Ele disse
gente
e era como se fosse
uma interjeição qualquer
sem sentido prévio
apenas um conclamar
de ouvidos
um alerta simplório
para um falar coletivo
mal sabia
que eram muitas
as gentes
por trás daquele aviso
e vieram sonhos
irrealizados
corações partidos
almas sequiosas
histórias interrompidas
ressentimentos guardados
nas gavetas do coração
quartos, livros, canções
passagens de navio e
bilhetes de Maracanã
e milhares de sofás
que acolheram beijos e
abraços
e recolheram lágrimas
e esconderam separações
é possível olhar para as
gentes
e não ver
o que a face encobre...
é nas gentes
que está o sonho e a
esperança
que está a crença de
criança
é no rosto
que se vê a aflição
que se descortina o
coração
mas, preste atenção
há gente chorando
há rostos inseguros
há sofrimento
nas faces sulcadas pelo
tempo
há devaneios
nas falas loucas
de bocas tortas
há punhais nas mãos
desconsolo e frustração
há dedos no gatilho
e há gente pronta
para disparar o fim
há gente indo
há gente vindo
há xingamentos e gritarias
há gente que se esconde
atrás das gentes
há quem dissemine a paz
há cultores do ódio
gente que ama
e gente cujos olhos
se inflamam de raiva
e espumam desesperos
há gente que se cria
no meio da multidão
há baderneiros
com paus e pedras
nas mãos
e pacificadores
que carregam bíblias
nos sovacos
bem perto do coração
os mistérios das gentes
promove o medo do encontro
mas, eu digo
(nesse meu
coração-discípulo);
eu só penso nas novas
gentes
que hão de nascer dessas
gentes.
Josué
Ebenézer – Nova Friburgo,
04/08/2017 (04h27min).
Nenhum comentário:
Postar um comentário