terça-feira, novembro 18, 2008

RETINIGRAFIA III

O comércio está
cerrando as portas.
E a cidade se
silencia para ouvir
só o canto das estrelas.
Mas o canto se faz lamento
naquele paisagem:
o dia foi de muita poluição!

Nova Friburgo, 16 de Março de 2007 (19h29min).

RETINIGRAFIA II

A rua apertada, escura,
esconde mistérios...
E os paralelepípedos
se sucedem
como um jogo de amarelinha.
Mas são muitas casas
para chegar aos céus,
e o bandido acaba
me apontando a arma antes.

Nova Friburgo, 16 de Março de 2007 (19h21min).

RETINIGRAFIA I

A cidade, à noite,
tem luzes que
acendem sonhos.
Quando a manhã chega
e o sol desponta,
quantos perdem a esperança?
Mas o mendigo
que acorda naquele instante –
sujo da noite fria e viscosa –
acha uma moeda perdida.

Nova Friburgo, 16 de Março de 2007 (19h14min).

QUERO UMA GOTA DE COLÍRIO

Quero uma gota de colírio;
uma gota apenas.
Quero a gota aliviadora
que alivia a dor.
E a gente adora
porque mandou a dor embora...

Quero uma gota de colírio;
somente uma.
Em meu olho não cabe espuma,
não cabe pluma.
Não cabe mais que uma gota
de colírio que meu ser arruma...

Quero uma gota de colírio.
Somente uma é suficiente.
O excedente
pode mudar de plano,
chegar ao nariz por engano,
e entrar na corrente sangüínea...

Quero uma gota de colírio;
uma gota apenas.
E esta instilação
tem que ser suave, serena,
pois estou à busca de vida plena
que me acalme o coração...

Quero uma gota de colírio;
aquela que basta.
Não quero sentir gosto ruim na boca
e nem na garganta.
Quero uma alma que canta
e um coração que se encanta
com a paz...

Quero uma gota de colírio.
Colírio para os olhos.
Para os olhos da alma
uma gota apenas basta!
É uma gota de paz, uma gota de amor.
Gota poli-eficiente.
É a gota do sangue de Jesus
derramado na cruz,
para que eu possa caminhar
olhando para Cristo.

Nova Friburgo, 10 de Fevereiro de 2007 (17h37min).

EXAMES

Consultar.
Fazer jejum.
Dormir.
Acordar.
Defecar.
Urinar.
(estes dois últimos,
não necessariamente
nesta ordem).
Potes de prontidão.
Tomar o táxi.
Sobre a mesa
do doutor
os potes.
Encaminhamento
para o laboratório.
Picada.
Sangue.
Careta.
Ausência.
(o enfermeiro
saiu da sala).
As fezes
e a urina
já foram.
Prontuário.
Aguardar resultados.
Pegar
no dia aprazado.
Ler e não entender.
Voltar ao médico.
Análise.
Silêncio.
Olhos nos olhos...
Fazer tudo de novo.
Deu tudo errado.
Porque a saúde pública no Brasil
está uma merda!

Nova Friburgo, 16 de Janeiro de 2007 (9h18min).

SISIFUTRICA

O que sustenta
a enorme pedra
é um barro vermelho
cujo amálgama
são os arbustos, as árvores
e a geografia do entorno:
o menino colheu os morangos silvestres;
o boi pastou o capim gordura;
o micro-empresário transformou os eucaliptos
em dois ou três caminhões de lenha;
as águas da chuva se encarregaram
de levar o barro vermelho...

A pedra soltou-se,
rolou
e está vindo aí!


Nova Friburgo, 13 de Janeiro de 2007 (10h40min).