quarta-feira, novembro 14, 2007

O BARBEIRO DO CALIFÓRNIA

Para Édson Linhares

Com a navalha na mão e um brilho no olhar
O barbeiro trabalha, silente, a espreitar:
O cliente que chega, a criança rebelde,
A mãe que repreende o filho travesso.
E ele seguro, da profissão hereditária,
Põe abaixo os pelos do rapaz em máquina zero...

O olhar no espelho acompanha a desbastada.
Interrogação.
Quem é este que surge além do corte?

O barbeiro do Califórnia fala pouco.
Frases interjetivas,
Confirmações do assombro do cliente...

Com a navalha na mão, aos retoques finais,
Ele se lança ante olhares assustados...
Contemplo seu trabalho meticuloso
Percebo que está chegando minha vez:
1, 2, 3, 4,
Clientes antes de mim.
Afinal, foram duas horas de espera.
Tesoura.
Na mão, a navalha intercala com a tesoura.
E tem também o pente, a escova, o...

Minha vez está chegando!
Descubro-me meio triste ante a cena:
Sou paciente!
Sim, sou paciente!
Submeter-me-ei aos caprichos do destino,
À ética profissional;
Aos atributos da estética de ocasião
Do barbeiro do Califórnia.

Fará barba e cabelo
Dará os retoques em meu pelo
Sairei mais leve daquele salão.
E lembrarei que a vida
Essa vida de sábado brasileiro
É mais que uma ilha,
É um arquipélago de emoções,
Vivências e relações.
De cuja estória ebúrnea
Manterei na memória
Pois não posso esquecer,
Nem deixar fenecer,
O barbeiro do Jardim Califórnia...

Nova Friburgo, 13/03/2004 (12h35m).

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