segunda-feira, janeiro 21, 2008

REVERÊNCIA

Num velho livro de sebo
poemas ainda vivos
cantam as canções mais belas
que o poeta pelas janelas
da alma quis mostrar...

E na página introdutória
pôs tão linda dedicatória
em forma de reverência:
“Ao querido amigo,
poeta maior – irmão em Cristo!”

Emocionei-me com o reconhecimento
que o poeta do meu coração
fez ao outro que o antecedeu.
Chamou-o de amigo, poeta e irmão.
Essa era a verdade de seu sentimento!

Foi uma bandeira da poesia cristã
a que Gióia Júnior deixou nesta lição
de humildade e de esperança
quando a Mário Barreto França
reverenciou em seu coração!

Nova Friburgo, 28/12/2004(6h30m).

NO DIA EM QUE PAPAI PARTIU

A João José Soares Filho (In Memorian)

No dia em que papai partiu
a manhã abriu-se em poesia
no sebo de beira de rua
quando a minha alma nua
despiu-se de toda fantasia
e para o sonho se abriu.

Atraído pelos exemplares
passava por aquele lugar
e tinha vontade de entrar
para folhear aqueles livros
vindos de vários lugares.
Vi os livros, seres vivos!

No dia em que papai partiu
isso me aconteceu de fato.
Passeei pelas estantes cheias
e com a literatura nas veias
acerquei-me de todo aparato
e a poesia em mim pariu!

Numa estante escondidinha
a surpresa me encontrou:
“Poemas em feitio de oração”
logo em mim se aninhou.
Então, a tristeza que definha
Sumiu! De alegre o coração.

O livro para mim era raro;
um grande presente de Deus.
Textos do poeta Gióia Júnior.
que me apontam para os céus.
E como não abandono o faro
arrematei-o com precioso amor.

Mas a grande novidade do dia
ainda não foi relatada.
O livro fora ofertado
a outro poeta gigante
e minha alma ofegante
recebeu-o de bom grado.

Um livro de poemas de Gióia?
Em sua primeira edição?
Com autógrafo do autor?
Era coisa muito jóia,
que meu frágil coração
recebeu com muito amor.

Tinha mais naquele livro:
Havia uma dedicatória
feita para outro poeta!
Que não era o Ledo Ivo,
não era a Nélida Pinõn,
e nem mesmo o Drumonnd.

No dia em que papai morreu
ganhei dos céus um presente
e enquanto sua alma partia
a poesia em mim renascia.
Ele foi embora; bem sei eu!
Mas a poesia me fez contente.

O livro que achei no sebo
havia sido dedicado
a Mário Barreto França.
E a graça que eu recebo
neste dia tão delicado
é um banho de esperança.

No dia em que papai partiu
Deus me fez raciocinar:
Enquanto houver poesia
haverá vida na vida
e a vida não será fria
enquanto houver poesia!

Nova Friburgo, 24/12/2004(7h21m).

AMIGO, POETA E IRMÃO

Neste mundo em meus andares
pelas gentes e seus lugares
seja em vida ou plena morte
não sei se restará melhor sorte
para este meu fraco coração
que ser amigo, poeta e irmão.

Para mim isso é o bastante
pois amizade é relacionamento
e poesia fala de sentimento.
Agora a todo instante
já que irmandade lembra fé
terei minha vida de pé!

Mas qual destes virá primeiro:
O amigo, o poeta ou o irmão?
Não importa qual a ordem
o que deve ser certeiro
é que da vida a canção
acabe com toda desordem.

Pode ser que num momento
seja amigo, irmão e poeta
traçando em mim a meta
pela ordem do sentimento.
Mas o que afeta minh’alma
é nos outros espargir calma!

Pode ser que noutro instante
seja irmão, poeta e amigo
que afaste de todo perigo
aquele que me conquistou.
E na vida serei um amante
da esperança que restou.

Em outro frágil momento
pode ser que em mim agite
o poeta, amigo e irmão.
Que consolo, em sofrimento;
alegria, em alma triste;
eu reparta de coração!

Se um dia para alguém for amigo,
se alguém me chamar de poeta
e para um fraco puder ser irmão...
Partirei desta vida e vai comigo
bem presente a marca viva da seta
de um amor que flechou meu coração!

