sexta-feira, outubro 31, 2014

A ESPERA

Para o poeta, a espera é a antessala da criação.
Filha da burocracia,
do jeitinho brasileiro,
dos atrasos recorrentes,
do trânsito caótico,
do descompromisso do cidadão;
a espera é um instituto nacional
erguido sobre o solo da leniência.
Quantos bilhões de reais
são perdidos pela Economia
nos zilhões de horas ociosas
nas filas eternas,
nos congestionamentos do trânsito,
nas salas de espera?

Para o poeta não há espera;
há o encontro com a palavra bruta
na antessala da poesia.
A espera destrava a criatividade
naquele que não se abate
mas deixa os rios da poesia
fluírem dos limites
ociosos do tempo.

Josué Ebenézer Rio de Janeiro,

26 de Agosto de 2014 (11h59min).

EM CERTA MANHÃ, LOGO APÓS A PERGUNTA...

O fascínio de uma certa manhã,
que afasta a cortina por mãos hábeis
e invade a casa por esperança
e assoma o coração pelo respirar
da vida e do desejo;
após noite intensa de diálogo com Deus
diante da pergunta que não quer calar
do chamado que se faz urgente
em certa manhã de encontro
quando os ainda tíbios raios do amanhecer
trazem a claridade do novo dia
e a possibilidade de renovação
meu ser responde, ante pergunta do Altíssimo:
Vais me seguir, meu filho?
Serás obediente?
Manterás viva a chama que arde no peito e produz vida?
Abraçarás a causa de Cristo por onde fores?
E a pergunta se desdobra em várias;
e eu silente, reverente, totalmente
submisso respondo para Deus
em certa manhã, logo após a pergunta:
Tu és meu?
Sim, Pai, sou teu!

Josué Ebenézer Niterói,

26 de Agosto de 2014 (06h17min).

AMIZADE DE ENGARRAFAMENTO

Sempre lembro de você
(quando estou num engarrafamento
e não tenho nada para fazer).

Aí, pego o celular e passeio pelos nomes
até chegar ao seu – e, de outros –
pensando comigo mesmo:
– Há quanto tempo não falo com você...

Aí, aciono a tecla e, você, feliz:
– Que bom ouvir sua voz!

Mal sabe, que só lembrei de você
porque o trânsito me impediu
de prosseguir na vida;
amizade de engarrafamento...

Até a próxima viagem ao Rio de Janeiro...


Josué Ebenézer São Gonçalo,

25 de Agosto de 2014 (18h47min).

segunda-feira, outubro 27, 2014

OUVIDOS DE PAREDE

Escrevo para as paredes
que, já se disse, têm ouvidos.
O que é escrito vai para as redes:
versos egóicos, desinibidos.

Escrevo por causa das paredes:
hoje já não há poeta em solidão.
Se alguém descobriu minhas sedes
que dessedente o próprio coração.

Escrevo cercado por paredes
expondo este meu mundo interior.
Diria o sábio: - O que não vedes,
do poeta, traz a marca do amor.

Escrevo sabendo que as paredes
não limitam o meu Universo.
Aos outros, diria: - O que não ledes,
eu digo ao mundo em cada verso!

Josué Ebenézer Nova Friburgo,

23 de Agosto de 2014 (04h01min).