terça-feira, junho 17, 2008

PALAVRAS VIVAS

O poeta precisa ser um porta-voz de seu povo
falando aquilo que o outro não soube exprimir.
O poeta necessita do cascalho extrair ouro
se poesia pura almejar do coração construir.

Mas as palavras do poeta precisam ser vivas
e também expressar sentimentos de dor.
Tal qual jardineiro cuida das sempre-vivas
e das rosas extrai suaves canções de amor.

E como Adão, na primitiva ânsia do saber
pelos desígnios divinos nomeou cada ser,
o poeta vai dando nome aos sentimentos
e extraindo das coisas seus pensamentos.

Coisas antigas, objetos parados no tempo.
Coisas novas, recriações da própria vida.
O poeta vai transformando num momento
em canções de uma pátria desconhecida.

Poesia é o fluxo do poeta em sua respiração:
Ele aspira o existente, devolve como presente.
As palavras circulam nas veias da inspiração
e o poeta sorri ante os poemas de sua mente.

Nova Friburgo, 04 de Março de 2005. (7h16m)

A ROSA

A Katia Cardoso Soares

E a Natureza deu umas para serem cor,
e outras para serem forma,
e outras para serem perfume,
e outras para serem beleza plástica,
mas só você para ser ROSA.
Você consegue reunir em si tudo isso e muito mais...

Nova Friburgo, 04 de Março de 2005. (13h28m).

MORTE EM OURO PRETO

O viajante do tempo entrou na cidade ao sabor do Vento.
Buscava encontrar o sonho no elo perdido da história.
Mas sobre as vias de pedras encontrou histórias de gentes
E não suportou a solidão de não ser um real emergente.

Coçou cabeça e fixou os olhos nos trabalhadores das minas.
Viu as mucamas carregadas de trapos e bebês pretos-minas.
O viajante não queria o ouro das gerais; buscava outro brilho.
Ele estava à busca da mente, do estudo, do saber. Neste trilho...

Da pátria mãe gentil que no passado buscava célere
para fazer de sua pesquisa das raízes alguém célebre.
Mas o viajante se deteve nos templos, encontrou a fé.
E ali entendeu a razão do país enfim se por de pé.

Viu no esmero dos detalhes, na expressão do barroco.
O conteúdo de uma gente sofrida: Algo que não era oco.
Por isso, o viajante voltou ao presente trazendo consigo.
Algo mais que a cultura. Trouxe a história e um abrigo.

E depois da viagem, quando chegou de volta ao seu tempo
sonhou com seu futuro e de seu povo ao sabor do Vento.
Mas estando ali no futuro - ao voltar a olhar o passado -,
presenciou um corpo, nas pedras da via pública, abandonado...

Nova Friburgo, 03 de Março de 2005. (7h35m).

sexta-feira, junho 13, 2008

A GENTE SOFRE DE EXISTIR

Como a grama rasteira que se corta sempre
que se esfarela sempre no bolor do tempo
e nem gramínea consegue ser constante
a gente segue pelo mundo e vai errante.
A gente sofre o ser e neste ser sofrido
num constante devir, de vir e ir sentido,
a gente vai rasgando as folhas do tempo
e vai espalhando escrituras pelo vento
se esquecendo do que foi ou que tem sido.
Da vida os dias lentos vão sendo vividos.

A gente vai andando e a vida vem atrás.
A gente caminhando em busca de uma paz.
O mundo atropelando e a gente somente
querendo ser gente no espaço da mente.
E a gente postergando o direito de ser
somente delirando na arte de sofrer,
semente construindo da vida um sentido,
um roto movimento de esperança pelo ar,
vontade de não-ser, não-sofrer, e só amar.
Mas como? Se reverbera uma falta de raiz,
que fixe a juventude neste imenso país.

E a gente sofrendo o direito da existência,
com vontade enorme de pedir clemência,
querendo despedir-se, dar adeus ao que já foi
e assumir a sandice de uma vida que não é,
de uma vida que não diz a que veio neste mundo.
Há uma falta de razão, de um sentido profundo,
de um moto que esclareça da vida o viver,
de um sopro de esperança que apague o sofrer.
Pois no centro da existência, do jeito que a vida é,
falta Deus, falta Razão, falta ao Homem uma Fé!

Nova Friburgo, 02 de Março de 2005. (8h33m).

O POSLÚDIO COMEÇOU

Os dedos passeiam teclas
brancas. As pretas saltitam.
A música ecoa monocromática
e os ouvidos paralisam-se.
Os corpos se levantam.
Os pés caminham.
Os movimentos da congregação
voltam-se para a porta do Santuário.
A vontade impõe a vontade.
A mente assusta a mente.
A música chama a rua
e a rua chama a casa.
Obscuro desejo: Onde o preenchimento?

E há um vazio de passos
firmes na busca do Vazio!
Tudo premeditado; só perigo.
O culto acabou e a vida começa agora.
O toque dos dedos nas teclas da emoção
carrega consigo o fundo musical da ausência.
Deixa-se o espaço do sacro para adentrar
o mundo lá de fora, onde não há portas:
Só as escâncaras da ânsia e da audácia
da vida por si mesma e sem trapaça.

