quarta-feira, novembro 14, 2007

CONFISSÕES

Sempre dizer pra ti! Sempre dizer um som,
Amor! De um só amor! Tu, esperando o tom,
Suave! E em minha voz teus ouvidos atentos,
Aumentando a atenção, expulsando ventos...

E num dia lindo! De um sol lindo! Teu rosto a ver
Reluzente, no esplendor da juventude, perceber:
Anjos voando soltos nas asas da emoção.
Que palpita dos reflexos de teu coração.

Estrelas saltando! Teu olhar abastecendo o céu
De brilho, faz sorrir o filho, animar o réu.
Tão linda que és, tão linda a refletir.
Raios de esperança num simples existir.

E aqui dentro do peito, magnetizado amor!
Ante semblante cálido, paixão rascante,
Seja o que for! Espero-te, amada amante.
E sei que darei um jeito de expulsar a dor!

Nós dois... E, entre a gente, esta forte ausência!
Provocando emoções, a desejar clemência,
Eliminar os espaços, diminuir distância.
Entre corpos que abrigam coração em ânsia.

Eu, com a emoção brotando a flor da pele.
Os ruídos impeditivos minha alma repele.
Então, digo suave, edulcorado canto:
- Te amo! Linda musa, meu acalanto!

Nova Friburgo, 29/04/2004 (7h05m).

O CHAMADO

A Cleir Gonçalves dos Santos

Uma voz. De onde vem?
O pequeno Samuel não sabe.
É diferente, soa grave, forte.
E o discurso que contém
É conteúdo que não cabe
Num coração em corte.

Sangra. A dor é grande.
A voz que fala conclama
Tímpanos não acostumados...
A emoção no imo expande
E no pequeno ser a chama
Arde. Conceitos abalados.

A voz o chama pelo nome
E ele a sente bem audível
Naquele leito revolvido.
O menino, de Deus tem fome.
Sonha o sonho que é possível
No peito arqueado, comovido.

A voz é repetitiva, faz eco.
Ouve-a chamar de novo
E Samuel pensa que é Eli.
Sente aperto com o repeteco
Mas sabe que para o renovo
Precisa dizer: “Eis-me aqui!”

E o homem de Deus orienta:
“Volta ao silêncio da comunhão
E quando ouvires a voz a falar
Diga: Fala Senhor!” Tenta!
É melhor não andar na contramão
Quando a voz de Deus chamar.

Então, se submete tranqüilo,
Esperando um Deus pessoal
Relacionar-se com a Criação.
Sem entender direito aquilo
Parte em busca de um ideal
Que acalenta em seu coração.

Friburgo, 20/03/2004 (21h30m).

ORGULHO FERIDO

Para Fábio Costa

“Que é o homem para que te lembres dele?”
Indaga o texto sagrado, diante da vida vã.
E a gente passa por este mundo, moribundo,
Achando que é dono de tudo, do amanhã.
Mas Deus com seu jeito diferente, sábio,
Açoita nosso eu e faz bater forte o peito
Na moldura de uma lágrima, que insiste em não cair,
Tiritando frágil nos cílios da dor.
E o coração dorido, fraturado,
Encolhe-se na amargura do eu ferido
Destruído, pelo próprio amor!

Ah, existência! Como achar que é bela a vida,
Se nem tudo acontece como sonhamos?
Que lição Deus quer ensinar dessa lida
Se por tudo, e em tudo, dela apanhamos?
Mas é preciso descer do insano pedestal
Para onde subimos sem Deus no coração
E como isto impõe sobre a gente grande mal,
Pois nos iludimos com a altura da sensação:
Inglória, profana, abstrata, irreal.
Pensamos ter poder e força, porém os vermes interiores
Nos consomem lépidos, gemendo e arrotando,
Podridões dos escarros de nossos pecados.

É melhor apanhar de Deus do que da vida
Pois o quebrantar dos corações diante do Pai
É trajetória de esperança e vitória.
Enquanto a vida, com seus desassossegos,
Escreve em nossa carne, outra história,
Deus vai pegando os lugares rasgados,
Remendados por nós mesmos, ao sabor da dor.
E vai costurando, consertando, amalgamando,
De tal forma que onde havia cratera, vulcão e lava,
Agora tem a cura pela sua Palavra
Tem o bálsamo do seu grande amor.

Nova Friburgo, 13/03/2004 (6h15m).

O BARBEIRO DO CALIFÓRNIA

Para Édson Linhares

Com a navalha na mão e um brilho no olhar
O barbeiro trabalha, silente, a espreitar:
O cliente que chega, a criança rebelde,
A mãe que repreende o filho travesso.
E ele seguro, da profissão hereditária,
Põe abaixo os pelos do rapaz em máquina zero...

O olhar no espelho acompanha a desbastada.
Interrogação.
Quem é este que surge além do corte?

O barbeiro do Califórnia fala pouco.
Frases interjetivas,
Confirmações do assombro do cliente...

Com a navalha na mão, aos retoques finais,
Ele se lança ante olhares assustados...
Contemplo seu trabalho meticuloso
Percebo que está chegando minha vez:
1, 2, 3, 4,
Clientes antes de mim.
Afinal, foram duas horas de espera.
Tesoura.
Na mão, a navalha intercala com a tesoura.
E tem também o pente, a escova, o...

Minha vez está chegando!
Descubro-me meio triste ante a cena:
Sou paciente!
Sim, sou paciente!
Submeter-me-ei aos caprichos do destino,
À ética profissional;
Aos atributos da estética de ocasião
Do barbeiro do Califórnia.

Fará barba e cabelo
Dará os retoques em meu pelo
Sairei mais leve daquele salão.
E lembrarei que a vida
Essa vida de sábado brasileiro
É mais que uma ilha,
É um arquipélago de emoções,
Vivências e relações.
De cuja estória ebúrnea
Manterei na memória
Pois não posso esquecer,
Nem deixar fenecer,
O barbeiro do Jardim Califórnia...

Nova Friburgo, 13/03/2004 (12h35m).

INSTANTE POÉTICO

Fui tomado por forte sentimento
Em instante angélico de vida.
Instado a captar num só momento
Toda a poesia de forma resumida.

Queria apreender num só segundo
A força da beleza numa palavra.
Fazer do poema todo meu mundo
Da alegria e destreza, minha lavra.

Mas como traduzir toda a emoção
De quando a poesia em nós se instala?
Dei amplas asas a fértil imaginação
E movimento intenso à minha fala.

Pensei no lindo vôo do beija-flor
E suas vibrantes acrobacias aéreas
No equilíbrio da cena, um esplendor!
Divaguei por viagens mui etéreas.

Imagem recorrente, em minha mente,
Do pequeno pássaro, belo colibri.
Fez-se plena, congelada, renitente,
Que da alma, a poesia, logo abri.

Ah, mas a vida tem outras poesias:
Tem o mar, o sol, as estrelas e a lua.
Tem amor passeando em outras vias
E meninos com folguedos pela rua.

O instante poético é permanente
Brota dentro do peito e arrebata
O fôlego que inspira o ser da gente
E nos leva aos páramos da ribalta.

É por isso que é difícil esta foto
Do instante poético na retina.
Ao poeta não resta outro moto
Que a vida, linda vida, e sua sina.

O poeta percebe em tudo poesia:
No sorriso, na criança, também na flor.
Forte emoção que sua alma arrepia
Que importa se é branco, se tem cor?

Mas o poeta ainda tem tarefa
Mais difícil que o fazer poético:
Do trigo dourado, servir um efa
Ao leitor que se mostra cético.

O que o poeta conseguiu enxergar
Com os olhos da inspiração
Aos leitores ele quer passar
Como presente de seu coração.

Nova Friburgo, 13/03/2004 (11h35m).

EU

Eu sou aquele que no mundo sonha
Eu sou aquele que não espera o luar
Estou entre os que a vida acompanha
Abrindo as janelas para a lua entrar.

Então, sou irmão do Sonho e o busco
Com intensidade de fazer mudança.
Não me assusto com o lusco-fusco
Pois nele me fio para minha andança.

Em noite estrelada ou de vil negror
Na terra molhada, tempestade ou calor.
Das névoas me afirmo, ali estou eu.
A luz que me inspira, me leva ao céu.

Eu que me encontro no sereno da manhã
Nas folhas orvalhadas de florido jardim.
Vislumbro as cores de um novo amanhã
Que a natureza, suave, faz brotar em mim.

Sou alguém, então, a passar pelo mundo.
Porta-voz, arauto, de um canto de paz.
Espargindo fé, um sentido mais profundo,
Que a esperança em mim para todos traz.

E no dia derradeiro, de minha estada aqui,
A mensagem última, em letras amarelas,
Esteja em forma de epitáfio, junto a mim:
“Foi alguém que sonhou com as estrelas!”

Nova Friburgo, 13/03/2004 (5h51m).

SENTIDO

Existo porque o eu em mim insiste
Em pensar como um filósofo.
Cogito, mas ai da existência,
A caber numa caixa-de-fósforos.

Dos sonhos, não mais que nuvens,
Penumbras do coração febril.
Batimentos, alegorias pulsantes,
Nas ante-salas do Hospital.

Da vida, corpo insano a devir.
Artérias das cidades do eu.
Viagens, nas profundezas do ser.
Aproximações emocionadas.

Do futuro, sabenças e não crenças.
Escaramuças desarticuladas.
Arrepios, embatucados nas dermes,
Expressões difusas na pele ensolarada.

Da continuidade, esperma sobre a terra,
Germinando a existência do amanhã.
Seivas férteis, no solo eclipsado.
Que se abre para o riso do Sol.

Nova Friburgo, 08/03/2004 (10h30m).

BASTANTE MULHER!

Nascer, aparecer neste mundo,
Saber-se um ser em formação
Brincar, sorrir, respirar fundo,
Descobrir-se poema e canção.
Quem recitará para os montes,
As estrofes da vida, o amor?
Tu, mulher, água das fontes,
Seiva, perfume, pétala e flor.

Crescer, andar, aprumar-se,
No espelho da vida descobrir:
É melhor, pra todos, doar-se.
Pois tens o dom de repartir...
Encarar qualquer realidade
Perceber-se sonho de mulher
E nos anos sutis da mocidade
Abraçar o que a vida lhe der.

Inteirar-se de árido mundo,
Ambivalente, até traiçoeiro.
Buscando sentido profundo
Forjando humor seresteiro.
Pra encarar difícil desdita,
Machismos incontroláveis,
A mulher na vida restrita
Supera em tons amigáveis.

Vencer qualquer preconceito,
Sentimentos que impõem dor,
Construindo, fazendo direito,
Os detalhes pintados de amor.
No lar, a mulher tão presente,
Preenche os espaços da vida.
Que se um dia tornar-se ausente
Será hora de fazer despedida.

Tu mulher, és luta em pessoa!
Heroína de romances vivenciais.
Enfrentando a práxis numa boa
Sublimando da vida os seus ais.
E assim, tu constróis a família,
Este instituto criado por Deus.
E na vida vencendo a porfia
Alimenta o caminho dos céus.

