A J. J. Soares Filho
Quando você se foi
havia em cima da mesa um jarro
e dentro uma rosa branca que murchava.
E eu olhava a rosa
se despetalando a cada dia útil;
e me sentia inútil enquanto a rosa olhava.
Sobre aquela mesa,
de uma fórmica marrom cruel,
as pétalas caíram todas ao redor do vaso.
Apenas uma ficou,
presa a haste como um papel,
onde a vida não mais escreveria pelo atraso.
E em cada pétala caída
vi esvair-se um pouco de minha vida
num sonho que ia transformando-se em dor.
Já não o teria mais perto.
No leito, seu ser exaurindo-se desperto,
em olhos inquietos que ainda transmitiam calor.
Percebi que as pétalas
(largadas na mesa e ao vento)
eram lágrimas perfumadas do meu coração.
Até que a última - da haste
soltou-se - e trouxe naquele momento
a lágrima mais quente da triste separação.
Nova Friburgo, 02 de Maio de 2005 (7h55m).
terça-feira, julho 29, 2008
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