São 6h.
Noemi acorda e quer mamadeira.
Desço com ela no colo até a cozinha, pois ela quer descer.
Coloco-a sobre a cadeira, pois está descalça.
Enquanto preparo o leite, recordo-me de papai.
As lágrimas me vêm aos olhos, sinto saudades!
Noemi, percebendo meu choro
que não quer se conter nem se esconder, é bem enfática:
- Por que você ta chorando?
- To com saudades de meu pai, vovô João.
- Eu vi ele assim (e fez o gesto de mãos cruzadas sobre o peito) ontem...
- É, vovô morreu! Respondo.
- Ele foi pra onde?
- Foi para o céu!
- Ele foi de carro?
- Sim, foi de carro. O carro de Deus!
- E qual é a cor do carro de Deus?
- É branco!
- E ele é grande? Assim (e abriu bem os braços, esticando-os ao máximo)...
- Sim, enorme. Cabe todo mundo que quiser ir.
- Ele foi onde, na mala?
- Não. Ele foi de carona e o motorista é Deus. Nesse carro, minha filha, só entramos de favor. Por isso somos caronas... É Deus que nos dispensa seu imenso favor e...
Desisti. Estava começando a ficar muito teológico para a cabeça dela, que, com apenas quatro anos, arregalava os olhos inquiridores, como quem diz: “Não to entendendo nada!”
Ainda me perguntou:
- Murilo também ta triste?
- Ta!
- E Lucas, ta triste?
- Também, filha!
- E eu, to triste?
- Você também ta, filha! Você gostava do vovô?
- Gostava! Ela disse com firmeza.
- Então você também ta triste, filhinha.
Noemi, uma criança de alma pura, não conseguia entender o que estava se passando e se confundia nos seus sentimentos, ao perceber todos chorando e ela ali, no meio daquela gente, sem entender direito o que estava acontecendo. Dois dias antes havia visto o Lucas chorar muito, quando recebeu a notícia da morte do avô. E, no dia anterior, tinha visto o Murilo também chorando bastante, quando do culto de gratidão a Deus. Mas ela não chorou!
Ainda perguntou:
- Mamãe ta triste?
- Está!
Nova Friburgo, 23/12/2004(6h15).
segunda-feira, janeiro 21, 2008
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