quarta-feira, fevereiro 27, 2008

BODAS DE PRATA

A Sebastião & Janete – 29/12/2004

Quando dois jovens se amam e querem o casamento
na Terra aplausos ecoam por tão nobre sentimento
que os jovens deixaram brotar, pelas fraldas do coração,
levando-os para o altar, assim plenos de emoção.

Mas de onde vêm os aplausos? Provém dos céus este favor!
Deus aprova cada união, quando feita pelo Senhor.
O casamento perdura, rompe anos, vence lutas,
quando duas almas gêmeas lutam juntas, resolutas.

E agora, gracioso Deus! Quando se vive Jubileu,
que símbolo desta união e brado de consagração
torne-se a Tua Palavra no coração que a recebeu.

E que se veja na face, sinal da tua aprovação,
a síntese: Amor é vida, não morre, também não mata!
Que seja uma nova emoção, estas Bodas, cor de Prata.

Nova Friburgo, 30/12/2004(7h).

NO DIA EM QUE PAPAI SE FOI

A João José Soares Filho (In Memorian)

No dia em que papai se foi
recebi uma árdua tarefa:
Dirigir a cerimônia fúnebre
quando a família e os amigos
celebraríamos a sua vida
diante do Deus da Vida.

Mas como fazê-lo?
Se estava em frangalhos
e meu coração repartido
sofria sua ausência atroz?
Ganhei forças do Espírito
para naqueles últimos instantes
rememorar com os presentes
alguns momentos marcantes.

Papai agora inerte!

Sempre fora o condutor,
o timoneiro resoluto,
conduzindo a Igreja do Senhor.

O culto por sua vida
no dia de sua morte
não teve sua direção.
Eu ali na frente dirigindo o culto
e papai inerte no caixão.

Familiares apresentaram
uma peça de grande valor:
“Os céus declaram!”
Bruno no violino,
João Marcos na viola,
Júnior no clarinete
e Demetrios no sax.
Era o instrumental preferido dele.

Minha irmã mais nova,
Júnia Cláudia,
cantou uma canção que
me emocionou:
“Apenas um Momento!”
Uma música triste, sofrida,
cantada com as cordas da alma
e num filete de voz que
a dor permitia ecoar naquele salão.

No dia em que papai se foi,
na hora daquela despedida final
nesse último adeus na terra
até nosso encontro na pátria celestial:
O coração da gente estava carregado de dor!

Ah! Mas o culto tinha que ser uma celebração.
Era preciso fazer desse momento
o erguer de um belo monumento
de louvor e muita adoração.
É que papai sempre fora evangelista
e nunca perdia de vista
o coração do pecador.
Em tudo estava pregando,
sua vida sempre louvando
e mostrando de Deus o amor.

Por isso no dia em que papai se foi
Cantamos forte, seus hinos:
“Sim, com certeza, meu Senhor aqui está”,
Sou feliz com Jesus”,
“Maravilhosa Graça”,
“Lá no céu”,
“Não venhas tarde”, o hino da sua conversão.
“A bela cidade” e “Cidade Santa”
este último, o da sua predileção.

No dia que papai se foi,
naquele culto de despedida,
os versos de Mirtes Mathias ecoaram no salão.
Carla leu o poema que papai mais gostava
aquele que sempre inspirava sua vida com emoção:
“Agora!”
Se é para amar é preciso fazê-lo agora.
Pois quando o tempo passar, pode não ser a hora!

E naquele dia, no dia em que papai se foi,
durante aquela despedida final
uma sensação ficou no ar:
Embora tivesse vivido um número razoável de anos
e tempo suficiente para um convívio intenso...
A gente fica achando que não fez tudo que tinha que fazer;
que não esboçou todos os sorrisos que tinha que dar;
que não amou todo o amor que deveria amar;
que há ainda muitos beijos e abraços no estoque, para gastar.

Mas, naquele dia, no dia em que papai se foi...
No momento da reflexão pude:
Ler o “Cântico de Vitória”
que aprendera a amar com ele,
que muitas vezes lera a pedido dele,
que a muitos corações consolara por mediação dele.
E, dizer para os presentes, que quando se está em Cristo,
nem a vida e nem a morte
ou coisa de outra sorte
nos separa desse amor
que é Cristo, nosso Senhor!

Nova Friburgo, 29/12/2004(6h45m).

BULA NA POESIA

Foi uma surpresa só,
e curiosidade tamanha...

Abrindo aquele livro -
um livro de poesia tão lindo,
cuja leitura afasta o tédio -
nele encontrei, dobradinha,
uma bula de remédio!

O livro, de primeira edição,
do ano de setenta e quatro
e a bula um tanto encardida
dobrada como marca-páginas
separando as leituras feitas
das outras ainda por fazer...

Mas que remédio era aquele
constante daquela bula?
E eu ali aturdido,
da vida um tanto esquecido
querendo aquilo entender...

Quando entrei naquele sebo
amante do fazer poético
em meio as estantes, patético,
uma voz a me dizer:

- Bula na poesia!

E agora que susto que tomo
ao fazer no livro assédio
e abrindo aquele tomo
encontro logo uma bula:
Uma bula de remédio!

Pego a bula em minha mão
E leio: Microdiol.

Que será?

Na minha ignorância
vou descobrindo a fórmula:
“É um contraceptivo
combinado de uso oral...”
A utilidade do remédio me remexe.
Me comove. Comigo mexe e remove
qualquer sombra de dúvida:
“Um comprimido é tomado
diariamente
sem interrupção por 21 dias...”

É mulher e é jovem quem por último
teve o livro em sua mão...
Como será ou terá sido ela?
“Fazer uma pausa de 7 dias
e reiniciar uma nova cartela...”
“No segundo ou terceiro dia desta
pausa deverá ocorrer a menstruação...”

Mas meu Deus qual a relação
entre a poesia e este tal de Microdiol?
Se poesia é vida e o remédio impede a vida,
de modo que não nasça o sol
para o fruto do relacionamento?

Poesia é vida, é luz,
é liberdade que conduz
para os céus de um sonho imenso!

Poesia é o despertar da existência,
é o desabrochar de flores,
é o despontar de amores,
e o afastar de uma ausência.

Poesia é preenchimento
é varinha de condão
afasta todo o tormento
e acalma o coração.

Na página em que achei a bula
no livro de poesia
no meio da página havia
um escrito feito de amor:
E eu com enorme gula
li o que ali existia
tudo era poesia
que me trazia favor.

Lá estava escrito
com um carinho bem terno.
Resumido e bem dito:
- CAMINHO ETERNO.

Não há qualquer conciliação
entre a morte e a vida
se a sua interrupção
nos impõe uma despedida.
Não haverá caminho eterno
para quem nem pisou no chão
deste solo da existência
que começa no coração.

Não quero fazer libelo
de qualquer contraceptivo
mas desafio a qualquer gente
que seja amante do belo
a que me dê um motivo
para matar a semente!

Sem semente não há vida
não há vida sem amor.
E por toda a minha lida
nas estradas por onde for
não questiono se é anti-ético
o uso do contraceptivo.
Mas, com certeza, antipoético
e não há paliativo
que mude minha opinião,
pois poesia é vida
e habita meu coração!

Nova Friburgo, 29/12/2004(7h41m).