Nova Friburgo, 28/12/2004(6h57m).

NO DIA EM QUE PAPAI MORREU

A João José Soares Filho (In Memorian)

No dia em que papai morreu
O sol não brilhou de teimoso.
O tempo amanheceu chuvoso
No dia em que papai morreu.

A chuva regando a terra.
A gente andando apressado.
As nuvens pairando na Serra.
Poças d’água por todo lado.

E a manhã começou tranqüila:
Papai em seu leito no hospital,
Mas à tarde faríamos uma fila
De emoções neste norte fanal.

No dia em que papai morreu
Ainda havia uma esperança.
O médico nos deu confiança
No dia em que papai morreu.

Sabíamos ser o quadro difícil
Só se Deus o quisesse mudar.
Um milagre seria um edifício
Para o Pai mesmo arquitetar!

Eu não sabia, e nenhum mano,
Qual era de Deus o seu plano.
Naquela manhã tão chuvosa
Que regava o canteiro e a rosa.

No dia em que papai morreu
O canteiro sumiu na chuvarada,
E a rosa sucumbiu despetalada.
Nesse dia uma poesia nasceu.

É que não se pode aprisionar
O perfume da rosa de Deus.
E sua morte que me faz chorar
Leva-me em direção aos céus!

Nova Friburgo, 24/12/2004(7h04m).

NA MANHÃ SEGUINTE

São 6h.
Noemi acorda e quer mamadeira.
Desço com ela no colo até a cozinha, pois ela quer descer.
Coloco-a sobre a cadeira, pois está descalça.
Enquanto preparo o leite, recordo-me de papai.
As lágrimas me vêm aos olhos, sinto saudades!

Noemi, percebendo meu choro
que não quer se conter nem se esconder, é bem enfática:
- Por que você ta chorando?
- To com saudades de meu pai, vovô João.
- Eu vi ele assim (e fez o gesto de mãos cruzadas sobre o peito) ontem...
- É, vovô morreu! Respondo.
- Ele foi pra onde?
- Foi para o céu!
- Ele foi de carro?
- Sim, foi de carro. O carro de Deus!
- E qual é a cor do carro de Deus?
- É branco!
- E ele é grande? Assim (e abriu bem os braços, esticando-os ao máximo)...
- Sim, enorme. Cabe todo mundo que quiser ir.
- Ele foi onde, na mala?
- Não. Ele foi de carona e o motorista é Deus. Nesse carro, minha filha, só entramos de favor. Por isso somos caronas... É Deus que nos dispensa seu imenso favor e...

Desisti. Estava começando a ficar muito teológico para a cabeça dela, que, com apenas quatro anos, arregalava os olhos inquiridores, como quem diz: “Não to entendendo nada!”

Ainda me perguntou:
- Murilo também ta triste?
- Ta!
- E Lucas, ta triste?
- Também, filha!
- E eu, to triste?
- Você também ta, filha! Você gostava do vovô?
- Gostava! Ela disse com firmeza.
- Então você também ta triste, filhinha.

Noemi, uma criança de alma pura, não conseguia entender o que estava se passando e se confundia nos seus sentimentos, ao perceber todos chorando e ela ali, no meio daquela gente, sem entender direito o que estava acontecendo. Dois dias antes havia visto o Lucas chorar muito, quando recebeu a notícia da morte do avô. E, no dia anterior, tinha visto o Murilo também chorando bastante, quando do culto de gratidão a Deus. Mas ela não chorou!

Ainda perguntou:
- Mamãe ta triste?
- Está!

Nova Friburgo, 23/12/2004(6h15).

ÉRAMOS DEZ

A João José Soares Filho (In Memorian)

Éramos dez: Papai, mamãe e oito irmãos.
À moda de futebol de salão, cinco para cada lado.
(Nesta metáfora, papai seria o goleiro dos meninos
e mamãe agarraria para as meninas.)

Os primeiros quatro deu empate em dois a dois
distribuídos assim mesmo:
Júlia e Jerusa. João Marcos e Josué Ebenézer...

Era o que se podia chamar de escadinha:
Aquela filharada pequena
revezando-se ensimesmada na barra da saia da mãe!

