sexta-feira, fevereiro 17, 2017

VERSOS RURAIS – XI

Desde que fiz do solo
meu papel de fazer poemas
não cessei de ouvir o canto
das saracuras e seriemas,
e o farfalhar de folhas,
e o suave canto das águas,
que irrigam a plantação.

Desde que iniciei uma escrita
com mudas e com sementes
no solo da rica esperança
de que é possível a colheita,
quando o sonho não cessa:
vi o verde tomar conta
das franjas do meu coração.

Desde que meu horizonte
se fez pleno de verduras
e as águas borrifadas
salpicaram meu olhar:
em mim não faltou poesia
e os limites dessa geografia
não contiveram a canção...

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
17/02/2017 (08h31min).

VERSOS RURAIS – X

O mapa da minha lavoura
já não mais feito de papel
rasguei-o de sobre a mesa
e de tanto levá-lo no bolso
– nos caminhos da plantação –
transportei-o célere no sonho
sob a égide do coração.

Ao sair a cada manhã
o sol que me acompanha
leva a luz que se renova
e a energia do sonho que
planta sementes no chão.
Faço prece rural da matina:
ecoa em forma de canção.

Sem mesa, só tenho solo
onde sementes se aninham
no côncavo de terra fértil
anunciando colheita já.
Pedaço de terra em cultivo,
tamanho da consagração
e olhos brancos. É a ceifa!

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
14/02/2017 (20h08min).

VERSOS RURAIS – IX

Tracei em papel um mapa
da forma que o terreirão,
em meu sítio, e a escarpa
vão ficar com a plantação.

Esbocei vias de tomates
e avenidas com berinjelas
verduras nos seus engates
tornando-as sempre belas.

Marquei encontro no sonho
com a lavoura ainda virgem
onde a visão que exponho
era tão somente miragem.

Meus vizinhos cochichavam
sobre a utopia do lavradio.
As terras em que plantavam
não lhes causavam arrepio.

Só arranca da terra dura
uma caçamba de colheita
o que ara, trabalha a cultura
e não vive de fé estreita.

Só saboreia frutos da terra
quem persiste nesta visão:
a semente que ela encerra
vai germinar da plantação.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
14/02/2017 (06h34min).

quarta-feira, fevereiro 15, 2017

VERSOS RURAIS – VIII

O casebre é de madeira
quase choupana rústica
no alto da montanha azul.
Do fogão de lenha sobe
uma fumaça constante
que ganha o sentido sul.

Seu João volta da roça
traz consigo milhos verdes
e um frango depenado.
Cantarola canção simples
que no peito reverbera
a força do esperançado.

Quem tem sonho vai à luta
pega da enxada e da fé
acorda cedo com o sol.
Faz da vida uma batalha
investe na Esperança
brilha junto com o arrebol.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
11/02/2017 (06h20min).

VERSOS RURAIS – VII

Montado no cavalo manso
da Fazenda do Encanto
percorro as terras lavradas
sob o olhar do patrão.
Vou trotando este remanso
tendo céu azul por manto
vendo as terras cultivadas
com afinco, dedicação.
Enquanto baloiço ao vento
na sela de meu cavalo
enxergo por um momento
peões no morro a cavá-lo.
Há esperança no ar
quando sai o lavrador
e se põe a semear
seu cultivo com amor.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
10/02/2017 (04h28min).

VERSOS RURAIS – VI

A junta de bois puxa o arado
que nestas trêmulas mãos
ziguezagueia esperanças
em chãos de terras batidas.
Naquele instante difícil
sou o avesso da certeza,
mas trago no peito a fé
e um sonho no coração.
No horizonte onde um sol
tímido anuncia novo dia
enxergo o brilho da vitória
mesmo de mãos vazias.
É o resplendor da glória
que a lavoura me trará
e, creio, não será fugidia:
meu coração é terra fértil!

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
10/02/2017 (04h13min).

sexta-feira, fevereiro 10, 2017

VERSOS RURAIS – V

Uma enxada na mão
um poema no bolso
esperança no coração.
Seu Zé acorda cedo
sai com as ferramentas
assovia o seu enredo:
quer transformar o poema
em uma bela canção
retratar, da vida, o tema.

Como ele no lavradio
há outros que alimentam
um sonho nada arredio.
Enquanto cavouca a terra
e ajeita o chapéu de palha
sabe que a fé não erra.
Enquanto larga a semente
no solo já preparado
sabe que a fé não mente.

É feliz quem como o Zé
trabalha no sol a pino
e não larga a sua fé.
É feliz quem tem sorriso
e uma canção nos lábios
como quem vive Paraíso.
A semente a terra acolhe
para colheita de futuro
em vida que a fé recolhe.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
09/02/2017 (06h25min).

VERSOS RURAIS – IV

A sua relação com o campo
é quase simbiótica
não há ilusão de ótica
o campo é você, você é o campo
você já pisou muito
aquelas terras com os pés descalços
você já sentiu na derme
a sequidão da estiagem
e a umidade dos alagamentos
mas, em todos os momentos,
não deixou secar a esperança
em cada solo plantado
você marcou um encontro
com a saga da colheita
e crê, não haverá desfeita
pois no dia aprazado
se apresentará sorridente
você carrega nos olhos
o mapa da plantação
você carrega a esperança
nas dobras do coração
e sabe, de pronto,
a resposta para o onde
confiado de que Deus
vai prover o quando...

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
08/02/2017 (06h11min).

VERSOS RURAIS – III

Você está no campo e olha
o horizonte infindo da lavoura
você delicia-se no lavor
esquecido da cidade
que ficou pra trás
são exatos dois alqueires
é terra preparada e semeada
seus trabalhadores cuidam
cada qual de seu torrão
sabe que a incerteza espreita
carrega a enxada na mão
na esperança da colheita
e leva junto a paz no coração
de alguém que crê tão-somente
num Deus que é sem fronteiras.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
06/02/2017 (06h01min).

VERSOS RURAIS – II

E então você colocou
a mão no arado como criança
que ganha um brinquedo de presente
esquecido do mundo à sua volta
dos familiares – reunidos em bando –
que o observam em seu experimento
e você vive a alegria:
de sulcar a terra,
revolver o chão,
preparar a plantação,
levando as sementes no bolso
(com cuidados de semeador)
e a esperança no coração.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
06/02/2017 (05h55min).

VERSOS RURAIS – I

Agora deixa a cidade
vá pra roça, por favor.
Abra a janela do campo,
esqueça qualquer lavor.
Contempla todo o verde,
a natureza em louvor.
Sinta o cheiro silvestre,
ouça o pássaro-cantor.
Projeta seu corpo n’água,
sinta na derme o frescor.
A vida do campo traz
muita paz e muito amor.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
05/02/2017 (06h41min).

segunda-feira, fevereiro 06, 2017

VERSOS URBANOS – XI

O prédio é antigo, monumental,
referência para os alunos:
Biblioteca Municipal.
E recebe o nome de antigo professor
que dera a vida pela causa da educação.
Milhares de livros
recobrem as estantes
que tomam as paredes
(do piso ao teto)
fazendo do lugar
a Cidade dos Livros.
E os alunos chegam constantemente
(não tanto, é bem verdade!)
o que não se sabe é
se vem para estudar
ou fazer do lugar
um point de namoro.
Mas, o importante é que vem.
A Biblioteca
não está abandonada de gentes...
Ela está abandonada é de leitores!
Explico!
Logo no acesso principal
há uma sala de mídia
repleta de computadores
por onde os alunos têm acesso ao Google,
aos livros digitalizados,
às resenhas prontas,
aos pensamentos fortuitos,
às redes sociais...
Ali fervilham as ideias
(descabidas ou não)
enquanto nas salas contíguas,
nos andares superiores,
os livros ficam esquecidos
exceto por uns, ainda, meias-idades,
que aprenderam na infância
a suprema importância:
de apalpar um livro,
de percorrer sensorialmente suas páginas,
de vivenciar o dedilhar suave
pelas folhas impressas,
de tocar a lombada e ver o seu brilho,
de sentir o cheiro do volume,
e perceber vir a lume
a ideia, o sonho, a matéria.

Um livro nas mãos do idoso
pode ser formoso
e quão formoso é um velho com livro na mão.
Mas, um livro nas mãos de um jovem
é mais que belo, é um anelo,
é esperança que ele leva no coração.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
18/01/2017 (06h23min).

VERSOS URBANOS – X

Escrevo meus poemas
como se os últimos fossem:
os últimos a serem publicados,
os últimos a serem lidos,
os últimos a serem descobertos
(por algum editor, roteirista de tevê),
os últimos de minha breve vida.

