sexta-feira, dezembro 28, 2018

SACADA DE MESTRE


Solitário.
Para além da cadeira de balanço
da sacada do chalé da montanha.
Só o horizonte e os pássaros esvoaçantes
acenando firmes na liberdade possível...
Mas, dentro do peito: quanta prisão,
quanto sonho contido, quanta folha
ainda presa na árvore, quanto fruto verde
que não se sabe ainda, se vingará
naquele coração solitário de noite pé-de-serra.

Solidão – uma palavra-prisão,
conceito idiotizante, afunilamento,
inutilidade da existência, reclusão,
amortecimento do corpo, anestesiamento da alma,
saudades de um não sei o que ainda não vivido...

Uma revolta, uma espera,
um Natal sem luzes e sem cores,
um amargo sentir que o verão está vindo aí
e se está preferindo ficar trancado dentro de casa.
No silêncio, na tevê desligada,
no corpo jogado sobre o lençol amarfanhado
ao som de mudas canções e
bocas fechadas ante a geladeira vazia
e a alma perigosamente inexpressiva.

Porém, eis a grande sacada;
não a do chalé, mas a do velho mestre
que descobriu o sentido da vida.
Quem tranca se destranca,
quando destrava os medos da alma
como um novelo de lã
que se joga do alto do edifício
e se vê o fio estender-se longilíneo.
A vida tem comprimento diferente para cada ser.
Na conversa com a alma nos entendemos
e desvelamos nossos segredos de existir...

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
19/12/2018 (10h35min).

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