Se um dia, no meio dos sonhos,
No meio da vida, da luta, do ser.
Perguntar em contornos medonhos
Que faço aqui, que é ser mulher?
Não esqueças que nobre missão
Abraçastes sem mesmo perceber.
Nela pusestes o teu coração
E importa ser bastante mulher!

Nova Friburgo, 07/03/2004 (7h30m).

Espantos

A Aliazibe Guimarães Silva

Não tem jeito! Somos concorrentes do tempo...
Sopra o vento, e a gente sente o frio que teima em vir.
Mas não é o frio que assusta mais; nem o vento. É o espanto!
O espanto do tempo que passa; nem tanto do que já foi.
Este a gente viveu... E, modéstia às favas, bem!
Com Deus. Com a família. Com a Igreja.

Mas o tempo pra frente...
Ah, este anda ficando cada vez mais curto.
E se isso assusta? Sim, um pouco!
Nem tanto pelo que ainda há de vir, advir...
Pois nossas vidas estão nas mãos do Pai.
Mas, pelo que já foi sonhado e ainda não se concretizou...
Porque sonho sonhado é sonho existente,
Mesmo que ainda não realizado.

Então, teimamos em materializar nossos sonhos,
Como se não fôssemos, sem o que ainda é matéria de devaneios...
Ah, mas quem manda sonhar?! Reclamariam os opositores...
Mas sonhar é bom e alegra a vida.
E tem mais: Nós somos teimosos mesmo!
Insistimos em querer realizar;
Em ir mais além do medíocre;
Em fazer o melhor; buscar o belo;
E até em rir da nossa teimosia...
Só não nos contentamos em não buscar,
Em ficar sem alcançar a melodia mais linda
Através das notas que harmonizam a existência...

E o vento insiste em bater em nossas frontes cansadas.
Ainda bem!
Pois enquanto pudermos senti-lo, haverá vida;
E enquanto houver vento haverá poesia:
Principalmente com o vento que sopra dentro...

O vento que sopra na face é suave,
Gostoso e musical!
Esparge notas de emoções em nosso rosto.
Mas o vento que sopra dentro bate no coração,
E passeia pela alma. Esse é celestial!
E espalha suaves melodias de amor, em nosso íntimo.
Que alimentam a poesia;
Fabricam os sonhos;
E nos transportam aos páramos
Distantes, onde o Sol brilha mais forte,
E a gente se aquece de amor.
É o amor de Deus...

Podemos, então, ir ao encontro do Amanhã!

Nova Friburgo, 02/03/2004 (17h20m).

QUE SERÁ DESTA MENINA?

"Quem será pois este menino? (Lc 1.66)

Um dia ganhei lindo presente,
Do mais belo que se possa ter.
Veio em forma de menina,
Frágil ser que me ilumina,
Com sorrisos, alvos, de neve,
Em olhar, de luz, que aquece.
E já não tenho em mente
Fórmula ideal pra agradecer.

É que quem assim se torna
Objeto de bênção tamanha.
Não contém: Alegria entorna,
E a gratidão acompanha!
Pois não há nada no mundo,
Que represente a esperança.
Nem algo mais profundo,
Que um sonho de criança!

Quão belo é a cada dia,
Senti-la no quarto a chegar.
Enquanto a mão aparecia
Na porta, e a voz a falar:
“Papai, faz mamadeira!”
Olhando a filha que é minha
Que no meu colo se aninha
Abandono a pasmaceira.

O sonho da minha pequena:
Um passeio à beira-mar.
Pede pouco a morena:
A praia, a areia, o sonhar...
Brinquedo, boneca e bala,
Trazem-lhe satisfação!
São mimos que a vida embala,
Nas voltas de seu coração.

Mas eu, como pai, tão coruja:
Que ama, se alegra e sorri...
Da vida, a incerteza, intruja,
Que aparece por aqui.
Pergunta em tom reticente:
“Que será desta menina?”
E suplica, ao Pai, clemente:
O mal de sua vida elimina!

Niterói, 27/02/2004 (12h05m).

ORAÇÃO

Nesta manhã cinzenta,
Após chuva de verão.
Minh’alma está sedenta,
Tomada pela emoção.
E como quem não inventa
A dor da vil solidão.
Da vida, o sofrer, lamenta,
Andando na contramão.
Te imploro, Pai, sustenta
Este triste coração.

A dor é forte, arrebenta,
As veias de irrigação,
Que a vida alimenta
Trazendo renovação.
Carne frágil, macilenta,
Meu corpo em convulsão.
Alma triste, sonolenta,
Tomada por comoção.
A Ti clama: Incrementa
Uma nova inspiração!

Diz o mundo: Experimenta!
Tudo o que vier a mão.
Em seguida, arregimenta
Da magia, uma porção.
Mas se o mundo ainda tenta
Seduzir com ilusão.
Senhor, Te peço: Alenta,
Consola, dá libertação.
A quem a ti apresenta
Esta humilde oração.

Itaboraí, 27/02/2004 (11h30m).

DÉCIMAS SUPLICANTES

Para Juliana Gomes

Pai nosso, que no céu estás,
De onde vês o solitário ser.
Que percebes o coração tão só,
Em alma sedenta de viver.
Faça em mim, tudo que lhe apraz.
Ao meu pleito considera, tenha dó.
Revigora, faça o brilho renascer.
Em minha vida que precisa de amor,
Toma conta, seja dela o Senhor,
Embora saiba não estar a merecer.

Sei, porém, em dimensionada escala,
Que preciso de ti, querido Pai.
Mesmo sem merecer teus favores,
Não abdico de ficar livre dos ais.
E se meu ser por ti implora e fala:
“Livrai-me do mal e das dores!”
Meu Deus! Atenda o meu clamor.
Preencha-me de sua graça e dulçor.
Faz com que meu ser em transe,
Em ti encontre uma nova chance.

Minha súplica a ti se volta,
Para atender um triste coração.
Sei que podes apagar a revolta
E preencher com nova emoção.
És sentido, razão, esperança,
Por isso te busco intensamente.
E nesse meu jeito de criança,
Busco o renovo d’alma e mente.
Para experimentar Tua bonança
Aqui na Terra e eternamente.

Nova Friburgo, 24/02/2004 (7h35m).

SONETO DA MONTANHA

Dedicado aos jovens do Retiro 2004 da 4ª Igreja Batista de Nova Friburgo

Bem perto deste céu que nos enleva,
Montanhas onde o verde viceja livre.
O Espírito, nosso espírito, a Deus leva.
Vento que sopra forte, e a gente vive.

Sentindo o frescor do ar puro e farto.
E os olhos a passear em cores belas.
Em natureza que co’ emoção de parto.
Dá à luz silvestres flores amarelas.

Como é bom, Deus, tão alto retiro,
Ficando mais perto de ti e tua Criação.
Onde sinto teu poder e por ti suspiro.

És razão de minha vida, fonte de amor.
Alegria infinda, toda minha inspiração.
Na flor que abre, redescubro o Senhor.

Nova Friburgo, 21/02/2004 (19h55m).

SORRISO

Tarde cai, clima de inverno, em verão.
Sua presença se faz sentir na estação.
É que surpreso, descubro você a passar.
E num relance, percebo em mim seu olhar.

Ah, que presente! Um sonho é seu sorriso.
Vindo espontâneo, sincero, feito canção.
E me atingindo, direto, em meu coração.
Eu retribuo, sorrindo, não mais que isso.

Sorriso seu, sorriso farto, bem alegre.
Algo ingênuo, maroto e meio faceiro.
Mostrando o brilho d’um olhar em febre.

E eu surpreso, pego assim de repente.
Devolvo lépido, como um canto ligeiro,
O seu sorriso, com aceno de mão e mente.

Nova Friburgo, 17/02/2004 (17h35m).

SONETO AO POETA

Que é ser poeta num país como o Brasil
Onde o cidadão não vive do trabalho?
Na briga do mercado pra romper o funil
Busca-se a sorte nas cartas do baralho.

E quer o poeta, viver de palavras,
Espírito viajor que vive a sonhar?
Nos versos eternos, pérolas das lavras,
Que ao produzir, o sustento vá buscar.

Pois ele não vive, de outra provisão.
Nem sempre o cobre sustenta o poeta
Que passa a vida com o pires na mão.

Assim este ente que é meio profeta,
Um pouco doente, um pouco penetra,
Alimenta-se dos sonhos do seu coração.

Vila Velha, 06/02/2004 (7h35m).

O POETA PRECISA

O poeta precisa do silêncio,
Para pôr ordem às suas idéias...
Nem que seja o silêncio d’alma
O poeta precisa ter calma
Para propor suas panacéias.

O poeta precisa de um sonho
Para pôr sentido ao seu viver...
Nem que seja um sonho de verão
Amor breve, de meia estação,
Que o faça das cinzas renascer.

O poeta precisa de uma musa
Que inspire forte o coração...
Nem que seja musa virtual
Mas se faça presente, atual,
E alimente nele a Canção.

Vila Velha, 06/02/2004 (8h05m).

MINHA RUA

Na rua em que eu moro
Não tem palmeiras nem índios
Não tem areia nem praia
Nem posso tomar água de coco.
Mas na rua em que eu moro
Tem minha casa e minha gente
Tem meus filhos indo pra escola
E meus sonhos viajando pra lua.

Lá na rua onde moro
Não vejo o mar beijar o céu
Neste encontro de horizontes
Provocado por meu Deus.
Mas na rua da minha casa
Vejo as montanhas de Friburgo
O verde acenando para as nuvens
Numa paquera de verão.

E na rua da minha casa
Onde moro ao pé da serra
Não há gaivota voando
Ou barquinho à beira-mar.
Mas há pardais e canários;
Goiabeiras abrindo-se em flor;
Trinados nos campanários;
E o renascer do amor.

É que na rua onde moro
Na casa que Deus me deu
Constrói-se a cada dia
Um lar, espelho do céu.
Pode faltar algo da terra
Mas o pouco que juntar
Co’a presença do Espírito
O amor irá entronizar.

Vila Velha, 05/02/2004 (18h56m).

KATIA

Seu jeito, solene, de eterna musa,
Que aos sonhos me leva em amor.
Tão lânguida, só, um tanto difusa,
Botão que se abre em bela flor.
Me faz sonhar em noite d’estrela
Desejar sentir, vontade de vê-la.
Imploro, então, suplicante, ao Senhor.

Você, uma Laura, até mesmo Beatriz.
A musa impossível dos sonhos meus.
Encantos presentes, amor por um triz,
Nos braços, afagos, somente são seus.
Amor de aquarela, de linda donzela,
Acenos na vida tão rica e tão bela.
No sonho são portas que abrem os céus.

Julieta, insuperável, de ardentes desejos.
Castelos que se fazem à beira-mar.
Amor tão seguro, sem dó e sem pejos,
Vencendo as distâncias do meu sonhar.
Defronte da praia, na areia do tempo,
Perfume espalhado ao encontro do vento
Ergue-se, benfazeja, num jeito de amar.

Isadora, minha querida, silente, ofuscada.
Um jeito imponente de ser mulher.
Distante, eloqüente, não menos amada.
É flor escolhida: um bem-me-quer!
Por isso lhe digo, mulher das hebréias,
Num tempo como este, em meio às atéias,
Jeová a entronizou: Rainha Ester.

Mas tem mais que isso, um pouco de siso,
Um pouco de ternura, você é dissimulada.
Em rosto de humor, em cara de riso,
O coração é de cigana, mas a arte é falada.
Capitu dos trópicos, dos cantos de amor,
Da Niterói cinzenta, dos campos do Senhor.
Minha alma se desprende, viaja alada.

Fluminense destas terras, das índias e Naiás
Você é minha Ceci, morena da cor da terra.
De tarde, ao sol poente, em meio a canaviais,
O amor que lhe devoto no peito se encerra.
Sonhando e caminhando, minha Iara, meu amor,
Seu cheiro e o seu perfume persigo por onde for.
Certezas do coração, gamado que nunca erra.

Ah! Musa das musas! Beleza de minha vida.
Amor que da paixão, me faz guapo sonhar.
Nos romances da moreninha, ares de atrevida,
Deixando a inocência, para ardente me amar.
Seu nome dentre todas, as musas de mil poetas,
Sibila em meus tímpanos, na voz de mil profetas:
É Katia, a musa eterna, que me faz flutuar.

Vila Velha. Comecei em 04/02/2004 (20h50m) e terminei em 05/02/2004 (7h40m).

DESALENTO

Sob a luz do luar de um terno céu
Meus olhos encontram os olhos teus
Meus dedos acenam um leve adeus
Enquanto o coração faz escarcéu.
Não posso mais viver sem teu amor
Afastar-me de ti, só traz rancor,
Mas como tocar um coração incréu?

Aos teus olhos sou um aventureiro
Que focou um dote antes de tudo
Que fisgou o mote de um sortudo
Pois na vida topa tudo por dinheiro.
E meu coração, flechado pelo amor,
Sofre em dobro, vitimado pela dor,
De alguém que viu e amou primeiro.

Vivencio, a ilusão, de num momento,
Atenuar a emoção do sofrimento
De te querer, te amar, e não te ter.
Passo os dias matutando um sentido
Extraído de meu triste ser sofrido.
Um esboço de gesto, um movimento,
Pra tornar-te a razão do meu viver.

Vila Velha, 05/02/2004 (18h33m).

KCS

No quarto de hotel, onde o vento abranda
O forte calor, de uma tarde, o verão...
Que linda é você! Frescor na varanda.
Aberta pra vida, em sonho e paixão.
Não cesse o sorriso,
A quero assim!
Tão bela, aquarela,
De um amor sem fim!

Você se movendo, de um lado pra outro,
Em passos ligeiros; medidos, pensados.
Seu corpo balança, num gesto maroto,
Meus olhos te seguem, querendo seus fados.
Não quebre a leveza,
A quero assim!
Tão bela, aquarela,
De um amor sem fim!

Seu corpo, moreno, do sol já tomado,
Transmite beleza, se faz sensual...
E então nesta hora, de encontro marcado,
Me sinto amparado, te tenho afinal.
Não fujas do sonho,
A quero assim!
Tão bela, aquarela,
De um amor sem fim!

Teus dedos dedilham, da agulha o crochê,
Agindo nervosos, na busca da forma.
Vagando em relax, só eu e você,
Das férias, o ócio, que a vida reforma.
Artesã dos meus dias,
A quero assim!
Tão bela, aquarela,
De um amor sem fim!

E nossas crianças no quarto do hotel
Alegres, felizes, curtindo a estação.
Provando gulosas; dos favos, o mel;
Da vida, a harmonia; do poeta, a canção.
Ser mãe, mais que tudo,
A quero assim!
Tão bela, aquarela,
De um amor sem fim!

Bem perto, a praia; e o vento chegando.
A maresia pressente, um sol e o mar.
Na areia do tempo, agora estou vendo.
Quão doce é você; seu jeito de amar.
Dulcíssima, amante,
A quero assim!
Tão bela, aquarela,
De um amor sem fim!

E eu, repentino, me achego bem perto.
Roçando meus lábios no rosto que é seu.
E o faço, tranqüilo, estando bem certo.
Decerto, seguro, do amor que é meu.
Amor de minha vida,
A quero assim!
Tão bela, aquarela,
De um amor sem fim!

Viajo no tempo, na história de vida,
Que juntos construímos, ao longo dos anos.
Pois tudo mudou, desde o ponto de partida,
O primeiro olhar, quando nos encontramos.
Que sejas sempre bela,
A quero assim!
Verdadeira aquarela,
Do amor que mora em mim!

E o futuro que a gente, está a construir,
Nestas peças esparsas, de um quebra-cabeça.
Promete, vistoso, um brilhante porvir,
Pedindo, solene: Que o passado, não esqueça!
Minha linda princesa,
A quero assim!
Aquarela de beleza,
Perfumada de jasmim!

Vila Velha. Comecei em 03/02/2004 (19h) e terminei em 04/02/2004 (6h15m).

AMAR

Ai, quando a vejo tão linda por perto,
Rondando os dias que lépidos vão.
Que quero mais eu, pedir, desta vida?
Farei despedida
Do resto do mundo
Meu amor profundo,
Coração!

Encerrar-me no claustro dos meus sentimentos.
Fechar-me num mundo que é só meu e seu.
Como eternizar todos esses momentos?
Andar nestes ventos?
Voar pelos sonhos?
Desejos tamanhos.
Sou eu!

Você do meu lado, sonhando acordada.
Sorrindo, sincera, somente ao me ver.
Que quero mais eu, da vida, amada?
Mulher desejada.
A mãe dos meus filhos.
A vida, nos trilhos,
Viver!

Vila Velha, em 04/02/2004 (7h30m).

Da cor da terra

Esta pele morena da cor da terra
Esta pele suave da cor do verão
É cartão de visita que sonhos encerra,
Desejo presente em forte paixão.

E você do meu lado, suspirando leve,
Sorrindo entrelábios, prenhes de amor.
Faz-me delirar, querer para breve,
Seu corpo se abrindo, um botão em flor.

E seu rosto moreno, a terra lembrando.
Estrelas brilhando em vívido olhar.
Morenice brejeira que já estou amando
E o brilho, mistério, me faz viajar.

Você com seus lábios, suaves e doces.
É como uma musa da terra Brasil:
Falando e sorrindo, se abrindo em amores,
Encanta e embala os meus sonhos mil.

Resende, 29/01/2004(17h15m).

Menina do Ônibus

Menina do ônibus.
Que bom foi te ver
já cedo, de manhã,
bem junto de mim
bem perto dos olhos
bem perto do amor.
Tão longe, porém,
se ao não conhecer
seus sonhos, seus dias,
minha vida vazia
não pode te ter.

Menina do ônibus.
Seu jeito alegre
seu jeito maroto
seu rosto em flor.
Qual brisa suave
que sopra ao vento
me traz acalento
e o mundo tão roto
de todo entregue
se enche de amor.

Menina do ônibus.
Seu rosto tão lindo
olhar tão sereno
pensar tão agudo
investiga o tempo
sonhando acordada
me sente a te ver.
Sua face rosada
seus lábios carnudos
nariz afilado
me deixa agitado
me prende a você.
Qual barco e o remo
singrando no lago
minha alma cansada
deseja te ter.

Menina do ônibus.
Não sei qual seu nome
não sei de onde veio
nem para onde vai.
Só sei que a fome
que havia em meu peito
na ânsia de amar...
Você com seu jeito,
suave e tranqüilo,
sorriso no rosto,
tão lindo a aflorar.
Saciou neste dia
me trouxe alegria
e pôs simpatia
que a ti me atrai
fazendo sonhar.

Rio de Janeiro, 8h45m (12/03/03).

Caminhos Prateados

Um menino, pequeno,
Perguntou pra sua mãe:
- Mamãe, como nasci?
Desde quando estou aqui?
A mãe, tão aturdida,
Ouve espontânea voz,
Olha pra dentro de si,
Responde um tanto a sós:
- Meu filho, esta vida
Que hoje trazes em ti;
Começou lá no passado
Quando teu pai conheci.
Você não existia,
É fruto do nosso amor.
São passados os anos,
Vinte e cinco, exatos,
E como dizem os fatos
Você com seu irmão
Compõem em nosso lar
Resposta de oração.

O menino curioso,
Querendo saber mais
Chamando a seu irmão,
mais velho e mais capaz,
pergunta sem pensar:
- Você sabe como eu
vim ao mundo, mano meu?
- Garoto, você é novo
Não sabe dessas coisas...
- Mas porque, então,
Não apareço na foto?
- Que foto, meu irmão?
O que queres dizer?
- A foto do casamento
Ou será que no momento,
Me distraí e não apareci?
O irmão coçou cabelo,
Franziu cenho e sobrolho,
Pigarreou e tergiversou:
- Nós só existimos,
Eu e você, caro mano.
Porque Deus nos amou
E para nós tem um plano!

Na pauta daqueles dois
A velha história humana:
Donde viemos, onde vamos?
Que fazemos neste mundo?
Do infante, ingênua questão:
Eu não sou desde sempre?
Tive um ponto de partida?
Um começo como gente?
Os pais observam os dois
Com os corações alegres.
Ali estão os dois frutos
De uma caminhada de prata
Que começou numa praça,
Mesmo banco, mesmo jardim.
Mas hoje, passados os anos,
Os cabelos já grisalhos,
Cantam novos passarinhos,
Velhas canções, novos hinos,
Mesmo sentimento e amor,
Envolto em muitos carinhos.

Na graça, na gratidão,
Vertendo do coração
De quem na estrada da vida
Com a alma enriquecida
Amou a mulher da mocidade
E agora, no avançar da idade
Colhe muito regozijo
Como se ao som do realejo
O sonho tornasse desejo
E a história juntos passada
Caminhos floridos de prata
No amor que surge do nada
Do sonho da mulher amada
O jovem logo descansa
E a alma a Deus se alevanta
Pois sabe que todas as coisas
Sejam boas ou mesmo ruins
Todas elas têm seus fins
Na vida de quem a Deus ama
E com sopro divino chama
Contribuem sempre pro bem.
E todo servo, submisso,
Responde sempre: Amém!

Tudo começou nuns olhares
Na troca de furtivos sonhos:
"Que moça tão linda é essa,
Princesa do meu Império,
Senhora do meu destino,
Dona do meu coração?"
E ela, por sua vez,
Exercitando a compaixão
Diz dele com muito carinho
De um coração fisgado
De todo enamorado
"Encontrei meu príncipe
meu príncipe encantado!"
Veio o namoro e o noivado
O brotar do sentimento
Dos pais, o consentimento
Para um futuro à dois.
Que eles, cheios de planos,
Não deixaram correr anos
Nem adiaram pra depois.

Chegou o casamento
Data tão especial
Em dia marcado adrede
Que eles num outubro
Florido, primaveril,
Disseram pra todo mundo,
Para Friburgo e o Brasil:
"Nascemos um para o outro
Prometemos nos amar
Até que a morte nos separe
E mesmo que em nosso lar
O nosso coração dispare
Será sempre para o outro
A alma gêmea que Deus
Pra nossa felicidade aqui
De presente concedeu!"
Com nossos filhos agora
Passados que são os anos
Formamos um ninho de amor
Onde canções tão alegres
E orações fervorosas
Representam a fé presente
Em Cristo nosso Senhor!