Mas, aí, descubro que não.
Que nas vias seguintes têm mais carros,
nas ruas seguintes têm mais casas,
nas escolas ainda há alunos que estudam,
nas igrejas há jovens louvando
e nas praças há velhos e crianças
brincando de pique-esconde:
crianças não escondem nada quando estão felizes:
é algazarra pura em forma de  vida.
Os velhos economizam
sorrisos em bocas murchas:
escondem uma vida inteira
cheia de mistérios e aventuras.

É preciso destravar
com o cheiro do carrinho de pipoca fresca
e o barulhar das folhagens nas árvores
e o ajeitar dos óculos na fronte
a história de uma vida
nessa brincadeira não tão nova de velho-esconde.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
18/01/2017 (06h06min).

VERSOS URBANOS – IX

Estou no décimo andar
de um arranha-céus fracassado,
que nasceu centro-comercial
e virou residência de rostos feios,
paredes esburacadas,
rebocos caindo,
pernas cansadas,
fios soltos,
homens loucos,
num emaranhado
destrambelhado
de decadência ritual...

Gente soturna
caminha desesperanças
pelos corredores escuros
sem ventilação adequada.
A desconfiança reina
nos olhares.
Sinto-me um deslocado
e resolvo entrar.

O apartamento é amplo,
construção antiga,
pé direito alto,
espaços bem articulados
com resquícios de art déco
no que ainda resta de estilo.
O cheiro é nauseabundo.

Transito de janela a janela
em busca de ar.
Há quanto tempo este
mofo não é aliviado?
Há um resíduo de dignidade
nos velhos móveis
dispostos pelos cômodos;
ali abandonados
desde que a avó do
meu amigo morrera.

Abro a janela da frente
e uma golfada de ar quente
invade o ambiente.
Olho pra rua...
o movimento dos carros,
os prédios frontais,
edifícios que marcam época
e que sinalizam
o deslocamento do centro
da cidade para outro eixo.

Suspense,
apreensão,
vazio.

A morte da velha,
as lágrimas do amigo,
os quadros nas paredes,
gavetas abertas,
o reencontro com o passado,
as cartas,
as fotografias,
a memorabilia
que propõe
um clima de saudade.

O que é dentro, é fora:
gente sombria e triste
apossou-se do lugar.
Não se investe,
não se ajeita,
simplesmente se arrasta
para o fim do mundo.

As pessoas morrem
junto com o seu lugar
numa simbiose
entre seres e coisas
em que as pessoas
vão ficando cinzentas
como as paredes desnutridas.

Abro uma das janelas dos fundos.
Há um amplo respiradouro
num espaço interno
para onde convergem
quatro blocos de prédios
e de onde se vê
a laje das sobrelojas.

Me atraem o olhar:
um violão quebrado,
um cão morto,
um gato vivo,
inúmeras sacolas plásticas
que denunciam restos, lixos.

Espere!
Há algo se movendo
por entre um monturo
de entulhos de obras.
Crianças pequenas e barrigudas
brincam seus vermes
por entre os resíduos de esperança.

Para onde caminha a humanidade?

Meu coração pergunta
em meio a decadência visual.
A poluição é sonora, olfativa
e, também, visual.
Um jovem casal faz sexo de pé
(com a janela aberta)
um andar inferior oposto
de onde estou
(se é que por lá exista janela).

Cerro as bandas
da janela de onde estou.
Volto-me para a sala
e meu amigo, sentado
na velha poltrona,
acaba de contar
os cem mil dólares
que encontrou na
velha pasta de couro
que foi de sua vó cabeluda.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
18/01/2017 (05h43min).

VERSOS URBANOS – VIII

urbanidade
este misto de cidadania
e compromisso
que propõe civilidade
nas relações sociais

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
18/01/2017 (05h06min).

VERSOS URBANOS – VII

Ouse deixar um livro
de poemas do
seu escritor:
na pasta,
na bolsa,
no carro,
na sala,
seja onde for

para que em
horas incertas
de vontade,
de sublimação
em que se
destrava a janela
do sonho
em seu coração

a cidade,
o mundo,
os rostos,
aculturação
invadam
sensivelmente
sua realidade
de significação.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
17/01/2017 (06h24min).