Não há súplica nem clamor:
As orações ficaram pra trás.
O que perturba um pouco é
essa consciência do Indizível
e a percepção de que parte de nós mesmos
ficou assentada naquele banco de Igreja;
comunitário banco de bem-estar.
Não há lógica em nenhum ato.
Só fé! E quando o último crente
põe-se de pé e sai do recinto,
o piano ecoa a nota derradeira
de um poslúdio de culto que é
só o começo de não sei o que.

Nova Friburgo, 28 de Fevereiro de 2005. (8h33m).

POIESIS VITAE

Inalava o perfume
de todas as flores que encontrava.
Quando morreu, as rosas brancas
do caixão eram artificiais.
Mas ninguém percebeu,
pois sua vida continuava a exalar poesia.

Nova Friburgo, 18 de fevereiro de 2005. (14h51m).

domingo, junho 01, 2008

E DEUS CRIOU A FAMÍLIA

No princípio criou Deus o homem.
Mas, que era o homem sem alguém do seu lado?
Então Deus criou a mulher
e lhe deu o homem por namorado...

Deus fez o homem e lhe deu autoridade
para sujeitar toda a Terra.
Mas sem conhecimento tudo emperra.
Então, Deus deu-lhe poder e deu-lhe inteligência,
e deu-lhe condição de manipular a ciência,
mas não a condição de Criação.
Foi por isso que Ele próprio criou a mulher
e libertando o homem do sofrimento,
instituiu logo o casamento:
- O homem já não estava só!

E Deus deu ao casal a condição de procriar:
E tiveram filhos e filhas.
Surgia, então, a família nuclear,
aquela que por gerações tem sido o
modelo de família que governa
as relações parentais no mundo.
E era para valer a verdade,
por toda a eternidade,
de que o que Deus uniu
o homem não ia separar.

Mas eis que veio a Serpente e,
de repente, não mais que repentinamente,
tornou o homem um demente
ao introduzir o pecado no mundo.
E o Ser tornou-se imundo
e surgiu a inveja e surgiu a vergonha
e por causa dessa peçonha
o homem fugiu de Deus
e aconteceu o primeiro homicídio
e o irmão matou o irmão
e Caim riscou Abel da face da Terra
e surgiu a preguiça e surgiu a cobiça
e os filhos de Deus começaram a achar,
depois que desviaram-se do velho Pomar,
as filhas dos homens mais bonitas...

Então o casamento estremeceu
e os relacionamentos se esfriaram
e o amor congelou
e o pecado tratou de romper laços
e surgiram os embaraços
e a família soçobrou!

Mas Deus também tinha outro plano
algo mais profundo e também humano:
Era seu Filho Jesus.
Ele veio ao mundo, Verbo encarnado,
e encontrou o casamento frustrado;
relacionamentos desfeitos,
sobressaindo-se os defeitos
dos casais e sua união.

Jesus encontrou separação,
a praga do divórcio,
e abominou este negócio
de casamento não dar certo
por que tem alguém mais interessante por perto.
Jesus viu que tudo era resultante -
e isto ficou marcante -
na sua análise do fato
da presença do pecado.
Percebeu a abominável paixão
semente lançada pelo Inimigo
nas terras férteis do coração.
No princípio não era assim
e disso Jesus tinha certeza
mas Moisés permitiu o repúdio
e este foi outro dilúvio
a apagar o fogo do amor.
Pois o homem de dura cerviz
por não vencer a tentação
passou a fazer o que quis
pela dureza do coração.

Mas o Mestre na mensagem da cruz
apregoando a reconciliação,
possibilitou ao homem a volta
para Deus e sua comunhão.
E o Cristo na cruz exposto
anuncia aos casais deste mundo,
anuncia as famílias do Bem,
a todo o que está disposto
a buscar uma pátria de Além,
a viver sentimento profundo
de um homem que não é uma ilha:
- Toque os braços abertos na cruz,
sinta o abraço, o afago que conduz
sua vida e a de sua família
para um tempo de restauração.
Deus criou a família por certo
para ser uma bênção bem perto
abandone qualquer maldição.

Nova Friburgo, 17 de fevereiro de 2005. (10h11m)

TUA MÃO EM MINHA MÃO

Pai, não fostes apenas um pai, fostes irmão
quando naquele dia triste, cinzento até,
atravessando eu, o vale de sombras a pé
pude sentir o afago de tua mão em minha mão.

Pai, não fostes apenas um pai, fostes amigo
quando precisando de conforto ao coração
descobri poder contar mais uma vez contigo
no instante sublime de tua mão em minha mão.

Pai, não fostes apenas um pai, mas conselheiro
no momento em que chafurdado pela emoção
antes que palavras pronunciasses, tu primeiro
repousastes bem suave tua mão em minha mão.

Pai, não fostes apenas um pai, mas professor
ensinando os nobres caminhos da educação.
Quiseras os filhos sábios, mais que um doutor.
Sentia isso no vibrar de tua mão em minha mão.

Pai, não fostes apenas um pai, mas corregedor
mostrando a disciplina num olhar de reprovação.
Mas com carinho mostravas que o fazia por amor
até quando sentia o peso de tua mão em minha mão.

Pai, não fostes apenas um pai, fostes pastor
guiando-nos na senda do Calvário, à salvação.
Querias os filhos todos nos caminhos do Senhor
para onde me conduzia tua mão em minha mão.

Pai, não fostes apenas um pai, mas um cristão.
orando, lendo a Bíblia, ensinando na Palavra.
E a família reunida na fé que o amor destrava
seguia unida e eu sentia tua mão em minha mão.

Nova Friburgo, 13 de fevereiro de 2005. (15h47m).

À PROCURA DA POESIA

A Israel Belo de Azevedo

Imaginei compor um lindo poema
que a cada geração fosse descoberto
poesia a fluir em cada fonema
e a Lira sempre ficando por perto.
Mas surge, de início, dúvida cruel
toma conta do meu ser ali pensante:
Seria de grandes formas, até o céu?
Ou sonetto, canção curta, de instante?

Se eu escolhesse uma poética teatral
o heroísmo levando a uma epopéia
não sei se a conduziria até o final...
Seria sombra da Eneida e Odisséia!
Posso escolher também fazer um romance
na origem mítica da poesia.
Mas com que palavras darei a nuance
de idílio, égloga ou rebeldia?

Talvez fizesse um discurso poético
semelhante ao Zaratustra de Nietzche.
Mas meu projeto far-se-ia patético
ao transformar-se em um mero pastiche.
Voei, então, até a hinódia cristã,
buscando ali uma linguagem hínica.
Uma prece, salmo, longe da res pagã
que mostre do coração sua mímica.

Mas a Lira cobrava-me algo mais forte;
toda a musicalidade de um Rimbaud.
Deixei fluir sentimentos até de morte,
pra não divagar como se fora um robô.
Compus canções, baladas, também um lai,
refletindo a vida e os seus mistérios.
Liberei a alma de tudo que a trai,
buscando poesia em sonhos etéreos.

Mas ainda assim não achei o que queria.
Revirei mundo; fui ao baú da vovó!
Não é qualquer verso que se faz poesia:
Virelai, vilancete, pantume e rondó.
Então, aprofundei-me no barroquismo,
me fiz burlesco, busquei preciosidade.
Não preciso, nesta altura, de eufemismo:
Foi no grotesco que vi diversidade!

Descobri da poesia o lúdico:
os palíndromos e tantas holorimas.
Fiz-me artista, tornei-me até um músico
de acrósticos, anagramas, outras rimas.
Quando triste, compunha bela elegia
refletindo uma alma tão queixosa.
Descrevendo esta grave melancolia
que singrava como nau lamuriosa.

Mas no dia em que queria me vingar
usava a sátira como meu espeto.
Com a máscara do ridículo debruar
toda a arte do jocoso e do panfleto.
Porém, quando silente e um tanto só,
sentindo a tarde que em mim singela cai,
buscava provérbios sem pejo nem dó
na linguagem gnômica, pura, do haikai.

Tudo à procura da Musa em vida,
a Poesia que me fizesse feliz.
Da tristeza, presto, fazer despedida.
Viver a vida assim, como sempre quis.
A questão era: Como afastar o mal?
Longo o pensar? Não pode ser odelette!
Do Renascimento trouxe o madrigal,
o bobo da corte e um canivete.

Cansado da paródia e do sofisma
vi que a poesia não é unívoca.
E antes que tivesse um aneurisma
abandonei minha vida equívoca.
Poesia faz rir, é faceciosa
e pode trazer em si filosofia.
Se é sátira pode ser contenciosa,
e assim servir até de galhofaria.

Desse jeito fui descobrir o sublime,
o gênero nobre por excelência.
O lirismo que o coração exprime;
amor mostrando sua plenipotência.
A ode e sua origem musical
evocando a metafísica visão.
Sopro de Musa et coetera e tal
que tanto bem faz ao pobre coração.

Então desandei a cantar as minhas odes,
imaginando as de Píndaro e mais.
Fiz-me arauto de tão lindos acordes
outorga da vida, do amor e muita paz.
Fiz-me Lautréamont e mesmo um Claudel
em odes belas e estrofes simétricas.
Subi paredes do pensamento no papel,
dos latinos esconjurei as tétricas.

Mas os gregos antigos me perseguiam
Com seu estilo, erudição, entusiasmo.
E as liberdades da Musa me seguiam:
Da Musa, as liberdades e seu quiasmo.
Foi na ode que encontrei meu acalanto,
como Saint-John Perse construí poemas
Então, nela estanquei todo o meu pranto,
tornando-me autor de lindos grafemas.

Nova Friburgo,
(iniciei as 7h05m de 30/01/05
e terminei as 6h54m de 31/01/05).