segunda-feira, agosto 04, 2008

CRIANÇA

Linda criança de uns olhos vivos
De súplicas ingentes no olhar.
Vi-te passar por entre mendigos
No calçadão à beira-mar.
À beira-vida, quase um sopro
Quase esvaindo em desespero.
Brincando ingênua sem ter abrigo
Correndo riscos e até perigo
De acidente e atropelo.

Vi-te criança de pele clara
Roupas rasgadas, pés no chão.
Cabelos ruivos em desalinho
Mãos estendidas pedindo pão.
E meu coração descompassado
Nos passos teus no calçadão
Quis logo ser recompensado
Por decidir estender-te a mão.

Mas logo atrás de ti vieram
Uns homens sujos e mau olhar.
Carrancas graves e as mulheres
Semi-nuas a acompanhar.
E triste a vida e triste o sonho
E quão medonho é o meu pensar:
Que é o homem? meu Deus
Que é o homem? para dele lembrar...

E eu com medo e muito aflito
Recolho a mão, guardo a carteira
Meu coração que estava contrito
Murcha e silente pensa besteira.
Pensa em pânico, num arrastão,
Os homens monstros sobre mim
E nesta visão uma multidão
Me massacrando até o fim!

Corro entre carros, bem apressado,
Busco um abrigo e segurança.
Amar neste mundo é complicado
Meu coração só quer bonança.
Pulo num táxi ainda andando
Quero sumir da Zona Sul.
Vejo a criança ao longe chorando
Disfarço o olhar no céu azul...

Disfarço a vida, revejo os sonhos.
Encaro a luta do dia a dia.
Meus compromissos são tamanhos
Não sei se volto à alegria.
De outra vez te encontrar.
O fato é que em mim persiste
E fixa firme e não desiste
A ingente súplica de teu olhar...

Nova Friburgo, 02 de Janeiro de 2006 (08h21m).

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