A João José Soares Filho (In Memorian)
“Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé” (Apóstolo Paulo)
Acabou.
Já não mais o terei junto a mim...
Papai, que sempre se houvera altaneiro,
gigante na árdua luta contra o mal,
passou seus últimos dias, deitado,
num leito de hospital!
Quantas recordações me vêm à mente
neste momento...
E como se não houvesse tormento,
minha mente em movimento.
Move mente e move manto
e move o mundo. Minto:
Movem-se os chãos do meu pesar!
Parece que o mundo gira
e rodopia cada nesga de esperança do meu ser.
A criança que há em mim renasce
e na roda-gigante do meu parque particular
se alteia e despenca sobre o eixo do mundo
nas recordações do passado que não quer calar.
Vejo papai chegando de viagem:
Fora participar de uma reunião da Junta.
A Convenção precisava dele e ele
emprestava seu ânimo, seu vigor,
sua firmeza doutrinária,
a esta Convenção quase centenária
que caminhava nas mãos do Senhor!
As moedas tilintavam em seus bolsos...
(Ele fazia questão de não pagar
suas pequenas contas com as moedas,
para que as pudesse distribuir a petizada
que a seu redor se aglutinava
sentindo o cheiro de cigarro
que empestava seu paletó
adquirido nos ônibus-sem-lei daqueles tempos!)
E a gente saia correndo, feliz da vida,
com o quinhão que nos cabia
e numa pipa se transformaria,
ou num carretel de linha dez,
pião, barbante, bola de gude
ou qualquer outro folguedo que mude
a rotina do dia nas moedas de papai.
Não mais ouvirei aquela voz grave dizendo:
- “Filho meu, o que faço é para o seu bem!”
E como entender tais palavras
se as vozes do mundo são mais suaves e sedutoras?
E se já naquela altura o tom monocórdio de sua fala
não mais embala meu coração?
Mas o poder de sedução de papai não advém da vida.
Não provêm da vil aparência da insana lida, descabida,
tresloucada, apelativa, de falsa aparência,
com o intuito de derrubar a santa inocência
de uma vida preservada dos males do mundo.
Seu poder de sedução vem de algo mais profundo:
Vem da autoridade da Palavra que ele abrigou na alma
e por toda a sua vida, foi-lhe bússola e palma
a guiar-lhe na geografia da existência.
Tem coisas que eu nunca vi na vida e nem sequer toquei.
Tem outras que aproximando um dia paquerei.
E outras que conhecendo com a alma mergulhei.
É que papai, junto com mamãe, nos ensinando,
a mim e meus irmãos o Caminho apontando,
abriu-nos um Céu onde quem reina é Jesus,
e onde a vida é clara, translúcida, pujante de Luz.
Os pecados miseráveis de um mundo cruel,
vícios e prazeres de amargo gosto de fel,
passaram bem longe de minha juventude!
É que papai com seu exemplo e sua atitude
nos ensinou a escolher logo cedo a boa parte:
Uma vida na dinâmica do Espírito e com arte
tecendo nas teias do tempo os arremates do amor!
Agora que ele se foi, só me resta agradecer
a Deus por ter-me dado um pai com quem aprender
as verdades divinas que me aquecem o coração.
E que eu possa em minha vida, por todos os meus dias,
diante dos dias quentes, enfrentando as noites frias,
aquentar-me com sua fé, tendo a Cristo por Razão.
Nova Friburgo, 22/12/2004(7h23m).
segunda-feira, janeiro 21, 2008
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