O filho pródigo voltou!
Do terreiro todos gritam
em forma de saudação
o retorno daquele
que não deveria ter
partido.
Volta a casa do pai
que abre os braços feliz
esperando o arrependido.
Mas, o pródigo brasileiro
que partira deixando
saudade
no auge da mocidade
encantado com o mundo
sem saber do vespeiro
dos gestos de insanidade,
esgotamento profundo...
O pródigo que subtraíra
o trocado de seu pai
tomando das economias
de uma vida de trabalho;
que fora rebelde ao
extremo;
que vendera os bens da
casa
em troca dos prazeres da
vida;
que roubava pra fumar;
que jogava pra ganhar...
Nas cartas do baralho
na pedra do crack maldita
consumia sua própria vida
e punha tudo a perder.
Este pródigo brasileiro
consumiu a saúde do pai
exauriu o sentimento da
mãe
deixou irmãos a ver navio.
Fez de sua casa um inferno
ao mentir, não se
arrepender
e arrastar sua imundície
para dentro do sacro lar.
Perdeu-se a paz e a saúde;
o que restava de comunhão
o pródigo brasileiro
explodiu
no inferno da preocupação.
A vida tornou-se vazia
o medo criou asas de morte
e sobrevoava a utopia
dos que riam da própria
sorte.
Na selva do mundo sem Deus
o pródigo fez caminho
próprio.
Comprou arma, matou gente,
em uma vida inconsequente
dominada pelas drogas.
Arrastou jovens pras
trevas
ganhou fama no submundo
do crime e também das
ervas.
O pródigo brasileiro se
rendia
aos apelos da luxúria
e, em tudo o que fazia,
não se falava em penúria.
Largado à própria sorte
num mundo de perdição
escondido pelos morros
sob intensa maldição
o filho pródigo brasileiro
confrontando o sistema
montou o próprio esquema
de burlar, se defender.
Montou arsenal próprio,
recrutou rapaziada
trocava de namorada
como quem troca de roupa.
Tinha grande estrutura
que representava ruptura
com o Estado de direito
montando poder paralelo
de quem só gasta e não
poupa.
Este pródigo brasileiro
preso, fugiu várias vezes:
comprava o carcereiro,
subornava os guardas,
tinha advogado de plantão
que usava os artifícios
de uma frágil legislação
para soltá-lo aos vícios.
Numa dessas, o pródigo
sentiu de perto o aperto
sonhou por certo o acerto
de a vida recomeçar.
Imaginou como estavam
os velhos no interior
na velha casa de bairro
que em meio ao vermelho
barro
teve infância com amor.
Mas o pródigo em questão
sem tempo pra sentimentos
não agia pela razão;
só vivia os seus momentos
não ouvia o coração:
sua vida era só tormentos.
Voltou sim pra casa um dia
esse dia da utopia
do retorno ao velho lar.
É nesse cenário que
ouvimos
o alarido marcante
de sobrinhos que nem
conhecia.
“O filho pródigo voltou!”
era o que cada um dizia
enquanto a velha ia pro
fogão
as irmãs, vassoura na mão
avisavam ao pai da
novidade
ele que vivera em oração
(o que lhe fora
eternidade)
pro retorno do filho pródigo
arrependido pra casa
ao sabor da comunhão.
No dia seguinte, a
imprensa,
noticiou às mancheias
que o crime não compensa
mas corria intenso nas
veias
do filho pródigo
brasileiro:
marginal de ocasião,
bandido sem coração,
que voltou à casa do pai
matou irmãos e sobrinhos
eliminou a própria mãe;
o filho pródigo brasileiro
com um tiro bem certeiro
na testa do velho pai
que de braços abertos na
estrada
aguardava com ânsia a
chegada
do filho que de longe
vinha.
O filho pródigo brasileiro
preferiu assassinar o pai
e não se ouviu mais o “ai”
(o gemido de tanta dor)
daquele que com amor,
este amor sobranceiro,
ao filho pródigo
brasileiro
devotou-se com primor.
Josué Ebenézer – Nova
Friburgo,
17 de Julho de 2015 (06h) – 22 de Julho de 2015 (05h54min).
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