Estes quatro primeiros (outro time viria depois),
duas meninas e dois meninos,
são os que Friburgo herdou de outros ares
nos quais papai e mamãe andaram navegando suas esperanças...

Destes, três deles empatavam todo ano,
na idade e no fazer plano.
Foi o que se descobriu depois.

Jerusa, de 1961.
João Marcos, de 62
e Josué Ebenézer, de 63.
Menos de um ano entre eles
que blasonavam por poucos dias
o terem a mesma idade do mais velho.

Este foi o trio sacro que vinte anos depois
foi preparar-se para a Obra do Senhor:
Jerusa como Educadora Religiosa,
João Marcos, Ministro de Música
E Josué Ebenézer, consagrado Pastor.

Se os quatro primeiros anos de ministério
pré-friburguense
deram a papai-mamãe quatro filhos,
os quarenta anos que se seguiram
nesta franja da Serra dos Órgãos
acrescentaram outros quatro.
Nesta seqüência - agora, intercalada –
Jemima e Jason Lúcio. Júnia Cláudia e João José.
Menina e menino, numa casa onde sempre
havia um bebê para ser acarinhado.

Quão bom era morar naquela casa,
abarrotada de gente, criança pra todo lado,
correria e gritaria de folguedos intermináveis!

A gente se esbarrava no outro,
pois o índice de habitantes por metro quadrado
era de uma densidade fantástica!
Embora a Globo nunca tivesse mostrado isso...

Mas, lá se vão catorze anos, que a mais velha se foi.
Júlia, nossa querida mana, deixou-nos naquele dia.
A doença em uma semana, a consumiu.
E também nossa farra e folguedo. Nossa alegria.

Éramos dez, viramos nove.
E o que mais me comove
nesta altura de meu pensar
é que por mais que outro venha
como o Marcos Filipe, filho de Júlia,
ninguém ocupa o seu lugar.

Fica um
b
u
r
a
c
o enorme no coração da gente!

Papai gostava de nomes compostos
- talvez, porque o seu o era.
Dos oito, cinco tinham:
Todos os meninos e a mana mais nova!
Também não abria mão dos nomes bíblicos
E, diga-se de passagem,
(esta frase ele usava muito!)
ele sabia escolhê-los!

Sobre a letra “J” da família toda
- “família firi-fim-fim”
(como ele carinhosamente a chamava) –
isso é outra história que será contada outra hora.

Porque agora,
agora é hora de falar dele, que se foi,
e nos deixou na saudade...

Éramos dez,
tornamo-nos nove
e agora já somos oito.

Papai partiu

e deixou um enorme no coração da gente!
v o
a i
z

Há uma dor profunda
que só quem passa por momento como esse
pode aquilatar!

- Que dor!

- Que aperto!

A cabeça gira, o mundo rodopia...
E a gente tem que encontrar o próprio chão,
pois parece que fomos descalçados de sustentação.

Éramos dez, e agora somos oito.
Mas esta conta não é de uma matemática
simples, exata.
Ela é mais complicada.
E jamais foi sequer esboçada:
Na matemática da vida,
quando há amor,
um mais um é igual a muitos!

Foi assim lá em casa:
Papai e mamãe deram origem
a oito filhos
que multiplicaram-se em dezesseis netos.

É por isso que disse que
esta matemática é complicada
e difícil de ser explicada:
Éramos dez, dois se foram,
e embora seus lugares estejam vazios
- impossível preencher estas lacunas –
nossos corações voejam como plumas
pois a paz de Deus repousa neles.

Dez que eram.
Dois que já foram.
Dezesseis que vieram.
E a progressão é geométrica!

Isso porque no solo de suas existências
foi plantado muito amor.
E sendo Jesus deles Senhor
multiplicaram-se as experiências
e vidas foram salvas,
manhãs se fizeram alvas
ajardinando os céus de hortências
onde perfuma o Cristo nas almas.

Nova Friburgo, 23e24/12/2004(4h10m-6h26m).

PONTO FINAL

A João José Soares Filho (In Memorian)

“Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé” (Apóstolo Paulo)

Acabou.
Já não mais o terei junto a mim...

