sábado, janeiro 31, 2015

NOVA VIDA

Não deem gritos para que os ouça
nem cogitem em dar murros no púlpito.
Absolutamente não apontem o dedo em minha direção
e nada de atitudes performáticas do tipo:
deixar o seu lugar para vir me abraçar.
Estou energizado e a carga é negativa.
Preciso me concentrar em algo superior,
preciso esvaziar-me da minha dor,
preciso reencontrar o equilíbrio
e, no momento, recuso estereótipos.
Busco o silêncio profundo da alma.
Sei que será na anulação total do eu
que me encontrarei com Deus.
Então, se quiserem fingir que não existo,
eu, insisto, me deixem em paz.
E, se lhes pareço desesperado,
angustiado como nunca estive,
saibam que apenas estou na antessala da libertação.

Não quero ouvir alaridos,
vozerios e bateção de palmas.
Não quero risos gritantes,
gargalhadas de qualquer gênero.
Quero apenas os risos marcantes
que sulcam suavemente os rostos
sem emitir qualquer som.
Não quero o barulhar de moedas
caindo no gazofilácio.
Quero apenas o som das asas dos corações
batendo suaves em direção ao coração de Deus.

Assentada ao meu lado no banco do templo
estava uma velha senhora, viúva rica,
que me passara imperceptível o tempo todo
até aquele instante em que se movera para ajoelhar-se...
E eu vi a glória de Deus no seu semblante contrito.
Curvei-me, também, arrependido
e pus-me a chorar cântaros de lágrimas
no êxtase da libertação dos meus pecados,
no encontro maravilhoso com meu Criador.

Levantei-me.
Saí do templo, mas não do culto.
Levo comigo a paz de Cristo
e um semblante em mim jamais visto
que traduz para o mundo a minha nova vida.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
15 de Janeiro de 2015 (05h05min).


ÚLTIMA MENSAGEM

Então, começo a juntar os meus pertences:
tem uma pátria que não é daqui,
é minha salvação,
que vai margeando meu rio até o Grande Oceano.

E, aqui está o meu coração:
uma emoção, que de tão fecunda, sorri
de dentro pra fora. E, se todos viemos de Deus
e para ele voltaremos, é para lá que estou indo,
minha pátria, meu destino. É para Deus que caminho,
sorriso no rosto e uma paz,
carregando no peito as canções
que me embalaram na vida.

(Quem há de contemplar, sereno,
esta minha última mensagem?)

Josué Ebenézer Nova Friburgo,

15 de Janeiro de 2015 (04h41min).

CONSIGO MESMO...

Ouvi os sapos da lagoa coaxando na noite
e disputando minha poesia. Eram enigmáticos.
Alguns sons eram indefinidos
como o azul marinho do breu.
E formavam um grande coro
na fantasia da lagoa prateada
iluminada pela lua afônica.

Ouvi-os submersos às margens da lagoa
enquanto a garoa da noite
regava meus sonhos poéticos.

Ouvi os sapos da lagoa entre os arbustos
de minha poesia que não virou canção.
Ouvi os sons dos sapos e do silêncio.
A noite tragara o pensamento carrancudo
e libertara a poesia branca do coração.
Elos de mistério e revelação entre as sombras:
cada qual escondia no vazio o clamor da poesia.

Ouvi-os barulhentos. Revoltosos.
E num som grave, rascante, eu me escutei.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,

14 de Janeiro de 2015 (21h15min).

terça-feira, janeiro 27, 2015

COMO SE ME SALVASSE...

Como se me salvasse, assim me perco.
Como se te buscasse (luz do mundo
fechando o cerco) assim a vida ilude
diante da rude cruz que foi o preço.

Um obelisco de sangue em árvore muda.

Como se todos os caminhos a ti levassem.
A mim me permito um flash de esperança.
Folhas, sóis, meu ser resumido em canção
Música que dilui o eu na frágil gota frágil.

Como se me salvasse no batismo, caridade,
ou aprofundando ritos e frias tradições.
Afasta-te corvo, soma em mim pomba do Espírito:
A graça irrecusável; a luz da cruz de Cristo.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,

14 de Janeiro de 2015 (18h15min).