A
casa sem paredes para onde tinha ido depois
e
a casa oitocentista que acompanhara sua vida...
Quiseram
levá-lo de volta à velha casa da Rua 23
como
se fora possível reviver a mística do reencontro
do
poeta com as suas coisas, seus objetos pessoais.
Mas,
aquilo não daria um caldo de poesia,
mesmo
reunindo novamente a escrivaninha de jacarandá
e
a velha máquina de escrever Royal;
mesmo
trazendo de volta os livros,
ah,
aqueles livros todos
que
sentiram o toque dos seus dedos
e
tiveram o pouso do seu olhar sobre suas páginas;
mesmo
uma sobrinha doando a sala completa:
conjunto
de sofá, bar, estante, vitrola e
mesmo
um colecionador anônimo
se
dispondo a abrir mão
do
quarto misterioso
onde
cada encontro amoroso
se
perdera no tempo
apesar
da investigação minuciosa
dos
historiadores com dedicação de monge.
Poderiam
reconstruir o cenário da poesia,
mas
o leitmotiv do poeta se perdera.
Não
haveria mais poesia do grande...
Ah,
poeta, até mencionar teu nome faz engasgar...
Aquele
elegante piano que retornara à sala,
não
mais soaria as canções melancólicas
de
mãos dedilhadas sob o transe da poesia.
Quando
seus escritos ganharam o oikos
– a
casa universal dos poetas que permanecem –
ele
perdera o ponto de contato com o sonho,
o
abrigo singelo de seus pensamentos
(a
velha casa do bairro suburbano).
E,
com o coração partido, deu adeus à inspiração.
Resta
uma atmosfera na casa restaurada:
cada
canto da casa de sua alma impregnada.
Mas,
ele mesmo já está no panteão da literatura
e,
em cada texto datiloscrito
que
deixou com correções à caneta
antes
de dar o último adeus
à
casa do coração partido.
Josué Ebenézer – Nova
Friburgo,
18 de Janeiro de
2015 (06h17min).
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