Papai, que sempre se houvera altaneiro,
gigante na árdua luta contra o mal,
passou seus últimos dias, deitado,
num leito de hospital!

Quantas recordações me vêm à mente
neste momento...
E como se não houvesse tormento,
minha mente em movimento.
Move mente e move manto
e move o mundo. Minto:
Movem-se os chãos do meu pesar!

Parece que o mundo gira
e rodopia cada nesga de esperança do meu ser.
A criança que há em mim renasce
e na roda-gigante do meu parque particular
se alteia e despenca sobre o eixo do mundo
nas recordações do passado que não quer calar.

Vejo papai chegando de viagem:
Fora participar de uma reunião da Junta.
A Convenção precisava dele e ele
emprestava seu ânimo, seu vigor,
sua firmeza doutrinária,
a esta Convenção quase centenária
que caminhava nas mãos do Senhor!

As moedas tilintavam em seus bolsos...
(Ele fazia questão de não pagar
suas pequenas contas com as moedas,
para que as pudesse distribuir a petizada
que a seu redor se aglutinava
sentindo o cheiro de cigarro
que empestava seu paletó
adquirido nos ônibus-sem-lei daqueles tempos!)

E a gente saia correndo, feliz da vida,
com o quinhão que nos cabia
e numa pipa se transformaria,
ou num carretel de linha dez,
pião, barbante, bola de gude
ou qualquer outro folguedo que mude
a rotina do dia nas moedas de papai.

Não mais ouvirei aquela voz grave dizendo:
- “Filho meu, o que faço é para o seu bem!”
E como entender tais palavras
se as vozes do mundo são mais suaves e sedutoras?
E se já naquela altura o tom monocórdio de sua fala
não mais embala meu coração?

Mas o poder de sedução de papai não advém da vida.
Não provêm da vil aparência da insana lida, descabida,
tresloucada, apelativa, de falsa aparência,
com o intuito de derrubar a santa inocência
de uma vida preservada dos males do mundo.
Seu poder de sedução vem de algo mais profundo:
Vem da autoridade da Palavra que ele abrigou na alma
e por toda a sua vida, foi-lhe bússola e palma
a guiar-lhe na geografia da existência.

Tem coisas que eu nunca vi na vida e nem sequer toquei.
Tem outras que aproximando um dia paquerei.
E outras que conhecendo com a alma mergulhei.
É que papai, junto com mamãe, nos ensinando,
a mim e meus irmãos o Caminho apontando,
abriu-nos um Céu onde quem reina é Jesus,
e onde a vida é clara, translúcida, pujante de Luz.

Os pecados miseráveis de um mundo cruel,
vícios e prazeres de amargo gosto de fel,
passaram bem longe de minha juventude!
É que papai com seu exemplo e sua atitude
nos ensinou a escolher logo cedo a boa parte:
Uma vida na dinâmica do Espírito e com arte
tecendo nas teias do tempo os arremates do amor!

Agora que ele se foi, só me resta agradecer
a Deus por ter-me dado um pai com quem aprender
as verdades divinas que me aquecem o coração.
E que eu possa em minha vida, por todos os meus dias,
diante dos dias quentes, enfrentando as noites frias,
aquentar-me com sua fé, tendo a Cristo por Razão.

Nova Friburgo, 22/12/2004(7h23m).

terça-feira, janeiro 01, 2008

EU SÓ PEÇO A DEUS

A João José Soares Filho

1

Eu só peço a Deus
que livre meu pai da dor e do sofrer!

Saí do hospital ainda há pouco
e trago comigo as marcas
de uma noite mal passada
e de um corpo que caminha esperanças
pelas ruas de Friburgo;
sem atrativos para ser saboreado por ninguém!

São dias inseguros esses...
E quem me veja neste estado -
Inexpressivo estado de olhar que se perde no horizonte! -
Rosto amarrotado;
caminhar cambaleante;
haveria de me preferir escondido atrás de um monte
- sejam essas milenares
formações rochosas de minha terra;
- sejam monturos fabricados pelo homem.
Monturos de qualquer coisa
que me escondam de mim mesmo.

Mas, talvez, uma boa alma,
um alguém que me encontre assim desprevenido,
me queira diferente
e me conduza para junto de uma fonte:
Desconcertante
e inesgotável Fonte
que num instante
me tire detrás do monte.