Josué Ebenézer (Nova Friburgo, 10,11/10/2003)

Oração pelos Quinze Anos

Para Naiara Rentes Rocha

Senhor!
A oração que deste momento de minha vida
quero extrair do mais profundo de minha’lma
como pedra preciosa até então escondida
é adoração que no espírito produz calma.
Pois sou grata a ti, meu Deus, Fonte Eterna:
de sonhos, esperanças, alegrias e vitórias,
que desde o acalanto da segurança materna
sinto até o hoje da vida e suas histórias.

Senhor!
Ainda não sei do mundo as conseqüências,
das decisões da vida no caminhar dos amanhãs.
Se no meio de tantas vis e fúteis existências
não se sabe do alvor como surgem as manhãs.
No aquecer do sol em seus raios fugidios
a esperança nascente no peito a renovar,
que será de mim se da vida nos estios
de ti não me vier um novo jeito de amar?

Senhor!
Preciso de ti, tenho plena ciência disto.
Teu amor me faz falta e eu por isto insisto.
Já não posso ir ao encontro de um futuro
com problemas mil como salto no escuro.
Trago no peito já o palpitar de um novo dia,
pensamentos povoados de sonhos e esperanças,
e minha’lma que outrora era triste e arredia,
agora parte firme a buscar novas andanças.

Senhor!
Eu agora te agradeço pelo pouco que já vivi
se contigo meus sonhos ganham asas a voar
pois diante de tua graça eu mesmo não resisti
ao teu Filho que na cruz se deu pra me salvar.
Obrigado, meu Pai, e te peço com humildade
que a partir destes quinze anos que alcancei
tu estejas presente em minha gaia mocidade
pra ser feliz contigo de um jeito que sonhei.

Nova Friburgo, 28 de abril de 2003.

Eu Não Sei / Eu Sei...

Em Memória de Marlene Machado

Eu não sei porque Marlene morreu...
Ela era boazinha, todos gostavam dela.
Ela era amiga, companheira, alegre, divertida.
Ela era dedicada, trabalhadora, esforçada.
Ela era carinhosa, resoluta, lutadora.

Eu não sei porque Marlene morreu...
Ela era filha, e nesta condição honrou a pai e mãe.
Ela era irmã, e como se alegrava no ambiente familiar.
Ela era esposa, e como amava o marido que Deus lhe dera,
Fato que testemunhei dias destes,
quando falou da felicidade de ter o Arthur junto de si.

Eu não sei porque Marlene morreu...
Ela era trabalhadora do Brasil, e nesta condição
soube cumprir os seus compromissos profissionais,
mesmo quando a enfermidade quis dominá-la
e ela teve que fazer umas sessões de fisioterapia...

Eu não sei porque Marlene morreu...
Ela era crente em Jesus Cristo, e debaixo desta bênção
testemunhava do Cristo que habitava o seu coração,
desejando vencer todos os obstáculos para ter a sua vida
no centro da vontade de Deus, e ser uma serva fiel...

Eu não sei porque Marlene morreu...
Ela era ministra de Deus e na sua Igreja mostrava todo
o entusiasmo de quem era apaixonada pelo que fazia
procurando transmitir a todos os irmãos uma paixão pela
Obra que só quem tem vocação sabe fazer,
mesmo que haja alguns que não acreditem ou não dêem valor...

Eu não sei porque Marlene morreu...
Ela tinha pelo menos dois sonhos:
O primeiro, muito difícil, sobre o qual ela lutava com Deus,
mas Deus estava lhe mostrando que não era a sua vontade,
embora ela insistisse com todas as suas forças: Queria ser mãe!

Ah, como Marlene tinha um amor maternal engasgado na garganta,
embolado no peito, aninhado no coração.
Seu sonho era ter uma criança nos braços para acalentar e
para dizer ser sua, somente sua, para todo o mundo ouvir.
Havia um grito paralisado dentro dela: SOU MÃE!
Mas o sorriso dessa felicidade não alcançada é nosso,
nós que guardaremos no coração a doce lembrança dela.

Eu não sei porque Marlene morreu...
Ela tinha pelo menos dois sonhos:
O segundo, também foi sua luta particular, cheia de obstáculos,
mas ela não entregava os pontos, e, para tanto,
depois de tanto tempo parada, sem freqüentar os bancos escolares,
voltou a estudar, ingressou no Seminário: Queria ser missionária!

Quem conheceu Marlene, nunca esquecerá desses seus dois sonhos.
Ela era passional, emotiva e, também, segura e convicta do que queria.
Desbravadora, lutou por seus ideais até o fim
e Deus a levou quando para a Igreja caminhava, trazendo no
corpo a camisa de Missões ("Sou brasileira e faço
parte da seleção que quer transformar a minha pátria!
JESUS, A ÚNICA ESPERANÇA.")
e trazendo no coração uma vontade tremenda de ver sua Igreja
abraçando definitivamente a Causa Missionária.

Eu não sei porque Marlene morreu...
A dor está sendo muito grande pela sua perda
e está sendo difícil entender a forma brutal e desumana
pela qual ela deixou este mundo.
A violência está mais perto de nós do que imaginamos e
o ser humano já perdeu totalmente o referencial divino
em sua vida, embrutecendo-se, tornando-se animalesco,
não medindo o valor de uma vida,
ou mesmo a dor dos que ficam a chorar o seu morto...

Mas, alto lá...

Eu sei porque Marlene morreu...
Ela era boazinha, todos gostavam dela.
Ela era amiga, companheira, alegre, divertida.
Ela era dedicada, trabalhadora, esforçada.
Ela era carinhosa, resoluta, lutadora.

Eu sei porque Marlene morreu...
Ela era filha, irmã, esposa
e carregava dentro de si uma paixão pela vida.
Como ela gostava de viver!

Eu sei porque Marlene morreu...
Ela era trabalhadora do Brasil, profissional,
legítima representante desta brava gente brasileira
que sofre para conquistar o seu lugar ao sol.

Eu sei porque Marlene morreu...
Ela era crente em Jesus Cristo, serva fiel,
ministra de Deus e na sua Igreja mostrava amor
pelo que fazia, fruto de sua vocação missionária...

Eu sei porque Marlene morreu...
Ela tinha pelo menos dois sonhos:
O primeiro, muito difícil, queria ser mãe!
Como ela trazia este desejo na alma!
O segundo, da mesma forma penoso, queria ser missionária!
E como lutou nas tantas vezes que o sonho tentava lhe escapar...

Sim, eu sei porque Marlene morreu...
Por tudo que disse anteriormente, sobre não saber
o porquê dela ter morrido.
Ela morreu, porque ela estava preparada,
porque Deus a chamou para ser semente,
semente que precisa brotar no coração de nós que ficamos...

Marlene foi para os braços do Pai,
porque ela era crente em Jesus Cristo, uma serva de Deus,
uma ministra de Deus, porque ela tinha sonhos e ideais no coração.
E ela morreu com seus sonhos...

Já pensou se fosse eu ou você?
Você está preparado? Você tem sonhos e ideais no coração?
Você possui uma Causa pela qual luta e da qual não abre mão de sonhar?

Marlene morreu com seus sonhos,
mas os sonhos de Marlene não morreram...
Enquanto houver uma mulher no mundo querendo ser mãe,
nos lembraremos dela...
Enquanto houver no mundo uma alma perdida,
nos lembraremos dela...
Enquanto os crentes continuarem amando, orando
e ofertando para Missões, nos lembraremos dela...
E toda vez que nascer uma criança,
Marlene estará viva!
E toda vez que alguém largar tudo pela obra missionária,
Marlene estará viva!

Pois isto significará o frutificar desta semente
que Marlene representou com sua morte...

Pr. Josué Ebenézer (13/11/2002 - 06h25m)

Volta, Drummond!

Volta, Drummond!
Vem pegar teu sobretudo.
Quem sabe não mais esqueças as flores...

Volta!
Venha despertar as flores que já morreram.
A Serra precisa de ti
para dar nova vida a cada pétala adormecida.

Volta,
teus versos trarão o retorno do perfume
aprisionado tanto tempo no sobretudo
e transformado em cheiro de morte.

Volta, Drummond!
Venha transformar
o acre cheiro da clorofila apodrecida
destas flores - esmagadas pelo tempo
contra as paredes internas do bolso do sobretudo -,
num campo de ornatos florais e cores perfumosas
como a fluidez do pensamento...
Nos tenros anos da adolescência
fostes acusado de “insubordinação mental”
e como objeção sublime te fizeste poeta.

Volta, Drummond!
Encontrarás uma Friburgo arrependida.
Venha finalmente entregar as flores
da juventude a quem de direito:
À amada que o fizera despertar
da indolência do não-amar.

Nossa cidade sente o peso
do afeto interrompido.
Não queremos mais ser culpados
do rompimento dos laços
que o entrelaçam à amada poesia.
Podes compor
podes sonhar,
podes cantar.

Não apenas no Maio que viu a tua
“Onda” surgir na casa dos dezesseis.
Mas em todos os meses e estações
que te provocarem inspiração,
sobretudo, o inverno!
Queremos protegê-lo do frio,
mas precisamos que nos aquentes
e acalentes, também, com a tua poesia.

Volta, Drummond!
Nem que seja na inspiração
de nossa gente.
Diga-nos se esquecestes apenas as flores
ou também o sobretudo se perdeu.
Se ambos, estás desprotegido.
Queremos que te resguardes do frio
de uma expulsão cruel
que o afastou da companhia de Jesus.
Teus versos iluminam nossa poesia
como a Luz do Cristo nossas vidas!

Nova Friburgo, 15 de abril de 2002 (14h35m)

domingo, novembro 11, 2007

Ser Amigo

Ser amigo...
O que é ser amigo?
Me fiz esta pergunta
com cara de primário
como se os segredos do Universo
não fossem coisas de Antiquário.

O que é ser amigo,
num mundo como o nosso
de relações supérfluas
e volúpias infernais?
Pode ser que a amizade
- num ser moço -
seja emoção melíflua.

O que é ser amigo,
num mundo tão carente
onde a via de mão única
quase sempre é adotada?
Ser amigo é oferecer a túnica,
a bolsa, a mesa e a cama
mesmo que não lhe venha nada
da parte de quem se ama.

O que é ser amigo,
senão o oferecer
de um ombro, colo e abrigo
para o outro sobreviver?
Ser amigo é mais que palavras
é um estado profundo d’alma
que se conquista em constantes lavras
com paciência de monge e calma.

Neste mundo não se tem
muitos amigos a sobrar.
Conta-se nos dedos aqueles
que a vida ensinou a amar.
É preciso, então, guardá-los
com as sete chaves do amor.
São jóias raras e caras
para as quais não há penhor.

Amigo que é verdadeiro
é o que perdoa e sempre esquece.
Esquece o erro, não a pessoa
pois essa nunca fenece.
E já que a amizade real
é fruto de entrega sincera
e não simples quimera:
para o amigo é vital!

O amigo não queima no fogo
não arde no ciúme das paixões.
A falta não o tira do jogo
a água não apaga as emoções.
Seu ânimo, o vento não espalha
e a chuva não derrete sua doçura.
Amigo não é nau que encalha
nas areias de qualquer aventura.

É por isso que me angustia
nessa altura de minha vida
perguntar com todas as letras
e na potência da minha voz:
- O que é ser amigo? Eu sabia...
Oh! humanidade enlouquecida!
Descobri que no amigo todas as setas
matam. Morre-se. E não há algoz!

Nova Friburgo, 20 de outubro de 2001 (7h49m)

Náusea

Barulhos bucais de
mastigação lenta
ou apressada
- nojenta
e
barulhos bucais
de dentes
comendo massas
de trigo
e maxilares
triturando
estas massas
em forma de pães
- torrados.

Barulhentos mastigares
- elásticos -
equilibrando a dentadura
na abóbada bucal...
E a sofreguidão
- da dieta
de pães e
leite derramado;
pelos cantos da boca
- descendo...
leite sorvendo.
- Leite
liquidamente
empurrando
a massa bucal
remexida
mixada
pela saliva.

E ela empurrando
pela goela
abaixo da linha
do esgar
regorjitar
vomitar
entre soluços
grandes
odoríferos
do imenso mamífero
que está em seu ocaso
sem se dar conta.
E a massa baixando
ao estômago
- glub-glub-glub
repousando
no colo quente
da digestão.

Os barulhos bucais
sorvem inquietos,
apressados,
nestes mastigares doridos
esgares sofridos
de alimentação:
- Fome.
- Desejo.
Barulhos próximos
da sensação silvosa
da saliva
que faz a massa
na boca bulir no céu
da boca
para transportá-la
ainda
barulhentamente
para a boca
do estômago.

A engrenagem desta
máquina humana,
gasta de velhice e,
cansada de uso,
ressente-se de
lubrificação.

E a massa do
- pão torrado
agora molhado
pede passagem
direta para
os aminoácidos,
as proteínas,
e os componentes
calóricos
que insistem
em tornar
o frágil corpo
sobrevivente
de si mesmo.

A passagem
do engolir
- sorver,
jogar no centro do
Universo digestivo
o pouco necessário
à sobrevivência:
- Clemência de consumo.

E eu ali
naquele nosocômio
- nauseabundo,
ouvindo estes barulhos
- infernais:
de próteses bucais,
de comida postiça,
em dentes idem,
em vida sofrida.
- Arremedo,
Medo.
- Arremeço,
Meço.
- Arre!
- Errei!
- E morro!

...Sem saber quem foi feliz:
- Se aquele que se foi
ou
o verme
que o comia por dentro.

Comecei em Niterói, 16/10/2001e terminei em Nova Friburgo, 20/10/ 2001 (07h15m).

Amor (1Coríntios 13)

Ainda que dos homens a língua eu falasse,
que dos anjos o idioma angélico escutasse,
e até pudesse com as miríades conversar.
De que me adiantariam os torneios literários
se as belas palavras desses versos temerários
não ousassem forte na conjugação do amar?

Se os homens todos me levassem a sério,
das profecias findas conhecesse o mistério,
de que me valeria tal grande sapiência?
Se nos lábios o canto do amor não vibrar,
estas cordas bambas que aprenderam a amar
matariam a emoção em nome da ciência.

Em mim toda ação seria mero ativismo
barulho sem música dos sinos que dobram
se o amor não tangesse minha vida e oração.
Pois no tempo de Deus, do amor o batismo
não é como dos homens em que sinos repicam:
no tempo de Deus palpita o som do coração.

Ainda que tivesse toda a fé em mim reunida
de maneira tal que transportasse os montes
de maneira intensa, jorrando como as fontes.
Ainda assim - na plena razão da minha vida -,
não sendo fé no fogo do amor forjada, mas fria
como o zero na soma do amor, nada ela seria.

Se estivesse disposto ao meu maior sacrifício
da morte cruel em vorazes chamas de fogueira
ou mesmo abrisse mão do que é grande vício:
na terra ajuntar tesouros sem eira nem beira.
Mesmo a morte sacrifical e fortuna dada à pobres
na ausência de amor, não seriam atos nobres.

Que devo, então, fazer se quiser dar amor,
se quiser expressar algo bom através de mim?
Devo primeiro descobrir que ele é sofredor.
O amor é benigno, não é invejoso ou algo assim.
Ele não é egoísta, indecente e não se irrita.
O amor é justo, verdadeiro e de nada suspeita.

Mas que amor é esse, assim intenso e exigente?
Será que há no mundo alguém que possa vivê-lo?
Esse amor é de anjos e não tem cara de gente?
De um amor que tudo sofre, como pode este desvelo
- e ainda tudo crê, e tudo espera, e tudo suporta -,
encontrar-se em seres que se acham em vida torta?

O amor nunca falha e onde ele se faz bem presente:
havendo alguma profecia de pronto será aniquilada;
e havendo qualquer glossolália, logo logo cessará;
também havendo ciência, em breve se fará ausente.
Porque conhecendo em parte, com a ciência abalada,
e em parte profetizando, a tudo o amor mudará.

Mas espero o grande dia da chegada do Perfeito
quando todas incompletudes serão exterminadas
e o tempo de menino será coisa só do passado.
Verei Deus face a face e se quebrará o espelho
pra ser reconhecido dentre as emoções continuadas:
fé, esperança e amor. Este, meu maior legado!

Nova Friburgo, 12 de outubro de 2001 (17h45m)
Comecei no dia 06/10/01 e terminei no dia 12/10.

Canção do Extinto* ou A Subversão de um País que Tinha Futuro

Minha terra produz palmitos
Sob o canto da enxada e da pá.
Tais aves, que já não ciscam,
não derribam aqui, como lá.

Essas aves agourentas
voando nas mãos do homem
são as próprias ferramentas
que a natureza consomem.

Nossa terra tem mais árvores,
e nelas se têm mais frutos.
Nosso solo tem mais mármores,
E nossas casas, mais brutos.

Que será de meu país:
De território tão vasto,
onde o mogno cede ao pasto
e tem gente que se diz feliz?

Nossa abóbada tem mais luzes
mas a Base de Alcântara
foi servida num cântaro:
American Way of cruzes.

Onde estão os amores,
de nossa vida colônia?
Vivemos os estertores
de nossa própria insônia.

Se temos coisas tão boas
nos céus, nos mares, nos bosques
os brasileiros não sentem.
Suas crianças não mentem:
na cultura e no relevo
surge nova Sarajevo.

Minha terra tinha primores
como a ararinha e o sabiá;
o jacaré e o mico-leão
que agora os encontro por cá.
Minha terra ainda produz palmitos
sob o canto da enxada e da pá.

Em cismar a noite do Brasil
de um eco-escatológico negror
mais prazer encontro eu cá.
Onde a vida organizada
não faz do homem e da enxada
um sonho de sabiá.

Não permita Deus que eu morra
sem que veja voltar ao Brasil
dos animais as suas cores:
o azul da ararinha,
o dourado do mico-leão,
o amarelo do papo do jacaré...
E sem que sinta os primores
dessa terra dos meus amores
desse Brasil que ainda existe.

(*) De inspiração óbvia ululante. Nova Friburgo, 29/09/2001 (9h18m).

Igreja Batista

Primeira e última expressão da mensagem de vida,
És a guarda fiel, proteção, o atalaia supremo,
Essência e obra expressa, do Jesus Nazareno,
Fonte a jorrar pelos tempos a verdade límpida.

Amo-te assim como és, estruturada e solta,
Grêmio de seres livres e espíritos fiéis.
Tu tens o dom da chegada, nem sempre da volta,
Qual pipa que voa em linhas de uns carretéis.

Amo o teu viço constante e a tua doutrina,
Hermenêutica clara e segura de apertada estrada!
Amo-te, e sei que pra ti a minh'alma se inclina.

És o abrigo fiel, em que o santo e o profeta,
Ajuntados do povo tiveram a vida edificada,
Pois tu és guarida, e bússola, e também a meta.

Niterói, 28/09/2001 (07h17m)

Que País É Este?

O mundo em que a gente vive
é cheio de inseguranças.
São promessas não cumpridas,
são paradas nas andanças.
É como o vento bem forte
soprando pra todo lado.
Se segura só quem pode
quem não pode alça o brado.

Não adianta nem lembrar:
os tempos que já se foram,
os heróis que já partiram,
o passado a desmoronar.
São heróis de perna quebrada
os que fizeram este país.
O povo caminha sofrido
seu parâmetro é infeliz.

Mas o povo quer o mínimo
que garanta a existência.
Não consegue nem um mimo
que engane a sobrevivência.
Uma casa pra morar,
um canto para dormir,
uma sopa pra tomar,
um motivo pra sorrir.

E os governantes de hoje
políticos de meia pataca
fazem o jogo das multis
e o progresso não engata.
E não engata a vida
e o progresso não vem
parecendo despedida
para a pátria de além.

Mas os filhos são daqui,
têm estômago e intestino.
Falta-lhes Educação e Saúde
que lhes mude o destino.
Têm pés que andam na terra,
e mãos que seguram o vento
e se a vida não emperra
é por causa do pensamento.

Pois ainda que seja difícil
- o Brasil hoje oferecido -
seus filhos mesmo tristonhos
caminharão com seus sonhos.
É que não se prendem idéias
nem se aprisionam espíritos.
Há um futuro sem panacéias
(Com) cidadãos e escritos.

Niterói, 27/09/2001 (07h44m)

A Invenção da Poesia

(Dedicada às vítimas das Torres Gêmeas em 11/09/2001)

Invento uma armadilha
como quem aprisiona
a luz que emana das gentes
que se espremem no Muro
das Lamentações
e, ali, pouco antes do gatilho,
escrevo a palavra Consolo.

Invento uma obsessão
tão nascente, tão crescente
que da origem ao feto
cria um corpus de afeto
que de repente
promove um encontro
dizendo que é meu o horizonte.

Invento um sonho
de uma utopia recorrente
e alcance transnacional.
É um sonho multifocal,
pra todo mundo, pra
todos os povos, tribos e nações.
É um sonho prenhe de nuvens brancas de paz.

Invento um mundo
onde as mãos que seguram ferramentas -
e empunham lápis e canetas - miram esperanças.
Não há ganâncias. E a ambição
é somente o alimento da vida
e o combustível do futuro
onde crianças e velhos passeiam harmonias .

Nova Friburgo, 13 de setembro de 2001 (08h15m).

Com Promessa

(Dedicada à irmã Letícia em seus 80 anos)

Quando uma criança nasce
enchendo a casa de alegria
pegamos o bebê no colo,
sorrimos, e olhando o frágil ser
não sabemos no que vai dar...

Surge, então, uma grande interrogação
em nossas frontes de pais ansiosos:
E à moda da região montanhosa da Judéia,
perguntamos: - Que virá a ser esta criança?

A criança cresce, se desenvolve,
tomando outros ares e contornos,
trazendo-nos satisfação
e deixando o bebê para trás.
Mas, ainda assim,
a indagação persiste:
- Que virá a ser esta criança?

