“A linguagem criou a palavra solidão para
expressar a dor de estar sozinho.
E criou a palavra solitude para expressar a
glória de estar sozinho”
(Paul Tillich).
Às vezes se está muito só,
quando se está muito sol:
iluminando a vida d’outros
e vivendo na opacidade!
Um pouco de solidão é preciso
não aquela de se sentir só
e ansiar a presença de alguém.
Mas aquela de se estar em retiro
– poético retiro de quem –
se afastou para se aproximar
de si mesmo e mais ninguém.
Esta é a solidão dos sábios
que se afastam para pensar.
Rejeitando alfarrábios;
com a alma conversar.
É a solidão dos que buscam
a voz do silêncio puro
sem ruídos tecnológicos.
Dos que almejam o fluxo
dos saberes que lustram
os pensamentos lógicos.
A solidão de pessoas
faz sofrer e desgarrar
expondo a alma carente.
Coisa triste estas garoas
que neblinam o aproximar
em quem quer estar com gente.
Coisa triste a solidão
de quem não queria isso
queria outro coração
para se ter compromisso.
A solidão forçada
é triste de se ver.
A pior pessoa amada
não se consegue deter.
Às vezes se consegue ficar
solitário na multidão.
Há quem saiba se isolar
escondendo sua razão.
Mas quando se quer o vazio
de pessoas e suas falas
e alguém quebra este ócio
não tem como rejeitá-las.
A solidão do claustro
pode aproximar de Deus,
mas, que se largue o fausto
dos corações ateus.
Para o preso em solitária
a solidão é castigo
que aflige a alma pária
necessitada de abrigo.
Estes tempos agitados
de frenesi e roldão
deixam os seres enlaçados
em teias de comunicação.
É difícil de se soltar
e alcançar a solidão
dos que querem encontrar
alguma paz no coração.
Se há tempo para tudo
há tempo de se estar só
e há tempo, sobretudo,
pra chorar e sentir dó:
dos solitários do mundo
que amargam a solidão
mas têm sonho profundo
de viver outra emoção.
Dos oprimidos da vida
que desejam se afastar
para fazer despedida
das garras do mal estar.
Hoje as redes sociais
nos interligam a quem
não conhecemos jamais.
Estes tempos modernosos
que apenas entretém
acabam sendo penosos.
Precisamos da reclusão
pra refazer o pensar.
Precisamos da oração
pra reaprender a amar.
Precisamos de um tempo
para estar a sós com Deus.
Para sentir do doce Vento
os caminhos do adeus.
As despedidas do mundo
dos compromissos vazios
que causam uns arrepios
em nosso ser infecundo.
O afastar do vil pecado
em busca da sanidade
é o aproximar do Amado
que propõe a santidade.
Diga não à solidão da fuga
pelas graças do alambique
que deixam sozinho ao chão.
E, como disse Paul Tillich,
há uma glória que não refuga
em outro tipo de solidão.
Que a solidão logo chegue
no coração de quem quer
um tempo pra refletir.
Que a solidão se despregue
daquele que muito requer
um alguém para se unir.
A linguagem é dinâmica
e criou uma semântica
pra definir a solidão:
é a dor de estar sozinho.
Se há glória nesta atitude
o seu nome é solitude!
Josué Ebenézer – Nova
Friburgo,
19/05/2017 (14h50min)
na fila do banco.
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