segunda-feira, janeiro 21, 2008

NO DIA EM QUE PAPAI PARTIU

A João José Soares Filho (In Memorian)

No dia em que papai partiu
a manhã abriu-se em poesia
no sebo de beira de rua
quando a minha alma nua
despiu-se de toda fantasia
e para o sonho se abriu.

Atraído pelos exemplares
passava por aquele lugar
e tinha vontade de entrar
para folhear aqueles livros
vindos de vários lugares.
Vi os livros, seres vivos!

No dia em que papai partiu
isso me aconteceu de fato.
Passeei pelas estantes cheias
e com a literatura nas veias
acerquei-me de todo aparato
e a poesia em mim pariu!

Numa estante escondidinha
a surpresa me encontrou:
“Poemas em feitio de oração”
logo em mim se aninhou.
Então, a tristeza que definha
Sumiu! De alegre o coração.

O livro para mim era raro;
um grande presente de Deus.
Textos do poeta Gióia Júnior.
que me apontam para os céus.
E como não abandono o faro
arrematei-o com precioso amor.

Mas a grande novidade do dia
ainda não foi relatada.
O livro fora ofertado
a outro poeta gigante
e minha alma ofegante
recebeu-o de bom grado.

Um livro de poemas de Gióia?
Em sua primeira edição?
Com autógrafo do autor?
Era coisa muito jóia,
que meu frágil coração
recebeu com muito amor.

Tinha mais naquele livro:
Havia uma dedicatória
feita para outro poeta!
Que não era o Ledo Ivo,
não era a Nélida Pinõn,
e nem mesmo o Drumonnd.

No dia em que papai morreu
ganhei dos céus um presente
e enquanto sua alma partia
a poesia em mim renascia.
Ele foi embora; bem sei eu!
Mas a poesia me fez contente.

O livro que achei no sebo
havia sido dedicado
a Mário Barreto França.
E a graça que eu recebo
neste dia tão delicado
é um banho de esperança.

No dia em que papai partiu
Deus me fez raciocinar:
Enquanto houver poesia
haverá vida na vida
e a vida não será fria
enquanto houver poesia!

Nova Friburgo, 24/12/2004(7h21m).

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