Nos esforçamos, cuidamos,
amamos e acariciamos.
Fazemos investimentos sem poder!
E a criança explode de saúde,
torna-se um atleta, um pintor,
um artista, um músico, um corredor...
Mesmo que de paredes e portas,
ou de banheiros e quartos,
ou ainda transformando os corredores da casa
em pistas de alta velocidade...

Mas, é o nosso pimpolho
e nós olhamos para o júnior
como nossa herança bendita
- o filho da promessa sagrada -
e sonhamos para ele nada menos
que um herói: o grande
redentor da pátria amada.
Mas nem tudo sai exatamente como planejamos:
uma enfermidade, uma anemia,
um pouco de cansaço e estresse,
vontade de só ficar na casa da tia
e a tarefa de casa desaparece,
e o dever da escola não se faz,
e a higiene pessoal já não compraz.

Olhamos o nosso rebento e,
com apreço, disciplinamos.
É o futuro que está em jogo:
ele, com certeza, precisa logo aprender
as duras regras do bom viver!

Faz-se adolescente!
Seus olhos, agora, são multifacetados.
Vê a família, mas enxerga o mundo;
gosta de brincar, mas começa
também a querer aproximação
daquele ou daquela que
lhe provoca um turbilhão
em seu frágil coração
tomado totalmente pela emoção.

Pensa que pode ganhar o mundo sozinho
ou abraçar a existência de uma só vez.
Foge um pouco da companhia dos pais
e a sua palavra oficial é a liberdade.
Mas ainda não está preparado pra vida
e enquanto vai adicionando experiências
supõe que suprimir por ausências
os pais chatos e sua disciplina
pela presença que faz a menina
dos olhos brilhar de satisfação
é a sua grande sina.

Fala em deixar a igreja,
torna-se surdo para Deus,
atrai-se pela cerveja
e afasta-se dos seus.
E rompe-se a ligadura fraterna
de quem estabeleceu pontes divinas
para aquele que chegou ao lar
como promessa de vida.

Na juventude, o estudo,
o trabalho, a profissão.
Decorrências significativas
da sonhada vocação.
O namoro, o noivado,
casamento em grande festa.
E a alegria visível
está estampada na testa.

No sorriso, nos lábios, no rosto
em cada canto da face
se começa a responder
aquela pergunta antiga
que os pais logo fizeram
quando o viram nascer:
- Que virá a ser esta criança?

Está sendo! Fez escolhas!
O caminho delineado.
Os pais se esforçaram,
cumpriram a sua parte
e o destino está traçado.

O jovem ser se transforma
ganha a sua independência.
Deixa a casa e se faz gente
com a própria consciência.
É hora de se colher os frutos
das sementes que os pais plantaram.
Ou será que da vida, os furtos,
para o jovem nada deixaram?

A vida prossegue célere.
Os pais se tornam avós.
Os filhos se tornam pais.
As crianças que já não eram
voltam a ser tudo de novo
correndo pela casa vazia
quebrando o que já está velho.

E tudo o que antes se fazia
agora já não é bem assim.
Com a vinda da aposentadoria
as coisas já não têm tanta pressa.
Mas o relógio não sabe disso
e engole os dias e consome os anos
com uma sofreguidão tamanha
tal qual nunca imaginamos.

E passamos a contar os nossos dias...
E passamos a contar as nossas horas...
E passamos a enumerar a
nossa enorme descendência...
Era eu só: casei, virei dois;
procriei, virei vários;
amadureci, virei muitos;
envelheci, perdi as contas.
E o vocabulário adicionou
uma doce palavra que pequenos
seres de cabelos claros e
olhos azuis carregam
em seus perambulares pela vida:
bisnetinhos...

E chegamos ao alto da melhor idade:
com saúde ou não,
mas com a mente em bom estado.
Gostando ou não do que vemos,
achando que o mundo está muito mudado,
que bom mesmo eram aqueles tempos:
Hoje a vida está muito superficial!
E a gente nem lembra -
talvez porque não tenha vivido
e se esqueceu de consultar
a memória da humanidade:
Que há mil anos era assim;
há quinhentos, também;
conosco, está sendo;
e o será, no futuro:
Os velhos sempre gostarão do passado,
já que o futuro está ficando
cada vez mais curto para eles...

- Que virá a ser? Não se pergunta mais.
E olha que já tem tempo isso!
Já aconteceu! - O que foi?
Nada do que foi será de novo
porque as experiências são únicas,
não se repetem. - O que foi?
- Que fiz da minha vida?
Será que o ser humano
quer mesmo saber?
Alguns dirão que não vale a pena.
É melhor tocar o barco,
se é que queremos chegar
a um Porto Seguro!

Há alegrias no envelhecer
e as alegrias do envelhecer
se encontram na segurança da presença divina.
A sabedoria da escolha de Deus
garante o futuro na terra,
garante o futuro nos céus.

E quando alguém pode
chegar aos setenta,
aos oitenta, noventa ou cem,
nos lembramos da grande
probabilidade de ser promessa:
- Eis alguém que honrou pai e mãe
e teve os dias na terra prolongado...

Nova Friburgo, 22 de junho de 2001 (7h26m)

Reminiscências

À minha querida mamãe

Nasce o dia, chuvoso dia de manhã de domingo.
É mais que um dia, é um momento mui especial.
Da janela do quarto eu vejo o cair de cada pingo,
E a sensação que me invade é forte, sem igual.
Papai sobe as escadas trazendo o leite e os pães:
pois a vida continua, embora seja Dia das Mães!

Fiz uns versinhos, truncados versos adolescentes!
Gostaria de expressar tudo o que sinto por ela.
Mas os meus irmãos ali na sala já estão presentes
E a timidez se instalando, cada palavra atropela.
Mas mamãe, olha pra mim! Veja nos olhos o brilho,
e o rubor na face, e o tremor nas mãos do seu filho.

Peguei o papel de seda, escondido por entre dedos.
Foi o que sobrou da pipa branca que subiu aos céus.
Lembrei que cada mãe com suas histórias e enredos
são presentes especiais, ofertados pelo próprio Deus.
E o papel já amassado, com as letras de fazer dormir
Dizia para mamãe alguns versos que eu deixei fruir.

Foram lágrimas com lágrimas naquele abraço fraterno
Mamãe chorando e sorrindo e eu sorrindo e chorando.
E o corpo magro em seus braços, naquele afago materno
Mamãe sulcada da vida, mas os olhos ainda amando.
A folha de seda rasgou-se, molhou-se, e desapareceu
Mas os versos daquele dia, só quem soube foi ela e eu.

Por tudo isso minha mamãe, e por tudo que há de vir
Quero ser sempre seu filho, quero ser homem do povo
Quero ser homem de Deus e fazer o mundo assistir
A cada Dia das Mães, e a cada dia que se faz novo
As verdades sempiternas do Deus que me ensinastes
E a existência bonita pela forma com que me amaste.

Me critiquem os filhos do mundo, mas não existe.
Uma mãe tão especial, como a minha mãe Judith.

Nova Friburgo, 14/05/2001 (7h15m)

Se eu pudesse ter essa moça em meus braços...

Se eu pudesse ter essa moça em meus braços
que faria eu entre beijos e abraços
a não ser deixar todo o tempo passar
a não ser parar todo o tempo e ficar
como quem não quer outra vida mais que essa
como quem achou seu amor e não tem pressa
como quem, por fim, disse adeus a solidão.

Se eu pudesse ter essa moça em meus braços
penso eu, logo faria, uma viagem em seus traços
pra sentir cada contorno dessa pele tão suave
desse corpo tão bonito, de leveza qual de ave
dessa seda tão mimosa, desse cheiro tão perfume.
Fecharia meus olhos pra reter a sensação
abriria o sentimento, eternizando a emoção.

Se eu pudesse ter essa moça em meus braços
daria as costas para um mundo de amores tão escassos
seu cabelo castanho-claro: liso, leve, solto ao vento
nele eu tão embrulhado: rosto-a-rosto, esquecendo o tempo
esquecendo a vida em seus olhos claro-vivos
em seus lábios finos-mel, embebido em seus mimos
a semente que nasceu ajardina o coração.

Alcântara, 08/05/2001 (12 horas).

Mamãe Doentinha

Mamãe doentinha,
sentindo cansaço.
A dor era minha
e todo embaraço.

Cabelos bem finos
e brancos também.
Saudade dos mimos,
do dizer: amém.

Com todos os manos
na casa bem grande.
Nos primeiros anos
do meu ser infante.

Mamãe, fica boa!
Precisamos de ti!
Teus filhos, à toa
te esperam aqui.

Nova Friburgo, 12/05/2001 (7h35m)

Háguas

De dentro da escuridão passos largos caminham,
mas olhos espreitam os movimentos noturnos:
um mundo cruel, tribal, desigual, escatológico,
onde ódios ancestrais dominam a não-convivência
e fazem dos longos dias arremedos de existência
onde a luta constante pelo encontro com a sorte
é a ponta perceptível de razão para ilógico caos.

Os seres divididos entre répteis e qualquer gente
humanos, desumanos, sobrehumanos, de repente.
Criados nos minúsculos guetos sob luzes opacas,
lume de cores sombrias, de forte cinza e negror,
em que gosmas voláteis, deslizam toda a matéria,
unindo o resto de vida com o entulho da hecatombe,
fazendo das ruínas ecléticas de outrora cidades,
habitação peremptória dos frágeis remanescentes.

Brutazé caminha por longas ruas empoeiradas,
fétidas e esburacadas, habitat de ratazanas e afins
levando nos neurônios antigas paisagens e sonhos
que ele descobriu nos monturos de um escritório
datado pelos antepassados como século XXII.
E traz registrada na retina dos olhos e da vida
a esperança do encontro com a sua bela querida
pra começar um novo tempo, de uma vida a dois.

Caminha Brutazé tendo os sonhos sempre presentes
vontade soberana de logo achar uma segura saída,
a porta tão esperada que solene há de conduzi-lo
do caos apocalíptico ao desejado Paraíso terrestre.
E seus passos firmes marcham resolutos sob olhares...
dos quais ele não duvida nem por eles se intimida.
Pois o poster do Paraíso, da amada que o conquistou
parece pregado em sua testa, e ele caminha-bandeira.

O grande sonho de consumo dos seres de Caoticalândia
se resume na visão de Brutazé: encontrar a fonte d’águas.
De há muito somente a memória tem algum registro
de atos humanos de fazer aparecer água em torneiras;
dar mergulhos e similares; fazer jorrar de mangueiras
jatos que molhem a terra, que banhem todas as gentes,
que refresquem a alma e assim produzam algo de paz.
A humanidade agonizou na escassez de água potável...

Demorou séculos para o homem descobrir o valor
do petróleo branco, de tessitura fina, translúcido,
inodoro, palatável, qual fortuita amante desejável.
Tão distante, escondido, raro e imprevisível de achar.
Mas no meio do chorume azedo do lixo cósmico
baba estelar que escorrega por entre a existência
atormentando as ruínas da civilização ocidental
Brutazé caminha com seu sonho e carrega-o apertado.