- E jorre sobre mim as águas da esperança!

Porém, nestes inseguros dias:
Em que noites se passam em claro
e dias se fazem trevas.

- Não sei!

Não sei se Deus tem uma jorrança,
qualquer rescaldo de esperança,
por isso clamo por gotas.
- As gotas de sua presença!

Se puder sentir Deus se aproximar
E respingar sobre mim:


As
Gotas,
suaves gotas,
molhadas gotas,
refrescantes gotas.
As cristalinas gotas
que caindo sobre as
desesperanças de
meu ser, atuem
fortemente
para a
paz!


Acalmar-me-ei!

Preciso das gotas
de um líquido puro
de um líquido vital
que me restaurem o sentido da vida
e me tragam de novo o brilho da existência!

Nestes dias tão inseguros,
ao ver meu pai assim:
Tão só,
tão impotente
naquele leito que queria fosse meu...

Eu só peço a Deus
um pouco de misericórdia!


2

Eu só peço a Deus
que dê condições a meu pai de suportar o que lhe cabe.

Já estou cá na lida,
nos embates da vida
e sua caminhada pra frente,
para o amanhã,
pois a vida não pertence a si mesma
nem anda para trás!

Mas eu peço a Deus,
sim, eu só peço a Deus:
Se não for possível tirar-lhe a dor;
aliviar-lhe o sofrimento;
Se não for possível livrá-lo do mal;
fazê-lo suportar o tormento.

E fico eu matutando comigo,
tentando imaginar que cota de sacrifício
ainda se exigirá dele
já nesta idade
quando o vigor da mocidade
de há muito passa longe de seus músculos!
Fragilizados músculos
que se largam dançantes
sustentados pelas peles,
acobertando ossos que doem,
que se esboroam, esfarelando-se
na cruel doença
que
consome
a vida
e a força
da vida
e
muitas
vezes
a crença!


Mas, Senhor!
Nestes dias tão tenebrosos:
De ver meu pai assim
tão assim,
indescritivelmente assim!

Tão largado,
no leito da dor,
da cruel espera,
de uma quimera
que, quem dera!,
pudesse aparecer
pondo um fim ao seu sofrer.

A gente ali presente:
Mamãe tão doentinha,
alquebrada,
mas cumprindo a sua missão de adjutora.
Meus irmãos, todos nós, cumprindo a nossa parte
de se fazer presente,
de assisti-lo.
Mas, mesmo assim:
A dor é dele, meus queridos!
É ele que sente, entende?
É nele que dói, que rói e corrói
este câncer maldito que se instalou sem avisar!
Não sei quem inventou esta ambivalência: maligno / benigno!
- Coisa ruim é sempre má!

Se ele tem que atravessar esse deserto
faça de nossa presença junto ao leito do hospital
um oásis reparador e refrescante,
um oásis restaurador e repousante,
em meio ao seu sofrer!

Eu só peço a Deus
um pouco de alívio para papai!

3

Eu só peço a Deus
que preserve a fé de meu pai por todos os seus dias!
A gente vai para o hospital levar conforto e carinho
Mas a gente sai do hospital abastecido de conforto e carinho.

A gente sabe que ele está sofrendo...
Mas não há murmúrios,
sequer desesperos.
Não há gritos, somente interjeições,
quando a dor é tamanha,
quase impossível de suportar!

- “Ah! Aaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh!”

E quando presenciamos este desabafo da dor,
uma pontada forte espeta nossa alma.
Se fosse possível
sofreríamos por ele;
Se fosse possível
deitaríamos naquele leito no lugar dele;
Se fosse possível
até a doença assumiríamos em seu lugar.

- “Ai, meu Pai!”

Ele exclama sentido!

Papai deve estar sofrendo muito.
Que dor lancinante rasga-lhe o corpo
E oblitera a alma?

Meu Deus!
Como é finito o ser humano.
Como somos limitados por nossa própria condição.
Não fora a mensagem do Evangelho,
não fora o resgate do Cristo,
A cruz.
O túmulo.
A ressurreição.

Onde a vitória sobre a maior de todas as nossas inimigas?

É no teu Cristo, ó Deus, que repousa a nossa esperança.
Por isso, oh Pai amado!
No leito de meu pai repousa a tua paz!
Nas dores que ele sente,
sê o bálsamo aliviador!
Nos momentos de vazio,
escuridão e
sofrimento.
Sê tu presente e preenche a vida dele.
Acerca-o de luz e ilumina com dulçor.
Conforta-o com o Espírito,
produza nele alento.

Não permitas que o desespero
de uma dor não assimilada;
Ou as batidas insanas da alma,
cada uma martelada,

Firam seu coração,
maculem sua fé,
aniquilem a esperança,
_ Oh, Jesus de Nazaré!

Eu só peço nesse momento,
quando a fé está ao relento,
e o frio é cortante:

Fortaleça o seu coração,
este coração de gente!
Preencha-o da emoção
de na terra ser um crente!

Para que mesmo na dor,
num leito de hospital,
meu pai de história bonita,
estrada de minha vida,
suporte a todo o mal,
e viva por seu amor!

Eu só peço a Deus
um pouco de ternura e a preservação da fé!

Nova Friburgo, 07/12/2004(13h28m).

TEU CORPO

Teu corpo
é um amontoado
de letras
serpenteando
por entre as brumas
de uma manhã ignóbil.

Teu corpo
é um emaranhado
de palavras
deslocando
os ventos frios
que invadem o pensar.

Teu corpo
é um aglomerado
de frases
ricocheteando
os sonhos frementes
de insones noites de verão.

Teu corpo
é o tamanho do
sentimento
que minha escrita
empresta ágil
aos meus dias sem sol.

Teu corpo
é o contorno enigmático
de um poema
que meus olhos
moldam hipnotizados
na expressão do amar.

Teu corpo
é, um texto curto e lindo:
redondilhas de amor!

Que mais direi?

Teu corpo são
palavras aglutinadas
no monte da sabedoria,
escolhidas dentre as lapidadas
pelo tempo, ao sabor do vento
de meu coração sonhador!

Nova Friburgo, 04/12/2004(22h37m).

SONETO MUSICAL

Quando uma criança chora o leite que não tem
A vida toca uma canção em dó lamurioso.
Mas quando o sono se repete em sonho que não vem.
Mudar e arrepender é canção em ré majestoso!

E nesse instante de voltar a mim; introspecção.
Ouço um acorde em mi que só eu posso decifrar.
E sou tomado por uma busca de satisfação
Que a canção em fá me faz pronto demonstrar.

Da vida, busco o encanto nos braços da melodia.
O brilho, em sol maior, para o espanto não mais ter.
Aqui ou acolá, quero o raiar de um novo dia.

Toco um lá, bem arpejado, nesta ânsia de viver.
Aí descubro que na vida, sendo um ser que é social
Preciso cantar a canção em si para todo meu igual.

Niterói, 23/11/2004(7h45m).

SONETO MÍNIMO COM CHEIRO

Quando te vi
Ao longo da via
Surpreendi
A todos que via.

Disse bem alto
Que era o amor
Que de assalto
Trouxe frescor.

Pois ao te ver
Lembrei-me logo
Do teu perfume.

E me envolver,
A Deus eu rogo.
Subir ao cume.

Niterói, 23/11/2004(6h43m).

SONETO MINIMAMENTE EXISTENTE

O sol, o fá;
Uma canção.
E no sofá
A emoção.

O Eu e Tu;
Uns encontros.
Como tatu
Há espantos.

Construir o nós
Não mais a sós:
Investimento!

Canção ecoa
A gente à toa:
Divertimento!

Niterói, 23/11/2004(7h18m).

SONETO LONGO COM PESAR

Choro todas as mães que perderam seus filhos
E choro os filhos do mundo que mães já não têm.
É que filhos soltos na vida se fazem andarilhos
E mães sem filhos no colo já não são ninguém.

Onde os sinos que dobram do futuro as esperanças,
Se nas cidades o que se ouve é o som da violência?
Mães que perdidos filhos procuram nestas andanças
Pedem um pouco mais de respostas a gaia ciência.

