Eu trago os natais
da infância
naquela igreja,
batista,
da serra friburguense
quando cantavam pardais
perto da estância
quase sertaneja
benquista
de meu coração
e o non sense
me domina
relembrando
o tempo
das cantorias,
dos corais;
“Jesus Alegria dos Homens”.
E as crianças
aguardando o momento
mágico
da distribuição das
sacolinhas de doces baratos...
Trago nas amarras
do coração
aquela árvore gigante,
pinheiro espetante,
cheia de coloridas bolas,
festões, pendentes
e presentes
espalhados pelo chão.
Decoração.
De um natal
evangélico,
angélico;
e as crianças vestidas de
anjos,
arcanjos,
asas brancas
arrastando paredes
espetando caras.
E o rei Herodes
barrigudo,
troncudo
caindo forte no
assoalho de madeira
fazendo a cena do
menino-Jesus vitorioso
sobre o Império do Mal.
Trago nas teias do tempo
o vento,
suave vento,
da recordação.
Daqueles natais de outrora
quando ainda se
ouvia declamar
poesia nos cultos.
E o culto todo era poesia,
pois tinha menininha
levantando sainha
com as pontinhas dos dedos
e cantando:
“Sou uma florzinha de Jesus”.
E tinha adulto marmanjo
roncando alto nos bancos detrás
porque a Fábrica não
liberara mais cedo
e teve que ir direto
pra Igreja depois de
acender a caldeira.
E tinha também coral cantando
bonito e homens de bigode
farto com terno e gravata
cantando grosso feito urso
e apesar de tudo,
“Tudo é paz, tudo é amor.”
E também tinha meninas
casaidoras de cabelos longos
e sorrisos largos
vestindo midis e máxis
achando-se o máximo;
mas todas com perfume Channel 3
para igualar a concorrência.
E o pastor lia os Evangelhos:
Mateus, Marcos, Lucas
e a gente via tudo acontecer
à nossa frente:
a manjedoura, Belém,
os pastores, os anjos,
Jerusalém...
E era como se nos
transportássemos
para aqueles tempos...
Natais de outrora,
quando a pressa ainda
não era o motor que movia o mundo.
E o mundo ainda
não se tinha globalizado.
E o menino Jesus
ilustrado no presépio
de manjedoura
mas sem estrebaria
fazia
com que todos nos
concentrássemos
na homilia pastoral
e cantássemos
aleluias ao Filho de Deus,
hosanas ao Rei dos Reis
e fôssemos
para nossas casas altas horas
sentindo o friozinho
de Friburgo
bater na face,
pois naquele tempo
ninguém daquela igreja
tinha carro
e por isso,
nem carona podíamos ser,
a não ser,
do cenário natalino,
pois o friozinho da noite
que despertava os ossos
nos fazia sentir iguais aos pastores
que nas altas horas da noite
guardavam os seus rebanhos
quando receberam a visitação dos anjos.
E a gente chegava em casa,
fazia a prece de fim de noite
já de pijama, pulando lépido
para os cobertores,
pois podia ser
que naquela noite
mesmo, os anjos de Deus
também nos visitassem...
Nova Friburgo, 11/06/2000 (6h50m)
segunda-feira, outubro 01, 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário