sábado, janeiro 21, 2017

VERSOS SERRANOS – XI

É madrugada e o galo canta
alheio aos que dormem.
Hoje canta um galo solitário
que solta os pulmões na serra
mas não tem eco o seu cantar.

As sombras da noite se vão
e os primeiros clarões da manhã
insistem em nascer tímidos,
com vontade de expulsar a noite
de seu trono de glória estelar.

O galo anuncia um novo dia:
esperança dos que dormem.
Quando se deita não há certezas:
o coração se cala diante do sono,
o cansaço da véspera faz sonhar.

A manhã nasce  em esplendor,
alcança a plenitude da luz.
Já não há mais galo cantando,
o homem segue sua trajetória:
sentir-se útil, conviver, trabalhar.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
14/01/2017 (05h22min).

VERSOS SERRANOS – X

Você está sob a sombra
de árvore de copa frondosa
estirado na grama e a poesia
se eleva às alturas das montanhas,
sua mão encobre a luz natural
da manhã sobre o grande livro
que repousa sobre suas pernas cansadas,
e seus olhos fecham e
a cabeça pende
em movimentos compassados,
balanceados,
até que o sono o domina
e adormece.
O que sonha?
Sonha que a vida é um grande livro,
mas há uma Grande Mão
vedando a escrita.
A mão é pesada,
mas, mesmo assim você tenta movê-la.
Ela, porém, é inamovível.
Você briga com a Grande Mão,
porque insiste em conhecer seu futuro,
não consegue conviver com as dúvidas
acerca de como será o seu amanhã.
As interrogações chicoteiam sua mente
e você quer respostas rápidas.
Mas, a mão é grande, intransponível,
ao mesmo tempo que serena e acolhedora.
Quando você se cansa da luta inglória
de tentar remover a Grande Mão
você se entrega e, exausto,
se deixa cair: estafado,
desgastado, sem forças para prosseguir,
como se morto estivesse
e, então, se prostra e adormece.
Quando recobra os sentidos
se sente acolhido, protegido.
Uma sensação boa, tranquilizadora,
perpassa todo o seu ser.
Você sente que o sono foi reparador,
pois o seu estado de ânimo é outro,
sua disposição se renovara,
há uma luz que ilumina e aquece sua vida.
E aí você descobre a razão de tudo isso.
Não apenas suas mãos deixaram-se
repousar na Grande Mão.
Todo o seu corpo está ali:
instalado,
aconchegado,
acondicionado
em forma de conchinha,
com perfeição, na Grande Mão.
E aí, em meio àquela sensação de alívio,
de paz, de vigor,
você descobre que
a Grande Mão é a Mão de Deus
que acalmou seu coração inquieto,
seu corpo acelerado.
Na Grande Mão de Deus que move o mundo
tem, também, um lugarzinho que é todo seu:
tem uma concha para abrigá-lo
do cansaço e propor calmaria;
tem um dedo sinalizador
para indicar o melhor caminho;
tem uma palma aberta
para receber o cravo de sua dor;
tem um braço estendido
para recebê-lo no abraço da fé na cruz.
E essa Grande Mão aconchegante lhe diz,
com suavidade, ternura e segurança,
diante de seus medos e temores interiores:
Confia em Mim!

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
14/01/2017 (05h10min).

VERSOS SERRANOS – IX

Há palavras que precisam
ser expostas como obras de arte

palavras que precisam de
moldura e proteção

palavras que precisam ser
guardadas como tesouros da humanidade

que precisam ser expostas
num museu da natureza
onde se cultiva espécimes raros

palavras cujo sopro de vida
venha da existência
e do ar rarefeito das montanhas

que se apresentam
com o sorriso incontido
que só enxerga quem as encontrou

há palavras que o Léxico não retém
e, defini-las, é quase impossível,
pois habitam o Reino do Indizível

há palavras que bom mesmo é vivê-las
e quando assim se dá
o mundo já não é mais o mesmo

uma destas palavras é AMOR.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
12/01/2017 (05h12min).


terça-feira, janeiro 17, 2017

VERSOS SERRANOS – VIII

Anotei num caderno
um pensamento notívago.
Divaguei para encontrar um autor.
Será meu?
Ou ele ou eu;
dizia o poema
que dele se originou.
A passarada desperta
aos primeiros clarões do dia.
O galo canta no terreiro ao lado
e, em resposta, o trotar
do cavalo na rua de paralelepípedos
anuncia que o João
está indo buscar pão.
Galos respondem ao galo
que originou o primeiro canto matinal.
Pensei no pensamento anotado no papel,
pensei de onde me viera tal ideia,
pensei em como a poesia imita a vida
e o imaginário está tão próximo do real.
Encontrei alguns elos.
O principal deles,
o elo dourado do sol
que desponta feliz na manhã.
É feliz o homem que sabe sonhar.
É feliz quem faz da poesia
sua catarse mental,
sua interpretação da natureza.
Se não há nada novo debaixo do sol,
como disse o sábio,
vou subir nas palavras e fazer poesia,
me elevar até as nuvens
e viajar no tapete mágico das palavras;
vou transpor os umbrais da atmosfera
e entrar na esfera dos sonhos
para viver o novo poético
à cada manhã de esperança
por detrás das montanhas verdes.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
12/01/2017 (05h00min).

VERSOS SERRANOS – VII

A noite esconde as árvores
e as montanhas.
A noite silencia os pássaros.
Só os cães ladram
anunciando que humanos
estão acordados.
Noites furtivas da serra
como palavras
que escondem signos
por entre os seus fonemas.
Noites não capturam
o sentido,
a dor,
a cor da saudade
e a vaidade da vida.
A noite é boa
companheira para a poesia.
Mas, há insetos noturnos
que insistem em
musicar as palavras.
Noites são como
águas corredeiras
em leitos de rios cheios.
Só que não dá para pescar
sem a isca da Lírica
que cavalga as palavras poéticas...