Os passos do “andróide” arrastam séculos de omissão:
a humanidade ignorou os avisos da mãe natureza
e os lançamentos de esgotos domésticos nas correntezas,
os efluentes industriais e o irado consumo irracional
cuidaram de fazer o resto: acabar com o líquido vital
que recobria o feto-planeta e o fazia sentir-se seguro.
Brutazé e os seus contemporâneos já não pensam
apenas pisam forte a caminhada da sobrevivência.

Se no agonizante mundo onde moram os caoticalandenses
a vida é mais animalesca, instintiva, numa luta primacial
pela conquista do espaço e manutenção de seu território,
nada como repensar que o passado poderia ter reservado
presente melhor não fôra a diminuição e a vil degradação
dos mananciais e corpos hídricos - e isto é bastante notório -
a destruição da cobertura vegetal, das bacias hidrográficas,
das florestas e das matas ciliares: já nem penso em pomares...

Brutazé caminha resoluto buscando agora outros ares
ouvindo ecoar em seus ouvidos os gritos do passado
emitidos pela garganta da pobre mãe natureza
rica pela beleza, mas assim como animal dominado
sem até poder reagir, a não ser pela atroz alteração
de idílicos e bucólicos cenários em áridos e inermes
campanários que já não tocam mais canções neste deserto.
De certo que o homem não ouviu ecoar esses gritos...

O grito gutural avisa que a água não é recurso ilimitado!
Mas parece que o homem nunca o quis de fato ouvir
e no ser em que se transformou após séculos de omissão
resta pouca esperança para regar o não-jardim da vida.
Oceanos salgados foram tragados pelo sideralmoto
que assolou a Terra tornando-a um amontoado de barro
retorcido junto aos artificiais mecanismos construídos
pelos habitantes do planeta, ao que chamavam de tecnologia.

Bilhões de seres dormiam muito mal em priscas eras
assustados pela insônia cruel de acordar e desaguar,
desandar, escassear, secar e assim não mais existir:
o banhar silente de um corpo nu em águas límpidas
ou a boca molhada e a sede saciada em um copo gelado.
Mas agora apenas centenas de remanescentes se escondem
em trincheiras de monturos, refúgios subterrâneos,
onde macho e fêmea raro se encontram e não há água.

Não há escapatória! A falta de água e a inexistência de amor
hão de zerar por completo as estatísticas da presença humana
e nesta corrida aturdida em que a competição idiota e insana
exalça o indivíduo e aniquila o coletivo, não se chora pela dor
mas numa compensação macabra, que o homem não sabe fugir
já não se vê sorriso, nem brilho nos olhos, em nenhum lado
não há juras de amor, carinhos, afagos e sonhos para o devir
a escassez é tamanha que até extinguiu o beijo molhado...

Lá se vão mais de cinco horas que Brutazé caminha disposto.
Rompeu monturejos e ruílas de destrocasas e choupamentos;
avistou femegentes e antropovermes por meio de olhos agudos;
pisoteou carcaças e ossaturas de vencidos da sequidão de estio;
mas em nenhum momento abandonou a miragem de seu oásis -
mesmo que um particular oásis de um sonho de poster antigo -
porque possuía um sentido de continuação, uma busca pela vida:
Fizera a despedida do presente e buscava no passado o futuro.

O chão de terra batido de há muito tinha sido dominado
pelo câncer da Terra, que consumia o resto de vitalidade.
E a lepra terranosa que assolava a superfície, esfarelava
em camadas gangrenosas à passagem dos seres ousados.
Brutazé, por onde andava, deixava um rastro de esperança
em marcas de desconstrução da matéria e ereção da vida.
Determinado, caminhava ignoto, solitário e arrastando
as asas de um grande pássaro - tecnonavessauro - branco.

A sua caminhada denunciava a posse de um grande sonho
ainda que seu mundo se constituísse de cenário dantesco
de caos e destruição e guardasse de perto um parentesco
com o Inferno já descrito magistralmente por um estranho.
Célere em seu avanço, Brutazé anda sobre os retorcidos
atalhos das ruínas tecnológicas, avesso ao que não fosse,
para que em sua busca, eliminando os falsos e parecidos,
em breve pudesse encontrar com a doce amada e doce...

Após dias de caminhada inglória, já euxarido e tristonho
- embora seus olhos brilhassem mais do que uns cometas -
Brutazé se depara com algo que lhe chama a atenção:
um veio intermitente de folhagens verdes, pontiagudas,
que até então lhe eram desconhecidas e sem ter registro.
Mais que isto: a curiosidade multiplicada por sua ânsia
o fez deter-se em sua busca colossal naquela instância
a fim de averiguar se seu sonho vestiria asas de realidade.

Entrando por uma caverna de pedras, paus e escombros
esfolando os seus membros: pernas, pés, braços e ombros
Brutazé aventura-se entre brechas e fendas apertadas
seguindo a intuição repentina de que encontraria a amada.
Subindo e descendo, caminhando por entre as trilhas
a esperança renovada e as pistas seguindo no chão molhado
ele via a mutação do ambiente em derredor e sabia que algo
de bom iria lhe acontecer: Bastaria para tanto aguardar...

Quando de repente, num denso vale escondido da superfície,
um platô de verde e vida se descortina ante seus atentos olhos -
incrédulos olhos de coruja humana desacostumada com a luz -
Brutazé apressa os passos e extrai forças do nada para as águas,
abundantes águas que vicejam de entre lagos azuis em fonte,
em direção ao leito que lhe acolherá como o colo de mulher
e ele envolvido dos cabelos aos pés por aquela forte sensação,
no toque de seu corpo cru, rachado, em epiderme grossa e seca.

As águas recobrem o corpo de Brutazé aninhando-se no mergulho
e o choque do corpo contra o espelho d'água cria desenhos sutis
de águas que se esborrifam contra pedras e refletem a tênue luz
invasora do ambiente pelas frestas das árvores e dos tempos.
Agora, de dentro d'água, apressadamente livra-se dos farrapos
pois quer ter seu corpo livre para sentir o encontro com as águas.
E o beijo molhado da amada água toma de assalto o corpo inteiro
numa sensação não vivida, mas que a esperança confirmara possível.

De dentro do Grande Lago, Brutazé levanta os olhos ao derredor
para checar se o que vivia naquele instante era sonho ou realidade.
Tem, então, uma esplêndida visão de árvores prenhes de frutos:
coloridos e multiformes frutos que traziam-lhe às narinas seu odor.
E ele tem plena consciência de que a sua civilização de nada sabia
e que a incansável luta que encetara convicto desde a sua mocidade -
pela descoberta do Paraíso das Águas - agora chegara ao seu fim.
As águas traziam vida e com ela a esperança e, quem sabe, o amor...

Naquele instante o corpo pesado e cansado de Brutazé desaparece.
Não encontra chão e num desespero cresce o volume de águas -
estabanadas águas abatidas entre braços e pernas desgovernados.
Não se preparara para o desconhecido sendo tragado pelo desejo.
É o fim. Quem sabe, não? Uma bela femegente adentra o santuário
e contempla os últimos instantes do amado que se esvai sob as águas.
Não sabe o que fazer, nem por onde começar. Apenas uma lágrima.
Na Casa das Águas uma lágrima encontra forte razão pra nascer...

Brutazé deixara pra trás um coração apaixonado, agora partido.
E após ela, - mais um e mais um - invade o recinto sacrossanto,
promovendo um encontro dos remanescentes no Lugar da Utopia.
E agora há um encontro de todos com o passado e com o futuro.
Em sua longa caminhada, ele deixara um rastro de possibilidade
e despertara antigos desejos e sonhos adormecidos se acordaram
e os passos de Brutazé nos cancros da Terra soaram qual tambor
avisando a chegada da Amada e a possibilidade de um Novo Tempo.

(Comecei às 7h25m de 01/03/2001 e terminei às 7h45m de 13/03/2001).

quinta-feira, novembro 08, 2007

Canção do Alento

Quando a minha alma está abatida
e triste, o meu coração.
Me vejo na lama do desalento
e a dor amplia o sofrimento
que já não vejo qualquer solução.

Quando me sinto sozinho e perdido
e me incomoda a solidão.
Busco aconchego, presença de amigo
sinto carências, preciso de abrigo.
O abismo é grande e fico na mão.

Só me resta olhar pro céu e contar as estrelas.
Passear pelo Cosmos, perseguindo meus sonhos,
pois algo me diz pra não desanimar.
Mesmo um coração triste, se abrir a janela
da vida e olhar pro Alto com fé
encontra respostas, sob a luz do luar.

Nova Friburgo, 25/11/00 (7h23m)

Poetas atenienses

“Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos;
como também alguns dos vossos poetas disseram:
Pois somos também sua geração” (Atos dos Apóstolos 17.28).


Poetas de Atenas
de tempos passados
de eras distantes
e bons ideais.
Que sonhos e cenas
por vós tão amados
tornaram amantes
os homens reais?

Os homens vivendo,
os homens sofrendo,
e os poetas de Atenas
fazendo poemas.
Os sábios pensando
e os poetas amando:
epicureus e estóicos,
e poetas prosaicos.

Mas, poetas de Atenas
sofia e loucuras
passeiam nas ruas
da Grécia apenas?
Não é privilégio
dos sábios de outrora
viver como egrégios
o hoje aprimora.

Poetas de Atenas
a Bíblia registra
a vossa existência
sem dar outra pista.
A não ser no momento
que luzes se acendem
de um pensamento
e os poetas escrevem.

O Apóstolo Paulo
pregador desta gente
descobriu em Atenas
um deus diferente.
Altar no Areópago
a desconhecido deus
que ele disse logo
ser o Deus dos judeus.

Pois segundo Paulo
os poetas de Atenas
deram grande aula
dentre tantos temas.
Disseram de Deus
desconhecido ou não
que dEle todos somos
a sua geração.

Disseram que nEle
todos nós vivemos
e que nEle andando
é que nos movemos.
Disseram que a Ele
devemos a existência
e se nalguma falta
é só pedir clemência.

Por isso poetas
poetas de outrora
poetas de Atenas
poetas de agora.
Deixai o que é vento
Deixai o que é palha
semeai a semente
que o vento num espalha.

Deixai as quimeras
poetas sensatos
de todas as eras
de todos os tatos.
Não sendo profetas
falando ao coração
cantai, sim, poetas
de Deus a canção.

Nova Friburgo, 08h42m (13/11/2000)

Os Cinqüenta

Já vão bem longe,
Os anos da juventude:
Se foram ligeiros.
E agora José?

Lá não tinha cansaço,
Inchaço ou mormaço.
Não havia pressa:
O tempo era a favor.

De agora em diante,
A vida será diferente!

Se foi a metade de um século,
Inda que não se saiba o quanto da vida.
Lutas, ainda virão, mas, que seríamos sem elas?
Vale viver a existência que falta,
Amparado pela mão de Deus.

Em tempo. Prezado irmão José Lino: Dedico-lhe estas simples linhas neste dia em que completa seu cinqüentenário de existência. Que a reflexão que o irmão pode fazer ao perceber a chegada dos anos, traga a sua memória a necessidade de "contar os dias de tal maneira que alcance corações sábios". Que Deus o abençoe grandemente."

Nova Friburgo, 08h42m (13/11/2000)

Carências

Tarde. Finda o dia grande
longo e denso como o céu
mas presente na memória
as carências de um réu.

Réu da vida e da desdita
de nascer sem ter lugar
de nascer sem ter a sorte
de um lar para morar.

Volta o tempo e volta o sol
ao crepúsculo que o deu
como luz de um recomeço
de um jeito que é só seu.

Mas o homem fadigado
ao casebre que o recebe
escora a vida e a fadiga
sujo, tenso, amofinado.

Sem um banho e sem amor
sem alguém pra palrear
larga-se forte na cadeira
não tem força pra chorar.

Ergue o braço e pega a faca
traz pra junto do seu corpo
busca o pão mas a desgraça
se aproxima pouco-a-pouco.

Busca a luz, já foi cortada
acende a vela e o lampião
que ilumina o aço inox
sem manteiga para o pão.

Cumpre o gesto e o ritual
pelo pão duro e sofrido
passa a faca e neste gesto
de um sonho não cumprido:

Faz da vida um arremedo
de esperança e de loucura
de estar sempre a procura
do abandono de seu medo.

Mas o meio em que ele vive
mais suas pobres condições
já o empurram para baixo e
pra bem longe as emoções.

E o homem de tão carente
não tendo a quem recorrer
já desaprendeu a sorrir e
não lhe interessa o viver.

Não sabe se volta à enxada
não sabe se faxina a praça
se apruma e recupera a jornada
ou então se comete trapaça.

E de tanta dúvida este homem
mais perdido que um ente cego
por dentro todo já se consome
sem surpresas perdendo o ego.

Perdendo, e assistindo sua vida
esvair-se como água em torneira
sucumbindo feio em pasmaceira
de fazer chorar sua triste lida.

Vai dormir qual trapo o pobre ser
homem sofrido e na vida largado
deixa-se cair no catre sem saber
se no outro dia estará acordado.

Nova Friburgo, 10h15m (08/11/2000)

Maranata

Esperança viva de salvação eterna,
Querido Cristo, vem. Tu és a luz
Que aclara a mente, acende sonhos,
Ilumina estradas que ao céu conduz.

Esperança viva de salvação eterna,
Querido Cristo, vem. Tu és caminho
Tu és a chance de prosseguir jornada
Mesmo no agreste solo, entre espinhos.

Esperança viva de salvação eterna,
Querido Cristo, vem. Tu és a porta
Passagem certa desta, à vida além
Que deste mundo é o que importa.

Aceitei-te um dia: - e segui-te sempre
Para contigo nos céus, querido Cristo,
Estar em comunhão e também dos salvos
No Reino do Pai. Ora vem, a ti insisto!

Nova Friburgo, 07h28m (02/11/2000)

Jorrança...

O poeta é o duto da poesia.
Ele, ali parado, matutando;
ela, vertendo forte, pela noite fria.

Não importa o quanto é longa a noite
e se o frio é denso de fazer gemer.
O poeta mostra com seus versos
que o poema é feito pra se beber
em goladas suaves de sentir sabor.

E nesta sede enorme do fazer poético
no lidar constante da conjugação
combinando a arte com o ético
e traçando pontes cerebrais
segue o poeta firme em sua jornada
varando quieto pela madrugada
acordando entes tão divinos
das palavras formando belos hinos.

Nova Friburgo, 07h55m (02/11/2000)

Confusão Mental

ETERNA MENTE

É TER NA MENTE

ÉTER NA MENTE

ETERNAMENTE.


E TERNA MENTE?

Nova Friburgo, 08h10m (02/11/2000)

Angústia

Angústia extrema, esta insegurança de vida,
és amiga indesejável que interroga a terra
nos outros procurando respostas às desditas
apoio pra superar as dores que tu encerras.

Angústia extrema, esta insegurança de vida,
és amiga indesejável que interroga o mar
do alto desta ponte, ao fim desta avenida,
as águas são convite para contigo findar.

Angústia extrema, esta insegurança de vida,
és amiga indesejável que interroga os céus
sobre um fio de esperança, acerca desta lida,
se é que existe sonho, se é que existe Deus.

Amiga de convivência, angústia, não te quero
nos homens, na morte, na fé busco solução
pra ver-te longe de mim, e nisto sou sincero,
pois deste casamento só me resta separação.

Nova Friburgo, 06h53m (01/11/2000)

Você

Só de sorrir

simples existir.

Nova Friburgo, 08h10m (31/10/2000)

Hoje

Amanhã irei.

- Fui!


Nova Friburgo, 07h48m (31/10/2000)

Ver-o-Peso

Fui ao mercado
fazer compras-mês.
Trouxe apenas um cado,
cadinho à-toa,
pra ficar freguês.
Candinho disse:
- Volta outra vez!

Voltei,
sem compromisso,
como o Plano
que o governo fez.

Dia seguinte,
amanheço
entre as gôndolas
apinhadas
e apanho
nada de nadas.
Fui apenas ao
Mercado Ver-o-Peso.
(Vi o preço
e não voltei mais...)

Nova Friburgo, 07h20m (30/10/2000)

Quebra-Gelo

Eu só,
solitário,
quase
fechado
dentro do
armário,
adversário
de mim
mesmo
ensimesmo
com todas as
formas,
plataformas,
de gente
e de repente
eu querendo
fugir.
Mas o suór
gelado
que escorre
me deixa
petrificado
e morre...

Nova Friburgo, 07h15m (30/10/2000)

Não São Tão

A Naim Rocha

Umas vozes suaves,
Que me vêm de longe
E encantam, abrandam,
Os dias cruéis...
Não são tão suaves:
São como as aves
Que com espalhafato
Batendo suas asas
Aos bandos voejam
Por aí!

Os sorrisos de criança
Junto ao vidro do carro
Assustam e espantam
Na avenida...
Não são tão sorrisos:
São traços nervosos
Nem sempre ditosos
Querendo vender
Mariola e bala
Pra um qualquer!

As piscadas vermelhas
Do sinal de trânsito
Espalham centelhas
No cruzamento...
Não são tão vermelhas:
São advertências puras
De um perigo à vista
Que quem tá na pista
Conhece quem fura
O sinal e a vida!

Os sons das buzinas
Dos carros detrás
Espalham algazarra
Na cidade...
Não são tão sons:
São bofetadas no rosto
E quem tá disposto
À vida prosseguir
Esquece o barulho
Imagina canções!

Os guardas no rush
A pista estreita
Passagem apertada
Na blitz...
Não são tão guardas:
São coletores de ódio
A partir de seu ócio.
Não há segurança
Há medo e revolta
Gastança!

Nova Friburgo, 04/04/2004 (7h26m).

Merchanpoíesis

Maria
tomou doril
e a dor não sumiu;
melhoral,
e não melhorou;
sonrisal,
e não sorriu.

Que há com
MAR-IA
que não vai mais?
Apenas continua
bancando
as multinacionais
com o seu minguado
salário mínimo?

Nova Friburgo, 07h33m (30/10/2000)

Co'Ação

O coração
de quem ama
quando não dói.


Compõe canção
na cama
e a unha rói.

Nova Friburgo, 07h17m (30/10/2000)

Avencas

Se eu
aventasse
a hipótese
de que
há ventos
que quebram
avencas
no vaso,
traria
pra dentro
de casa
todas as plantas
da varanda.
Mas aí
as samambaias
poderiam
- crescendo -
me enforcar
de noite.
Prefiro,
então,
os ventos
castigando
as plantas...

Nova Friburgo, 07h29m (30/10/2000)

Visões Aturdidas de Pedra

Quase escorreguei no lápis preto
postado, escondido, no asfalto.
Mas a manhã de sol acendeu
dentro de mim a lamparina roxa
que mudou o rumo do sapato.
Quando atravessei a rua, o
cachorro balançou o rabo e foi junto.
Eu cheguei do outro lado,
mas ele deu meia-volta e foi fuçar
o chão de terra batida à procura
do osso escondido.

Que tudo não ficou muito claro,
disso sei. Aliás, o asfalto era negro
como o piche que o envolvia
e fazia um pasticho asfáltico
das grandes avenidas da América,
tornando aquele piso sem fundo
personagem de meu sonho.

Quem há de me mostrar o que não vejo?
Serão os sóis interiores no universo
singelo das almas inquietas
ou serão os protagonistas do tempo
que me chamarão à consciência do existir?

Quero sucumbir cedo, após o jantar,
mesmo que a tarde já tenha caído e
a noite não tenha chegado de todo.
Meu ser adormece na penumbra do sol
que se foi e da lua que ainda não deu a sua cara.

As lâmpadas dos postes iluminados
salpicam a cidade de luminosidade.
Entes eólicos passeiam pelas fendas
dos fachos de luz. São espécimens
em extinção, como também o são os
seres humanos pensadores que vivem
de escrever poemas abstratos.

O meu trato com o papel é
não deixá-lo em branco,
mas não é por isso que este compromisso
se transforma em obrigatoriedade
sem inspiração.
Minha ação de escrever é mais que
letra: é compromisso com as emoções
que carrego dentro do peito e
me fazem viver.
Vida é existência,
mesmo que nas pedras do tempo.

Nova Friburgo, 11/07/2000(23h38m)

A Roupa do Poeta

Com a rouquidão da minha voz
não sei se me farei poeta,
mas com a escrita dos meus dedos -
e uma roupa simples de inverno -
quero cantar a vida pelas alamedas do tempo.
Não sei se me farei poeta
ou os meus leitores é que me
vestirão essa roupa.

Quero simplesmente deslizar meus dedos
sobre a folha branca;
papel incólume que banca
toda a minha inspiração
e faz a caneta continuar segura entrededos.

Vou sair pelas ruas de pedras paralelas
de minha bela cidade da serra.
Vou ao encontro do povo
e os paralelepípedos não me servirão
para jogar amarelinha.
Vou apenas distribuir poesia
nas folhas brancas de paz
que os caracteres da máquina imprimiram.

Talvez porque o azul da manhã tome conta do meu céu,
e o verde das encostas me convide para a natureza,
vou tentar colocar um pouco mais de beleza
na vida cinza de quem já se cansou da vida.

- E vós, que tentais desnudar-me num relance
como se a poesia do poeta fosse uma chance
de pô-lo a nu, a descoberto:
Abraçai a causa da poesia
e torneis melhor seu dia-a-dia
lembrando que ela é céu aberto
espaço livre para voar,
e que sua matéria-prima também é alegria
e uma vontade imensa de amar.

Mas ai de vós que pretendeis vestir roupas no poeta:
roupas sóbrias e frias que estigmatizam;
roupas apertadas e formais que rotulam.
Poesia é adereço, é pendente,
é tudo que soma e embeleza,
atrai e enleva o ser,
elevando-o à categoria de anjo.

Jogai sorrisos para o poeta,
acenai com as mãos e fazei gestos de paz,
deixai a fraternidade tomar conta das ruas,
trocai olhares de signos mil,
abraçai a causa da esperança
e deixai que a fé inunde vossos corações.
Porque a vossa paz, alegria, amor,
fé, esperança, fraternidade e calor
irão costurar-se ao poeta
e farão dele a sua voz.
O poeta se veste de voz:
a roupa do poeta é a voz do coração.

Conceição de Macabu, 08/07/2000(7h43m)