Tarde. Finda o dia grande
longo e denso como o céu
mas presente na memória
as carências de um réu.
Réu da vida e da desdita
de nascer sem ter lugar
de nascer sem ter a sorte
de um lar para morar.
Volta o tempo e volta o sol
ao crepúsculo que o deu
como luz de um recomeço
de um jeito que é só seu.
Mas o homem fadigado
ao casebre que o recebe
escora a vida e a fadiga
sujo, tenso, amofinado.
Sem um banho e sem amor
sem alguém pra palrear
larga-se forte na cadeira
não tem força pra chorar.
Ergue o braço e pega a faca
traz pra junto do seu corpo
busca o pão mas a desgraça
se aproxima pouco-a-pouco.
Busca a luz, já foi cortada
acende a vela e o lampião
que ilumina o aço inox
sem manteiga para o pão.
Cumpre o gesto e o ritual
pelo pão duro e sofrido
passa a faca e neste gesto
de um sonho não cumprido:
Faz da vida um arremedo
de esperança e de loucura
de estar sempre a procura
do abandono de seu medo.
Mas o meio em que ele vive
mais suas pobres condições
já o empurram para baixo e
pra bem longe as emoções.
E o homem de tão carente
não tendo a quem recorrer
já desaprendeu a sorrir e
não lhe interessa o viver.
Não sabe se volta à enxada
não sabe se faxina a praça
se apruma e recupera a jornada
ou então se comete trapaça.
E de tanta dúvida este homem
mais perdido que um ente cego
por dentro todo já se consome
sem surpresas perdendo o ego.
Perdendo, e assistindo sua vida
esvair-se como água em torneira
sucumbindo feio em pasmaceira
de fazer chorar sua triste lida.
Vai dormir qual trapo o pobre ser
homem sofrido e na vida largado
deixa-se cair no catre sem saber
se no outro dia estará acordado.
Nova Friburgo, 10h15m (08/11/2000)
quinta-feira, novembro 08, 2007
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