O
abacaxi caiu do caminhão aberto
e se
espatifou no chão de paralelos
derramando
lágrimas doces:
“Feliz
Natal, ceia da família!”
Seus
irmãos gritaram em uníssono
do
caminhão que se afastava célere:
“Doce
ilusão!”
Um
menino tentou pegar o abacaxi semimorto
segurando
pela coroa de espinhos.
Mas,
o corpo do abacaxi se desprendeu
e ele
ficou apenas com o espeto na mão.
Mais
que lágrimas, o abacaxi
esvaziou
suas artérias de vida no chão
e o
menino tentou sofregamente
recolher
algum doce, algum sonho...
Enfiou-se
dentro de casa com as mãos juntas
portando
pedaços de esperança...
A mãe
aflita com o esforço do filho,
ao
ouvir o som do caminhão
que
se aproximava na curva do morro:
“abacaxi
de Marataízes; olha o acabaxiiiii!”
correu
para o portão de casa e disse:
–
“Moço,
eu quero três! Tem desconto?”
–
“Leva
três por dez real, muié!”
Entrou
em casa e não disse nada.
Do primeiro
abacaxi fez um suco.
Sobre
o segundo, cortou em rodelas;
cobriu-as
de neve de açúcar refinado.
Com o
terceiro, preparou uma
“Delícia
de Abacaxi”.
Entregou
ao menino um prato
com
três rodelas e disse:
–
Não
precisa chorar nem se desesperar.
Se
depender da mamãe sua vida será sempre doce...
Então,
devorou as três rodelas
e
abraçou as pernas da mãe
com a
cara lambuzada do açúcar
e do
mel do abacaxi.
E foi
assim que a fatalidade
de um
abacaxi nos paralelos do Verão
se
transformou na mais linda
declaração
de amor ao rebento
que
marcou aquela estação...
E o
menino partiu feliz para o terraço
a
levantar e a ziguezaguear com pipas no ar.
E
nunca mais deixou de ser feliz!
Josué
Ebenézer – Nova Friburgo,
21/12/2018 (10h23min).
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