Por isso nas lágrimas de mães vitimadas pela dor
E no brilho translúcido de crias, miragens do amor,
Quero novamente dos homens sonhar sua bonança.

Em meio a angustiados gestos de mãos em desespero
Quero vislumbrar da vida as mães que com tempero
Tornarão a viver em paz no sorriso de sua criança!

Niterói, 23/11/2004(7h03m).

SONETO BREVE COM EMOÇÃO

Nossos caminhos
Se entrecruzaram
Entre os espinhos
Que rosas cheiram.

Senti as dores,
Cada espetada.
Mas aos humores
Não houve nada.

Então, subindo
A estrada da vida
Fui descobrindo:

Amar é belo!
E um grande anelo
Infunde à lida!

Niterói, 23/11/2004(6h49m).

HOJE É O DIA

Tem dia pra tudo
e dias pra todos.
Tem dia pra mudo,
e dia pra surdo,
e dia pros bobos.

Tem dia de sol
e dia de chuva.
Mas sem arrebol
a mão com luva
não chupa uva.

Tem dia de choro
de suor e luta
e muito trabalho.
E dia sem decoro,
jogando baralho.

Tem dia de riso
e bom gargalhar!
Mas dia de pranto
causando espanto
e muito chorar!

Tem dia de férias
passeio no mar
e água de coco.
É bom descansar
senão fico louco.

Mas hoje é seu dia
de tudo um pouco
e sempre muito mais!
Você esparge alegria
e infunde a paz!

Seu dia Katinha
é um dia de sabor:
Quem sabe pinha,
morango ou caju,
quem sabe amor!

Parabéns, minha linda
pelo seu dia de festa!
Alegria mais que esta
de uma graça infinda
lhe apareça na testa.

Hoje é o seu dia
Você existe! É tudo!
Com a sua simpatia
e eu por seu escudo
Ganharemos o mundo!

Nova Friburgo, 22/11/2004(6h58m).

SOPRO

Num instante o nosso encontro se deu.
E a gente olhando para o infinito
Percebe nuvens voando sonhos e
Apalpando ventos;
Bafejando hálitos de vida em nosso amor!

E no sopro forte que bateu em minha face
Senti materializarem-se neste rosto
Flocos de esperança e gotas de alegria,
Tal como o hálito da manhã
Gotejando orvalho sobre a relva fecundada.

Foi um instante mágico como o amanhecer.
Raiava em mim um tempo de novidade
Que sua vida emprestava a esta carcaça
Cansada da existência...
E me entreguei por inteiro ao sonho!

Com os olhos fechados me permiti flutuar.
Queria eternizar as sensações do sopro
Em minha face resplandecente.
Era seu rosto lindo, como de Musa,
E seus lábios pespegando-me um beijo!

Nova Friburgo, 18/11/2004(11h03m).

KATINHA

Minha Katinha, Katinha,
Tu és grande inspiração
Tu és a dona de mim
A dona do meu coração.
Faceira, alegre, rainha,
Perfumada de jasmim.

No quarto estás solitária
Estirada em nossa cama
Em lençol cheio de flores
Como se ouvisse uma ária.
E meu coração que te ama
Deseja os teus amores.

Ingênua, solta e leve.
És meiga e também doce.
Recostada na almofada
Suave qual floco de neve.
E como se a ti fosse
Minha’lma viaja alada.

Minha Katinha, Katinha,
Na cama estás a deitar
O lençol em desalinho
Meu coração faz sonhar.
E vendo-te ali tão sozinha
Anseio por teu carinho.

Teu belo corpo, despojado.
À beira daquela janela.
Cortina branca flutuante
Moldura a formar uma tela.
E o sol que refulge ao lado
Realça o quanto és bela!

Minha Katinha, Katinha,
Tu estás de braços abertos.
Mão ligeiramente caída,
Sobre ombro já se aninha.
E eu com sonhos despertos
Em ti busco acolhida.

Deitada com pés na cama;
O equilíbrio sobre os dedos
Suaves tocando o colchão.
És garça, flutuas, e a chama
Consome, de mim, os medos;
Faíscas de grande paixão.

Nosso quarto em penumbra
Ali tu és facho de luz,
Com cabelos pretos e ondas.
Tu espantas qualquer sombra
E meus sonhos já conduz
Ao amor que em silêncio sondas.

Minha Katinha, Katinha,
Rostinho meigo e suave
Com ar dengoso e mistério.
A vontade que era minha
Viaja em asas qual de ave
Para um plano bem etéreo.

Nariz de entalhe perfeito;
Lábios belos, sensuais:
Um convite para o beijo.
E eu não vejo outro jeito
Para aplacar os meus ais
Senão dos lábios o arpejo.

Nem tu sabes, Katinha
Como te achei tão linda
Vestida como rainha.
Teu corpo largado na cama
E meu olhar que não finda
Pois meu ser inteiro te ama!

Katinha, pequena sereia
Tu és a rosa tão bela,
Jardim que se abre em flor.
Castelos que não são de areia
Num corpo de linda donzela
Um convite para o amor.

Katinha, minha Katinha.
Ligeiramente largada
Entrevendo uma espera.
Minha solidão já definha
Pois és a mulher amada
Que me leva a nova era.

Nova Friburgo, 29/10/2004(21h42m).

EXPERIMENTAÇÃO

“frase: um enxame de palavras
um derrame de lavas
um arame nas travas.
uma irritação
uma emoção.
um filete de água
nos sulcos da vida.
um filete de mágoa
nas costas do mundo.
palavras sem rumo; despedida!
e
o enxame disperso no verso
queixume
de alguém sem ninguém
que sobe, do monte, seu cume.”

Nova Friburgo, 29/10/2004(8h43m).

A VEREDA DO JUSTO

“Mas a vereda do justo é como a luz da aurora,
que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4.18).


A Ana Guimarães

Desde cedo,
compreendemos a vida
e sua caminhada
de ir mais a frente.
Procuramos
nos acostumar
além da vereda
que equilibra a gente.
Puxamos nuvens
pelas mãos.
A caminhada tão terrena
que era um sonho;
um bando
de aves soltas no pensamento.
A vereda da vida,
ao lume incerto, tamanho.
naquele momento.

Desde cedo,
aprendemos também
da vida os seus encaixes.
E como um salmo bíblico
descobrimos que
: ou somos justos ou ímpios!
Somos ou seremos.
A depender das tábuas
s o l t a s
que juntarmos para
a construção desse edifício.
E aí construímos
a nossa vereda,
a vereda do justo.
Da vida, mais que caminho,
pés firmes sobre o
chão da história!

E caminhamos
nossa vereda.
Esta senda apertada
por onde cabe a gente
e mais alguns que
a gente trouxer para o
rebanho.
E ali vemos
cavalo voar e
galopes soltos na noite
transformarem-se
em batidas do bumbo da vitória.
A força do corcel
na vereda de nossa vida
aponta para a manhã de luz!
Se o corcel era de lenda
nossos sonhos, sedução!

Na mente, a vontade
imensa de marcar diferença!
A opção da justiça
pode não ser da maioria
mas é ela que nos
faz sonhar, acreditar,
num mundo melhor.
Por isso a vereda do justo
em busca da luz da aurora.
Essa aurora boreal
de nossas vidas
que marca, de pecados,
despedidas,
e aponta novos caminhos.
Veredas de justiça e amor.
O iluminar das áreas de sombra
trazendo sua divina luz.

E enquanto
caminhamos o horizonte:
seus segredos e mistérios,
pomos na vereda da vida
nossa sorte.
A luz rosicler
marca o começo
desse lindo dia
:o Dia da Justiça.
E a intensidade
dessa luz
enche nossa vida de
alegria.
Ao ponto de
suportamos a própria carga
e levarmos algumas
dos outros.

A vereda do justo,
e sua luz de aurora fulgurante,
vai brilhando cada vez mais e mais...
E tem infância, e pubescência.
E tem juventude e maturidade.
E tem velhice e terceira idade.
E quando se vive, realmente,
a vereda do justo;
a intensidade dessa vida,
e a paz dessa despedida,
nos leva ao Dia Perfeito:
da ausência de dores
sofreres e dissabores.
Ao encontro de Deus,
o Dia Perfeito da vida.
Estrada da santificação,
presença de Deus no coração.

Nova Friburgo, 28/10/2004(11h27m).