Entre as árvores,
uns grilos cantores
noturnos,
e a noite é suave...
A caminhar na praça, ele,
e a brisa fresca no corpo,
e o pipoqueiro
e mais ambulantes
e o carrinho de
cachorro-quente,
e uma certa poesia em tudo:
e na noite, e na praça,
e nas árvores, e no
coreto...
Arnaldo caminha
indiferente:
nada vê, quer ser visto!
Mas, também, não se
importa:
seu ego já lhe basta.
“Narciso acha feio
tudo o que não é espelho!’
Surge, dentro dele,
uma revolta interior.
Reclama que o mundo
não lhe dá valor.
Prossegue, passos largos,
enxergando só a si,
pouco se importando
que os indivíduos
se realizam no outro...
Da coruja, seu piado,
um chafariz iluminado,
uma bandinha tosca,
uma moça sai da toca
dirige-se resoluta a ele.
Que não gosta do que vê,
e não gosta do que ouve,
faz cara de pouco caso
nem dispõe-se a se deter.
A noite passa lenta,
como passam a vida
e os seus personagens...
O único automóvel
que apressado roda
naquela triste hora
é um ônibus imenso
azul como o céu.
E Arnaldo se precipita
à frente do lotação
antes que o breque
impeça seu cabelo black
power, desalinhar-se.
Estira-se inerte no
asfalto
o corpo morto do Arnaldo
no aguardo do velório
que atraiu uma multidão.
Ele, agora, não podia
recusar nada ou ninguém...
Já era tarde demais.
Ou, melhor, noite demais,
chegou primeiro de janeiro!
chegou primeiro de janeiro!
Josué
Ebenézer – Nova Friburgo,
30/12/2017 (05h59min).