sábado, outubro 31, 2015

EIS-ME AQUI, SENHOR

Tiras, com receio a brasa; ela queima, aquece os lábios;
tua boca incandescente encanta o auditório,
teu coração tem inspiração que vem do imo,
teus ouvidos absorvem novos apelos,
no templo o bater de asas sobressai,
os Serafins são alimentados pela música,
inquieto pelos Serafins, levantas o olhar,
sorriso e lágrimas ganham tua face;
o que mais poderá arrebatar-te –

Eis-me aqui, Senhor!

A brasa, com reverência inaudita, acende esperanças,
a tenaz se movimenta com a brasa,
cheia de vivacidade, choca-se com o ar,
o fogo vermelho, os olhos ardem,
e assim no templo cheio
todo o ambiente é tomado de viva fé.

O trono se eleva, sobrepõe-se à nave,
e projeta pelo ar o manto do Senhor.
Sublime e pleno, Deus se mostra na música dourada.
Os umbrais das portas se movem
e os Serafins batem as asas, e sentem
que a presença do Maravilhoso produz paz
e os alados seres voejam sobre floridos trigais.

Eis-me aqui, Senhor!

A fumaça sabe falar,
as vozes dos Serafins seguram a comunhão pela alma,
no templo, os alicerces tremem, e há clamor.
Os mensageiros dizem da Santidade de Deus.

Um temente sabe como outro temente amolecer.

Eis-me aqui, Senhor, não sei pra quê mas, eis-me:
confesso eu, neste culto e terrível templo
sou homem de impuros lábios e estou perdido
e eu moro em meio a gente impura e lábios
falsos me rodeiam e eu vi meu Rei,
o Senhor, o Todo-Poderoso. Morrerei?
Alguém sentirá minha falta? Existe alguém que pensa?

Tu dizes: um enviado meu estará contigo...
Sem explicação. Senti o toque da brasa
que veio do altar e houve purificação
e meus lábios ganharam vida
e senti meus pés arderem na caminhada do fogo.
Nenhum medo me assusta e prossigo curado e sem dor.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,

28 de Julho de 2015 (12h04min).

ENSAIO

Tu não trazes para mim qualquer pergunta
que apareça sequer em teu olhar;
não me ofereces nenhum brilho pra dúvida
e nem um pálido sinal de esperança;
não há reflexos fantasmagóricos
dessa inquieta, incrível cosmogonia
que em teu interior rejeita o caos;
tuas perguntas não são filosofia
que eu possa, enfim, me debruçar;
teus mistérios não são a poesia
que me faça, por fim, querer amar.
Tu apenas levas sonho como a florista
que percorre toda a feira com leveza
de quem poucos adquirem um arranjo
(que transfere graça, pra casa e mesa)
e quando não vem, sente-se falta.
Devo confessar que inda não achei
outro alguém que me faça indagar
outro alguém que me faça percorrer
com os olhos o ciclo da existência
com a mente os arcanos da ciência
nesse afã de um sentido interior.
Em teu vazio me encontro a procurar
na tua falta eu me vejo a preencher
na tua expressividade simbólica
eu me indago inquieto pela vida
e me descubro a buscar um sentido
um sentido qualquer, uma utopia
do compreendido e do não compreendido
ora vem, sobre mim vem Poesia.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,

26 de Julho de 2015 (05h55min).

ADIANTE

Ainda não vejo palavras no papel
nem sequer um sentido na mente
tu permaneces longe do real
e nem ofereces a visão de flores
mesmo um arranjo de palavras soltas
ou retalhos de mim sobre o chão.
Clamo por ti, inspiração,
mas o solo da existência ainda é virgem,
o papel rebrilha à luz branca do neon,
as palavras escondidas em algum lugar,
mas já sinto o cheiro da poesia
e sinto a fome, e a vontade, e o gozo
és tu que te moves em outra dimensão
e não há medo, sequer receio,
pois se abre o coração
como campinas verdes e
montanhas multiformes e
árvores misteriosas e
jardins suspensos
no êxtase poético que adiante vem.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,

25 de Julho de 2015 (10h30min).

OXIMORO

Me encontro em ti, me perco
sou água e também sou ar
razão e também sentimento
afastamento e aproximar.

Sou o centro e periferia
certo encaixe e desacerto
só realidade ou utopia
a distância que está perto.

Vejo em ti o que não enxergo
no outro, nem mesmo em mim
palavra-prosa eu não nego
palavra-poesia, sonho, enfim.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,

23 de Julho de 2015 (08h31min).