Não ouço mais o suave louvor
de teus lábios,
amigo, nem vejo a
determinação dos teus braços
a se erguerem firmes na
emoção da adoração.
Só vejo os lábios cerrados
e o rosto apagado sem
expressão.
Percebo apenas as cinzas,
silêncio e cinzas,
monturos inexpressivos onde
já houve fogo.
(Tua presença é destoante em
meio ao crepito do Altar
espectro insignificante na
fotocélula divina
em que os movimentos das
almas que o rodeiam
denunciam sua passividade
mórbida...)
Meu triste irmão, sei que
estás
derrotado como um campo de
várzea,
onde não há bola rolando,
nem há alegria de petizada
eufórica:
esta algazarra recreativa da
família.
Enquanto todos transitam na
adoração
teu corpo inerte, expõe a
paralisia da alma.
De que te servem: qualquer
gesto meu,
a percepção do que sofres, e
até
o encontro de olhares no
culto;
se te desvias para o nada,
para o disfarce inútil do
caos?
E o que dizer de um abraço,
de uma oração breve ou longa
de uma palavra boa, canção
que entoa,
meus lábios para ti?
Se esta tua vida oblonga
–
pobre irmão – está a diminuir?
És pura inadequação no culto
teu estado é o primeiro; o
do pecado.
Sintas ao menos que te amo
e que todo o meu ser é
contrição...
Não vejo a Estrela da Manhã
em teus olhos,
nem lágrimas furtivas de
arrependimento;
mas a secura e frieza do
mármore,
lápide mortuária do vazio
sem Deus,
em que a luz do Sol foi
embora
e escrito está em letras
garrafais:
AQUELE QUE MORREU ANTES DA
HORA!
Josué
Ebenézer – Nova Friburgo,
08/03/2018 (05h44min).
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