Minha
mãe, silente, no sofá.
A
sala começa a se apinhar
das
crianças após o almoço
e
ela assovia docemente
o
nome de papai. Só ele entende
o
“João” naquele silvo prolongado
que
o traz de onde está pra, ao seu lado,
reger
o culto doméstico da família.
O
almoço pode ter sido simples
mas
a refeição espiritual era farta.
Papai
com seu vozerio marcante
tira
um hino de sua predileção:
aos
poucos todos seguem rateando.
É
culto em família, mas é solene.
Cada
criança tem que falar de cor
um
versículo bíblico e seu endereço.
Ouve-se
pedidos, faz-se orações,
lê-se
o Manancial, mensagem do dia,
e
um dos petizes é sorteado pra tal.
O
Culto é oportunidade pro pai
passar
a limpo a vida da gurizada.
Nos
oito ele trata do comportamento
ouvindo
um a um naquele apartamento
em
que morávamos na infância.
Papai,
naquela instância queria saber
como
estávamos na escola, na igreja,
na
vida, e em tudo. Sua questão
era
tomar pé da situação e dar conselhos.
Era
o culto doméstico também ocasião
de
uns puxões de orelha e algo mais
que
todos, aflitos, aguardávamos
quando
havia um episódio precedente
(um
sumiço de doce na geladeira
tipifica
uma situação assim)
então,
o encontro de família,
era
oportunidade de perceber
o
voo dos olhares inquietos
que
naquela sala aconchegante
se
dava no silêncio da alma.
Papai
disciplinava, era rigoroso,
não
queria nenhum dos filhos longe
do
caminho para o céu que é Jesus.
Se
tinha que ter castigo ele o dava:
queria
os filhos agindo com correção.
E
no Culto Doméstico, após o almoço,
com
todos ali presentes, em comunhão
recebíamos
do pai a comunicação
e
do Pai do céu o eterno alimento
que
até hoje, todos, sem exceção,
– passados
mais de quarenta anos –
sentimos
o gosto nas vidas e famílias.
Um
dia, papai se levantou e foi embora.
Mas,
a cena marcante de sua oração,
e
da espiritualidade, ficou na memória.
Josué Ebenézer – Nova
Friburgo,
08 de Abril de 2015
(04h22min).
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