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
11/01/2017 (22h42min).

VERSOS SERRANOS – VI

Aprendi a fazer poemas sobre a serra
sentindo o vento no rosto
e o baloiçar das folhas nas árvores

quando começo a escrever
as palavras se aproximam
e se dão as mãos

a natureza é tão unida
quanto o idioma
esta última flor do Cão Sentado

eles se reinventam
ao sabor dos tempos
combatendo a degradação

aprendi a fazer poemas
sentindo o cheiro da graviola
aberta ao meio e revelada

sentindo o cheiro da terra
encharcada de sonhos
após chuva de verão

sentindo as palavras cobertas
das caldas de sorvetes
dessas frutas suaves da estação.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
11/01/2017 (06h35min).

VERSOS SERRANOS – V

Em tempos idos
pássaros silvestres
(e outros animais)
eram objeto de cobiça.
Crianças aprendiam
a aprisionar a liberdade.
Até que a Natureza deu o grito
e começou a chorar.
Quase o vazio.
Animais enjaulados
para agradar os humanos.
Humanos enjaulados
para agradar também.
Aqueles, para diversão,
pelo encantamento.
Estes, para proteção,
por causa do sofrimento
do medo da vida.
Quase o caos.
Mas, tudo mudou.
Uma questão de conceito.
E canários-da-terra e jacus,
biquinhos-de-lacre e coleiros,
tucanos e maritacas
surgem aos bandos
por onde só se avistavam
pombos e pardais.
Minha serra tem poucas palmeiras,
mas tem reserva de Mata Atlântica,
por onde farreiam micos e maritacas.
As aves que aqui gorjeiam
não fizeram escola de música,
mas já sabem solfejar
e contracenam
diariamente com a Natureza.
Mas, que beleza!
É janeiro e tem verão na serra.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
11/01/2017 (06h26min).

domingo, janeiro 15, 2017

VERSOS SERRANOS – IV

Este poema
em outro lugar
seria outro poema

um vento praiano
que marca a estação
de algum litoral

uma pipa voando
em céus de azul anil
uma escrita pictórica

em cabelos esvoaçantes
olhos lacrimejantes
certo desejo no ar

mas este poema é da serra
e a mensagem que encerra
é ecológica

o melhor de tudo isso
é que este poema
é ele mesmo:

um poema esperança
que acende o verde das matas
com a clorofila dos sonhos

velhos livros
podem guardar poemas
que são sempre novos

mas este poema
está escrito
nas folhas das árvores

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
10/01/2017 (21h39min).

VERSOS SERRANOS – III

Marquei encontro com a poesia
e torci para ela não me “dar bolo”.
Preparei-me festivo pra este encontro
com o perfume da palavra sonho.

Marquei encontro com ela na serra
e desprezei o mapa daquele lugar.
Fui conduzido pelas nuvens brancas
que cobriam os alpes do meu sonhar.

Marquei de me encontrar com a poesia
nos portais da Mata Atlântica virgem
e ante as primeiras falhas do outono
sorri o riso da primavera vindoura.

A poesia chegou ao lugar marcado
foi simbiose plena de encontro fértil.
Fez-se arena, grande circo armado
Tornei-me artista bem mais versátil.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
10/01/2017 (07h29min).

VERSOS SERRANOS – II

Escrevo este poema numa terça-feira,
no amanhecer de um novo dia de paz
em que o telefone ainda não tocou
e o silêncio da madrugada me satisfaz.

Circundo o poema como animalzinho
de estimação que festeja seu dono.
Apenas sons de pássaros silvestres
me tiram solenes deste abandono.

A janela aberta me traz vento fresco
e friozinho que me instiga a derme,
inspira a alma e propõe arabesco.

Sonho com gente ao redor do poema
a tentar descobrir de que concerne
e de que Musa brotou suave tema.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
10/01/2017 (05h34min).

VERSOS SERRANOS – I

De volta à suposta normalidade
depois de uns dias à beira mar
abro a janela e vejo montanhas,
vejo o verde e respiro seu ar.

Como os ventos para pássaro planador
(canários-da-terra, azulões e sanhaços)
são os poemas que movimentam amor
pelo Vento do Espírito impulsionados.

E o vento me conduz às palavras
a gente só conta com elas agora
para do poema retirar estas travas.

É preciso respirar o novo sem demora
a poesia vai-se com o vento e volta
ao coração que a protege com escolta.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
10/01/2017 (05h22min).

VERSOS PRAIANOS – XI

A Noemi Cardoso Soares
(em seus 17 anos – 08/01/2017)

escrevi este poema no penúltimo dia
depois disto esperei o sol se por
e as ondas não mais se agigantarem
e se acalmar o coração com a chegada
da alegria incontida pelo seu aniversário;

enquanto as barracas coloridas ainda
protegiam-nos do sol inclemente
e os respingos dos banhistas caíam em mim
escrevi este poema depois do lanche
e do picolé praiano de amendoim...

enquanto você brincava na água do mar
e se divertia com as amigas gêmeas
eu falava comigo mesmo sobre a juventude
e a vaidade da vida e dos versos
se forem apenas fonemas dispersos
de um coração sem esta magnitude
que é reconhecer Deus sobre tudo e todos.

Escrevi este poema para você, Noemi.

Josué Ebenézer Barra de São João (Casimiro de Abreu),
07/01/2017 (17h07min).