domingo, julho 06, 2014

PARA UM AMIGO...

Minha ovelha morreu. Não sei o que dizer.
O corpo não resistiu a tanta intervenção.
Foi abscesso, originário de um cisto, que esquisito.
Me disseram que poucos resistem à invasão de bactérias
quando o intestino é um grosso.
Aprendi na carne que amigo também morre
e que a conjugação desse verbo
pode ser em primeira pessoa,
sem necessariamente ser a minha partida.

Eu vi um povo triste chorando a morte do amigo.
E meus olhos procuraram mãos sujas de sangue.
Mas não havia culpados. E por que culpar alguém?
Quando é vero que a vida um dia termina
e não sabemos, de antemão, quem vai, quem vem?
A tristeza que os olhos exprimem é um pouco da morte em mim.
E há uns adjetivos que se infiltram no meio do discurso.
E a gente sabe que emoção não sofre do mal de decurso
de prazo. Ela chega sempre na hora certa. Então, não há atraso,
que venha a justificar o não comparecimento da angústia.

Quanto tempo demora uma lágrima para secar?
Como se consegue engolir o choro e falar?
A voz embargada trai a tentativa de segurar a emoção.
E o poema chorado é mais que declaração de amor:
é um misto de suavidade e dor,
é sensação que se aprende vivendo,
é um trem que surge apitando na esquina da serra
pedindo insistente para passar pelos trilhos do coração.

Já rimei irmão com separação
e também já rimei abrigo com amigo.
Mas quando percebi as lágrimas quentes descendo a face
e quando o pranto, para espanto de muitos,
tomou conta do meu ser, eu entendi o provérbio bíblico:
“há um amigo mais chegado do que um irmão”.

O que me consola neste momento
- com capacidade de afastar tormento -
é a certeza de vida eterna:
Ele já foi! Um dia estarei lá com ele!


Josué Ebenézer – Nova Friburgo,

01 de Junho de 2014 (19h).

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