Volta da praia.
O dia havia sido lindo em
família.
Tão bom que resolvemos
esticá-lo:
a noite já era nossa irmã.
Nada melhor do que estar
com quem se ama.
Lugar de paz e de harmonia
é o lugar da família.
Ali a gente ouve os cantos
do coração,
ali a gente encontra as
respostas da alma,
ali a gente ouve histórias
recontadas
e requentadas no forno da
emoção.
Família é lugar bom de se
estar,
mesmo quando trancafiados
num carro
dentro de um
engarrafamento enorme...
E era o que estava acontecendo.
Quem poderia imaginar que
após dia tão intenso
haveria tais emoções para
enfrentar?
Mas, nada que uma
brincadeira de “adedanha” não resolvesse.
E lá fomos nós revisitar
os verbos no infinitivo
seguindo a letra do
alfabeto sorteada...
Brincamos à exaustão!
Até que, ao passar por um
atalho de ruas de bairro
(para fugir do
engarramento monstro de rodovia)
nos deparamos com um
carnaval mixuruca
na pracinha daquele
bairro.
Uma música da caixa de som
de segunda,
uns poucos dançantes já
sem ânimo
e umas duas dezenas de
foliões com copos
de cerveja nas mãos,
entornando suas esperanças...
A brincadeira de
“adedanha” parou.
Um locutor de ocasião,
tomou o microfone
e após algumas tentativas
para acabar
com a chiadeira do
paciente, anunciou:
–
Ô mãe do Felipe, onde você está?
Seu filho está aqui
perdido,
precisando de você...
Nada.
O locutor anunciou de novo
e resolveu
incrementar o anúncio:
– Ele deve ter 1, 2 ou 4 anos...
Perceba-se que o álcool já
havia
comprometido sua
capacidade de avaliação,
mas não seu senso moral.
Emendou:
–
Gente, vamos ter cuidado com nossas crianças.
Ô mãe do Felipe, onde você
está?
Resolveu entrevistar o
menino:
–
Felipe, você mora onde?
–
Na casa da viagem!
–
Ele não é daqui gente,
o menino não é daqui!
Parace que o entusiasmo de
estar
praticando uma boa ação
levou nosso locutor
anônimo
à ter uma conclusão
lúcida.
E aí a fila de carros
seguiu
e lá fomos nós com o
incômodo no coração.
Era perto da meia-noite.
Novos barulhos somaram-se
ao do microfone sujo
e nossa angústia pelo Felipe
se diluiu.
Antes de sairmos da praça
alguém falou respondendo à
pergunta do locutor:
–
Deve estar com algum homem por aí...
Fiquei pensando na
resposta do menino
à pegunta: “Onde você
mora?”
“–
Na casa da viagem!”
A resposta do menino me
fez concluir
Que, se a vida é uma
viagem,
existe uma casa onde se
mora
e outra que é a casa da
viagem.
A casa da viagem é uma
casa de passagem.
Hoje se está nela, amanhã
não mais!
Fica-se um tempo, mas
sabe-se que
haverá uma volta, um
retorno ao lar.
Do ponto de vista
espiritual
nossa casa da viagem é
aqui na terra;
não importa qual:
se pequena ou grande;
se simples ou luxuosa;
se descuidada ou limpinha;
se própria ou alugada;
nossa casa daqui – e qualquer casa –
é nossa casa da viagem...
Viemos de Deus e para ele
retornaremos.
Qualquer casa aqui da
terra
será nossa casa de
passagem.
Quem se fixa nestas paragens,
se esquece que tudo aqui é
transitório;
só a eternidade é
definitiva.
E é aqui nesta casa da
viagem
que a gente escolhe Deus.
Precisamos estar preparados
para o retorno à Casa do
Pai.
Deus abandonou seu Filho à
própria sorte na cruz,
para que o prazer da
vitória fosse
dos demais filhos que
adotou em Jesus.
Mas ele sofreu junto.
–
Eli, Eli, lamá sabactâni!
É egoísmo não lembrar do Filho
ao se optar por dar uma voltinha inconsequente
neste mundo.
Lembremos que a viagem um dia acaba
e que todos retornaremos para Casa:
Estás preparado para o Encontro com o Pai?
Josué
Ebenézer – Rio das Ostras,
15/02/2018 (07h31min).
[Calcada em episódio vivido no fim da noite do dia 13/02/2018].
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