terça-feira, abril 15, 2014

OUSADIA

Eu do gabinete nada sei; o povo caminha.
Imaginei um acidente, mas errei.
No meio da multidão, um homem chorava.
Choro de macho.
Que ressente o desemprego
e a fome das crias no casebre da favela.

Eu próprio quis andar em meio àquela turba.
Mas eram inadequados os meus passos.
Eles careciam de cadência.
Mas insisti.
Precisava aprender a caminhar esperanças.
Como o que só descansa
quando cavalga a ousadia
montei em alados alazões
e ganhei horizontes...

Os pés que ganharam asas
já não pisam estes chãos
e a multidão me segue com o olhar,
como um exército que marcha
firme olhando para os céus.

Não recebi a fraqueza dos covardes
e nem bebi da água dos medrosos.
Coube-me a valentia dos que sonham,
a determinação dos que têm fé,
e a intrepidez dos que ousam.

E, agora, depois que abandonei
o ar-condicionado,
respiro o ar-puro da esperança
e carrego comigo uma geração que sonha.
Cheguei atrasado? Não.
Apenas ingressei quando todos
já sabiam o que olhar.
E era vero o dito
que não bastava caminhar juntos,
mas, necessário, os olhares direcionados...

Não me foi dado ver um povo sofrendo
     e ver uma geração –
sucumbir ante o descaso e a corrupção.
Não me foi dado cruzar os braços
e encurtar os passos.
Não me foi dado ver e não me compadecer.

Se estes olhares me veem e me chamam
continuarei a subir os degraus dos meus sonhos.
E carregarei comigo a multidão dos que amam,
dos que não renegam a fé
e, de pé,
gritam o brado ousado da vitória.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,

08 de Abril de 2014 (14h59min).

Nenhum comentário: