domingo, setembro 14, 2014

MATRIOSHKA POÉTICA

A poesia surgiu-me plena naquela manhã.
Junto com os raios de sol ela nasceu grandiosa
e fui tomado de luzes que me saíam pelos poros:
eu era o próprio sol em seu esplendor!

Mas, quando nasce, a poesia surpreende.
Pois, no coração do poeta, ela o amor acende.
E de dentro do sol vi sair uma estrela em fulgor
cujo brilho fecundo tinha o nome de amor
para um mundo carente necessitado de luz.

O brilho da poesia continuava forte
indicando pras gentes, onde era o seu Norte
e trazendo união, em abraço Universal.

Da estrela eu vi sair um cometa
que à Terra se dirigiu portando a plaqueta:
Deixe inundar sua vida com o amor e a paz
receba esta luz intensa que as trevas desfaz.

E o cometa luzente iluminou a vida dos que acreditaram...

Mas ele só passava de tempos em tempos
E muitos ficaram sem perceber o brilho dessa luz.

Na casa do Lúcio isso não aconteceu
pois da janela de seu humilde quarto,
aberto pra vida, disposto pro novo,
desperto em renovo, logo percebeu.
E num sorriso iluminado apropriou-se dessa luz
e a partir daquele instante sua existência foi outra
e o Lúcio reviveu e sua vida já não mais solta
ganhou sentido e razão, recoberta de emoção.

E toda vez que chegava à janela de seu quarto
ao ver os refletores do novo estádio iluminando
aquela região onde habitava por anos...
Ele lembrava, feliz, a visita do cometa
que deixara aquela nave iluminando a noite
e quando aceso em plenitude, pulsava a energia da vida...

Numa noite, observando, o movimento lá fora
em data de grande jogo em que o estádio lotado
clareando as cercanias, produziu novas cores
de luzes tremeluzentes que abafavam a escuridão...
Lúcio, absorto e feliz, da luz teve a visão
de comprar uma luminária para sua sala pequena
que reproduzisse o estádio iluminado de sua vida.
E uma fluorescente circular ganhou o teto de sua sala
e a esposa percebeu que ele estava diferente
que buscava uma luz ao tanto olhar para a lâmpada
que em sua casa agora, ficava acesa noite e dia.

Mas a conta de energia, ao fim do mês veio alta
e o Lúcio não suportou esta despesa tamanha
comprou um abajur, de lâmpada com menor potência
que colocou no seu quarto ao lado de sua cama
para que a luz não mais se afastasse de sua casa
e a visão que o ser inflama em sua vida criasse asa
e o levasse em resplendor...

Mas, o abajur iluminando dia e noite, noite e dia
nas noites de insônia pura, mais insônia lhe trazia
e do abajur pensou em vela, em vela que acendia
toda hora, todo instante, numa intensa correria
pois de sua vida uma luz, bruxuleante que seja
não podia se apagar é o que seu ser deseja
e os filhos viram em Lúcio, brilho de luz benfazeja.

Lembrou da infância sofrida
no interior das Gerais
a mudança pra capital
a pobreza não quer mais.
Lembrou do trabalho forçado
na fábrica de pré-moldados
se sentiu desamparado
mas sua vida iluminada
agora com nova visão
buscava a libertação
de qualquer fôrma ou vício
a que chamava “estrupício”
e que não queria mais não.

Queria uma vida nova
e por isso acendia vela
que não deixava apagar,
pois recebera da janela
de seu quarto naquele dia
a missão de sol em sua vida
que foi feita pra iluminar.

Mas, de tanta luz ao seu lado
que iluminava o exterior
e por certo lhe trazia brilho
uns o achavam desmiolado
e riam do Lúcio com humor
achando que perdera o trilho.

Lúcio suportou a zombaria
buscava o que ainda não via
nem sabia ao certo o que era.
Mas ele tinha plena convicção
aquela certeza do coração –
que só alcança quem espera.

Até que um dia, da comunidade,
um amigo que soube da fama
do Lúcio, e sua busca de luz.
Falou-lhe com propriedade
de alguém que a todos ama
e a nossa vida conduz.

Falou-lhe do amor divino
em Cristo Jesus manifesto
num amor mais que profundo.
E Lúcio ouvia interessado
como se as palavras fossem hino
apresentando a Luz do Mundo.

Ganhou de presente uma Bíblia
que leu com sofreguidão
mergulhou fundo no texto
com alma e com coração.
Descobriu que de Deus vem a luz
que é Lâmpada para os seus pés
e luz pro inseguro caminho.

E como em matrioshka poética
que também se fez espiritual
o Lúcio foi tirando luzes ocas
de dentro de seu sonho lindo
tomado pela poesia da vida
em busca do resplendor.

Mas o sol foi só um motivo;
a estrela, grande inspiração;
o cometa uma mensagem;
o estádio apenas imagem;
a luminária, visão;
o abajur, necessidade;
e a vela, sublimação.

Assim, nesta busca ingente
que é a busca de tanta gente,
busca intensa do coração.
O Lúcio encontrou Cristo
e todos sabemos disto:
Jesus é a Solução!

Cristo é luz que afasta trevas,
que elimina todos os vazios
e propõe um renascer.
Ele desperta o que dorme,
esclarece o confuso
e dá sentido ao viver.


Josué Ebenézer Nova Friburgo,
06 de Julho de 2014 (19h28min).


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