a voz de Ozéias se diferenciava, porque possuía um timbre mais agudo que os demais coristas de voz masculina, sabendo tirar proveito e prepará-lo para louvar a Deus), seja em outras vozes maviosas, a juventude evangélica respondeu para o Brasil que queria o verdadeiro amor em solo pátrio.
Aquela era uma Igreja que sonhava.
Era uma juventude que tinha ideais.
Uma juventude sofrida, talvez, mas que confiava num Deus que a poderia levantar e fazer dela uma expressão para este país.
Por isso que aquela juventude era engajada. O Evangelho não produz alienação. “Ópio do povo” é o esquerdismo de gabinete, de viver às custas da Viúva e depauperar o país.
Naquele tempo, nos filmes norte-americanos que assistia, os índios chamavam o homem branco de “caras-pálidas”.
Lembrei disso, porque hoje, infelizmente, não vejo melhor alcunha para a igreja do que “almas-pálidas”.
A Igreja contemporânea é uma igreja descorada.
Uma igreja que já não sabe mais lutar. Que perdeu a capacidade de se revestir de toda a armadura de Deus.
Precisamos reagir. Precisamos acreditar.
Precisamos unir nossas forças. Precisamos nos posicionar.
Não podemos pactuar com o erro e nem podemos nos silenciar ante as intensas investidas de Satanás para destruir a família e desmoralizar o Evangelho.
Precisamos viver com fé e práxis.
Precisamos viver com luta e ética.
Precisamos de adoradores; não de cantadores de fim de semana.
Deus vai fazer a sua Obra por meio do remanescente fiel. O  toco que voltará a florescer. Jó acreditava nisso: “Porque há esperança para a árvore que, se for cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus renovos. Se envelhecer na terra a sua raiz, e o seu tronco morrer no pó, Ao cheiro das águas brotará, e dará ramos como uma planta” (Jó 14.7-9).

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
06/01/2019 (23h34min).

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